Estimulantes/hipnóticos

Enviado por Mauro Fisberg


Artigo original: "Revista: PEDIATRIA MODERNA - Edição: Nov 2000 V 36 N 11"

1. Drogas e adolescência

Relatos do uso de substâncias psicoativas são bastante antigos na história de nossa civilização, em suas mais diferentes culturas. Autores gregos e romanos já descreviam quadros de dependência de drogas e álcool (Frances e Franklin, 1988).

édicos, filósofos, políticos, poetas, teólogos têm debatido longamente os méritos e efeitos nocivos do abuso de substâncias psicoativas há longo tempo (Edwards e Arif, 1982). O uso da Cannabis sativa entre os hindus, com conotação religiosa, bem como o uso medicinal do ópio entre os mesopotâmios e egípcios remontam a mais de 3000 anos. O uso de drogas entre crianças e adolescentes é provavelmente tão antigo quanto nas populações adultas, porém apenas nos últimos 25 anos se tem tornado mais visível, tanto pelo aumento importante do uso nessas faixas etárias quanto pela maior visibilidade dessas próprias faixas etárias em si. Historicamente, crianças e adolescentes eram até há pouco tempo largamente invisíveis. O uso de substâncias psicoativas para alterar percepções, estados emocionais e comportamentos é bastante comum entre jovens das sociedades atuais.

Em muitas pessoas a experimentação de substâncias psicoativas tem vida curta, esporádica e não apresenta sequelas psicossociais ou clínicas (Cambor e Millman, 1991). Em outro grande grupo de pessoas, o uso de substâncias psicoativas leva a padrões destrutivos de consumo, gerando graves consequências clínicas, psiquiátricas, sociais e até mesmo policiais. O amplo uso de substâncias psicoativas, legais e ilegais, tem causado grandes prejuízos à sociedade. O alcance do problema é enorme e difícil de ser medido.

Existem inúmeros parâmetros a serem analisados, como o surgimento de patologias psiquiátricas pelo uso das drogas e seu custo para a sociedade; o efeito das drogas sobre pessoas cujos pais consumiram drogas durante a gestação; a desagregação familiar e da própria sociedade, geradas pelo consumo de drogas; a intensa criminalidade que cerca o tráfico das drogas; as consequências laborais, educacionais e de pobreza que gera o uso continuado de drogas. O alcance do problema é enorme: mais de 15% da população norte-americana com mais de 18 anos tem problemas sérios com drogas (Kaplan e Sadock, 1996) e a maior parte desses consumidores iniciou sua dependência na fase de adolescência.

No Brasil os dados também tendem a mostrar um crescente e preocupante aumento do consumo de drogas entre as populações infantis e adolescentes (Carlini Cotrim, 1991). Dados do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) revelam que perto de 30% dos estudantes secundários do Brasil já consumiu pelo menos alguma vez uma droga psicotrópica, à exceção de álcool e tabaco. As drogas mais utilizadas foram os inalantes, os ansiolíticos, as anfetaminas e a maconha (Carlini, 1990).

As modificações por que passa o adolescente, em sua busca pela construção de sua nova identidade, são possíveis fatores favorecedores da experimentação de drogas. "A construção da identidade adulta implica numa série de perdas, como o corpo infantil, a condescendência com a condição de criança e os pais da infância, que eram mais protetores e menos exigentes, entre outras. A essas perdas acrescem os problemas advindos da dificuldade de se configurar uma auto-imagem corporal em um corpo em constante transformação, sobre o qual não se tem controle" (Farias, 1999).

Um fato a destacar e de interesse clínico é que, enquanto muitos adolescentes desenvolvem problemas com drogas, uma quantidade maior não o faz. Muitos fatores parecem estar envolvidos nessa escolha. Fatores interpessoais, cognitivos, de dinâmica familiar, formação de personalidade, valores sociais, influência da mídia e outros podem ser aventados.

Do ponto de vista cognitivo, a grande mudança reside na maior abstração de seu pensamento e consequente expansão de suas possibilidades, fazendo com que, muitas vezes, o adolescente tome decisões que se chocam com a opinião dos adultos. O adolescente percebe as inconsistências e irracionalidades dos adultos e pode racionalizar comportamentos que estes consideram desviantes (Cambor e Millman, 1991). Tende, também, a aumentar a influência do círculo de amizades, diminuindo a influência das opiniões e dos valores parentais. A necessidade de ser popular e fazer parte de algum grupo pode ser um fator que induz à experimentação de drogas e outros comportamentos considerados errados pelos adultos.

Fatores psicopatológicos são também importantes na gênese dos problemas com o uso e abuso de drogas. Vários estudos mostram a presença de características anormais em adolescentes que abusam de drogas, os quais tendem a ter baixa auto-estima (Braucht, 1973), insatisfação e pessimismo (Coan, 1973), maior necessidade de aprovação pessoal e menor confiança social (Cambor e Millman, 1991). A incidência de psicopatologia grave também é maior entre usuários compulsivos de drogas (Khantzian, 1974).

Esquizofrenia, mania, depressão, transtorno do déficit de atenção, transtornos de ansiedade e de personalidade podem ser fatores desencadeantes, em determinados indivíduos, para uso e abuso de drogas. O ambiente social no qual o adolescente está inserido também exerce uma influência importante, em relação ao consumo dessas substâncias pelos adolescentes. Pais ou irmãos usuários de drogas, dinâmica familiar disfuncional e baixa condição socioeconômica parecem ser fatores de risco para uso e abuso de drogas.

Fatores relacionados às próprias drogas são também importantes na instituição e manutenção de uma dependência e posteriores consequências desta. Via de administração, preço, capacidade de tolerância e presença de abstinência são fatores que também influenciam o uso de cada droga em particular.


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