Silva A.M., Flores E.F., Weiblen R., Botton S.A., Irigoyen L.F., Roehe P.M., Brum M.C.S. & Canto M.C. 1998 .[ Acute and latent infection in sheep inoculated with bovine herpesvirus type-5 (BHV-5).] Infecção aguda e latente em ovinos inoculados com o herpesvírus bovino tipo 5 (BHV-5). Pesquisa Veterinária Brasileira 18(3/4):99-106. Depto Medicina Veterinária Preventiva, Universidade Federal de Santa Maria, 97015-900 Santa Maria, RS, Brazil.
Experimental inoculation of lambs with bovine herpesvirus type 5 (BHV-5) reproduced several aspects of the BHV-5 infection in cattle. Intranasal inoculation was followed by efficient viral replication and shedding, establishment and reactivation of latency, and even the development of meningoencephalitis in one animal. Lambs inoculated with the brazilian isolate EVI-88 showed transient hipertermia, nasal hiperemia and discharge ranging from serous to muco-purulent. The animals shed virus in nasal secretions in titers up to 107.11 TCID50/ml during up to 16 days. One lamb showed clinical signs of encephalitis on day 10 post inoculation (pi), being euthanized in extremis on day 13. Infectious virus was recovered from several areas of the brain of this lamb, including anterior and posterior cerebrum, dorso- and ventro-lateral hemisphere, cerebellum, pons, midbrain and olfactory bulb. Histological changes were observed in several regions of the brain, most consistently in the anterior cerebrum, ventro-lateral cortex and midbrain, and consisted mainly of meningitis, perivascular mononuclear cuffing, focal gliosis, neuronal necrosis and intranuclear inclusions. Four lambs used as sentinels acquired the infection and shed virus starting at the 2nd day pi during up to 7 days. Lambs inoculated with the argentinian isolate A663 showed only mild respiratory signs, although they shed virus for up to 15 days. Administration of dexamethazone to the animals starting at day 50 pi was followed by reactivation of the latent infection and viral shedding during up to 11 days by 76.9% (10/13) of the inoculated lambs and 100% (3/3) of the sentinels. These results demonstrate that sheep are susceptible to BHV-5 acute and latent infection and suggest that natural infections by this virus in sheep may potentially occur. In this sense, a possible role of this species in the epidemiology of BHV-5 infections awaits further investigation.
INDEX TERMS: Bovine herpesvirus type 5, BHV-5, experimental infection, sheep, latency, encephalitis.
Infecção experimental de ovinos com o herpesvírus bovino tipo 5 (BHV-5) reproduziu vários aspectos da infecção pelo BHV-5 em bovinos. Inoculação intranasal foi seguida de extensiva replicação viral na cavidade nasal, excreção e transmissão do vírus a outros animais, estabelecimento e reativação de latência, e o desenvolvimento de meningoencefalite clínica em um animal. Ovinos inoculados com a amostra brasileira EVI-88 apresentaram hipertermia transitória, hiperemia da mucosa nasal e corrimento nasal de seroso a muco-purulento. Os animais eliminaram vírus em secreções nasais em títulos de até 107,11DICC50/ml por até 16 dias. Um cordeiro apresentou sinais clínicos de encefalite no dia 10 pós-inoculação, sendo sacrificado in extremis no início do dia 13. Infectividade foi detectada em várias regiões do encéfalo desse animal, incluindo os hemisférios anterior e posterior, córtex dorso- e ventro-lateral, ponte, pedúnculo cerebral, cerebelo e bulbo olfatório. Alterações histológicas foram observadas em várias regiões do encéfalo, principalmente no hemisfério anterior, córtex ventro-lateral e pedúnculos cerebrais, e consistiram de meningite mononuclear, manguitos perivasculares, gliose focal, necrose e inclusões intranucleares em neurônios . Quatro ovinos mantidos como sentinelas adquiriram a infecção e eliminaram vírus a partir do final do segundo dia, até 7 dias. Ovinos inoculados com a amostra argentina A663 apresentaram apenas hiperemia e umidecimento da mucosa nasal, embora eliminassem vírus nas secreções nasais por até 15 dias. Tratamento dos animais com dexametasona a partir do dia 50 pós-inoculação provocou reativação da infecção latente e eliminação viral durante até 11 dias por 76,9% (10/13) dos animais inoculados e por 100% (3/3) dos animais sentinela. Esses resultados demonstram que ovinos são susceptíveis à infecção aguda e latente pelo BHV-5 e sugerem que infecções naturais de ovinos por este vírus podem potencialmente ocorrer. Ness sentido, uma possível participação da espécie ovina como reservatório natural desse vírus deve ser melhor investigada.
TERMOS DE INDEXAÇÃO : Herpesvírus bovino tipo 5, BHV-5, infecção experimental, ovinos, latência, encefalite.
O herpesvírus bovino (BHV) associado à meningoencefalite em bovinos jovens, anteriormente classificado como herpesvírus bovino tipo 1 (BHV-1), foi recentemente denominado de herpesvírus bovino tipo 5 (BHV-5) (Roizman 1992). Os herpesvírus bovinos tipo 1 e 5 são vírus DNA de cadeia dupla, com envelope, pertencentes à família Herpesviridae, subfamília Alphaherpesvirinae, gênero Varicellovirus (Roizman 1992). Os vírus da subfamília Alphaherpesvirinae tem como principal propriedade biológica a habilidade de estabelecer latência em neurônios dos gânglios sensoriais após a infecção aguda (Stevens 1994). A capacidade de estabelecer e posteriormente reativar da infecção latente desempenha um papel fundamental na perpetuação desses vírus na natureza (Rock 1994).
A prevalência e distribuição geográfica da infecção pelo BHV-5 são pouco conhecidas, em parte devido à sua extensiva reação sorológica cruzada com o BHV-1 (d'Offay et al. 1995). Não obstante, estudos retrospectivos de imunohistoquímica e relatos clínicos têm demonstrado a presença da enfermidade em vários países. Casos de meningoencefalite pelo BHV-5 têm sido descritos na Argentina (Carrillo et al. 1983), Austrália (Johnston & McGavin 1962, French 1962), Estados Unidos (Eugster et al. 1974, d'Offay et al. 1993), Europa (Bartha et al. 1969) e no Brasil (Riet-Correa et al. 1989, Weiblen et al. 1989, Vidor et al. 1998). Os sinais clínicos da enfermidade incluem depressão, tremores, bruxismo, nistagmo, andar em círculos, flexão do pescoço, incoordenação, perda do equilíbrio, convulções e movimentos de pedalagem (Johnston & McGavin 1962, Bagust & Clark 1972, Eugster et al. 1974, Carrillo et al. 1983, Schudel et al. 1986). Mortalidade ocorre em virtualmente 100% dos casos (Eugster et al. 1974, Carrillo et al. 1983).
Embora os bovinos sejam considerados os hospedeiros naturais do BHV-1 e BHV-5, infecções naturais tem sido evidenciadas em outras espécies de ruminantes domésticos e silvestres. Sorologia positiva ao BHV-5 tem sido detectada em ovinos (Lindner et al. 1993a,b), enquanto sorologia positiva e manifestações clínicas respiratórias e oculares associadas ao BHV-1 têm sido demonstradas em ovinos, caprinos e outros ruminantes (Mohanty et al. 1972, Taylor et al. 1977, Tolari et al. 1990, Rosadio et al. 1993). Esses estudos indicam que os bovinos não são os únicos hospedeiros naturais do BHV-1 e do BHV-5, e que outras espécies de ruminantes podem ser potencialmente infectadas e participar da epidemiologia dessas infecções. Recentemente, infecções experimentais têm confirmado a susceptibilidade de ovinos à infecção aguda e latente pelo BHV-1 (Shankar & Yadav 1987, Guliani & Sharma 1995, Hage et al. 1997).
O presente estudo teve como objetivo avaliar a susceptibilidade de ovinos ao herpesvírus bovino tipo 5 (BHV-5), como etapa preliminar para investigações posteriores sobre a possível participação dessa espécie na epidemiologia das infecções pelo BHV-5. Esse estudo também foi motivado por uma potencial utilização de ovinos como modelo experimental para o estudo da neuropatogênese do BHV-5. Os resultados apresentados fornecem subsídios importantes para investigações epidemiológicas futuras, e também abrem a possibilidade da utilização de ovinos como modelo experimental para o estudo da infecção pelo BHV-5.
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