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O homem é uno com o Universo e a Terra recebendo desta e daquele tudo o que necessita para seu bem ou mal-estar. O que fará que o homem se desequilibre ou perca sua homeostase[2]e, com isso, advenha a doença, será como ele irá lidar e conviver com as forças do alto e do baixo.
Sussman (1987) entende que a totalidade se expressa no homem, no qual se reunem as energias do alto e do baixo, do Céu e da Terra de forma que
"En el hombre, la Energía se expressa com la totalidade de todas sus manifestaciones vitales, físicas y psíquicas, pues todas son productos simultáneos de su actividad Inn-Iang. El supremo objeto de la vida es sin duda, alcanzar el más alto grado de virtud, es decir transformar en actos lo que el hombre lleva dentro, que no es outra cosa que el Tao. Para que la Energía logre esto será necessario que disponga de un instrumento; ese instrumento es el hombre mismo: el hombre es, pues, el medio y el fin. Por eso veremos que para la medicina china el hombre es un transformador de energía. Todo su organismo está estructurado en ese sentido." (Sussman, 1987, p. 29).[3]
Ressalte-se que a prática da "tradicional" medicina chinesa para que seja digna de tal denominação precisa levar em conta o "movimento" do yin-yang para efeito do "diagnóstico"[4] e tratamento de qualquer manifestação de doença ou, mais precisamente, do desequilíbrio energético entre o yin e o yang.
Se fizermos uma comparação com a linguagem ocidental diríamos que o corpo e mente é expressão de uma única e mesma coisa e que o acontecimento em um se reflete no outro e vice-versa. O mesmo acontece no "movimento"[5] que ocorre entre o Céu-homem-Terra. Se as comunicações/trocas dessas energias não estiverem equacionadas, o excesso ou insuficiência de uma refletirá na outra, levando ao desequilíbrio da homeostase e, consequentemente, à doença.
Yin / Yang
O pensamento chinês antigo considera a origem de tudo como uma mistura de energias primordiais de polaridades opostas, entretanto, complementares.
A mistura e separação entre o yin e o yang constitui o modelo energético original da tradição médica chinesa, visto como
"...um princípio de preexistência, levando em conta a unidade conjugada por energias, ou "" Caos Primordial"", denominado pelos chineses de "" A mistura das energias"" (Hundun) ou de Céu Anterior (Hou Tian), que é um estado perfeito das energias criativas do mundo primitivo – a energia primordial do Tao." (Dulcetti Junior, 2001, p. 36).
Para Auteroche et al (1992, p. 13), "A teoria do Yin Yang considera o mundo com um todo e que esse todo é o resultado da unidade contraditória dos dois princípios, o Yin e o Yang.". Ainda para os mesmos autores, "Todos os fenômenos do universo encerram os dois aspectos opostos do Yin e do Yang, como o dia e a noite, o tempo claro e o tempo sombrio, o calor e o frio, a atividade e o repouso. Tudo é constituído pelo movimento e a transformação dos dois aspectos Yin e Yang.". Ou seja, na Medicina Tradicional Chinesa tudo é determinado pelo fluxo ou movimento energético do yin e do yang que é o próprio tao.
O movimento energético e transformativo do yin/yang representa a energia da qual se origina todo o Universo ou o Caos Primordial. Essa energia é considerada a fonte da vida, conforme descrito em Nan Jing, 8, citado por Dulcetti Junior (2001, p. 38): ""A energia (Qi) é a raiz do Homem"."
A Doença
Para falarmos de doença é necessário saber o que é saúde. Na Medicina Tradicional Chinesa, a saúde resulta do equilíbrio energético entre os três aspectos do tao, ou seja, o alto, o médio e o baixo ou, ainda, Natureza (céu), o Homem (meio) e a Terra (baixo), como exposto anteriormente.
Tudo o que compõe a vida concorre para a saúde ou doença do homem desde os elementos da natureza (por exemplo, o calor, o frio), a alimentação (saudável ou não, em excesso ou deficiente), os patógenos e o próprio homem, através de excessos emocionais (raiva e alegria, por exemplo).
Para Dulcetti Junior (2001, p. 182) "Os excessos e vazios endógenos dependem do mecanismo das influências do macrocosmo e do comportamento humano." Assim, fica evidente que o desequilíbrio das energias leva à doença que, se não tratada, pode levar à morte. Por outro lado, a saúde é vista pelo mesmo autor como "efeito resultante do equilíbrio das energias no organismo."
O Doente
Para a Medicina Tradicional Chinesa, doente é a pessoa que não está em harmonia com a natureza, consigo mesma e nem com a sociedade. Visto além da dimensão física, ou do adoecimento do corpo, o doente possui uma dimensão social onde a interação com seus pares pode ser saudável ou danosa. Isso fica evidente nos casos em que uma pessoa com certo desequilíbrio em sua energia de defesa (wei Qi) é exposta a uma situação de contaminação exógena e adoece, o que muito provavelmente não aconteceria se tal contato social não tivesse ocorrido, mesmo o indivíduo estando em desequilíbrio energético. Isto é devido o homem ser
"...um conjunto de energias modalizadas provenientes da energia única primordial ou original, funcionado como o Microcosmos (Homem) que não é isolado de seu ambiente cósmico, Macrocosmos (Céu/Terra); até mesmo do seu ambiente social..." (Dulcetti Junior, 2001, p. 176).
Mais ainda, o ser humano é um ser psíquico/emocional e alterações/vivências emocionais extremas podem levá-lo ao adoecimento ou "deficiências ou excessos energéticos"[6] dos órgãos e vísceras, conforme Sussman (1987, p. 31): "... hay que agregar la turbulencia de los sentimientos, cada uno de los cuales daña especificamente a un órgano, la alegria al corazón, la cólera al hígado, etc.".[7] Por outro lado, alterações ou funcionamento desequilibrado desses mesmos órgãos e/ou vísceras, podem ocasionar emoções descontroladas (por exemplo, o mal funcionamento do baço levando à preocupação – seu sentimento associado).
A esta altura falar em causas para as doenças parece redundância. O correto, me parece, seria dizer das variáveis que podem agir para levar e/ou acentuar o desequilíbrio energético que é a verdadeira causa das doenças. A palavra doença, numa visão simbólica conforme os estudos da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung[8]não é vista como algo ruim ou destrutivo. Ao contrário é a possibilidade da pessoa voltar ao seu equilíbrio. Por isso, os psicólogos junguianos preferem o termo sintoma ao invés de doença, pois uma pessoa "está" doente e não "é" um doente. Da mesma forma que não existe plural para saúde o mesmo vale para doenças. Então, o mais acertado seria dizer que a pessoa está acometida de sintomas em função de um desequilíbrio energético ou do movimento yin-yang e que, portanto, está doente.
Neste trabalho, ora utilizaremos a palavra doença naquilo que preservar um sentido mais amplo e próximo das fontes consultadas e sintoma(s) quanto nos referirmos a uma manifestação mais específica do desequilíbrio energético.
Auteroche et al (1992), considera o desequilíbrio energético em função de dois fatores: um deles é a diminuição da resistência corporal frente a um agente nocivo, devido a um enfraquecimento do zeng Qi ou energia vital também chamada de "Qi Correto ou Qi Reto e mais simplesmente "" O Correto"" ou "" O Reto""." (p. 109). O outro fator é o ataque sofrido pelo organismo por algum agente patogênico ou nocivo chamado de "Xie Qi, ou Energia Perversa ou Energia Nociva, ou resumindo: "" O Perverso"" ou "" O Nocivo""." (p.109). A doença, então, seria o desequilíbrio energético baseado na interação desses dois aspectos: um interno e outro externo, basicamente.
"Diagnosticar no es ponerle nombre a un conjunto de síntomas sino saber dónde está el desequilíbrio. Este puede deberse a falta o exceso de Iang, a falta o exceso de Inn. Para diagnosticar, junto al interrogatorio, la inspección y la palpación, los Pulsos son importantes. El tratamiento consiste en regularizar La circulación de energia perturbada..."[9] Sussman (1987, p. 31)
A Avaliação da Condição do Qi ou o diagnóstico na Medicina Tradicional Chinesa é baseado em 8 avaliações denominadas "princípios", divididas em 4 duplas para se "deduzir o tipo, a localização, a natureza da doença e a relação de força entre energia correta (Zheng Qi) e a energia perversa (Xie Qi)." Auteroche et al (1992, p. 243).
Essas duplas estão assim distribuídas: yin – yang; biao - li[10]frio – calor e vazio - plenitude[11]
Além das 4 duplas com os 8 Princípios a serem verificadas quando da realização de um diagnóstico é preciso realizar-se outras avaliações para se apreender a real condição do Qi e o estado de saúde (ou doença) em que se encontra a pessoa. Tais avaliações são: a anamnese, a inspeção (audição, olfação e o exame físico), além da análise dos microssistemas[12]do organismo, ou seja, sistemas que refletem o estado geral e particular do corpo que são: a face, o olho/íris, o nariz, os dentes e especialmente a língua e a orelha, já que passam por elas todos os Canais de Energia ou Meridianos.[13]
Apesar de os procedimentos acima parecerem bastante amplos e, portanto, completos, não são os principais e únicos utilizados na verificação da Condição do Qi. A avaliação mais utilizada e que suplanta as demais fazendo-as, tão somente, um complemento e a "tomada do pulso"[14], que consiste em sentir o batimento cardíaco na artéria radial direita e esquerda na altura do pulso, no trajeto do mediano do pulmão. Dependendo da força ou fraqueza da pulsação sentida sob os dedos pode-se avaliar a condição de deficiência ou excesso energético dos órgãos e vísceras do organismo. Assim, as demais avaliações são complementares e podem, inclusive, ser dispensadas; "quem se utilizada dessas outras avaliações é porque não sabe tomar o pulso e avaliar a condição do Qi através dele somente".[15] Por isso, dada sua importância, a tomada do pulso será vista no final deste item a fim de ressaltá-la.
Os Oito Princípios
Yin - Yang
A avaliação da relação aqui descrita está relacionada com as características do indivíduo e do sintoma apresentado, em função do funcionamento ou constituição básica de cada pessoa em particular, se yin ou yang, em função de excesso e/ou deficiência destas energias. Logicamente que o ideal é um funcionamento no equilíbrio quando a pessoa tem "caráter dócil, amável, calmo, atlético, boa digestão, menstruação normal, equilíbrio orgânico em geral.". (Dulcetti Junior (2001, p. 184).
Uma pessoa yin apresenta-se, deprimida, apática, "sem energia" (o yang está reduzido ou o yin está em excesso). Já os sintomas yin são: pele fria e macilenta, extremidades frias, lassidão, temor do frio, prefere o calor e líquidos quentes, queda de cabelos, melhora com o calor
A pessoa yang apresenta-se com excitação mental, expansiva, agitada, "com muita energia" (o yang está em excesso ou o yin reduzido). Os sintomas yang são: temor do calor, prefere o frio e bebidas frias, pele vermelha, extremidades quentes, melhora com o frio.
Biao – li
Nessa avaliação verifica-se o ataque pelo agente perverso (xie Qi) e sua penetração no organismo, ou seja, se está na superfície ou se se aprofundou, bem como, a condição do sintoma: se agudo, recente e de fácil tratamento; se crônico, de longa data e de difícil resolução. Um sintoma que se interioriza, indica uma agravação do problema. Já aquele que está mais interno e caminha para a superfície indica melhora ou evolução positiva; por exemplo, uma condição asmática transformando-se numa urticária, ambas relacionadas ao pulmão[16]Essas constatações ensejarão qual a melhor terapêutica para regularizar o equilíbrio energético e a volta ao estado de saúde, entenda-se equilíbrio.
Frio - Calor
Os 8 Princípios não podem ser vistos ou analisados de maneiras independente uns dos outros, mas num interrelação, num movimento constante como é o próprio tao. Nesse sentido, Auteroche et al (1992, p. 250), diz que "A síndrome Frio expressa uma diminuição da atividade funcional do organismo, quer porque o Yang está Vazio e o Yin. [Em excesso], quer porque há ataque pelo do Frio perverso." .
São sintomas do frio: face e língua pálida, ausência de sede, rosto de cor azulada, sintomas agravados pelo frio e que melhoram com o calor.
Como mesmo raciocínio os autores relatam que
"A síndrome Calor expressa um aumento da atividade funcional do Organismo, quer porque o Yang está... [em excesso], e o Yin Vazio, quer porque há ataque pelo Calor perverso." A síndrome Calor representa quer um excesso do Yang Qi do organismo quer um ataque do Calor perverso." Auteroche et al (1992, p. 251).
Assim, são sinais de calor: pele vermelha, necessidade de líquidos frios, agitação, constipação, temor do calor, melhora dos sintomas com o frio.
Vazio - Plenitude
Ao se falar em vazio e plenitude está-se falando de insuficiência e de excesso energético. Como vazio energético temos: "Yin Vazio, Yang Vazio, Qi Vazio, Sangue Vazio. Esses diversos tipos têm um ponto em comum, a insuficiência de Energia Correta (Zheg Qi) ..." Auteroche et al (1992, p. 260).
Por sua vez, a Plenitude "reflete um excesso de Qi perverso [Xie Qi]." Auteroche et al (1992, p. 252).
No tratamento do vazio realiza-se a "tonificação" que é a "amplificação do movimento das energias diminuído[as], desacelerado[as] ou até mesmo interrompido[as]." Dulcetti Junior (2001, p. 189). Já nos casos de plenitude energética (excesso) realiza-se a "sedação" como "ação redutora do movimento energético no organismo ou nos meridianos e funções." Dulcetti Junior (2001, p. 189).
Pelo exposto, fica evidente que a avaliação e/ou análise dos 8 Princípios pode contribuir muito para o conhecimento do funcionamento da pessoa e do seu organismo, bem como, de sua interação com o meio. A Acupuntura pode facilitar o reequilíbrio energético. No entanto, ela "realmente" só será efetiva na medida em que a pessoa levar um estilo de vida mais natural "nem para mais nem para menos", ou seja, viver nos movimentos do tao, procurando o "caminho do meio".
A Anamnese
É o interrogatório minucioso que propicie chegar a um diagnóstico "parcial"[17], ou melhor, um conhecimento relativo da condição do Qi e do estado geral do organismo, além da obtenção de dados sobre os aspectos psicológicos (sentimentos, emoções), sociológicos (relacionamento com o meio ambiente), demográficos (condições de moradia, por exemplo) e epidemiológicos (histórico familiar e de sintomas anteriores), tendo-se em mente a relação yin-yang e o equilíbrio/desequilíbrio energético.
Normalmente, o acupunturista faz uma série de perguntas que são respondidas pelo paciente, além de outras que surjam espontaneamente sendo, também, importante a interação entre ambos.
Questões como a queixa principal e/ou queixas gerais, antecedentes pessoais e familiares, histórico médico, medicamentoso e de tratamentos, horário[18]e situação(ões) em que o(s) sintoma(s) se agrava(m) ou melhora(m), emoções envolvidas, eliminação de fezes e liquidos orgânicos, qualidade da menstruação, libido, material onírico ou dos sonhos, qualidade do sono, da alimentação e do trabalho, etc.
Devido à grande quantidade de dados coletados na anmanese, o tempo de realização de uma avaliação inicial pode se tornar demasiado grande, sem contar com outras avaliações que poderão vir a ser realizadas e que são descritas adiante. Cabe ao acupunturista direcionar as questões que melhor conduzam sua "intuição" rumo a um adequado conhecimento da condição do Qi do paciente.
Um elemento importante na anamnese é a especial atenção que deve ser dada aos sintomas de maior queixa ou evidência pois eles direcionarão, de imediato, o acupunturista para quais meridianos, os órgãos e vísceras estão afetados e, por conseguinte, por onde se iniciará o tratamento.
A Inspeção e o Exame Físico
Na inspeção observa-se o organismo fisilogicamente, ou seja, o corpo do paciente é tocado e sentido a fim de se pesquisar regiões com retenção ou vazio energético (dores), contraturas musculares, quais meridianos estão afetados, se os sintomas estão no nível superficial ou profundo, ou mais no alto, no baixo ou no meio do corpo. Trata-se de "sentir" o corpo e o que ele revela. Aqui está incluída a tomada dos pulsos que, como dito, terá um tratamento à parte por ser o cerne da Avaliação da Condição do Qi. Nesta avaliação, alguns outros procedimentos são executados, como:
A Audição
Na audição faz-se a análise da voz do paciente: se forte ou fraca, se apresenta gemidos, se as palavras são incompreensíveis, se o paciente fala rápido, alto, devagar, baixo. Se há arrotos. Esta avalição dará a possibilidade de complementar o diagnóstico sabendo-se se o que é observado direciona os achados para uma deficiência ou excesso de energia.
A Olfação
Da mesma forma, a olfação permite observar o odor das eliminações do paciente, desde a transpiração até as fezes, passando-se pela urina e o hálito. Na prática, o que ocorre é perguntar ao paciente e ele mesmo dizer os odores que sente cabendo ao acupunturista confirmar, dentro, do cabível, as afirmações do paciente. Lembrando que a olfação é apenas uma parte da inspeção e do exame físico que, por si, é uma avaliação diagnóstica parcial.
Os Microssistemas
Com a finalidade de facilitar e/ou complementar a Avaliação da Condição do Qi, a Medicina Tradicional Chinesa se vale de partes ou regiões do corpo que expressam a condição deste como um todo. Assim, língua, face, olhos/íris, dentes, nariz e orelha podem reproduzir alterações energéticas e facilitar o trabalho diagnóstico do acupunturista.
A Face
Na face, assim como na língua, se reúnem todos os meridianos[19]yin e yang. O rosto expressa o shen[20]e pode determinar o estado de saúde da pessoa: "... a observação do Shen permite determinar o estado do Zeng Qi (Qi Correto) portanto, a gravidade da doença, e estabelecer o diagnóstico." Auteroche et al (1992, p. 148). Assim, o shen pode indicar um prognóstico positivo (mesmo diante de um sintoma grave) ou não favorável à cura (se sintoma agudo), bem como, o real estado físico e mental em que a pessoa se encontra. Um rosto brilhante, olhos vivos, funcionamento psíquico e fisiológico normais, numa pessoa altiva, indica que esta tem um "bom" shen. Do contrário, pode-se dizer que essa não tem shen, ou de outra maneira, que ela está sem energia.
O Olho
Embora o olho manifeste a energia do fígado ele, também, expressa o estado dos demais órgãos e vísceras: "Cada região do olho corresponde a uma função Yin/Yang." Dulcetti Junior (2001, p. 198). Dependendo de alteração em determinada região deste, poderá mostra algum desequilíbrio em algum órgão ou víscera. Por exemplo: se houver alteração de cor na região da esclerótica no ângulo radial (canto externo) poderá indicar problemas no pulmão ou intestino grosso.
Como um complemento ao microssistema do olho, existe o microssistema da íris, o qual não é parte da Medicina Tradicional Chinesa, mas que revela alterações não somente físicas como psíquicas.[21]
Os Dentes
Existem poucos estudos sobre esse microssistema. Os chineses associam os dentes aos rins, por este regerem os ossos. Assim, alterações nos dentes, de maneira geral, denotariam alterações energéticas no rim. Especificamente, os dentes isoladamente ou em conjunto, representam órgãos e vísceras. Por exemplo, o 3º molar (siso) está vinculado ao coração. Então, dificuldades com esse dente poderia remeter a alteração energética no órgão por ele representado.
O Nariz
O nariz é o "final do pulmão". Por isso, guarda estreita relação com este órgão. Sintomas como rinite, sinusite, etc, podem indicar que há desequilíbrio energético no pulmão. Como a emoção vinculada ao pulmão é a tristeza, a existência de tal sentimento poderia levar, também, à dedução de problemas emocionais. Além dessa maneira de diagnosticar pelo nariz, deve-se considerá-lo como um microssistema que expressa o todo do organismo. Então, um "Eritema na região mentoniana:[22] [pode indicar] plenitude de R [rim]."
A Língua
É um dos microssistemas mais utilizados na Avaliação "complementar" da Condição do Qi já que todos os meridianos energéticos a atravessam. A língua tem importância básica e facilitadora do diagnóstico, pois evidencia dados que os outros microssistemas podem não o fazer. Por exemplo, indicar um acúmulo de líquidos ou de mucosidades em função de ela estar inchada. Ou, então, se a pessoa está acometida por um sintoma de calor, o corpo da língua estará vermelho e com saburra[23]amarela. Se for um sintoma de frio, o corpo da língua apresentar-se-á delgado e com saburra branca.
Cabe uma ressalva: a língua tende a apresentar alterações orgânicas recentes o que pode induzir a diagnósticos errôneos. Daí, o acupunturista deve se valer da condição energética observada na tomada do pulso, a qual prevalece sobre o observado na língua e demais microssistemas.
A Orelha
Na Medicina Tradicional Chinesa o microssistema da orelha tem uma importância fundamental, pois o pavilhão auricular é utilizado para puntura de pontos específicos que correspondem, como nos demais microssistemas, aos órgãos e vísceras. Esses pontos são de ação sintomática, ou seja, não propiciam o reequilíbrio energético mas atuam diretamente no sintoma levando a um melhor funcionamento fisiológico. Se pensarmos que corpo e mente são a mesma coisa, também interferem na esfera psíquica.
Então, em uma alteração energética no fígado que levou a um sintoma crônico, o reequilíbrio energético será efetivo ao longo do tempo e de maneira "permanente"[24] enquanto que a acupuntura auricular terá efeitos imediatos mas não duradouros.
Assim, a orelha é utilizada muito mais para auxiliar a acupuntura sistêmica do que como instrumento de diagnóstico propriamente dito.
A Tomada dos Pulsos
Propositalmente deixei este tópico peara o final pois, de todos os elementos diagnósticos, é o mais importante e o que prevalece sobre os demais. Para Dulcetti Junior (2001, p. 216) "A inspeção dos pulsos [é] a pedra angular do diagnóstico da medicina chinesa...". Os pulsos ("boca dos sopros") também é um microssistema, par excellence, haja vista que a Avaliação da Condição do Qi é realizada através da tomada das pulsações da artéria radial, isto
"significa que no pulso existe a representação do Todo (no sentido da unidade anatômica e funcional do organismo, bem como o movimento das energias manifestadas do Tao). ... Com o diagnóstico pelo pulso chinês permite-se saber a condição energética, do equilíbrio Yin/Yang." Dulcetti Junior (2001, p. 216)
Mas porque a tomada do pulso é tão importante na Avaliação da Condição do Qi ou para o diagnóstico?
Novamente Dulcetti Junior:
"O conceito de circulação energética é indissolúvel da noção de sangue para os chineses. No vaso da corrente sangüínea ocorreria o envelopamento das energias pelo aporte sangüíneo. Na composição do sangue encontram-se energias Yin, da terra e na parte aérea as energias Yang do Céu; desse modo circulam no corpo do Homem em equilíbrio as energias Céu/Terra/Homem sendo que a união desses três é de fato a Vida." (2002, p.221)
Fica evidente que, no pulso, se encerra todo o processo de Avaliação da Condição do Qi e que a tomada do pulso é o elemento capital do diagnóstico na Medicina Tradicional Chinesa o qual vai proporcionar ao acupunturista verificar a real condição energética do organismo e poder atuar acertadamente no tratamento ou no reequilíbrio energético que é a base para a saúde.
Este trabalho teve como objetivo demonstrar, de maneira um tanto quanto superficial, como é o método de diagnóstico utilizado pela Medicina Tradicional Chinesa ou, mais precisamente, a Avaliação da Condição do Qi.
Muito, ainda, teria que ser escrito sobre o assunto, mas isso fugiria da formatação de um artigo. Cada microssistema, cada Princípio tem um conteúdo imenso de detalhes que precisariam ser esmiuçados para se apreender toda a riqueza que é a Medicina Tradicional Chinesa e sua técnica aqui explicitada, a Acupuntura.
Diante de um mundo onde o ser humano cada vez mais se afasta de sua natureza, ingere alimentos geneticamente modificados, tem contato constante com radiação (celulares, etc.), trabalha cada vez mais para "ter" e não para "ser" e, tendo-se em conta que não passamos de partículas subatômicas (ou energia!), a importância da Medicinal Tradicional Chinesa nos propiciando a avalição da condição energética do Homem fica cada dia mais evidenciada.
Esperamos que, um dia, Céu-Homem-Terra voltem a se integrar, num movimento constante, rumo ao tao e que o equilíbrio entre o yin e o yang seja a expressão da saúde biopsicossocial de todo ser humano.
AUTEROCHE, B.; NAVAILH, P. O diagnóstico na medicina chinesa. São Paulo: Andrei, 1992.
DAHLKE, R. A doença como símbolo. São Paulo: Cultrix, 2000.
DETHLEFSEN, T.; DAHLKE, R. A doença como caminho. São Paulo: Cultrix, 1996
DULCETTI JUNOR, O. Pequeno tratado de acupuntura tradicional chinesa. São Paulo: Andrei, 2001.
Ling-Shu: base da acupuntura tradicional chinesa. Tradução e comentários Ming Wong. São Paulo: Andrei, 1995.
SUSSMANN, D. J. A acupuntura - teoria y practica: la antigua terapeutica china al alcance del medico practico. Buenos Aires: Kier, 1987.
https://www.monografias.com/pt/trabalhos3/psicologia-iridologia-personalidade-iris/psicologia-iridologia-personalidade-iris.shtml
Autor:
José Antonio de Oliveira
junguiano[arroba]saudepsi.com.br
Bacharel em Ciências Contábeis. Psicólogo. Especialização em Iridologia e em Terapia Sexual. Pós-graduando em Medicina Tradicional Chinesa.
IBRAHO – Instituto Brasileiro de Acupuntura e Psicologia
LATO SENSU EM ACUPUNTURA
[1] Não existe uma definição para o tao. A que melhor se aproxima é o "todo", aquele ou aquilo que engloba todas possibilidades do existir, um caleidoscópio. Segundo Dulcetti Junior,"Embora, o Tao se defina pelo indefinível, inominável, inefável. Presente em tudo e em todos, está acima de um princípio (li) - que significa estrutura interna regente e ordenadora de todas as coisas, estabelecendo as leis do Universo." (2001, p. 41).
[2] Diz-se do "relativo" equilíbrio entre as diversas funções que mantém um organismo vivo e produtivo. O equilíbrio "absoluto" é a morte.
[3] "No homem, a Energia se expressa com a totalidade de todas suas manifestações vitais, físicas e psíquicas, pois todas são produtos simultâneos de sua atividade Yin-Yang. O objetivo supremo da vida é, sem dúvida, atingir o mais alto grau de virtude, que é transformar em ações o que homem tem dentro de si, o que não é outra coisa se não o Tao. Para que se consigo isso, é necessário que a Energia tenha um instrumento; esse instrumento é o próprio homem; o homem é, portanto, o meio e o fim. Assim, vemos que para a medicina chinesa o homem é um transformador de energia. Todo o seu organismo está estruturado nesse sentido." (Sussman, 1987, p. 29).
[4] Em Medicina Tradicional Chinesa não se faz diagnóstico mas a verificação do equilíbrio/desequilíbrio energético que leva ás doenças. O termo "diagnóstico" é aqui utilizado para efeito didático.
[5] Movimento = troca energética yin-yang entre o homem e a natureza.
[6] Deficiência = desequilíbrio para menos; excesso = desequilíbrio para mais, das energias que compõe o homem
[7] "... há que se agregar a turbulência dos sentimentos, cada um dos quais prejudica a um órgão: a alegria ao coração; a raiva, ao fígado, etc.". (Sussman, 1987, p. 31)
[8] Psiquiatra e psicólogo suíço que estudou profundamente a dimensão simbólica dos fatos e condições que permeiam a vida do ser humano. Para ele, uma situação é, em si, cheia de significado - o símbolo - para redirecionar o indivíduo rumo ao seu crescimento individual e ao seu reequilíbrio energético, ou seja, do consciente com o inconsciente, como do yang e o yin.
[9] "Diagnosticar não é dar nomes a um conjunto de sintomas, mas saber onde está o desequilíbrio. Este pode ser causado pela falta ou excesso de yang e/ou de yin. Para diagnosticar, a tomada dos pulsos é o mais importante, juntamente com o interrogatório, a inspeção e o exame físico. O tratamento consiste em regularizar a circulação da energia perturbada..." (Sussman, 1987, p. 31)
[10] Biao = interior e Li = exterior do organismo; na verdade, regiões mais internas ou mais externas do corpo.
[11] Estado de deficiência (vazio) ou de excesso (plenitude) de energia, ou seja, do yin ou do yang.
[12] Microssistema/sistema são termos utilizados para fins didáticos pois pertencem ao universo da Informática e não da Medicina Tradicional Chinesa.
[13] "O transporte das energias por todo o corpo é feito através dos "" Trajetos energéticos"" (Mo, Mai) chamados Meridianos... São verdadeiros vetores de energia que se propagam através do corpo; consistem em estruturas canaliculares distribuídas ordenadamente que conduzem a energia vital, formando uma rede energética ligando o exterior com o interior do corpo e interligando aas diferentes estruturas do organismo." (Dulcetti Junior, 2001, p. 147).
[14] Pulso = boca dos sopros
[15] Dulcetti Junior, 2014 - observação em sala de aula.
[16] A pele é considerada nosso 2º pulmão.
[17] Visto que a Avaliação da Condição do Qi requer avaliação de diversos aspectos e sob vários ângulos
[18] Normalmente, o horário de maior atividade do órgão ou viscera afetado, incluido o horário que a pessoa desperta durante o sono.
[19] São um total de 12 meridianos "principais", sendo 6 com energia de base yin (coração, pulmão, fígado, baço-pâncreas, circulação-sexo, rim), os órgãos; e 6 com energia de base yang (intestino delgado, intestino grosso, vesícula biliar, bexiga, estômago e triplo reaquecedor), as vísceras. A vesícula biliar e o triplo reaquecedor tem um tratamento diferenciado pois, embora não funcionem como vísceras, sua energia é yang.
[20] O shen representa o estado mental, o ânimo da pessoa. Às vezes é traduzido como espírito, erroneamente, já que os chineses não tinham essa noção do espiritual.
[21] Para maiores informações sobre irisdiagnose, consultar o trabalho de conclusão de curso de especialização do autor, indicado nas referências bibliográficas (endereço da internet).
[22] Região compreendida entre o lábio superior e a base do nariz (central e medial).
[23] Revestimento lingual
[24] Logicamente que essa permanência também é devida á mudança de um estilo errôneo de vida.
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