Influência do treinamento aeróbio e anaeróbio na massa de gordura corporal de adolescentes obesos

Enviado por Mauro Fisberg


1. Resumo

O objetivo deste estudo foi verificar as influências do exercício aeróbio e anaeróbio na composição corporal de adolescentes obesos do sexo masculino. A amostra foi constituída de 28 adolescentes com idades entre 15 e 19 anos, que apresentavam obesidade grave. Os voluntários foram distribuídos aleatoriamente em três grupos: grupo I: exercício anaeróbio; grupo II: exercício aeróbio; e grupo III: controle. O grupo I realizou treinamento intervalado em cicloergômetro que consistiu de 12 "tiros" de 30" com máxima força e velocidade, pedalando com carga alta (0,8% do massa corporal x 25 watts) e recuperação ativa de 3'; o grupo II realizou treinamento aeróbio em cicloergômetro pedalando com carga relativa ao limiar ventilatório por 50 minutos. Já o terceiro grupo funcionou como controle, sem atividade física. Todos os grupos tiveram orientação nutricional e o período de intervenção foi de 12 semanas (três meses). Os voluntários realizaram densitometria óssea com análise da composição corporal (DEXA) e avaliações médicas e de aptidão física. Quando comparados os períodos inicial e final de intervenção foram observadas reduções nas variáveis massa corporal, IMC, na massa de gordura corporal total e de membros inferiores e na percentagem de gordura corporal de tronco nos grupos de exercício. Diferenças foram observadas entre os grupos I e III para os deltas percentuais de massa de gordura corporal total e de membros inferiores e na percentagem de gordura de membros inferiores. Os dados sugerem que o exercício físico, tanto aeróbio como anaeróbio, aliado à orientação nutricional, promove maior redução ponderal, quando comparado com a orientação nutricional somente, e que, neste estudo, o exercício anaeróbio foi mais eficiente para promover a diminuição da gordura corporal e da percentagem de gordura e o exercício aeróbio foi mais eficaz no sentido de preservar e/ou aumentar a massa magra e a massa livre de gordura.

Palavras-chave: Obesidade. Adolescentes. Composição corporal. Massa de gordura corporal.

2. Resumen

El objetivo de este estudio fue el de verificar las influencias del ejercicio aeróbico y anaeróbico en la composición corporal de los adolescentes obesos del sexo masculino. La muestra estubo constituida por 28 adolescentes con edades entre los 18 y los 19 años, que presentaban obesidad grave. Los voluntarios fueron distribuidos aleatoriamente en tres grupos – grupo I: ejercicio aeróbico, grupo II: ejercicio anaeróbico; grupo III: control. El grupo I realizó un entrenamiento intervalado en cicloergómetro que consistió en 12 "tiros" de 30" a máxima fuerza y velocidad pedaleando con carga alta (0,8% de masa corporal x 25 watts) y una recuperación activa de 3'. El grupo II realizó un entrenamiento aeróbico en cicloergometro pedaleando con una carga relativa a nivel ventilatorio por 50 minutos. Y el grupo III funcionó como control, sin actividad física. Todos los grupos tuvieron una orientación nutricional y el periodo de intervención fue de 12 semanas (tres meses). Los voluntarios realizaron una densitometría ósea con análisis de la composición corporal (DEXA) y evaluaciones médicas y de aptitud física. Cuando se compararon los períodos inicial y final de la intervención se observaron reducciones en las variables de la masa corporal, IMC, la masa grasa corporal total y la de los miembros inferiores, así como el porcentaje de grasa corporal del tronco en los grupos de ejercicio. Las diferencias fueron observadas entre los grupos I y III para los deltas percentuales de masa grasa corporal total y de los miembros inferiores así como en el porcentaje de grasa de los miembros inferiores. Estos datos sugieren que el ejercicio físico tanto aeróbico como anaeróbico, unido a la orientación nutricional, promueven una mayor reducción ponderal cuando se los compara con la orientación nutricional solamente, y que, en este estudio, el ejercicio anaeróbico fue más eficiente para promover una disminución de grasa corporal y del porcentaje de grasa; y el ejercicio aeróbico fue más eficaz en el sentido de preservar y/o aumentar la masa magra y la masa libre de grasa.

Palabras-clave: Obesidad. Adolescente. Composición corporal. Masa grasa corporal.

3. Introdução

Conceitualmente a obesidade pode ser considerada como um acúmulo de tecido gorduroso, pelo corpo todo, causado por doenças genéticas ou endócrino-metabólicas ou por alterações nutricionais(1).

A ingestão de uma quantidade excessiva de calorias também pode levar à obesidade(²), mas o aparecimento e a prevalência do sobrepeso em crianças e adultos não decorre somente em função da ingestão de nutrientes mas também por um decréscimo na atividade física levando a um balanço energético desfavorável(3,4).

A mudança do estado nutricional da população brasileira, que, além do contínuo crescimento da desnutrição, agora apresenta um crescimento desordenado e preocupante do número de obesos distribuídos por todas as faixas etárias e classes sociais também tem destaque. Segundo os dados da primeira pesquisa de padrão de vida (PPV), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto existem 8,7% de nordestinos obesos, na Região Sudeste o índice é de 10,5%. No total das duas regiões, os obesos somam 9,8% – um crescimento expressivo em relação à Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição(5), realizada pelo IBGE em 1989, que encontrou um índice de 8,2%. Nas crianças, o aumento da obesidade ocorreu em todas as regiões do país, mas principalmente nas regiões Sul e Sudeste, encontrando-se uma prevalência de 9,6% e 9,3%, respectivamente(6).

A coexistência de desnutrição e obesidade também é um índice preocupante nos países em desenvolvimento(7,8). Estudo realizado em favelas de São Paulo mostrou elevada correlação entre obesidade nos adolescentes e desnutrição pregressa. A obesidade e sobrepeso associados com desnutrição pregressa foram encontrados em 8,7% dos meninos e 7,5% das meninas, enquanto que em crianças com estatura normal para idade foi encontrado que 3,7% dos meninos e 4,7% das meninas eram obesos. Nos adolescentes a obesidade foi identificada em 35% das meninas com baixa estatura para idade, enquanto que nas meninas com estatura normal para idade segundo NCHS(9) a prevalência de obesidade só foi identificada em 13% delas(8).

A partir de dados obtidos da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição, Neutzling(10) demonstrou que na população de adolescentes brasileiros, 7,6% apresentavam sobrepeso e Priore(11) relatou maior prevalência de adolescentes obesos na cidade de São Paulo, dos 14,7% classificados como apresentando sobrepeso, 14% eram do sexo feminino e 15,6% do sexo masculino.

Crianças e adolescentes obesos tendem a se tornar adultos obesos. De acordo com Mossberg(12), 80% dos adolescentes obesos levam a casos de obesidade no adulto; apesar da obesidade infantil não contribuir com mais do que 1/3 da obesidade adulta(13), os indivíduos adultos obesos que apresentaram obesidade na infância tendem a ser classificados como tendo obesidade mais grave do que aqueles que se tornaram obesos quando adultos(14).

Muitos estudos têm demonstrado que o exercício pode ser muito eficiente em reduzir a gordura corporal em crianças e adolescentes obesos, com ou sem restrição específica da dieta. A maioria desses estudos envolve programas de aumento da atividade física nas escolas(15). Ward e Bar-Or(16) fizeram uma revisão contendo 13 estudos baseados em exercícios aeróbios regulares de nove semanas a 18 meses, em que o percentual de gordura caiu de 5 a 10% em todos os 13 artigos analisados.

Estudos em adultos têm mostrado que exercícios de intensidade alta são associados com baixa aderência. Em programas de treinamento físico com crianças, melhores resultados foram alcançados quando a atividade física envolvida era comum ao estilo de vida da criança, como andar e subir escadas, ao invés de correr ou participar de aulas de ginástica(17).

O objetivo deste estudo foi o de avaliar o efeito do exercício anaeróbio na massa de gordura corporal de adolescentes obesos, comparando-o com exercício aeróbio e a um grupo controle sem prescrição de qualquer tipo de exercício.

4. Metodologia

Casuística

A amostra foi constituída de 28 adolescentes do sexo masculino com idades entre 15 e 19 anos (16,08 ± 1,23). Incluíram-se nesta pesquisa apenas os voluntários que apresentaram obesidade grave (com índice de massa corporal igual ou superior a 95% de adequação em relação ao percentil 50 das tabelas de Must et al.(18)). Os voluntários foram recrutados através de anúncios veiculados na mídia (jornal, rádio e televisão) de São Paulo e todos os voluntários selecionados, e que se encontravam com IMC adequado para a pesquisa, foram examinados por um pediatra e somente foram incluídos no estudo aqueles que não apresentaram contra-indicações para o exercício físico.

O consentimento para a participação no estudo foi obtido dos pais ou responsáveis pelos adolescentes incluídos no estudo, que foram informados de todos os procedimentos, tendo liberdade para interromper a participação em qualquer momento da pesquisa.

Os voluntários foram distribuídos aleatoriamente, através de sorteio, em três grupos: 1) Grupo de treinamento anaeróbio (n = 10; 16,37 ± 1,50, anos): treinamento físico anaeróbio, com duração de três meses, com orientação nutricional, consulta à nutricionista a cada mês. 2) Grupo de treinamento aeróbio: (n = 9; 15,83 ± 0,75, anos) treinamento físico aeróbio, com duração de três meses, com orientação nutricional, e consulta à nutricionista a cada mês. 3) Grupo controle: (n = 9; 16,00 ± 1,32, anos) não realizaram nenhum tipo de treinamento físico durante três meses, com orientação nutricional, com consulta à nutricionista a cada mês.

Métodos

Todos os voluntários selecionados foram submetidos a avaliações antropométrica, clínica, de composição corporal, e de aptidão física antes de ingressarem no projeto. O período de intervenção foi de três meses, em que os voluntários dos grupos de exercício realizaram o treinamento físico e orientação nutricional e os voluntários do grupo controle tiveram orientação nutricional somente. Após o período de três meses os voluntários foram submetidos à reavaliação, utilizando-se os mesmos critérios da avaliação inicial.

1) Avaliação antropométrica: A massa corporal foi obtida através de uma balança de plataforma da marca Filizola, com carga máxima de 150kg e uma precisão de 100g. A balança foi aferida antes de cada medição e os voluntários foram pesados em pé, descalços e usando apenas calção ou roupas íntimas. A estatura foi verificada com um estadiômetro de pé, graduado com uma fita métrica em centímetros e precisão de 1mm, com barra de madeira vertical e fixa, utilizando-se um esquadro móvel para posicionamento sobre a cabeça do voluntário.

2) Critério para o diagnóstico de obesidade: Foi utilizado o índice de massa corporal (IMC), conhecido também como índice de Quetelet(19), que é considerado o método antropométrico mais simples, correspondendo à relação entre a massa corporal em kg e o quadrado da estatura em metros: massa corporal (kg)/altura2 (m). Foi utilizada para classificação a tabela de Must et al.(18), de acordo com o percentil 95 (igual ou maior).

3) Avaliação clínica: Foi realizada por um profissional da área de pediatria para detecção de eventuais doenças cardiovasculares ou problemas ortopédicos que impossibilitariam a participação na pesquisa e para determinar o grau de maturação sexual. Foram excluídos do estudo todos os indivíduos que apresentaram contra-indicações para exercício físico, o que impediria o adequado desenvolvimento do programa.

4) Composição corporal: Para avaliação da composição corporal foi empregada a técnica de absorciometria de feixe duplo de raios-X (DEXA), utilizando o aparelho DPX-Lunar, da empresa Lunar Radiation Corporation, sediada em Madison, WI.


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