No decorrer dos últimos anos, a problemática da pobreza no mundo em desenvolvimento tem constituído preocupação crescente dos respectivos governos e da comunidade internacional. As profundas desigualdades na distribuição da riqueza no mundo atingem actualmente proporções verdadeiramente chocantes e o número de pobres não para de crescer, sobretudo nos países africanos.
Angola, como país africano, não fica relegado neste sentido, e tem tomado consciência do problema tendo elaborado no ano de 2003 um documento declaratório chamado "Estratégia de Combate à Pobreza" (ECP) o qual foi publicado ao 11 de Novembro em Luanda. Esta estratégia surge num contexto de consolidação da paz e na sequência dos objectivos e prioridades fixados nos programas do Governo que advogam a necessidade de promover um desenvolvimento económico e social abrangente e sustentável.
Hoje vários cientistas sociais têm se dedicado ao estudo do tema da pobreza. Sociólogos, antropólogos e historiadores produzem páginas e mais páginas de reflexão sobre a incômoda condição social, o que resulta finalmente em metodologias e em olhares diversos sobre o tema.
Assim, o desenvolvimento deste capítulo tem por finalidade estabelecer as principais ideias, conceitos e definições dadas pelos cientistas sociais e organizações internacionais sobre o tema em questão abordar-se-á a problemática partindo de três aspectos essenciais: primeiro, Uma visão geral da pobreza a nível mundial, onde se faz um resumo da situação nos diferentes continentes do planeta; segundo, Principais concepções da pobreza, aqui analisa-se as definições da pobreza por parte de instituições, cientistas e outras entidades para além de outros aspectos relacionados com o tema e finalmente tratar-se-á A situação da pobreza em Angola em particular na província de Benguela, lugar que foi objecto de estudo nesta investigação.
De acordo com alguns documentos do Banco Mundial as cifras de pessoas em diversos estados de pobreza aumentam cada dia em proporções cada vez mais alarmantes. O Relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) recentemente publicado na Internet, mostra que nos últimos 30 anos o número de pessoas que vivem com menos de 1,00 dólar se duplicou nos países menos desenvolvidos.
Para a agência da ONU, o dado mais preocupante é a tendência de que esse número aumente até 2015, quando os países menos desenvolvidos poderão passar a ter 420 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza.
Em algumas regiões, principalmente na África, parte da população já tem um consumo diário de apenas 57 centavos de dólares, enquanto um cidadão suíço gasta por dia 61,9 dólares. Nos anos 70 cerca de 56 porcento da população africana vivia com menos de 1,00 dólar, hoje este valor é de 65 porcento. A pobreza está a aumentar, em vez de diminuir.
As ajudas dos países mais ricos aos mais pobres são uma gota de água no Oceano, cifrando-se 0,22 por cento do seu Produto Interno Bruto (PIB). O mais grave é todavia os subsídios que atribuem às suas empresas para exportarem e as barreiras comerciais que levam aos produtos oriundos dos países mais pobres. O desequilíbrio de meios sufoca completamente as economias mais pobres.
Calcula-se que 815 milhões de pessoas, em todo o mundo sejam vítimas crónica ou grave de subnutrição, a maior parte das quais são mulheres e crianças dos países em vias de desenvolvimento. O flagelo da fome atinge 777 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, 27 milhões nos países em transição (na ex – União Soviética) e 11 milhões nos países desenvolvidos.
A subnutrição crónica, quando não conduz apenas à morte física, mas implica frequentemente uma mutilação grave, nomeadamente a falta de desenvolvimento das células cerebrais nos bebés, e cegueira por falta de vitamina A. Todos os anos, dezenas de milhões de mães gravemente sub nutridas dão à luz dezenas de milhões de bebés igualmente ameaçados.
Perto de 54 milhões de pessoas passam fome na América Latina e Caraíbas, segundo o director-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Na América do Sul registou-se uma redução do número de pessoas sub nutridas, que passou de 42 milhões para 33 milhões, mas na América Central houve um aumento de 17 á 19 porcento e nas Caraíbas de 26 a 28 porcento. Por outra parte, as crises económicas na Argentina e Brasil fizeram regredir vastas regiões, alastrando a fome.
O director-geral da FAO afirma que apesar da importância estratégica da agricultura para combater esta situação, nos últimos 10 anos o crescimento do sector agrícola no continente foi fraco, alcançando 2,7 porcento apenas no ano 2000. Um dos factores que impede o crescimento da mesma, deve-se à concorrência dos países mais desenvolvidos, cuja agricultura é fortemente subsidiada pelos respectivos estados .
Aproximadamente 211 milhões de latino-americanos e caribenhos vivem abaixo da linha de pobreza, com um aumento de 11 milhões desde 1990. As perspectivas futuras continuam a ser pouco risonhas para toda a América Latina. Os efeitos da globalização far-se-ão sentir por muito tempo, nomeadamente através de continuas crises económicas. As suas frágeis economias estão hoje à mercê das empresas dos países mais ricos.
A situação da Ásia e particularmente no Afeganistão é dramática, onde cinco a dez milhões de pessoas estão ameaçadas de fome, mas também é muito grave na Coreia do Norte, Mongólia, Arménia, Geórgia e Tajiquistão, etc.
No Médio Oriente as projecções do Banco Mundial são também pouco animadoras para esta região, a situação é dramática na Palestina e no Iraque. O número de pobres irá aumentar, estimulando o crescimento de conflitos sociais. A intervenção dos EUA no Iraque, para além das vítimas que já produziu, agravou ainda mais esta tragédia.
No continente africano parece estar mergulhado no abismo devido as prolongadas secas e cheias, mas também por guerras civis (entre 30 e 40 no final do século XX), Terminados os conflitos o terror não termina nas zonas rurais, onde a presença de minas e de munições não explodidas constitui uma ameaça permanente à reconstrução das comunidades rurais.
Assim, na Etiópia, Eritreia, Somália, Sudão, Quénia, Uganda e outros países, a fome mata nestes países milhões de africanos, já deixou de ser notícia na imprensa internacional. Entre as principais causas desta mortalidade está a seca, as guerras e a permanente instabilidade política e religiosa na região.
Na Zâmbia, cerca de quatro milhões de pessoas (numa população de dez milhões) foi afectada pela seca o que destruiu, este ano, parte das suas colheitas. A situação está a tornar-se rapidamente catastrófica.
Na África austral, existem presentemente 10 milhões de mulheres, homens e crianças a conhecer formas extremas do flagelo da fome. Malawi, Zimbabué, Lesoto e a Suazilândia são alguns dos países mais afectados. Malawi, enfrenta seca e a pior fome nos últimos 50 anos. Segundo o governo, 70 porcento da população de 11 milhões passa fome.
Em termos gerais, as perspectivas de desenvolvimento para este continente são pouco animadoras. Na África sub – Sahariana, o número de pobres pode aumentar de 315 milhões em 1999 para 404 milhões em 2015, afectando perto de metade da população da região.
Em resumo, a pobreza tem sido considerada como indicador de ajuste económico desigual entre os países mais avançados e os países em desenvolvimento, estando a riqueza acumulada nos primeiros e a pobreza nos segundos, o que forma a denominada linha Norte – Sul. As zonas mais pobres do mundo são: o sul de Ásia (Bangladesh, Índia e Paquistão), Africa do Norte, Oriente Médio, América Latina e Ásia Oriental (China).
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