O período da adolescência é caracterizado por crescimento físico e desenvolvimento rápidos, com aumento da necessidade de nutrientes. Além destas, características como a crescente independência, alterações psicológicas, busca de autonomia, definição da própria identidade, influência de amigos, demandas escolares e de trabalho, pressões e modificação das preferências alimentares, rebeldia contra os padrões familiares fazem deste um grupo de risco nutricional. Devemos também considerar os fatores de risco para a saúde do adolescente, como o tabagismo, uso de álcool, sedentarismo, excesso de esportes, uso de drogas, hábito de fazer dieta, problemas familiares, como separação ou morte dos pais, gravidez e comportamento alimentar inadequado.
A preocupação, neste período, com a prevenção da saúde relacionada a estes fatores de risco praticamente não existe, devido ao senso de invencibilidade e indestrutibilidade do adolescente.
A supervalorizaçao da imagem corporal e a preferência da nossa sociedade por mulheres magras podem resultar em padrões alimentares restritivos e ingestão inadequada de nutrientes e energia. A busca frenética por padrões de beleza e imagens idealizadas, reforçada pela mídia, pode desencadear transtornos alimentares.
Algumas patologias que antes só se manifestavam em adultos ou idosos vêm sendo encontradas em adolescentes, como o diabetes do tipo II, doenças cardiovasculares, osteoporose e outras. Isto ocorre, principalmente, por causa da alimentação e do estilo de vida inadequados. Estas doenças podem ser prevenidas precocemente, se houver intervenção dos profissionais de saúde junto aos grupos de risco.
Portanto, é importante que os adolescentes, especialmente aqueles com risco nutricional, sejam acompanhados e orientados para modificação dos hábitos alimentares e estilo de vida.
A formação dos hábitos alimentares é influenciada por uma série de fatores: fisiológicos, psicológicos, socioculturais e econômicos. A aquisição dos hábitos ocorre à medida que a criança cresce, até o momento em que a própria escolherá os alimentos que farão parte da sua dieta. Quando pequena, seu universo se restringe, geralmente, aos pais e cabe a eles determinar que alimentos lhe serão ofertados. À medida que a criança passa a frequentar a escola e a conviver com outras crianças, ela conhecerá outros alimentos, preparações e hábitos. Os adultos são modelos, delineando as preferências alimentares das crianças. Os vínculos afetivos poderão influenciar positiva ou negativamente na fixação dos padrões de consumo alimentar. É grande a influência da televisão na formação dos hábitos alimentares.
É claro que cada um possui preferências e rejeições diferentes, mas o acesso e a possibilidade de experimentar mais de uma vez determinado alimento permitem uma mudança de hábito. São comuns alguns preconceitos, tabus alimentares e atitudes que levam a erros alimentares e prejuízos à saúde, como os pais ou educadores "obrigarem" as crianças a comer determinado alimento em troca de presentes, passeios etc., o que pode resultar em traumas definitivos. A supervalorização dos doces também pode ocorrer, quando estes são premiação para o bom comportamento da criança.
Sabe-se que os adolescentes costumam pular refeições, especialmente o café da manhã, o que pode levar a um menor rendimento escolar. No Brasil há estudos que demonstram que o almoço e o jantar são substituídos por lanches, principalmente quando este é o hábito familiar. Os lanches e refeições rápidas geralmente são alimentos mais ricos em gorduras e carboidratos e pobres em vitaminas, sais minerais e fibras. O consumo excessivo de refrigerantes, balas e doces é um problema comum em todo o mundo. Excessos e restrições são comuns, quer em relação a um alimento em si (por exemplo, carne ou leite) ou à alimentação como um todo.
O adolescente é normalmente "preguiçoso", não gosta de muitos esforços, o que acarreta uma alimentação facilitada, com excesso de comidas prontas, sanduíches, salgadinhos e bolachas (é só abrir e comer!!). Além disso, muitos adolescentes não fazem nenhum tipo de atividade física, restringindo o seu lazer à televisão, ao videogame ou ao computador.
Muitos adolescentes, apesar de terem um bom conhecimento sobre os princípios de uma alimentação equilibrada, têm atitudes que não correspondem a este conhecimento: uma grande porcentagem ingere regularmente "salgadinhos" e outros alimentos ricos em gordura e açúcares simples entre as refeições, em desacordo às recomendações nutricionais. Ocorre alta porcentagem de preferência por bolachas, batatas fritas, pizza, refrigerantes e chocolates como lanche escolar, apesar da disponibilidade de outros alimentos saudáveis.
A dieta costuma ser pobre em fibras, vitaminas e minerais. O caso do cálcio é preocupante, pois esse é um período associado à formação de massa óssea. No entanto, a maioria dos adolescentes não atinge sequer dois terço das recomendações diárias para o cálcio. O ferro é especialmente importante para as meninas, devido às perdas menstruais e para os meninos devido ao aumento da massa magra e do volume sanguíneo.
O hábito de fazer dieta, especialmente entre as meninas, muitas vezes está associado ao uso de medicamentos para emagrecer ou a "técnicas menos convencionais", como recorrer a vômito e laxantes.
Para o diagnóstico individual do estado nutricional e do desenvolvimento se devem avaliar a composição corporal e a ingestão alimentar. A antropometria (medidas de peso, estatura, pregas cutâneas e outros) está indicada porque não há necessidade de equipamentos sofisticados, a tomada das medidas é rápida, há facilidade de comparação com padrões já estabelecidos e se pode, também, analisar a velocidade de crescimento. É importante que o profissional seja treinado e o equipamento utilizado adequado.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera, atualmente, a população norte-americana como padrão de referência mundial e sugere a comparação dos valores de peso, estatura e idade com os dados de um levantamento populacional feito nos Estados Unidos pelo National Center for Health Statistics (NCHS).
A OMS recomenda a classificação utilizando o índice de massa corporal (IMC), que é o peso (em quilogramas) dividido pela estatura elevada ao quadrado (em metros quadrados), analisando o percentil em que o indivíduo se encontra e a porcentagem de adequação deste índice em relação à população-padrão.
O cálculo da porcentagem de adequação de peso para estatura é muito útil para a classificação de desnutrição energético-protéica e sobrepeso em indivíduos desta faixa etária, associado-se a outros parâmetros clínicos. O percentual de adequação é calculado comparando-se o peso do indivíduo com o peso ideal, referente ao percentil 50, de adolescentes com a mesma idade do indivíduo analisado.
O adolescente cujo IMC for maior que o percentil 95 para idade e sexo tem sobrepeso e outros aspectos da saúde deverão ser avaliados, bem como a dieta, para determinar morbidade psicossocial e risco de futura doença cardiovascular.
Se o percentil do IMC estiver entre 85 e 95, existe risco para sobrepeso. Este também deverá ser avaliado nos aspectos seguintes:
· IMC aumentou nos últimos 12 meses?
· Há história familiar de doença cardiovascular prematura, obesidade, hipertensão ou diabetes mellitus?
· O adolescente expressa preocupação com o próprio peso?
· Os níveis séricos de lipídeos ou a pressão sanguínea estão elevados?
· Existe a possibilidade de anemia? Pedir dosagem de hemoglobina e ferritina.
Se esta avaliação for negativa, estes adolescentes deverão ser orientados para uma alimentação equilibrada, prática de exercícios e devem ser monitorados anualmente. Se for positiva, deve-se avaliar individualmente o paciente, para orientá-lo adequadamente.
A avaliação do consumo alimentar, através de inquérito recordatório das últimas 24 horas, feita por profissional treinado, é um instrumento que subsidia uma intervenção educativa efetiva. O registro alimentar de três dias também pode ter este objetivo, além de avaliar as modificações do comportamento alimentar.
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