Objetivos: verificar a prevalência de desnutrição energético-protéica (DEP), anemia e enteroparasitoses em crianças de uma favela do "Movimento dos Sem Teto".
Métodos: estudo transversal envolvendo 137 crianças (6-60 meses). Como indicador da DEP aplicou-se o ponto de corte z < -2 aos indicadores peso para idade (P/I), altura para idade (A/I) e peso para altura (P/A), relativamente ao padrão do NCHS. Para caracterização da anemia, usou-se método da Organização Mundial de Saúde, (haemoglobin colour scale). Concentração de hemoglobina < 11g/dl caracterizou o estado de anemia. Todas as crianças foram submetidas a exame parasitológico de fezes.
Resultados: as prevalências de deficits nutricionais para os indicadores A/I, P/I e P/A foram, respectivamente, 22,6%, 16,1% e 1,5%. Quase todas as crianças apresentaram pelo menos um tipo de parasita (83,2%). Destas, 50,9% eram poliparasitadas. As associações mais freqüentes foram Ascaris + Trichuris (15,7%) e Ascaris + Giardia (13%). A anemia foi detectada em 96,4% das crianças.
Conclusões: em virtude das altas prevalências de DEP, anemia e parasitoses e, considerando o efeito sinérgico entre desnutrição e infecções, conclui-se que o quadro de saúde verificado é extremamente precário, requerendo intervenção imediata a fim de garantir melhores condições de crescimento, desenvolvimento para essas crianças.
Palavras-chave: Avaliação nutricional, Desnutrição protéico-energética, Anemia ferropriva, Enteropatias parasitárias
Objectives: to investigate the prevalence of protein-energy malnutrition (PEM), anemia and intestinal parasitic infections among children of a slum of the "Homeless Movement".
Methods: this is a cross-sectional study involving 137 children aged from six to 60 months. Malnutrition was defined by an z score < -2 of weight for age (WAZ), height for age (HAZ) and weight for height (WHZ) relatively to the NCHS. The World Health Organization method (haemoglobin colour scale) was used to characterize anemia: hemoglobin concentrations < 11g/dL. All children were submited to feces parasitological examination.
Results: the prevalence of nutritional deficiency for WAZ, HAZ and WHZ were, respectively, 22,6%, 16,1% and 1,5%. Almost all children were infected by, at least, one parasite (83,2%) and, among these 50,9% were multiinfested frequent. Ascaris + Trichuris (15,7%) and Ascaris + Giardia (13%) were the most frequent association. These also were the most commonly found parasites. Anemia was detected in 96,4% of the children.
Conclusions: considering the high prevalence of PEM, anemia and intestinal parasitosis and also the synergic effect between undernutrition and infections, the health situation of this community is extremely precarious, so demanding a prompt intervention to guarantee better growing and developing conditions for those children.
Key words: Nutritional assessment, Protein-energy malnurition, Anemia iron-deficiency, Intestinal diseases, parasitic.
O estado nutricional pode ser definido como a condição de saúde e a constituição corporal do indivíduo, resultantes da ingestão e utilização biológica de nutrientes no decorrer de sua vida.1 Enquanto que a ingestão depende fortemente do poder aquisitivo das famílias, a utilização biológica está claramente associada a situações tais como as doenças infecto-parasitárias. Tanto uma condição quanto a outra estão comprometidas em ambientes caracterizados pelo baixo nível socioeconômico. Assim posto, fica evidenciada a determinação social da desnutrição. Portanto, o estudo de sua prevalência constitui-se num excelente indicador de desenvolvimento social.2
A Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN)3 revelou que 30,7% das crianças brasileiras eram desnutridas, sendo que 5,1% em grau moderado ou grave de acordo com a classificação de Gomez et al.4 A prevalência de desnutrição (todas as formas) foi cerca de duas vezes e meia maior no Nordeste (40,0%) do que a encontrada na população do Sul e Sudeste (20,6%). Para os casos de desnutrição moderada e grave, a diferença foi ainda mais expressiva: 10,1% para o Nordeste e 2,4% para o Sul e Sudeste.3 Se considerarmos que no âmbito regional existem enormes distorções quanto à distribuição de renda e qualidade de vida da população, tais valores, quando apresentados para toda a Região ou mesmo para os Estados, apesar de serem por si só preocupantes, mascaram a gravidade com que o problema se manifesta em localidades mais restritas, onde a exclusão social se apresenta de forma mais contundente. Assim, a prevalência de desnutrição detectada pela PNSN para o estado de Alagoas foi bem inferior à que temos encontrado em comunidades periféricas desse Estado.5-8 Portanto, justifica-se a condução de inquéritos nessas comunidades notadamente submetidas aos fatores de risco nutricional.
Segundo Andrade et al.,9 a desnutrição não se constitui em um fato isolado, mas no efeito da ação recíproca de fatores socioeconômicos, políticos, culturais e ambientais os quais atingem com maior intensidade as crianças pequenas que vivem em situações de pobreza extrema.
Esse fato é especialmente preocupante haja vista que os danos causados pela desnutrição são tão mais severos quanto mais rápido for o ritmo de crescimento e desenvolvimento. Existe um considerável corpo de evidências indicando que a desnutrição, em fases precoces da vida, promove redução da capacidade de realizar trabalho, maior vulnerabilidade às infecções, menor capacidade cognitiva, redução na capacidade de biotransformação metabólica, má-absorção intestinal de nutrientes, entre outros deficits.2
As anemias carenciais, ao lado da DEP, da hipovitaminose A, do bócio endêmico e da cárie dental, representam os principais problemas nutricionais de importância clínico-epidemiológica em nosso País.10 As anemias por deficiência de ferro se constituem em um dos principais problemas de saúde pública em âmbito mundial, atingindo sua máxima prevalência nos países subdesenvolvidos e/ou em desenvolvimento. Até predominam padrões dietéticos deficientes e fatores ambientais adversos que propiciam elevada prevalência de processos infecciosos e parasitários refletindo a situação econômica e social das populações carentes.11
Além da inadequada ingestão de alimentos, as parasitoses intestinais têm sido consideradas importantes fatores na etiologia das anemias carenciais e da DEP.12 Todavia, essa constatação aparentemente óbvia, não tem sido suportada por inúmeros trabalhos, sendo ponto de discórdia entre pesquisadores.13-15
O objetivo deste trabalho foi investigar a prevalência de enteroparasitoses, anemia e desnutrição energético protéica (DEP), em crianças pertencentes a população de uma favela da periferia do município de Maceió, bem como verificar a existência de associação entre essas variáveis.
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