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O experimento foi conduzido no período de 1994 a 1996, na Embrapa Caprinos, em Sobral, na zona fisiográfica do Sertão Cearense, a 3o42' de latitude Sul, 40o21' de longitude Oeste, à margem da estrada Sobral-Groaíras, km 4, com altitude de 83 metros.
O solo da área experimental é do tipo bruno-não-cálcico vértico, textura argilosa cascalhenta, moderadamente drenado e profundo, fase caatinga hiperxerófila, relevo plano e suave ondulado.
A região possui um clima tipo BShw', megatérmico, seco, em que a estação chuvosa (janeiro a junho) apresenta precipitação média de 722 mm, correspondendo a 95,15% do total médio anual, sendo que 73% destas ocorrem entre os meses de fevereiro e maio. A temperatura média anual está em torno de 28oC, sendo as máximas e as mínimas em torno de 35 e 22oC, respectivamente, e a média da umidade relativa do ar de 69% (EMBRAPA, 1989). Durante o período de execução do experimento, a precipitação anual na área experimental esteve sempre acima da média histórica e alcançou os totais de 1449,5 mm em 1994; 1141,0 mm em 1995; e 774,8 mm em 1996 (Tabela 1). A temperatura não variou muito ao longo do experimento, tendo distribuições mensais bastante semelhante às médias históricas.
A área experimental é caracterizada por uma vegetação lenhosa, tipo caatinga hiperxerófila, em estádio de sucessão secundária inicial, com uma cobertura de solo de, aproximadamente, 90%, havendo grande predominância do marmeleiro (Croton sonderianus Muell.Arg.), cuja densidade foi, aproximadamente, de 13.684 plantas/ha. Além do marmeleiro, as espécies arbustivo-arbóreas com maior ocorrência na área são: mofumbo (Combretum leprosum Mart.), pau-branco (Auxemma oncocalyx Taub.), catingueira (Caesalpinia bracteosa Tul.), jucazeiro (Caesalpinia ferrea Mart.), sabiá (Mimosa caesalpiniifolia Benth.) e jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.). O estrato herbáceo, apesar de escasso, era composto principalmente por espécies anuais, destacando-se o capim-panasco (Aristidia setifolia H.B.K.), o bamburral (Hyptis suaveolens Poit.), a malva relógio (Sida spp.), o mata-pasto (Senna obtusifolia L.), a vassourinha de botão (Borreria verticillata G.F.W.Mayer), a erva de ovelha (Stylosanthes humilis H.B.K.), o capim-milhã (Brachiaria spp.; Panicum spp.; Setaria spp.), entre outras. A maioria das espécies lenhosas perde inteiramente as folhas, a partir do início da estação seca.
Uma área de 25 x 30 m foi subdividida em cinco parcelas de 5 x 30 m cada, nas quais se aplicaram os tratamentos: testemunha - sem corte da parte aérea; T-25 - corte quando as rebrotas alcançaram 25 cm; T-50 - corte quando as rebrotas alcançaram 50 cm; T-75 - corte quando as rebrotas alcançaram 75 cm; e T-100 - corte quando as rebrotas alcançaram 100 cm. Todas as plantas das parcelas foram cortadas à altura aproximada de 10,0 cm.
Os tratamentos, exceto a testemunha, receberam um corte de uniformização no período seco, no início do trabalho (dezembro de 1993), um primeiro corte quando as rebrotas atingiram as alturas acima descritas (fevereiro/março) e um segundo corte ao final de cada estação chuvosa, sempre no mês de junho, no período de 1994 a 1996, independente da altura das rebrotas.
Cada tratamento era constituído de uma única parcela experimental e a avaliação da mortalidade das plantas foi realizada mediante a contagem de todas as plantas mortas e vivas dentro de cada parcela, sempre no período chuvoso, e os resultados foram expressos por hectare.
Para quantificação da matéria seca do estrato herbáceo, foi utilizada uma moldura de ferro chato, de 0,25 m x 1,0 m (ARAÚJO FILHO et. al., 1986), distribuída ao acaso dentro de cada parcela experimental. Dentro de cada parcela experimental, foram realizadas cinco amostragens, sendo os valores médios expressos por hectare. Os componentes do estrato herbáceo foram separados em gramíneas e dicotiledôneas herbáceas, cortados rente ao solo, colocados em sacos plásticos e pesados. Ao final de cada coleta, foi feita uma amostra composta para cada grupo de espécie, levada para uma estufa de circulação forçada de ar, graduada em 65oC, por 48 horas, para a obtenção do peso do material pré-seco.
Os dados foram colocados em tabelas de distribuição de freqüências e analisados pelo teste não-paramétrico, teste do qui-quadrado (CONOVER, 1971; CAMPOS, 1983; GOMES, 1990).
A densidade do marmeleiro, por ocasião do corte de uniformização (1993), variou de 15.134 plantas/ha, no tratamento T-75, ao mínimo de 12.550 plantas/ha, no testemunha (Figura 1). No tratamento testemunha, a densidade do marmeleiro apresentou ligeira diminuição, ao longo do período experimental, porém sob o efeito dos tratamentos de corte houve notável decréscimo deste parâmetro nas parcelas experimentais. Este resultado foi particularmente visível no tratamento T-75.
Na análise do teste do qui-quadrado, por intermédio da tabela de contingência, observou-se que as freqüências esperadas das mortalidades foram sempre inferiores às observadas em todos os tratamentos, em que se procedeu ao corte da parte aérea, o que mostra a maior eficiência destes tratamentos em relação ao testemunha. Os resultados obtidos pelo teste do qui-quadrado foram significativos (p<0,01), indicando que o corte da rebrota na época chuvosa é eficiente no controle do marmeleiro (Tabela 2 e Figura 2).
O corte da parte aérea mostrou-se bastante eficiente, como prática de controle do marmeleiro, com resultados satisfatórios para todos os tratamentos, em relação ao testemunha, que apresentou mortalidade de apenas 4%. Todos os tratamentos diferiram (p<0,01) entre si, sendo observado melhor resultado quando da realização do corte em rebrotas que atingiram 75 cm de altura, com mortalidade de 96% (Tabela 2 e Figura 2). Estes resultados são comparáveis aos obtidos por ARAÚJO FILHO e TORRES (1982), quando, com o uso de arbusticida, obteve-se controle de 91% para espécies lenhosas da caatinga.
Os tratamentos em que o corte foi realizado quando as rebrotas atingiram 25 e 50 cm de altura, foram os que causaram menor mortalidade, devido, provavelmente, ao maior intervalo da aplicação ao primeiro (fevereiro) e segundo cortes (junho), o que favoreceu maiores percentuais de carboidratos de reserva no início da estação seca (T-25 - 11,19% e T-50 - 11,35%), propiciando melhores condições de sobrevivência no período seco seguinte (CARVALHO et al., 2000). Já os tratamentos em que o corte foi realizado quando as rebrotas atingiram 75 e 100 cm foram os que causaram maior mortalidade, justificado, aparentemente, pelo menor intervalo da aplicação ao primeiro (março) e segundo cortes (junho), o que não permitiu às plantas a plena reposição dos percentuais das reservas orgânicas no início do período seco (T-75 - 8,45% e T-100 - 9,47%), para enfrentarem a estação seca seguinte (CARVALHO et al., 2000). Além desses fatores, CARVALHO et al. (1998) ressaltaram que o corte da parte aérea ocasiona grande estresse fisiológico e, por conseguinte, elevada mortalidade, o que justifica a aplicação do corte da rebrota como medida eficiente de controle, no período chuvoso.
O controle das rebrotas do marmeleiro acarretou incrementos substanciais na disponibilidade de fitomassa do estrato herbáceo. Enquanto na área testemunha a produção média de fitomassa de pé foi de 527,61 kg de MS/ha, nas áreas tratadas variou de 3.932,33, no tratamento T-75, a 4.930,11 kg de MS/ha, no tratamento T-25 (Tabela 3). Mais uma vez, os tratamentos T-25 e T-50 tenderam à maior produção de fitomassa do estrato herbáceo, por permitirem mais tempo para o desenvolvimento das plantas herbáceas que os demais.
O controle do marmeleiro, por intermédio do corte da parte aérea, deve ser feito na estação úmida, quando suas rebrotas atingirem 75 cm de altura.
Esta técnica de controle reduziu a densidade do marmeleiro em até 96%, mostrando-se bastante eficiente e não-poluente do ambiente, devendo ser indicada para o controle do marmeleiro no Sertão Nordestino.
A produção de fitomassa de pé, nas áreas tratadas, aumentou em 7 a 9 vezes em relação à área não-tratada, favorecendo, assim, o aumento da capacidade de suporte.
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Fabianno Cavalcante de Carvalho2, João Ambrósio de Araújo Filho3, Rasmo Garcia4, José Morais Pereira Filho5, Vanda Moreira de Albuquerque6 -
rgarcia[arroba]ufv.br Pesquisa financiada pelo CNPq/Embrapa Caprinos.2
Prof. Assistente do curso de Zootecnia da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA, Av. da Universidade 850, 62040-370, Betânia, Sobral, CE, e estudante do curso de Doutorado DZO-UFV.3
Pesquisador da Embrapa Caprinos, Bolsista do CNPq, Sobral, CE.4
Pesquisador do CNPq, Departamento de Zootecnia da UFV, Viçosa, MG.5
Prof. Assistente da UFPB, Patos, PB.6
Estudante do curso de Zootecnia da UVA, Bolsista do PIBIC-CNPq, Sobral, CE.Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
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