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Influência do treinamento aeróbio e anaeróbio na massa de gordura corporal de adolescentes obesos (página 2)

Natacha Toral; Betzabeth Slater; Isa de Pádua Cintra; Mauro Fisberg

 

5) Teste ergoespirométrico (avaliação aeróbia): Para avaliação da capacidade aeróbia e para determinar a intensidade do treinamento, cada indivíduo selecionado realizou um teste ergoespirométrico com eletrocardiograma de esforço, de onde foram obtidos os parâmetros necessários para determinação individual da intensidade do treinamento. Nas reavaliações o eletrocardiograma de esforço não foi necessário. Foram determinadas as seguintes variáveis: consumo máximo de oxigênio (), limiar ventilatório, freqüência cardíaca máxima e freqüência cardíaca de treinamento (freqüência cardíaca na intensidade do limiar ventilatório). Estas variáveis foram utilizadas para padronizar o treinamento físico dos voluntários. A utilização da denominação foi determinada para uniformizar a denominação de com a comumente encontrada na literatura, muito embora alguns voluntários apresentassem somente o pico. Os testes ergométricos foram realizados em bicicleta modelo CYBEX THE BIKE (marca CIBEX).

Protocolo do teste: Os testes foram iniciados com 25 watts, ou seja, os voluntários iniciavam o teste pedalando na bicicleta acima descrita contra uma carga de 25 watts. Nos primeiros dois minutos os voluntários pedalavam com 25 watts, mantendo 80RPM; após os dois minutos iniciais, o incremento de 25 watts a cada minuto foi feito manualmente até a exaustão do voluntário.

Equipamento: As variáveis respiratórias e metabólicas foram obtidas pelo método de mensuração das trocas gasosas respiratórias com um sistema metabólico (Vista XT metabolic sistem, EUA) computadorizado (Intel 486, DX2, 66mhz). Foi utilizado um conjunto de máscara, gorro e turbina com vedação da boca e nariz levando o ar expirado ao equipamento de análise de gases. O analisador de gases metabólicos utilizado é do tipo Sistema Mini Vista CAX Vacumed Califórnia — USA. Para a monitoração da freqüência cardíaca foi utilizado um freqüencímetro cardíaco do tipo Polar — modelo BEAT.

6) Teste de Wingate (avaliação anaeróbia): Para determinação da potência anaeróbia máxima foi utilizado o teste de Wingate, realizado na bicicleta CIBEX THE BIKE, de onde foram obtidos os valores de padronização do treinamento anaeróbio. A bicicleta CIBEX THE BIKE apresenta um programa computadorizado para o teste anaeróbio. O teste é realizado pedalando-se com a maior velocidade possível por um período de 30 segundos contra uma resistência estabelecida levando-se em consideração o sexo e massa corporal do voluntário.

7) Treinamento físico

Treinamento aeróbio: O programa de treinamento aeróbio foi desenvolvido em cicloergômetro, três vezes por semana, durante 12 semanas e por um período inicial de 40 minutos. No segundo mês a atividade foi realizada durante 50 minutos e no terceiro mês, durante 60 minutos. O aumento da sobrecarga do treinamento foi feito na duração e não na intensidade da atividade, ou seja, durante todos os três meses de treinamento a intensidade foi a mesma, havendo somente o aumento no tempo de atividade. As atividades aeróbias foram padronizadas de acordo com a percentagem do consumo máximo de oxigênio (). De acordo com o Colégio Americano de Medicina Desportiva (ACSM)(20), os programas de treinamento físico visando perda de massa corporal devem ser realizados com aproximadamente 60 a 70% do .

Treinamento anaeróbio: O treinamento anaeróbio foi realizado utilizando-se método do "Treinamento Intervalado"(21-24). O trabalho intervalado foi realizado com séries de trabalho na bicicleta ergométrica com uma carga equivalente a 25 watts x 0,8% da massa corporal do voluntário, durante 30 segundos, com um intervalo para recuperação ativa (andando) de três minutos entre as séries. No primeiro mês os voluntários completavam 11 séries no cicloergômetro com uma velocidade de rotação dos pedais acima de 80RPM; os voluntários foram instruídos para pedalar na maior velocidade possível. O tempo total de cada sessão no primeiro mês foi de 40 minutos. No segundo mês, houve aumento no tempo de trabalho com carga, de 11 séries os voluntários passaram a realizar 14 séries com incremento de 10% na carga inicial, totalizando um tempo de treinamento por sessão de 50 minutos. No terceiro mês, os voluntários passaram a realizar 14 séries de 45 segundos, com a mesma carga do segundo mês e com o mesmo tempo de recuperação, totalizando um tempo de treinamento por sessão de 60 minutos.

8) Avaliação e orientação nutricional: A avaliação nutricional foi realizada por uma nutricionista designada para acompanhar a realização do projeto. Os voluntários realizaram três consultas com a nutricionista (inicial, no final de dois meses e no final do terceiro mês), em que entregavam os inquéritos alimentares e recebiam a orientação dietética.

9) Inquérito alimentar: O inquérito alimentar foi realizado através de instrumento próprio, elaborado para satisfazer os propósitos deste estudo. Na elaboração do instrumento foi adotada uma metodologia objetiva e simples, de modo a possibilitar melhor adesão dos adolescentes. Foi utilizado o método de registro alimentar durante três dias na semana, empregado por vários outros autores(25-28), e mais um dia no final de semana. Os dias da semana foram escolhidos aleatoriamente podendo variar entre os adolescentes baseado nos resultados divulgados por Chalmers et al.(29), de que a avaliação da ingestão alimentar por métodos de inquérito independe do dia da semana em que a informação será coletada. Os inquéritos obtidos foram analisados utilizando um programa de computador idealizado pela USP – Faculdade de Saúde Publica, software Virtual Nutri, desenvolvido por Phillipi, S.T. (1995)(30).

10) Intervenção dietética: A intervenção dietética foi baseada na proposta da equipe multidisciplinar do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da disciplina de Especialidades Pediátricas do departamento de Pediatria da Unifesp EPM, a qual preconiza a manutenção da massa corporal do adolescente por meio de modificações no comportamento alimentar, sem a realização de dietas restritivas e preestabelecidas. As orientações gerais estão relacionadas à redução da quantidade ingerida, ao evitar a repetição das porções, ao mastigar bem os alimento, ao não comer em frente à televisão, ao comer nos horários corretos, controlar a ingestão de alimentos ricos em gorduras e aumentar o número de refeições, passando de três para seis refeições diárias.

11) Método estatístico: A orientação estatística foi fornecida pela Disciplina de Bioestatística do Departamento de Psicobiologia da Unifesp/EPM.

Testes empregados:

Para avaliação da massa de gordura corporal, da massa magra corporal, da percentagem de gordura e da massa livre de gordura foi realizado o teste ANOVA de dois fatores (fator grupo: anaeróbio, aeróbio e controle; e fator tempo: inicial e final); como análise complementar, foi realizado o teste de Tukey utilizando o delta percentual(31). Com este tipo de análise foi possível identificar algumas diferenças significativas, nas variáveis estudadas:

– Para a idade, que não apresentou distribuição normal: teste de Kruskal-Wallis seguido do teste de Mann-Whitney;

– Para as demais variáveis:

– Entre os períodos inicial e final: teste T pareado.

– Entre os grupos: ANOVA seguido do teste de Tukey.

O programa estatístico utilizado foi o SPSS, o nível de significância foi fixado em pelo menos 5%.

12) Aspectos éticos do trabalho: Toda a metodologia (protocolos de testes e exercício) apresentada neste estudo foi aprovada pelo Comitê de Ética Médica da Universidade São Paulo (Unifesp) – Escola Paulista de Medicina.

5. Resultados

Os resultados são apresentados como média ± desvio padrão. O grupo I foi formado pelos voluntários que realizaram o treinamento anaeróbio (N = 10), o grupo II formado pelos voluntários que realizaram o treinamento aeróbio (N = 9) e o grupo III formado pelos voluntários controles (N = 9).

Em relação à maturidade sexual, todos os sujeitos incluídos no estudo se apresentavam no estádio puberal 4 ou 5 de Marshal e Tanner(32). Os valores iniciais de idade, massa corporal, altura e IMC não foram diferentes entre os grupos.

Os valores de massa corporal inicial e final de cada grupo são apresentados na tabela 1. Não foram detectadas diferenças entre os grupos para os valores de massa corporal inicial e final; estatura inicial e final e IMC inicial e final. Entretanto, os grupos I e II apresentaram diferenças entre os valores de massa corporal e IMC entre os períodos inicial e final (p < 0,05). A ANOVA de duas vias revelou diferenças significativas para a variável massa corporal ANOVA: fator grupo [F(2,24) = 0,03; p = 0,96] e fator tempo [ F(1,57) = 10,54; p = 0,003]. Não foi observada interação entre os fatores. Para a variável estatura não foram observadas diferenças estatísticas ANOVA: fator grupo [F(2,24) = 1,26; p = 0,30] e fator tempo [F(1,24) = 0,69; p = 0,41]. Não foi observada interação entre os fatores. Para a variável IMC foi detectada diferença significativa no fator tempo [F(2,24) = 11,14; p = 0,002], não sendo diferente no fator grupo [F(2,24) = 0,89; p = 0,42]. Não foi observada interação entre os fatores.

Quando comparados em relação aos valores de massa de gordura corporal total e massa de gordura de membros inferiores, os grupos apresentaram diferenças entre os períodos inicial e final para os valores de massa de gordura corporal total expressa em gramas nos grupos I e II (p < 0,01) e entre os grupos I e III (p < 0,05); para os valores de massa de gordura de membros superiores expressa em gramas os três grupos apresentaram diferenças significativas entre os períodos inicial e final e o grupo I foi diferente do grupo III (p < 0,01) quando comparados os valores do D%. Para a análise da massa de gordura corporal total foi observada diferença significativa no fator tempo [F(1,24) = 28,53; p = 0,00001], não sendo encontradas diferenças no fator grupo [F(2,24) = 1,30; p = 0,29]. Não foi observada interação entre os fatores. Já para a massa de gordura de membros inferiores foi observada diferença significativa no fator tempo [F(1,24) = 40,94; p = 0,000001], não sendo diferente para o fator grupo [F(2,24) = 1,14; p = 0,33]. Não foi observada interação entre os fatores. Os resultados são apresentados na tabela 2.

Os valores de massa de gordura de membros superiores não apresentaram diferenças estatísticas significativas para os valores de massa de gordura de braços inicial (GI = 3559,3 ± 1067,6; GII = 3548,4 ± 1087,6 e GIII = 4420,3 ± 1588,1) e final (GI = 3131,9 ± 1059,3; GII = 3196,6 ± 711,5 e GIII = 4119,2 ± 1503,3), nem entre os grupos. Também não houve diferença estatística significativa entre os grupos quando comparados os valores de D%.

Os valores de massa de gordura de tronco apresentados, não mostraram diferenças entre os períodos inicial (GI = 14617,9 ± 4136,9; GII = 14679,1 ± 3575,0 e GIII = 15691,6 ± 4531,1) e final GI = 12802,7 ± 4175,8; GII = 13349,6 ± 3519,2 e GIII = 15014,3 ± 4408,0), nem entre os grupos quando comparados os valores de massa de gordura de tronco. Não foram encontradas diferenças significativas quando comparados os valores de D%.

A tabela 3 apresenta os valores da percentagem de gordura de corpo total e percentagem de gordura de membros inferiores.

Não foram detectadas diferenças entre os grupos para os valores de percentagem de gordura corporal de corpo total; entretanto, todos os grupos apresentaram diferenças quando comparados os períodos inicial e final, assim como todos os grupos apresentaram diferenças nos valores de percentagem de gordura de membros inferiores. A análise de variância revelou diferença significativa em relação à percentagem de gordura corporal total no fator tempo [F(1,24) = 29,58; p = 0,00001], não sendo diferente no fator grupo [F(2,24) = 2,41; p = 0,11]. Não foi observada interação entre os fatores. Para a variável percentagem de gordura de membros inferiores, foi observada diferença significativa no fator tempo [F(1,24) = 28,17; p = 0,00001], não sendo diferente para o fator grupo [F(2,24) = 2,23; p = 0,12]. Não foi observada interação entre os fatores.

Para os valores da percentagem de gordura de membros superiores não foram observadas diferenças entre os períodos inicial (GI = 33,7 ± 7,2; GII = 34,0 ± 6,4 e GIII = 40,2 ± 8,6) e final (GI = 31,3 ± 7,5; GII = 31,8 ± 5,9 e GIII = 37,8 ± 8,1), ou entre os grupos, quando comparamos a percentagem de gordura de membros superiores ou o D%.

Os valores de percentagem de gordura de tronco são apresentados na tabela 4. Foram observadas diferenças entre os períodos inicial e final para os grupos I e II (p < 0,01); entretanto, não houve diferenças entre os grupos, nem quando comparados os valores do D%. A análise de variância revelou que houve diferença significativa no fator tempo [F(1,24) = 18,53; p = 0,0002], não sendo diferente para o fator grupo [F(2,24) = 2,01; p = 0,15]. Não foi observada interação entre os fatores.

Para o valor calórico total em quilocalorias, o grupo I apresentou diferença (p < 0,05) entre os períodos inicial (2328 ± 751) e final (1692 ± 260); os outros dois grupos não apresentaram diferenças entre os períodos inicial (GII = 2316 ± 884; GIII = 1789 ± 761) e final (GII = 1827 ± 629; GIII = 1593 ± 650). Não houve diferenças entre os grupos.

6. Discussão

A utilização do exercício físico tem sido um dos procedimentos mais empregados para o tratamento da obesidade. Uma reduzida taxa de atividade física é um fator de risco contribuinte para o desenvolvimento da obesidade; pouca atividade física aumenta o risco de incidência da obesidade e a obesidade pode também, por outro lado, contribuir para os baixos níveis de atividade física(33). Existe significativa relação inversa entre atividade física e índices de gordura(34,35).

Estudos comprovam a eficácia do exercício para aumento de queima de gordura e diminuição da massa corporal. Pessoas que se exercitam regularmente conseguem alcançar melhores resultados na perda de massa corporal do que os que não realizam nenhum tipo de atividade física(36). Embora o exercício não seja hábil em proteger o organismo da redução da taxa metabólica de repouso, causada pela utilização de uma dieta de baixas calorias (um procedimento comum quando se visa a perda de massa corporal), ele é muito eficaz para promover uma maior queima de gordura corporal(37).

Neste estudo utilizamos dois tipos de exercício físico para promover a diminuição do massa corporal e da gordura corporal. Dois tipos de treinamento físico foram conduzidos: o treinamento aeróbio e o treinamento anaeróbio.

No treinamento aeróbio foi utilizada a freqüência cardíaca como indicador da intensidade do treinamento. A freqüência cardíaca utilizada foi a correspondente àquela determinada no teste ergoespirométrico como sendo a freqüência cardíaca do limiar anaeróbio ventilatório 1 (LV1). O treinamento aeróbio se deu dentro do conceito da utilização de 60% do , o que determina uma atividade de média intensidade, capaz de promover a mobilização de gorduras durante a atividade.

O treinamento anaeróbio foi realizado com base no teste de Wingate, com tiros de 30 segundos (primeiro e segundo meses) e 45 segundos (terceiro mês) visando-se alcançar de 90 a 100% de RPM a cada tiro. Metodologia semelhante foi utilizada por Woitge et al.(38) e caracterizada como atividade anaeróbia de alta intensidade.

As diferenças entre os grupos deste trabalho para os valores de composição corporal foram observadas principalmente entre os grupos de treinamento anaeróbio e controle, o que pode ser devido à intensidade da atividade, uma vez que o treinamento anaeróbio apresentou uma carga de treinamento (relação entre volume x intensidade de trabalho) superior ao grupo de treinamento aeróbio.

Existem na literatura estudos comparando exercício aeróbio e treinamento de força na sua eficácia de prevenir a diminuição de massa magra ou aumentar a queima de gordura em adultos, crianças e adolescentes obesos. Com o desenvolvimento de novas técnicas, mais acessíveis e mais baratas, para a avaliação da composição corporal, as mudanças na composição corporal induzidas pelo exercício também têm sido objeto de muitos estudos.

Grillo(36) ressalta que o exercício sem modificação dietética parece não ser suficiente para produzir uma significante perda de massa corporal em pessoas obesas e que a estratégia essencial é associar o exercício físico à dieta; e que apesar do exercício não promover uma redução de massa corporal com intervenções curtas, ele é essencial na manutenção da massa corporal. A principal proposta deste estudo foi a de verificar as diferenças na composição corporal causada por exercício aeróbio e anaeróbio, sem uma intervenção nutricional constituída de dieta restritiva; os voluntários tiveram uma orientação nutricional, visando a educação alimentar no sentido da mudança de hábitos.

Uma das limitações do nosso estudo foi a impossibilidade de implementação de um controle dietético e de atividade física cotidiana mais rígidos. No início da pesquisa foi solicitado aos participantes que evitassem atividades físicas fora do programa de treinamento excetuando-se as aulas da educação física nas escolas e a diversão do final de semana. Com relação à dieta, embora não tenhamos tido como intervir diretamente, foi também pedido para os voluntários da pesquisa que tentassem seguir corretamente as orientações da nutricionista.

Em nosso estudo as diferenças da massa corporal e IMC entre os grupos, embora não tenham sido estatisticamente significativas mostraram que ambos os grupos de exercício tiveram uma diminuição estatisticamente significativa na massa corporal e conseqüentemente no IMC, quando comparados os valores inicial e final.

Isso provavelmente indica que, mesmo sem uma dieta restritiva, o exercício físico é capaz de promover uma perda de massa significante em termos biológicos, visto que os grupos de treinamento físico relataram satisfação com os resultados obtidos. Embora não tenhamos utilizado parâmetros para medir a "satisfação", como os grupos foram de pequeno número, foi possível um contato mais individualizado com os voluntários e os relatos foram feitos como comentários de como o período de treinamento vinha influenciando nas suas rotinas e como estava sendo a mudança do estilo de vida desencadeando uma melhoria na qualidade de vida.

Os voluntários do grupo controle obtiveram leve mudança na massa corporal que não refletiu no IMC e que pode ser explicada pela orientação nutricional adequada. A ingestão calórica dos adolescentes participantes desta pesquisa é muito maior do que a necessária, o que explica a condição de obesidade em que eles se encontram. A orientação nutricional foi efetiva, principalmente no início do programa, no sentido de reduzir a quantidade de alimentos ingeridos, o que ocasionou a mudança na massa corporal sem a utilização de exercícios físicos.

Skender et al.(39) realizaram estudo longitudinal de dois anos e concluíram que indivíduos que perderam massa corporal somente com dieta obtiveram ganho de massa corporal maior depois de terminada a intervenção, enquanto que indivíduos que realizaram somente exercícios físicos obtiveram menores perdas de massa corporal; entretanto, tiveram uma melhor manutenção da massa corporal adquirida. Nosso estudo produziu uma perda de massa corporal pequena; as maiores perdas de massa corporal se deram principalmente nos grupos de exercício, embora não tenha havido diferenças entre os grupos.

O exercício físico sozinho produz uma modesta perda de massa corporal, embora estudos comprovem que quando o exercício é realizado com grande intensidade pode promover grandes perdas de massa corporal; entretanto, indivíduos obesos geralmente não apresentam os requerimentos físicos e de aptidão necessários para realizar um exercício físico de alta intensidade(36,40). A intensidade do exercício afeta a magnitude da elevação da taxa metabólica pós-exercício mais do que a duração; entretanto, não parece possível que indivíduos destreinados sejam capazes de manter a intensidade necessária para produzir uma prolongada elevação no gasto energético pós-exercício(40).

O exposto acima pode ser uma provável explicação para a pouca diminuição de massa corporal ocorrida em nosso estudo, pois apesar de oferecermos uma orientação nutricional não podemos afirmar que todos os voluntários tenham realmente seguido tal orientação. Parece, portanto, que quando se trata de redução de massa corporal em indivíduos obesos a intervenção nutricional é de suma importância, não importando se os pacientes são adultos, adolescentes ou crianças.

Kraemer et al.(41) examinaram os efeitos fisiológicos de um tratamento dietético visando perda de massa corporal conjugada ou não ao exercício físico em homens. Os resultados obtidos indicam que a dieta conjugada ao exercício aeróbio e treinamento de força previne o declínio normal da massa livre de gordura e aumenta a potência muscular e o consumo máximo de oxigênio quando comparado à dieta restritiva sozinha. Treuth et al.(42) avaliaram as mudanças no tecido adiposo abdominal em meninas obesas pré-púberes com a introdução de um treinamento de força, sem a utilização de dieta restritiva e concluíram que, embora o tecido adiposo intra-abdominal não apresentasse mudanças após o período de cinco meses, a gordura corporal total e a gordura subcutânea abdominal aumentaram. Os voluntários deste estudo não apresentaram aumento na quantidade de gordura corporal, mesmo não havendo a utilização de dieta restritiva (ao contrário), foi possível determinar uma diminuição na gordura corporal total dos grupos de treinamento quando comparados os períodos inicial e final e entre os grupos de treinamento aeróbio e controles.

Ebbeling e Rodriguez(43), em estudo realizado com crianças obesas, concluíram que o exercício acarreta benefícios metabólicos durante a perda de massa corporal induzida pela dieta de baixa caloria. Sothern et al.(44) concluíram que um programa de treinamento de força pode ser incluído no tratamento de controle de massa corporal para crianças pré-adolescentes, pois resultaram na redução da massa corporal, IMC e percentagem de gordura corporal.

Na análise dos registros alimentares não foi possível identificar diferenças entre os grupos, embora todos os grupos tenham relatado uma baixa quantidade calórica que provavelmente não condiz com a realidade diária dos voluntários. Os registros foram realizados pelos próprios voluntários e acreditamos que, por poder escolher o dia e saber que nessa data deveriam relatar toda a ingestão calórica realizada, provavelmente nesses dias, e somente nesses dias de registros, a ingestão tenha sido menor, ocasionada pela necessidade de documentar tudo o que foi ingerido. Portanto, não parece possível que tenha havido uma mudança significativa nos hábitos alimentares dos voluntários neste estudo.

É bem documentado na literatura que o exercício físico auxilia na queima da gordura corporal(45,36,46-50). No presente estudo os grupos de exercício apresentaram redução na gordura corporal total e na gordura de membros inferiores, ambas expressas em gramas, quando comparados os períodos inicial e final de intervenção. Estes resultados estão de acordo com a literatura e mais uma vez evidenciam que a queima de gordura é facilitada quando o indivíduo realiza exercícios físicos visando perda de massa corporal. A diferença da gordura corporal total parece ter sido influenciada pela perda de gordura de membros inferiores, talvez influenciada pelo tipo de atividade, uma vez que o exercício físico proposto para ambos os grupos foi executado pelos membros inferiores (pedalar em bicicleta ergométrica).

Quando comparamos os grupos, o grupo de exercício anaeróbio apresenta redução na gordura total e gordura de membros inferiores evidenciada pelo delta percentual com relação ao grupo controle. Embora o grupo de exercício aeróbio não tenha apresentado diferenças estatísticas com relação ao grupo controle, as reduções, tanto de gordura total, quanto de gordura de membros inferiores, foram significativas do ponto de vista biológico. Acreditamos que com maior número de voluntários e/ou com maior tempo de intervenção as diferenças entre os grupos poderiam ser estatisticamente significativas.

Quando a gordura corporal é expressa em percentagem, foi possível determinar diferenças entre os períodos inicial e final para os três grupos na percentagem de gordura total e na percentagem de gordura de membros inferiores. Estes dados sugerem que a perda de gordura foi mais efetiva para os membros inferiores, refletindo na gordura corporal, mesmo quando não realizando um exercício físico, como é o caso do grupo controle, provavelmente devido ao esforço de mover a massa corporal extra nas atividades diárias como caminhar e subir escadas.

A diferença entre os grupos foi significativa quando comparados os grupos de treinamento anaeróbio e o grupo controle com relação ao delta percentual referente à percentagem de gordura de membros inferiores; o grupo de exercício aeróbio, embora não apresente diferença estatística com relação ao grupo controle, revela uma maior tendência à redução na percentagem de gordura de membros inferiores, sugerindo que o exercício físico maximiza a perda de gordura.

Com relação à percentagem de gordura de tronco, somente os grupos de exercício apresentaram redução com relação aos períodos inicial e final de intervenção. Segundo vários estudos, a distribuição da gordura corporal pode também ser um indicador de maior ou menor risco de doenças cardíacas, anormalidades na pressão sanguínea, tolerância à glicose e alterações nos níveis de colesterol, sendo que os indivíduos com maiores depósitos de gordura na parte superior do corpo (abdome e flancos) são os que apresentam maiores probabilidades de risco aumentado para essas patologias(51-54).

Apesar do grupo controle também apresentar redução da percentagem de gordura corporal, essa redução não está relacionada com a gordura de tronco, evidenciando que o exercício físico pode ser um fator modificador para a diminuição de doenças relacionadas com o acúmulo de gordura na parte superior do corpo.

Considerando-se os dados obtidos neste estudo e toda a revisão bibliográfica realizada, parece correto afirmar que o exercício físico tem papel fundamental para o controle e tratamento da obesidade, e que a utilização de dieta bem orientada é fundamental para a aquisição de resultados positivos. A intensidade da atividade física parece estar diretamente relacionada com a perda de massa corporal e da gordura corporal, uma vez que exercícios físicos realizados com intensidade maior promovem, como conseqüência, maior queima calórica, levando a perda de massa corporal importante.

Concluímos que o exercício físico, tanto aeróbio como anaeróbio, aliado à orientação nutricional, promove maior redução ponderal, quando comparado com a orientação nutricional somente.

O exercício anaeróbio, proposto neste estudo, foi mais eficiente para promover a diminuição da gordura corporal e da percentagem de gordura que o exercício aeróbio e a orientação alimentar isolada.

Seja qual for o tipo de exercício utilizado no tratamento da obesidade, a intensidade da atividade deve ser sempre crescente, uma vez que o indivíduo destreinado e/ou sedentário não é capaz de realizar uma atividade de alta intensidade no começo do tratamento.

A intensidade do exercício físico é fator primordial para melhor aquisição de resultados, tanto de condicionamento físico, quanto visando perda de massa corporal.

A baixa aderência ao treinamento físico evidenciada com adolescentes pode estar relacionada com o tipo de atividade proposta. Um programa de treinamento que não seja monótono, que não cause tédio e que apresente objetivos que podem ser alcançados, assim como obstáculos que podem ser superados, provavelmente obterá menor taxa de abandono.

Agradecimentos

À AFIP; Fapesp; Academia Pumping Iron; Cemafe; Sérgio Garcia Stella, Ana Paula Ferreira Vilar, Sionaldo Eduardo Ferreira, Cenesp/Unifesp; CEPE/Unifesp. Agradecemos aos revisores anônimos pelas sugestões ao manuscrito.

Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.

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Ana Cláudia FernandezI; Marco Túlio de MelloII; Sérgio TufikII; Paula Morcelli de CastroIII; Mauro FisbergIV - fisberg[arroba]uol.com.br

IUniversidade Católica Dom Bosco e Faculdade Estácio de Sá - Campo Grande – MS

IIDepartamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp-EPM), Centro de Excelência Esportiva/Ministério dos Esportes (Cenesp/Unifesp); Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercício (CEPE/Unifesp)

IIIEstagiária da Disciplina de Nutrição e Metabolismo da Unifesp

IVDepartamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp-EPM)



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