Impacto da Campanha Olho no Olho em escolas de ensino fundamental – Percepção do pessoal de ensino



1. Resumo

Objetivos: 1) Identificar conhecimentos do pessoal de ensino anteriores ao treinamento da Campanha Olho no Olho. 2) Identificar percepção da qualidade do treinamento. 3) Identificar percepção sobre os benefícios e adesão à campanha.

Métodos: Estudo analítico transversal. Escolas municipais de Curitiba-PR. Aplicação de questionário auto-aplicável.

Resultados: Foram entrevistados 89% dos participantes e destes apenas 13% eram professores regentes. O treinamento global foi considerado bom por 85,9%. Dos professores todos tinham mais de 10 anos de magistério. Os professores consideraram importante obter em futuro treinamento melhores orientações sobre como controlar o caso de aluno encaminhado que necessite de tratamento (59,3%). Das crianças triadas, 94,2% foram atendidas e 84,9% dos óculos foram entregues. Dos alunos que tiveram pres-crição de óculos, 85,7% obtiveram melhora do desempenho escolar. O agente de saúde (36,1%) e o médico oftalmologista (29,7%) foram citados como responsáveis pela triagem; apenas 0,9% acham que a triagem compete ao professor. Cerca de 50,5% dos pais apresentaram interesse pelas atividades da campanha, e a maior justificativa para abstenções foi impossibilidade de faltar ao trabalho (68,5%) e desconhecimento da dificuldade visual do filho (50,0%).

Conclusões: 1) Os professores do estudo apresentavam conhecimento satisfatório sobre triagem visual. 2) O treinamento produzido pela Campanha Olho no Olho foi considerado bom, ressaltando-se a necessidade de incluir explicações adicionais. 3) Houve melhora do desempenho do educando, a adesão dos pais à Campanha foi boa e o número de crianças atendidas excelente.

Descritores: Triagem de massa; Erros de refração/diagnóstico; Saúde escolar; Serviços de saúde escolar; Capacitação em serviço; Ensino

2. Abstract

Purposes: To identify knowledge of educators before visual screening training. 2) To identify educator perceptions about quality of training. 3) To identify benefits and compliance with the campaign.

Methods: Analytical transversal survey. Public schools of Curitiba-PR. Self-application of questionnaire.

Results: Of the 89% interviewed people, only 13% were school teachers. The global training was considered good by 85.9%. All teachers had more than 10 years of teaching activities. The teachers asked for more information in a future training about how to manage children whose treatment was necessary (59.3%). Of the screened children, 94.2% were seen by the doctors and 84.9% had prescriptions for spectacles. Of these, 85.7% improved their learning performance. The health agent (36.1%) and the ophthalmologist (29.7%) were taught to be responsible for the visual screening; only 0.9% considered this a teacher's duty. About 50.5% of parents participated in the activities of the campaign, and the majority justified abstention due to their work (68.5%) besides the lack of knowledge about visual difficulties of their children (50%).

Conclusions: 1) The educators had a satisfactory knowledge about visual screening. 2) Visual training was considered good, but additional information is necessary. 3) There were improvement of learning, parents' compliance was good and the number of children seen by doctors was excellent.

Keywords: Mass screening; Refractive errors/diagnosis; School health; School health services; Inservice training; Teaching

3. Introdução

A cegueira é a mais custosa de todas as formas de invalidez(1). Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), existem cerca de 38 milhões de pessoas cegas no mundo e 110 milhões apresentando visão de-ficiente e risco acentuado de se tornarem cegas, das quais dois terços dos casos seriam potencialmente evitáveis ou curáveis. Esta situação torna-se mais grave nos países em desenvolvimento onde se localizam 80% dos casos de cegueira(2).

A cegueira na infância torna-se particularmente importante em países como o Brasil devido aos elevados índices de incidência bem como pelo encargo socioeconômico que representa(3-4). Burns cita que "a sociedade paga um preço muito alto pelo cuidado inadequado da visão. As conseqüências da visão deficiente, não tratada, afetam o comportamento social, causam acidentes de trabalho e roubam a confiança e independência dos mais velhos"(5). Estima-se que 80 a 85% do processo ensino-aprendizagem dependa da visão. Além disso, o desenvolvimento psicossocial do ser humano pode também ser afetado por distúrbios visuais não identificados e tratados precocemente(5).

Nos Estados Unidos, 60% da população adulta usa correção óptica e cerca de 25% das crianças em idade escolar apre-senta algum tipo de problema ocular, como os erros refracionais (miopia, astigmatismo e hipermetropia), ambliopia e estrabismo(5-8).

No Brasil, estima-se que a prevalência de ambliopia em crianças de 4 a 6 anos de idade é 2,8%, segundo estudo rea-lizado por Kara-José et al na Universidade Estadual de Campinas, tendo como principal causa ambliopia refracional(3,9). Tendo por base essa percentagem, estima-se que existam cerca de 4,5 milhões de indivíduos com deficiência visual potencialmente curável em nosso país. Em outras palavras, programas efetivos de detecção precoce de distúrbios visuais são incomparavelmente menos dispendiosos do que representam para a comunidade os portadores de cegueira(5,10-13).

De acordo com os princípios gerais de triagem ou 'screening", a detecção precoce de distúrbios visuais na infância é viável, pois constitui problema de saúde pública, tem diagnóstico confiável e o tratamento efetivo é possível na maioria dos casos(14-18).

Segundo a OMS, a acuidade visual é o indicador mais sensível da função visual, sendo o teste simples, confiável, de baixo custo, alta sensibilidade e especificidade(13,19-20), além de não requerer treinamento prolongado dos examinadores(17).

O Baltimore Vision Screening Project(15-16) relata que cerca de dois terços das crianças examinadas não aderiram ao tratamento proposto (óculos e/ou oclusão), a despeito do acesso aos óculos ter sido fornecido pelo projeto de imediato. Os pais ou responsáveis desconheciam o resultado do exame ou não entendiam a importância do tratamento proposto.

No Brasil, desde a década de 70 existem programas de triagem realizados nas escolas públicas com posterior encaminhamento a serviços oftalmológicos, como o Plano de Oftalmologia Sanitária Escolar (POSE) no Estado de São Paulo, criado em 1973(4) e extinto em 1976 devido a mudanças de cunho político. Na década de 90 houve a criação da Campanha Nacional de Reabilitação Visual – Projeto Olho no Olho/"Veja Bem Brasil" em 1998, uma parceria do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e do Ministério da Educação/FNDE, instituindo a triagem de todas as crianças da primeira série de ensino fundamental em todas as cidades com população superior a 40 mil habitantes. No ano de 1999, o Programa atendeu 2 milhões e 280 mil crianças, fornecendo gratuitamente 256.815 óculos. No ano de 2000, fez 450.000 consultas e forneceu 300.000 óculos(18).

Em campanhas anteriores, detectou-se que a causa da ambliopia em 87,65% dos examinados era funcional e não orgânica(1), portanto passível de tratamento com correção óptica, e destes, apenas 19,9% tinham sido submetidos à avaliação ocular prévia.

A concordância entre a triagem realizada pelo professor e pelo médico varia de 54,6% a 80, 86%(5,20-21), confirmando que treinamento de agentes de saúde para realização da triagem e encaminhamento deve ser periódico.

A eficácia do "Screening" depende do índice de comparecimento, que tem variado de 57% a 95%(1,22-23). Pode-se sugerir que as abstenções ocorrem porque o problema não é aparente e muitas vezes o amblíope não tem consciência de sua condição, levando à conseqüente desmotivação dos pais(20,24-25).

No Brasil, a triagem visual vem sendo realizada pelos professores das escolas públicas e em alunos da primeira série de ensino fundamental desde 1998.

O contato diário e prolongado com alunos favorece a observação do estado de saúde e o desempenho visual e intelectual dos escolares pelo professor(26-27). No entanto, o professor nem sempre dispõe de conhecimentos, atitudes, habilidades e práticas no campo da saúde ocular. Há ainda grande descontentamento por partes dos professores responsáveis pela triagem, que aparentemente se acham despreparados para realizar tal tarefa(28).

Pode-se inferir que há benefícios decorrentes dos resultados da campanha, o que suscitou a realização da pesquisa. A qualidade do treinamento destinado aos professores igualmente não foi mensurada.


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