As primeiras Amazonas, de que há notícia, viveram há mais de 5000 anos na Grécia. Vamos conhecê-las.
Com a lenta emancipação da mulher nos séculos XIX e XX a história das Amazonas ganha uma dimensão e interesse suplementar. Podemos vê-las saltar dos vasos gregos onde primeiro foram desenhadas, escaparem-se das telas dos pintores, despirem a matéria inerte do bronze e mármore e invadirem os territórios que lhes foram vedados até então. Quem eram afinal estas mulheres guerreiras e com exércitos organizados, que viviam sem homens?
A crença das Amazonas, que viviam sem homens, encontra-se em todos os continentes, excepto na Oceânia, segundo os especialistas. Fala-se delas na China, em «ilhas misteriosas» um pouco por todos os oceanos; em relatos de navegadores árabes dos séculos XI, XII e XIII e através do folclore da Escandinávia, da Rússia, da Boémia, de África e das Índias. Podemos concluir que as Amazonas impressionaram vivamente homens de todos os tempos. Elas são um tema recorrente e aparecem em obras literárias, bailados e de modo particularmente fecundo na pintura e escultura e agora na ópera.
Em 1492, Cristóvão Colombo, no regresso da primeira viagem ao Novo Mundo, ao aportar a uma das ilhas das Caraíbas, sofreu, por parte de uma tribo guerreira, composta por mulheres, uma recepção francamente hostil. Sobre esse inesperado encontro escreveu a Luís de Santangel, homem da corte dos Reis Católicos (Fernando e Isabel), nestes termos: «É a primeira ilha que se encontra, para quem vai de Espanha rumo às Índias e onde não há nenhum homem. Estas mulheres não se ocupam de qualquer actividade feminina, só executam exercícios com o arco e flechas fabricados com canas e cobrem-se de lâminas de cobre que possuem em abundância». Cristóvão Colombo e os seus homens foram os responsáveis pela passagem do mito das amazonas da Grécia para o Novo Mundo, a diferença era apenas que as gregas andavam a cavalo e as das Américas espanhola e portuguesa, simplesmente a pé. Os cavalos foram introduzidos no Novo Mundo pelos espanhóis, embora na América do Norte existissem cavalos selvagens, que há muito os aborígenes teriam domesticado.
Para o historiador brasileiro, Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) a razão que mantinha a maior parte do ano as mulheres separadas dos maridos ou companheiros e em ilhas diferentes não tem uma explicação misteriosa ou sobrenatural. «É que, de outra forma, nem uns nem outras teriam com que sustentar-se, dada a escassez de que padeciam aqueles lugares». Parece-nos incipiente o argumento.
Foram muitos os que escrevem e fantasiaram sobre as Amazonas. O conquistador espanhol Hernán Cortés, quando explorava a costa ocidental do México, cerca de 1520, relatou ao imperador Carlos V que muita gente lhe afirmava que era verdade existir «uma ilha povoada de mulheres sem qualquer macho. Em certas épocas os homens de Terra Firme vão visitá-las, elas dão-se a eles e as que dão à luz filhas ficam com elas, se nascem machos rejeitam-nos».
Voltando atrás no tempo. Das muitas ilhas gregas, ligadas às amazonas estão a ilha de Lesbos, pátria de Safo – a maior poeta da Grécia clássica; um pouco mais a Norte a ilha de Lemnos, apontada como sendo o local onde as amazonas teriam feito o seu reino, que se estendia até à Samotrácia, ainda mais a Norte. As amazonas seriam originárias da Trácia ou das costas meridionais do Mar Negro (Cáucaso) e teriam ido para a Capadócia (hoje território turco) habitando as margens do Rio Termodonte. (No séc. XVII, Rubens pintou dois vigorosos quadros onde representa as lutas das Amazonas contra Teseu, precisamente sobre este rio).
Segundo a lenda elas fundaram o mais antigo templo à deusa Ártemis (ou Artemisa), deusa ligada ao amor entre mulheres e a elas se deve também o desenvolvimento da cidade de Mitilene, na ilha de Lesbos, hoje uma verdadeira «bandeira» das lésbicas.
Quem primeiro narrou o mito das Amazonas foi Heródoto de Halicarnasso, no recuado séc. V a.C. na obra História. Segundo a mitologia grega, as Amazonas eram filhas do deus Ares (deus da guerra, filho de Zeus) e da ninfa Harmonia (ligada ao culto dos deuses de Samotrácia).
Um dos mais conhecidos encontros das Amazonas foi com os Argonautas que chegaram à ilha de Lemnos e por estranho que pareça, foram bem recebidos, a ponto de os homens ali permanecerem um ano, quase esquecendo a sua missão que era a demanda do «Velo de Ouro».
Como figuras elegantes e ágeis as amazonas couberam num imaginário abrangente. Fídias, Policleto e Crésilas esculpiram-nas em combates contra os Gregos. Os combates das amazonas mais representados foram contra o coríntio Belerofonte (um dos heróis da Ilíada), que as venceu e a quem Eurípedes dedicou uma tragédia; contra o herói de Atenas – Teseu – que se apaixonou pela rainha Hipólita, de cuja união nasceu Hipólito, protagonista de outra tragédia de Eurípedes (séc. V a.C.) e um dos poucos filhos de uma amazona que terá atingido a idade adulta; contra Aquiles, outro herói de Homero, que se perdeu de amores por outra rainha das amazonas, Pentesileia. Neste caso, a Guerra de Tróia colocou os dois amantes em campos opostos.
Aquiles venceu a rainha das Amazonas, mas no momento em que lhe enterrava a espada no peito sentiu-se arrependido e subjugado pelo encanto da sua intrépida opositora; mas já era tarde e Pentesileia acaba por lhe morrer nos braços, como se pode ver numa taça ática de figuras vermelhas, cerca de 460 a.C. Outro combate imortalizado teve como protagonista Hércules, sendo o confronto o oitavo dos chamados Doze Trabalhos de Hércules, que consistia em arrebatar o cinto da rainha das amazonas, Hipólita. Esta, por amor, oferece o cinto sem luta, mas a ciumenta mulher de Zeus, disfarçada de amazona, provocou a confusão entre as hostes e Hércules acabou por sacrificar, sem querer, Hipólita. Outra rainha das Amazonas, Talestris, segundo a lenda teria vencido o rei persa, Ciro o Grande.
Ora vencidas ora vencedoras, as amazonas atravessaram séculos sempre despertando o mais vivo interesse. A longa Idade Média não conseguiu deixar de fora estas guerreiras. Elas foram principalmente sedutoras para os pintores, como o melhor pretexto para, esquivando-se ao peso moralizador da Igreja Católica Romana, que proibia as representações de nus, as mostrarem como figuras míticas e assim poderem ser pintadas e moldadas a seu bel-prazer, sob levíssimas ou quase nenhumas roupagens.
Mulheres valentes, oriundas do povo ou de famílias nobres foram grandes cavaleiras e são conhecidas várias que passaram à história dos seus países ou regiões, como Boadiceia, que tem uma enorme estátua no Reino Unido. Ela opôs-se aos Romanos e preferiu o suicídio colectivo à violação e derrota. Joana d’Arc não é uma figura lendária. É a mais conhecida figura histórica da França.
O simbolismo das Amazonas, como guerreiras foi, nomeadamente, importante para as mulheres do período da Revolução Francesa. Ficaram conhecidas, em 1790, as Amazonas de VIC (departamento dos Altos Pirinéus), como o são hoje tanto para os movimentos de lésbicas, como para as associações de mulheres que sofreram mastectomia. Há uma revista belga, de lésbicas com o nome de Pentesileia.
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