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O experimento foi conduzido na Central de Experimentação Pesquisa e Extensão do Triângulo Mineiro (CEPET), da Universidade Federal de Viçosa. A CEPET localiza-se em Capinópolis, na Região do Pontal do Triângulo Mineiro do estado de Minas Gerais, com altitude média de 620,2 m, latitude Sul de 18,41º e longitude Oeste de 49,34º. O clima é do tipo Aw, segundo a classificação de Köppen, quente e úmido, com temperatura do mês mais frio acima de 18ºC, estação chuvosa no verão e seca no inverno, com precipitações médias anuais de 1400 a 1600 mm.
Em 07 de novembro de 2001, efetuou-se a semeadura da Brachiaria brizantha cv. Marandu destinada à ensilagem em uma área de aproximadamente 5 ha, utilizando-se a plantadeira SHM 1113, da Semeato e aplicando-se 250 kg/ha do adubo 8-28-16. O solo da área é classificado como latossolo vermelho escuro. Cerca de 40 dias após o plantio, efetuou-se uma adubação em cobertura, com 180 kg/ha da mistura 20-05-20. A colheita do capim foi realizada dos 101 aos 110 dias após o plantio, com uma colhedora de forragem da Casale, modelo CFC 1800, realizando-se a ensilagem da mesma, sem emurchecimento, em dois silos tipo superfície, para as respectivas datas de colheita.
Durante a ensilagem, foram aplicados 5 g de inoculante enzimo-bacteriano por tonelada de material fresco picado, pulverizando 1 L por tonelada, com auxílio de um pulverizador costal, com capacidade de 20 L. O inoculante (Nutrosiloâ 50t, produzido pela Nutroeste Nutrição Animal) continha Lactobacillus plantarum e Pediococcus acidilactici junto com enzimas celulolíticas e amilolíticas.
Utilizaram-se 24 novilhos mestiços H x Z, castrados, com peso vivo inicial de 364 ± 23 kg, distribuídos em um delineamento em blocos casualizados, com quatro tratamentos e seis repetições, adotando-se o critério de peso para distribuição dos animais nos blocos. Os animais foram pesados, vermifugados e distribuídos por sorteio em baias individuais de 10 m2, com cocho coberto e bebedouro automático.
Os tratamentos consistiram de dietas isoprotéicas, com 12,5% de proteína bruta, apresentando as seguintes proporções de concentrado e silagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu, com base na matéria seca: T1 - 20:80; T2 - 35:65; T3 - 50:50; T4 - 65:35.
A proporção dos ingredientes nos concentrados encontra-se na Tabela 1, enquanto a composição química dos alimentos e das dietas podem ser visualizadas nas Tabelas 2 e 3, respectivamente.
A alimentação foi fornecida diariamente às 7 e 15 h, permitindo-se sobras de aproximadamente 10% do ofertado. Durante o experimento, coletaram-se, diariamente, amostras dos alimentos fornecidos e das respectivas sobras, que foram acondicionadas em sacos plásticos devidamente identificados e guardadas em freezer. Entre o 46º e 50º dias experimentais, foram efetuadas coletas de fezes dos animais, diretamente no piso, uma vez ao dia, antes da primeira alimentação, para estimativa da produção fecal, utilizando-se a fibra em detergente ácido indigestível (FDAI) como indicador. Neste período, também foram coletadas amostras dos alimentos fornecidos e das sobras.
Todas as amostras foram submetidas à pré-secagem em estufa com ventilação forçada a 65ºC, por 72 horas, e, posteriormente, foram processadas em moinho de faca tipo Willey, com peneira de 1 mm, e armazenadas em recipientes de vidro com tampa de polietileno, para futuras análises laboratoriais.
As determinações de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), nitrogênio total, extrato etéreo (EE) e fibra em detergente neutro (FDN) foram realizadas nos Laboratórios de Nutrição Animal e Forragicultura do Departamento de Zootecnia da UFV, segundo técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002). Foram calculados os carboidratos totais (CHO) das dietas fornecidas, das sobras e das fezes, conforme metodologia descrita por Sniffen et al. (1992), em que: CHO = 100-(%PB+%EE+%Cinzas), enquanto o NDT dos alimentos foi calculado segundo equação proposta pelo NRC (2001): NDT = PBD + 2,25 x EED + FDNcpD + CNFD, em que: PBD, EED, FDNcp e CNFD significam respectivamente, proteína bruta digestível, extrato etéreo digestível, fibra em detergente neutro (isenta de cinzas e proteína) digestível e carboidratos não fibrosos digestíveis. Os carboidratos não-fibrosos (CNF) foram calculados por meio da diferença entre CHO e FDNcp.
Para estimativa da taxa de passagem (Kp), utilizaram-se as equações recomendadas pelo NRC (2001): Kp = 3,054+0,614X1 e Kp =2,904+1,375X1-0,020X2; indicadas para determinação da taxa de passagem de forrageiras úmidas e de alimentos concentrados, respectivamente, em que X1 equivale ao consumo de matéria seca em relação ao peso vivo e X2, à porcentagem de concentrado na dieta.
As amostras de fezes, de alimentos e sobras, referentes à estimativa de digestibilidade, foram incubadas in situ, por 144 horas, segundo metodologia descrita por Cochran et al. (1986). O material oriundo da incubação foi submetido à digestão com detergente ácido, para estimativa da FDAI.
Os dados obtidos foram submetidos às análises de variância e de regressão, emregando-se o programa SAEG 8.0 - Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas (Universidade Federal de Viçosa UFV 2001).
A silagem apresentou pH de 4,97 ± 0,08 e concentração de N-NH3, como proporção do N total, de 30,01 ± 7,37 (valores não apresentados), indicando pobre fermentação da forrageira ensilada, resultando, possivelmente, em uma silagem clostrídica, que é caracterizada por altos níveis de ácido butírico, teores de nitrogênio amoniacal/N total maiores que 10%, pH acima de 5,0 e odor característico de ácido butírico ou amônia (McDonald et al., 1991, Muck & Pitt, 1993). De fato, a silagem produzida apresentou forte odor de amônia, refletindo a presença de alta concentração de N-amoniacal.
Os consumos médios diários dos nutrientes, com as respectivas equações de regressão, e os coeficientes de determinação encontram-se na Tabela 4.
Apenas o consumo de FDN não foi alterado pelo incremento dos níveis de concentrado nas dietas (P>0,05). O consumo dos demais nutrientes, independentemente da forma de expressão, aumentou linearmente (Tabela 4).
Segundo Owens & Goetsch (1993), aumentos da participação de grãos na dieta elevam o consumo, devido a uma maior densidade física do alimento, da diminuição do tamanho de partícula e dos reflexos na velocidade de passagem. Contudo, a resposta ao consumo, em dietas à base de silagem suplementadas com concentrado é muito variável, em razão do padrão de fermentação da forragem ensilada. Steen & Kilppatrick (2000), avaliando níveis crescentes de concentrado em dietas à base de silagens de gramíneas de clima temperado, fornecidas a novilhos Simental x Holandês, verificaram que o aumento do concentrado na dieta reduziu o consumo da silagem em 0,56 kg de matéria seca por kg de matéria seca do concentrado. Segundo os autores, isto é um exemplo típico de taxa de substituição, quando silagens de gramíneas de alta digestibilidade são suplementadas com concentrado.
Os consumos mais baixos de matéria seca nos animais recebendo dietas contendo 20 e 35% de concentrado, correspondendo, respectivamente, a 1,4 e 1,7% do peso vivo (Tabela 4), podem ser explicados pelo menor teor de matéria seca destas dietas, em decorrência da maior propoção de silagem na mesma. Erdman (1993), em artigo de revisão, relata que, quando o conteúdo de matéria seca da dieta total sofre queda inferior a 50%, o consumo é reduzido em aproximadamente 0,5% para cada unidade percentual de decréscimo no conteúdo de matéria seca. Todavia, a exata razão para a redução no consumo de silagem de alta umidade não é bem conhecida. Segundo esse autor, o menor consumo de matéria seca verificado para silagens de alta umidade parece não estar relacionado ao teor de água da forragem, uma vez que, em nenhum dos estudos em que se adicionou água à dieta, foi constatada verificou-se a redução do consumo. Todavia, os produtos finais da fermentação (ácidos lático, acético e butírico), presentes em alta concentração em forragens úmidas, parecem afetar negativamente o consumo da silagem, o que tem sido confirmado em estudos em que esses ácidos - extratos da fermentação, solúveis em água e efluentes, adicionados aos alimentos antes da alimentação - promoveram reduções de até 40% no consumo (Erdman, 1993).
A silagem utilizada neste trabalho apresentou forte odor de amônia, resultando, provavelmente, em silagem de baixa palatabilidade. É conhecido que silagens produzidas com forrageiras de alta umidade ou colhidas diretamente, sem prévia secagem, sofrem fermentação mais prolongada, resultando em maiores perdas e aumentos na produção de ácidos acético e butírico (Erdman, 1993) e, portanto, podem resultar em redução do consumo.
Ferreira et al. (1999) e Souza et al. (2002), usando feno e silagem de milho, respectivamente, como volumosos, obtiveram respostas lineares dos consumos dos nutrientes com a inclusão de concentrado na dieta de bovinos. Aumento linear no consumo de MS também foi observado por Ladeira et al. (1999) e Dias et al. (2000). Por outro lado, Stokes et al. (1991) e Carvalho et al. (1997) não encontraram efeito do nível de concentrado sobre o consumo de MS, enquanto Tibo et al. (2000), Feijó et al. (1996) e Gesualdi Jr. et al. (2000) verificaram efeito quadrático dos níveis de concentrado da dieta sobre o consumo de matéria seca.
O consumo de MO refletiu o comportamento do consumo de MS, apresentando, inclusive, coeficientes de inclinação das equações próximos (Tabela 4). Quanto ao consumo de proteína bruta, o aumento de 0,0117 kg/unidade de concentrado adicionado às dietas deve-se, provavelmente, ao aumento do consumo de matéria seca das dietas, uma vez que eram isoprotéicas.
O consumo de FDN, semelhante para as diferentes dietas, foi equilibrado pelo aumento do consumo de matéria seca, pois as dietas apresentaram teores decrescentes de FDN (65,5 para 41,0%) com o incremento do concentrado. Rodrigues et al. (1996) também não verificaram efeito de níveis de concentrado sobre o consumo de FDN. Por outro lado, trabalhos conduzidos por Dias et al. (2000), Bürger et al. (2000) e Gesualdi Jr. et al. (2000) revelaram decréscimos no consumo de FDN com o incremento do concentrado nas dietas. Essas diferentes respostas podem ser atribuídas a fatores como variações na proporção volumoso:concentrado, tipo de volumoso e fontes e formas de grãos no concentrado.
O consumo de NDT também aumentou linearmente com a proporção de concentrado nas dietas (Tabela 4), estimando-se incrementos de 0,086 kg, por unidade de concentrado adicionada às dietas, resultantes do maior consumo de MS e da maior concentração de NDT nas dietas com os níveis mais altos de concentrado.
Os consumos de NDT e PB das dietas contendo 50 e 65 % de concentrado atenderam às exigências para ganhos de 1 kg de peso vivo de animais com 400 kg, que segundo o NRC (1996) são de 5,73 e 0,913 kg/dia, respectivamente.
Na Tabela 5 estão apresentadas as médias de pesos vivos inicial e final e de ganho de peso vivo diário nos tratamentos avaliados.
O desempenho animal é primeiramente definido pelo consumo voluntário, uma vez que este determina a quantidade de nutrientes ingeridos (Van Soest, 1994). O GMD elevou linearmente (P<0,05) com o incremento do concentrado nas dietas, estimando-se incrementos de 0,0184 kg/dia por unidade de concentrado, o que era esperado, posto que o consumo da maioria dos nutrientes aumentou linearmente com o avanço da proporção de concentrado nas dietas. Contudo, o ganho de peso observado para animais recebendo dietas contendo 20 e 35% de concentrado foi bem menor que o esperado, refletindo o baixo consumo de nutrientes dessas dietas (Tabela 4).
Drennan (1984), citado por Steen (1987), numa revisão de 18 experimentos, que envolveram a alimentação de novilhos, na fase de terminação, com silagens de gramíneas de clima temperado suplementadas com concentrado, verificou que, quando o concentrado aumentou de 0 para 1,8 kg/dia (19% do consumo total de matéria seca) e de 1,8 para 3,6 kg/dia (19 para 34% do consumo total de matéria seca), foram observados aumentos de 147 e 63 g/kg de concentrado. Destaca-se que a resposta animal à suplementação com concentrado depende da qualidade da silagem e do potencial de ganho do animal.
É possível que os ganhos de peso mais baixos, obtidos com aquelas dietas contendo 20 e 35% de concentrado, tenham refletido os baixos consumos de nutrientes das mesmas, em decorrência de possíveis problemas associados à fermentação da silagem, conforme já relatado. Acredita-se também que o baixo teor de NDT destas dietas, respectivamente, de 60,0 e 65,3%, tenha contribuído para estes resultados, o que pode ser confirmado pelo trabalho de Ferreira et al. (1995), que, ao fornecerem, ad libitum, silagem de milho (SM), silagem mista de capim-elefante e milho (SCE) e combinação de silagem de milho e silagem de capim-elefante (1/3 SM + 2/3 SCE), na base da matéria natural, suplementadas com 1 kg de concentrado/novilha/dia, verificaram maior ganho de peso para as novilhas suplementadas com SM, embora os consumos de MS das silagens e total tenham sido semelhantes. Os autores atribuíram o maior ganho das novilhas suplementadas com SM ao seu alto valor energético.
Martins et al. (2003), ao fornecerem silagem de Brachiaria brizantha associada com diferentes níveis de silagem de sorgo no volumoso de bovinos
Nelore, verificaram aumento linear no ganho de peso dos animais, com o aumento da silagem de sorgo no volumoso. Por outro lado, Souza et al. (2001), ao fornecerem silagem de sorgo e pré-secado de capim-tifton 85 em diferentes proporções na dieta de bovinos HxZ, verificaram efeito quadrático do nível de silagem de sorgo sobre o ganho de peso dos animais.
Os coeficientes de digestibilidade aparente total dos nutrientes, assim como as equações de regressão e os coeficientes de variação e determinação, são apresentados na Tabela 6.
As digestibilidades aparentes totais da MS e MO elevaram linearmente com o incremento dos níveis de concentrado nas dietas (Tabela 6). Resultados semelhantes foram encontrados por Gonçalves et al. (1991), Berchielli (1994), Araújo et al. (1998), Bürger et al. (2000), Cardoso et al. (2000) e Dias et al. (2000). Segundo Rode et al. (1985), que utilizaram diferentes níveis de volumosos na dieta, à medida que o nível de volumoso diminuiu, as digestibilidades da MS e MO aumentaram, provavelmente em virtude do aumento na concentração de carboidratos não-estruturais, que são mais digestíveis em relação aos carboidratos estruturais. Dados sumarizados por Van Soest (1994), para forragens e outros alimentos, indicam a parede celular como principal constituinte afetando a digestibilidade.
Não se verificou efeito de níveis de concentrado sobre os coeficientes de digestibilidade aparente da proteína bruta. Os valores encontrados neste trabalho são superiores aos observados por Oliveira et al. (1994), Rodrigues et al. (1997) e Carvalho et al. (1997), que também não verificaram diferenças nos coeficientes de digestibilidade aparente da proteína bruta, em resposta à elevação dos níveis de concentrado nas dietas. Também não houve efeito de dietas sobre a digestibilidade aparente total do EE (Tabela 6), corroborando os resultados observados por Okamoto et al. (1985) e Carvalho et al. (1997).
A digestibilidade da FDN não foi influenciada pelo nível de concentrado na dieta (Tabela 6). Entretanto, Araújo et al. (1998) e Resende et al. (2001) verificaram diminuição linear na digestibilidade aparente total deste constituinte da fração fibrosa, com o aumento do concentrado na dieta, que foi atribuído ao efeito depressor do concentrado na digestibilidade da fibra.
Para as dietas com 20, 35, 50 e 65% de concentrado, foram estimadas taxas de passagem de 0,039; 0,041; 0,043 e 0,045.h-1 respectivamente. A relação entre a taxa de passagem (Kp %) e os níveis de concentrado foi avaliada por meio da seguinte equação de regressão: Kp (%) = 0,0374167+0,00015C (P<0,01 e r2=0,76), em que C é o nível de concentrado da dieta, em porcentagem. Poore et al. (1990) também verificaram aumento nas taxas de passagem de volumoso quando o nível de concentrado da dieta foi elevado de 30 para 60%. Entretanto, Carvalho et al. (1997) e Berchielli (1994) não constataram efeitos da adição de concentrado sobre as taxas de passagem.
Embora o consumo de nutrientes, excetuando-se o de FDN, e o ganho de peso dos animais tenham respondido linearmente à adição de níveis crescentes de concentrado às dietas, recomenda-se a utilização de 50% de silagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu, em dietas de bovinos Holandês x Zebu em terminação, uma vez que esta dieta resultou em ganho de peso próximo ao daquela contendo maior nível de concentrado.
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Parte da Dissertação de Mestrado em Zootecnia apresentada à UFV pelo primeiro autor, parcialmente financiada pelo CNPq.Bruno Ceolin da SilvaI; Odilon Gomes PereiraII; Dalton Henrique PereiraIII; Rasmo GarciaII; Sebastião de Campos Valadares FilhoII; Fernanda Helena Martins ChizzottiIII -
rgarcia[arroba]ufv.brI
Mestre em Zootecnia pela UFV.II
Professor, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, bolsista do CNPq, 36571-000.III
Estudante de Doutorado em Zootecnia/UFVPágina anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
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