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1. Identificar conhecimentos do pessoal de ensino adquirido previamente ao treinamento do Programa Nacional de Reabilitação Visual "Veja bem Brasil" em relação aos critérios de encaminhamento e identificação de dificuldades visuais de escolares na triagem.
2. Identificar a percepção do pessoal de ensino em relação à qualidade do treinamento do Programa Nacional de Reabilitação Visual "Veja bem Brasil".
3. Identificar percepção de professores em relação aos benefícios no rendimento escolar de alunos e adesão à campanha por pais e alunos.
1)Tipo de Pesquisa
Survey analítico transversal realizado nas escolas da rede municipal da cidade de Curitiba-Paraná.
2) População
a) Profissionais atuantes na rede municipal de ensino da Prefeitura de Curitiba-PR (professores, diretores, coordenadores e funcionários administrativos) que participaram do treinamento ministrado pela Secretaria de Educação no ano de 2000 e que realizaram o teste de acuidade visual nos alunos da primeira série de ensino fundamental.
b) Escolas públicas municipais (127 escolas) selecionadas a partir dos profissionais que participaram do treinamento ministrado pela Secretaria de Educação no ano de 2000.
3) Variáveis
a) Características profissionais e opinião dos professores com relação a:
conhecimento sobre aplicação de teste de acuidade visual, critérios de encaminhamento, sinais, sintomas e comportamentos indicativos de problemas oculares.
preparação de professores sobre saúde ocular:
- tipo de treinamento recebido: conteúdo, carga horária, responsável pela orientação, tipo de atividade (material, quantidade e qualidade das intervenções educativas), dramatização do teste de acuidade visual.
Opinião dos professores em relação à:
- necessidade da triagem visual na escola
- a quem cabe a triagem na escola
- época da triagem visual na escola
- colaboração dos pais
- desempenho da criança
b) Características profissionais e opinião do pessoal de ensino com relação aos mesmos critérios anteriores. (Vide questionário)
4) Instrumento
Para elaboração dos instrumentos de medida foi utilizado o recurso da pesquisa exploratória como etapa preliminar, para adequar esses instrumentos à realidade estudada. O questionário contendo questões estruturadas era auto-aplicável.
5) Análise estatística
Além do valor escalar médio (VEM), tratamento matemático que reduz dados de uma distribuição a um único valor, recorreu-se à análise descritivas dos dados através de tabelas e gráficos. Foram utilizados os testes não paramétricos "comparação entre duas proporções", Qui-Quadrado e Exato de Fischer com nível de significância menor que 5% (p < 0,05).
Foram entrevistados 113 dos 127 (89%) participantes do treinamento da Campanha Olho no Olho na cidade de Curitiba no ano de 2000. As entrevistas foram realizadas no período de março a novembro de 2001.
A amostra foi formada por pedagogos (33,6%), orientadoras educacionais (21,3%) e auxiliar de serviços escolares (15,7%) e diretores (9,3%). Apenas 13% dos participantes eram professores-regentes.
Quanto à carga horária semanal, 49,5% perfaziam 40 horas semanais. Quanto ao tempo de exercício profissional, 43,0% do pessoal de ensino tinham no máximo 10 anos de carreira enquanto dentre os professores 100,0% tinham mais de 10 anos de magistério. Com relação à satisfação, 44,2% se diziam muito satisfeitos com a profissão, apenas 3,2% dos respondentes se intitularam insatisfeitos com a atividade que exercem.
O conteúdo teórico do Programa Olho no Olho foi considerado "bom" por 66,4%, bem como o conteúdo prático por 68,1%. A carga horária pré-estabelecida foi considerada "boa" por 64,6% dos entrevistados.
Em relação ao material didático, o manual de orientação aos professores foi considerado por 56,6% (VEM = 4,1) dos entrevistados como "bom", bem como os Manuais Educativos (51,3% e VEM = 4,3) e o vídeo (58,4% e VEM = 4,2).
O treinamento global foi considerado "bom" e/ou "ótimo" por 85,9% dos respondentes (VEM = 4,1).
A orientação fornecida pelos médicos oftalmologistas foi considerada "boa" (56,6%), assim como a orientação ministrada por outro profissional (57,5%).
A aplicação do teste de acuidade visual, o reconhecimento de sinais de dificuldade visual e razões para encaminhamento oftalmológico já era conhecido por 56,5%; 64,5% e 66,7%, respectivamente, bem como orientação dos pais sobre as dificuldades visuais do aluno (64,4%). Porém, a notação de dados referentes à triagem visual e o controle do caso do aluno foram aprendidos durante o treinamento por 61,5% e 35,7%, respectivamente.
Os professores consideraram importante obter em futuro treinamento melhores orientações sobre como controlar o caso de um aluno encaminhado para consulta e que necessite de tratamento (59,3%). Os demais aspectos foram considerados suficientes: orientação da família do aluno com dificuldade visual (58,4%); orientação do aluno encaminhado (72,6%); aplicação do teste de acuidade visual (78,8%), como fazer observação de sinais indicativos de dificuldade visual (62,8%), critérios de encaminhamento (61,9%), notação de dados referentes à triagem (77,9%).
Dos respondentes, 87,3% opinaram que a triagem deveria ser realizada no primeiro trimestre do ano letivo, e 96,4% consideraram a triagem muito importante.
O agente de saúde (36,1%) e o médico oftalmologista (29,7%); foram citados como responsáveis pela triagem pelos entrevistados; apenas 0,9% acham que a triagem compete ao professor (Tabela 1). As dificuldades apontadas para a realização do programa estão demonstradas na tabela 2 em forma de associação.
Cerca de 50,5% dos pais apresentaram interesse pelas atividades da campanha, segundo relato dos respondentes.
Dentre as dificuldades apontadas pelos pais, podemos citar: desconhecimento da dificuldade visual do filho (50,0%); falta de dinheiro (44,2%); falta de transporte (11,6%); impossibilidade de faltar ao trabalho (68,5%); desconhecimento da data da consulta oftalmológica (11,1%).
Em relação ao aluno que usa óculos, 100,0% acham que o professor deve cobrar o uso dos mesmos pelo aluno, estimulá-lo (92,9%); explicar para a classe o que significa o uso de óculos (100,0%); e é considerado importante por 50,0% a observação da limpeza das lentes. Porém 35,7% não acham que o professor deve aceitar comportamentos inerentes à dificuldade visual.
Segundo dados dos professores, das crianças triadas, 94,2% foram atendidas e 84,9% dos óculos foram entregues.
Os entrevistados consideraram a participação da escola "ótima" (39,3%) e 50,0% consideraram "boa".
Dos alunos usuários de óculos, 50,0% usam em classe. Na opinião desses professores, dos alunos que tiveram prescrição de óculos e os usaram, 85,7% obtiveram melhora do desempenho escolar.
Dentre as sugestões citadas pelos profissionais estão: realização do exame oftalmológico na escola ou na unidade de saúde, aplicação do teste de acuidade visual por profissional da área de saúde, além da ampliação e antecipação das atividades da campanha.
Cerca de 85% do contato do homem com o mundo se faz por meio da visão (5) sendo que um déficit representa prejuízo para aprendizado e socialização da criança. A escola, por meio do professor,tem tido o importante papel de detectar as dificuldades visuais apresentadas pelos educandos(9).
O contato diário e prolongado com alunos favorece a observação do estado de saúde e o desempenho visual e intelectual dos escolares pelo professor(28). No entanto, o professor nem sempre dispõe de conhecimentos, atitudes, habilidades e práticas no campo da saúde ocular.
A Campanha "Veja bem Brasil", desenvolvida pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia em conjunto com o Ministério da Educação desde 1998, tem obtido bons resultados, e, segundo os respondentes, resultou em melhora do rendimento escolar.
Porém, apesar dessa relativa facilidade de detecção de alterações visuais pelo professor, apenas 13,0% dos profissionais que participaram do treinamento eram professores regentes. A maior parte do grupo foi formado por diretores, pedagogos, orientadores educacionais e auxiliares administrativos, que tem um contato pequeno com a classe. A dificuldade de deslocar o professor da sala de aula seja para o treinamento ou para aplicação do teste de acuidade visual, foi apontada como uma dificuldade encontrada na realização da campanha.
Além disso, apesar da maioria dos professores considerar a triagem muito importante, proporção ínfima acham que a triagem compete ao professor. Os demais concordam que a aplicação do teste deve-se a profissionais da área da saúde, para maior reprodutibilidade. Segundo Kara-José e Temporini(20) a triagem é realizada corretamente pelo professor treinado em 87,1% dos casos.
Outra queixa freqüente é o período ideal para realização do exame: 87,20% concordam que o primeiro trimestre letivo é o período ideal, associado a uma extensão do cronograma, visto que a mudança do calendário possibilitaria melhor seguimento dos alunos.
A Campanha teve seus objetivos alcançados pela demonstração dos números de adesão: quase a totalidade das crianças triadas foram atendidas e a maioria dos óculos foi entregue. Dos alunos que tiveram óculos prescritos, houve melhora do rendimento escolar compatível com dados da literatura(15-16).
Houve interesse de número significativo dos pais pelas atividades da campanha, diferente dos dados apresentados pelo Baltimore Vision Screening Project(15-16). A impossibilidade de faltar ao trabalho foi o fator responsável pela maioria das abstenções, além do desconhecimento da dificuldade visual do filho.
Faz-se necessário a sensibilização dos professores, pois em sala de aula contam com situação ímpar em relação à observação das dificuldades visuais e queixas destes alunos nas atividades escolares. O aluno nem sempre consegue verbalizar as dificuldades visuais, por isso o professor deve ficar atento para possíveis manifestações como dificuldade de locomoção, ler, copiar, etc(10).
A escola pode e deve participar de ações de promoção da saúde ocular, de identificação e encaminhamento de alunos a especialistas. Porém o professor deve ser capacitado para poder realizar as atividades de prevenção à cegueira(4,22,28).
Quanto ao treinamento do programa, considerado bom pelos professores, deve ser melhorado e aprofundado ano a ano, a fim de que não seja repetitivo e para que a parceria entre escola, professores e oftalmologistas possa ser concretizada e novos frutos sejam colhidos.
1. Os professores do estudo apresentavam conhecimento satisfatório sobre triagem visual e saúde ocular, porém não se manifestaram suficientemente seguros para realização da Campanha Olho no Olho.
2. O treinamento produzido pela Campanha Olho no Olho foi considerado bom, ressaltando-se a necessidade de incluir explicações sobre como conduzir e acompanhar casos de alunos com deficiência visual. A triagem visual foi reconhecida como muito importante, porém não como atribuição do professor.
3. A maioria dos profissionais reconheceu que a triagem por eles realizada tem obtido bons resultados, melhorando o desempenho do educando. Na opinião do pessoal de ensino a adesão dos pais à Campanha foi boa e o número de crianças encaminhadas e atendidas excelente.
- Faz-se necessário o reforço e padronização do treinamento.
- Criar medidas de incentivo e sensibilização dos professores.
- Realização periódica de pesquisas que avaliem o treinamento e as atividades realizadas de saúde ocular.
- Divulgação ampla da campanha nos meios de comunicação a fim de estimular alunos, professores e familiares.
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Heloisa Helena Abil RussI; Edméa Rita TemporiniII; Newton Kara-JoséIII - ertempor[arroba]usp.br
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - Disciplina de Oftalmologia - Campinas (SP) CEP 13084-970
IMestre em Oftalmologia pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
IIProfessora Livre-Docente pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo – USP
IIIProfessor Titular da Clínica Oftalmológica da Universidade de São Paulo – USP e da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.
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