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Se o descaso pelo estudo da sintaxe é o traço mais importante do desapoio à escrita e à oralidade, pois sem sintaxe não há pensamento, cabe perguntar por que possíveis motivos fica todo o estudo da Língua, nos estudos elementares, secundários e superiores, limbo de onde lhe tem sido difícil sair.
Entendo que também isso se deve a uma questão de mentalidade ou, talvez melhor, a um tipo de postura mental que adquiriu foros de cidadania de há alguns anos para cá, precisamente quando se começou a entender cada vez mais que a democratização do ensino equivale à perda de qualidade do saber que se transmite e que se quer ver adquirido.
Em vários lados do percurso escolar nos diferentes níveis, temo-nos contentado com muito pouco, talvez mesmo com o mínimo, a nível do que é realmente importante. Temo-nos deixado encantar com um conjunto de conhecimentos, sem dúvida necessários e utilíssimos, mas desde que se não substituam ao conhecimento fundamental, que é o da Língua, antes e à frente de qualquer outra coisa.
Esquecemo-nos de que o empobrecimento da expressão oral e escrita é o empobrecimento da nossa própria personalidade pessoal e cultural, não nos lembramos de que estreitar os horizontes linguísticos é afunilar os horizontes da nossa interacção das coisas e da nossa liberdade de ser. Esquecemo-nos de que a liberdade de e do ser cria-se e se mantém na troca de discursos coerentes coesos, dúcteis e capazes de construir a subtileza das percepções e nos educar permanentemente para irmos compreendendo cada vez melhor os pequenos recônditos onde a inteireza da realidade se resguarda e se constitui.
Segundo Joaquim Azevedo "escritor" técnico da área da educação diz que em primeiro há um problema de base que é necessário considerar. Os níveis de qualificação e instrução da nossa população adulta são muito baixos. O fenómeno da massificação escolar é muito recente entre nós. Por isso, quando se procura interrogar os baixos níveis de leitura, esbarramos sempre com este problema estrutural.
Em segundo lugar, sobretudo nos meios urbanos, o ritmo alucinante de vida das famílias, deixa pouco tempo e pouca disponibilidade para dedicar à leitura e a escrita. Nem se percebe bem a irritação de muitos adultos com a propagada diminuição dos hábitos de leitura e de escrita. As crianças também crescem por imitação e ninguém imita o que não vê e não sente da parte dos adultos. A excessiva culpabilização da educação escolar pelos fracos índices de leitura da população portuguesa deve ter muito que ver com esta dificuldade com dos adultos em ler e escrever, como rotinas integradas no quotidiano pessoal e social. Se todos os adultos lessem e as crianças não lessem, aí o caso seria de espantar e mereceria cuidados redobrados. Mas não é isso que acontece.
No que se refer à educação escolar, é evidente o seu papel nuclear na educação da leitura e da escrita. A estimulação destas competências é, hoje, desenvolvida por todos os professores e há mesmo muitas escolas que desenvolvem projectos específicos de apoio complementar.
O 1º ciclo tem um papel fundamental no ensino/aprendizagem da leitura e da escrita. E, já agora, convém referir que os novos currículos do 1º ciclo se tem vindo a melhorar, nos últimos anos, as competências no domínio da leitura e da escrita. Escreve-se, hoje, muito mais e atribui-se à escrita um papel educativo que não teve os últimos decénios. Os resultados destes esforços e a sua percepção social vão demorar ainda vinte ou trinta anos a tornarem-se visíveis.
Estes investimentos, por exemplo, em melhorar os níveis de leitura e de escrita, com resultados avaliáveis, apenas no longo prazo, são investimentos para os quais há, normalmente, pouca sensibilidade política.
Os esforços de escolarização massiva nos anos 70 e 80 só terão repercussões socioculturais marcantes quando essa mesma geração substituir a actual no comando da vida social, económica, cultural e política.
Após quarenta anos de desinvestimento, não é fácil recuperar e depressa. Vai ser preciso esperar!
Finalmente, creio que cabe aos vários agentes da sociedade portuguesa, aos escritores, livreiros, professores, autarcas, organismos culturais locais, muitas vezes em cooperação com as escolas, tomar a dianteira da iniciativa da promoção da escrita e da leitura.
Segundo Alberto Oliveira Pinto – Há cerca de um mês, numa das já muitas escolas dos bairros mais desfavorecidos de Lisboa onde tenho feito sessões de animação e sensibilização à criatividade literária, os miúdos mostram-me entusiasticamente, no fim da minha aula, mais uma "invencionice" que veio na esteira desse grande negócio que tem sido – embora tendo por base um excelente filme – o Rei Leão dos estúdios Walt Disney. Logo a seguir uma rapariguinha veio mostrar-me um outro livro cartonado e ilustrado igualmente com desenhos da Walt Disney que incluía duas histórias. A primeira delas, precisamente aquela de que a rapariguinha mais gostou, era O Livro da Selva, baseada na obra homónima de Rudyard Kipling, e não deixei de ficar emocionado quando amiúda me perguntou se eu a conhecia.
Expliquei-lhe a ela, e aos colegas, que se não existisse aquela história, O Livro da Selva, eu provavelmente não estaria ali a conversar com eles porque, embora não desdenhando da hipótese de ter sido igualmente escritor, seria sem dúvida outro escritor. Contei-lhes que, quando tinha a idade deles, sete, oito anos, passou em Luanda e em Lisboa uma longa-metragem da Walt Disney com a história Mogli, que fez na altura, entre os que tinham a minha idade, um sucesso idêntico – salvaguardadas, evidentemente, as devidas proporções comerciais e tecnológicas – aquele que agora tem tido entre os meus alunos e os meus filhos O Rei Leão. Contei-lhes também que, depois de ter ido ao cinema ver O Livro da Selva, gostei tanto do filme que andei meses a contá-lo a toda a gente. Como naquele tempo não existiam vídeos, sonhei com uma televisão que só passasse programas que me interessassem e eu próprio comecei a filmar ou a refilmar na minha cabeça histórias da minha invenção ou outras que gostaria de ver passadas nesse ecrã. O Livro da Selva na versão Walt Disney foi refilmado vezes sem conta. Nuns recreios da escola era frequente isolar-me e entregar-me àquilo aqui chamava "pensar histórias", que mais não era do que assistir ao correr de imagens que se sucediam na minha cabeça, ao mesmo tempo que mimificava essas acções. Lembro-me, por exemplo, de desfechar muros no vazio quando as cenas eram de pancadaria, de me abraçar a mim próprio e dar beijos no ar se havia cenas de amor e de criar um código com os dedos que simbolizava homens ou animais a correr num plano cinematográfico recuado.
No entanto não eram suficientes estas duas fases do processo de transmissão das histórias, quer a primeira, de mera narração oral, aquém estivesse disposto a ouvir-me, quer a segunda, de mimetização. Havia necessidade de uma terceira fase e essa surgiu porque, na então 2ª Classe, comecei a ter de executar um exercício que fez com que, daí em diante, a escola, a que sempre tinha sido tão renitente, se transformasse em alguma coisa que valia a pena. O exercício a que me refiro era aquilo a que nesse tempo se chamava de redacção e hoje se chama – não sei porquê – composição. Não vale a pena descrever aqui o deslumbramento que senti ao fazer a minha primeira redacção. A primeira foi, precisamente, sobre o filme de Walt Disney O Livro da Selva. Depois dela vieram muitas outras, quer narrando filmes que via, livros que lia ou, pura e simplesmente, histórias saídas da minha imaginação. A pesar de, com o tempo, me ter tornado essencialmente um autor de obras originais, nunca enjeitei o exercício da recriação de obras já escritas, como foi o caso da adaptação que ainda há poucos anos fiz de A Canção de Rolando e que a Edinter publicou na colecção Velhas e Novas Andanças.
Segundo António Mota professor do ensino primário diz que não me é fácil alinhavar palavras para falar desta actividades que tanto me fascina: escrever.
Muitas vezes me colocam a questão de como foi que tudo começou das motivações que me levaram a abraçar esta arte e não outra.
Para ser sincero, e por muito que isto destoe, o grande culpado foi certamente o velho Adrianinho da minha aldeia, que muito gostava de contar histórias esquisitíssimas, onde havia quase sempre um eremita, que comia ervas e mamava nas tetas das lobas um leite mais saboroso que o das cabras fartas.
Um o Adrianinho desapareceu da aldeia e foi morrer nas fragas do Marão. Algum tempo depois vi-lhe os ossos metidos no saco de serapilheira e logo me pus a magicar uma história para aquele eremita que não teve a sorte de encontrar uma loba que o deixasse provar do tal leite que tinha a força da terra.
Também tem culpas no cartório a carrinha da biblioteca itinerante da Gulbenkian que eu ia esperar à estrada uma vez por mês.
Aquela carrinha tinha um cheiro e um encanto ainda maiores que os andores do S. João ou o presépio do natal.
Com dezoito anos diplomaram-me professor de meninos da escola primária e comecei a ganhar a vida dando aulas numa escola em que eu era director, professor, funcionário de limpeza e cozinheiro diário de um panelada de leite em pó que levantava fervura nas horas mais inconvenientes e as vezes torrava.
Foi nessa escola que aprendi as cores da solidão e também a vontade imensa de comunicar. Por isso não se estranhe que aí nascesse a primeira história que publiquei; e alguns leitores julgassem ser da autoria de um avô, que escrevia para os seus netos.
Custa muito ser-se jovem. Aí, que secreta vontade de mostrar uns cabelinhos brancos para sermos tolerados!
Continuei a escrever histórias sem nada saber de teorias e fui-me então apercebendo que elas eram lindas. É que grande alegria quando o carteiro me entregou um carta que antes do meu nome dizia escritor. E lá dentro havia um convite para ir falar a uma escola.
Que angústia.falar de quê? Lá fui e foi bom. Meu pai na sua simplicidade de tamanqueiro disse-me. Seja em que profissão for tudo o artista gosta de ter muitos fregueses. Quem terá mais fregueses, tu ou eu?
Calei-me, derrotado.
Mas se ele agora fosse vivo veria que entretanto a situação se inverteu. Escrevo porque gosto de contar o meu medo, e o melhor que sei, uma história.
Escrevo sabendo que são os leitores "que escolhem os livros, e não os livros os leitores; é que escolhendo livros, os leitores se procuram, sobretudo a si próprio," como disse um dia Manuel António Pina.
Mas há da minha parte – creio ser esse o termo – uma interiorização do leitor para quem eu estou a escrever. E o primeiro leitor só eu, obviamente.
O que faço dá-me prazer e também me consome, porque neste jogo em que alinhei, o baralho é meu, as cartas estão viciadas, parto e reparto e fico com a melhor parte.
É que parte é essa?
É o esgaravatar em todos os caniços da memória.
Eu não acredito que o nada absoluto possa frutificar seja lá no que for. Para escrever é preciso ter memória. E uma boa história há-de ter dentro de si a marca de quem a escreveu.
Segundo Espirídia Viterbo. A minha carreira de tradutora iniciou-se de maneira absolutamente acidental.
Há alguns anos – e não tantos como isso – a tradução não era encarada como perspectiva séria de profissão. Não passava de uma actividade marginal, algo que se fazia nas horas vagas que se conseguiam arranjar, à margem de uma actividade principal.
Era uma "biscate", um modo de ganhar uns tostões para equilibrar o orçamento mensal. Qualquer pessoa que dominasse uma língua estrangeira, ainda que apenas durante umas férias passadas no "internacional" Algarve, se achava capaz de traduzir fosse o que fosse.
Por parte dos empregadores, a exigência também não era grande. A final, os portugueses sempre tiveram tanto jeito para línguas!... Era um trabalho muito mal remunerado e pouco responsabilizado e, por estas e algumas outras razões, o panorama da tradução neste País era absolutamente desoladora.
Frequentemente, obras literárias de autores consagrados eram convertidas em repositórios de incongruências, verdadeiros disparates e anedotas devido a excessiva literalidade das traduções.
Na tradução técnico-científica, o panorama não era mais animador: uma enorme falta de rigor e de uniformização de terminologias que, em minha opinião, conduziu à imposição de termos técnicos e científicos na linguagem original como se o Português fosse uma língua tão limitada e tão pobre que não tivesse conceitos ou palavras que os exprimissem com rigor.
Muitas vezes, no nosso quotidiano, damos por nós a utilizar "dialectos" estranhíssimos e ridículos, em tudo comparáveis ao já muito criticado e ridicularizado "Françuguês" dos nossos emigrantes.
A título de exemplo, e recorrendo as novas tecnologias actualmente tão em voga, vejamos o que se passa no campo da informática: hoje em dia seivam-se documentos, apedeitam-se ficheiros, estendem-se as memórias dos computadores, fazem-se béquapes e imputam-se dados.
Com este tipo de linguagem, não admira que a utilização de um vulgar computador constitua, ainda agora, um bicho-de-sete-cabeças para qualquer pessoa com mais de 25 anos.
Quanto à facilidade demonstrada pelos mais novos nestes campos, é reconhecida a sua competência na utilização de variados calões, redutores da língua Portuguesa, a par com a utilização cada vez mais deficiente da sua língua nativa.
No campo dos audiovisuais a situação não era muito diferente. A confusão era ainda maior, inclusivamente devido ao facto de neste campo o texto ser mais efémero: uma voz de fundo debita um texto que acompanha imagens ou as legendas que passam a correr têm a duração limitada. Apenas quando algo corre mal alguém repara no trabalho do tradutor.
Estou certo de que a maioria dos presentes já passou pela experiência algo frustrante de não entender patavina de determinadas cenas de filmes ou seres de televisão devidos às legendagens arrevesadas, incorrectas e por vezes cómicas que nos são apresentadas.
Uma vez que foi no campo da legendagem e abordagem que iniciei a minha carreira há cerca de uma década, não posso deixar de referir algumas particularidades deste tipo de trabalho que, não raras vezes são responsáveis por algumas das deficiências do trabalho do tradutor, excluindo, claro está, os casos que é perfeitamente detectável a ignorância e falta de preparação de alguns tradutores.
Não posso, todavia, deixar de mencionar alguns dos problemas mais comuns que, neste campo particular da tradução, dificultam e prejudicam grandemente o trabalho do tradutor:
_ Quase invariavelmente, ao tradutor é apresentado o trabalho "para ontem" obrigando-o a trabalhar sob grande pressão, o que frequentemente resulta num produto final menos cuidado;
_ Também muito frequentemente, os textos e guiões são de péssima qualidade literária. É sabido que uma boa tradução poderá melhorar substancialmente um mau texto, mas também não é menos verdade que nunca poderá torná-lo bom, especialmente quando existe a condicionante da imagem que o texto complementa;
_ A dificuldade de visionar as imagens que o texto vai acompanhar. Por qualquer misteriosa razão, muitas vezes o tradutor trabalha "as cegas", sendo-lhe exigida uma capacidade de visualização a partir do texto que, em muitos casos, transcendem a barreira da "percepção extra-sensorial" porque, nesta, era do predomínio da imagem sobre a palavra, as imagens parecem nunca estar disponíveis para visionamento num comum leitor de videocassetes;
_ A falta de tratamento pós-produção ou aquilo que mais prosaicamente se poderá designar por "não dar a letra com a careta".
Segundo Majo de Sadeleer – Adolescentes – à procura da informação
Pode surpreender os adultos, mas provavelmente não os jovens leitores, o facto de que a escola só venha em 5º lugar. Nem se sequer um em dois dos inqueridos menciona a escola como um lugar onde pode encontrar informação sobre o que se passa no mundo.
As escolas tomam a seu cargo a distribuição da top magazine. De qualquer forma, a revista não é concebida para ser usada na aula. Os 3 fundamentos da revista são: conhecimento, emoção e cultura.
- Conhecimento
O desafio é ser explorativo sem ser aborrecido. Por conseguinte, experimentamos variadas formas literárias.
Um dos nossos mais ambiciosos projectos é a publicação quinzenal de um folheto grátis inserido na revista, dando a conhecer os bastidores da informação mundial.
- Maria Lúcia Lepecke – Professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
- Joaquim Azevedo – Professor dos ensinos preparatório e secundário
- Alberto Oliveira Pinto – Escritor
- António Mota – Escritor
- Espirídia Viterbo – Tradutora e professora de Inglês/português
- Majo de Sadeleer – Editora.
Autor:
Adriano Sangundji
adrianosangundji[arroba]yahoo.com.br
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