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O experimento foi conduzido, na Estação de Piscicultura de Caçador/Epagri, por um período de dois anos, sempre nos meses de maio a agosto. Alevinos de carpa comum (Cyprinus carpio L.) das propagações de março com 45± 5 dias de idade, com peso médio de 0,48 g e comprimento médio de 3,15 cm (média conjunta de 2 anos), foram estocados nas densidades de 5, 10, 15 e 20 indivíduos por metro quadrado em 36 parcelas experimentais, em um delineamento inteiramente casualizado com nove repetições. Os dados obtidos para as variáveis crescimento em peso e comprimento e conversão alimentar, foram submetidos à analise de regressão polinomial, em função das densidades estudadas. A melhor equação foi escolhida em função da significância do modelo pelo teste F e pelo R2.
A dieta foi formulada com produtos facilmente encontrados na região, dentro dos critérios para espécie (27% de proteína bruta e 2925kcal de energia metabolizável por quilograma de ração) e o sistema de produção (NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC,1993), conforme a Tabela 1. A alimentação foi oferecida duas vezes ao dia, na proporção de 3% do peso vivo. A quantidade de ração ofertada era alterada a cada 30 dias, no momento das avaliações. Neste momento, os ingredientes foram pesados com uma balança eletrônica com precisão de 0,01 g e medidos aproximadamente 50% dos peixes de cada parcela com uma régua milimetrada.
A água das parcelas experimentais foi adubada a cada 15 dias, com 42,0 kg de Superfosfato Triplo com 46% de P2O5 e mais 75,0 kg de uréia com 45% de N/ha.
As verificações da temperatura da água foram feitas por meio de medições diárias com termômetro digital na superfície e a 0,80 cm de profundidade às 9 e 15 h, quando também foi oferecida a ração. Para avaliações da temperatura ambiente, utilizou-se um aparelho de corda. O acompanhamento da qualidade da água foi feito pelo Laboratório de Qualidade de Água/Epagri - Caçador, para as variáveis pH, oxigênio dissolvido, gás carbônico, dureza, alcalinidade, amônia, nitrato e turbidez, semanalmente. A transparência foi verificada também uma vez por semana através do disco de secchi.
Ao final do experimento, avaliaram-se todos os peixes em termos de peso, crescimento, conversão alimentar aparente e sobrevivência e realizou-se a classificação por seleção I, II e III, conforme o peso (0,48 ± 0,04 g; 2,06 ± 0,05 g e 4,79 ± 0,07 g, respectivamente) em caixas selecionadoras com intervalo de 4,0; 8,0; e 14,0 mm. A análise econômica foi realizada, tendo-se por base, 1 hectare de produção de alevinos em cada uma das quatro densidades estudadas.
As médias gerais de temperatura da água das parcelas experimentais oscilaram entre 11,00 e 13,00oC (Figura 2), durante todo o período experimental. Embora as temperaturas tenham ficado abaixo do ideal (ARRIGNON 1979, MAKINOUCHI 1980), pode-se pressupor que tais temperaturas não influenciaram negativamente, pois observações comportamentais, ingestão de alimentos, crescimento e peso mantiveram-se satisfatórios durante todo período experimental, conforme demonstra a Tabela 2.
A temperatura média do ambiente durante o experimento oscilou muito pouco, de um máximo de 16,30oC a um mínimo de 15,00oC ficando a média do período de 15,50oC, bastante elevada para o período observado para a região (Figura 2).
Os teores do oxigênio dissolvido (Tabela 3) permaneceram entre um mínimo de 8,40 e um máximo de 8,86 mg/L, que, segundo ARIGNON (1979) e CASTAGNOLLI (1992), encontram-se dentro de uma faixa considerada ótima para a carpa comum (Cyprinus carpio L.). Também o gás carbônico manteve-se sempre em níveis considerados satisfatórios, entre 10,00 e 12,00 mg/L de CO2 livre.
A dureza (Tabela 3) manteve-se sempre dentro dos parâmetros aceitáveis de 30 a 100 mg/L de CaCO3. A alcalinidade, pelo contrário, manteve-se entre 37,20 e 42,50 mg/L de CaC03, sempre abaixo do nível recomendado por BOYD (1976), e TAVARES (1995), que é de 30 a 300mg/L. Entretanto, apesar disto, não ocasionou oscilação no pH e nem causou alterações comportamentais nos peixes.
A amônia (Tabela 3) sempre permaneceu abaixo do tolerável (0,5mg/L), oscilando entre 0,063 e 0,181 mg/L, apesar de autores como LUKOWICZ (1982) e ORDOG (1988), em trabalhos com carpa comum (Cyprinus carpio L.), verificarem a tolerância da mesma até 1,59 mg/L.
O nitrito (Tabela 3) oscilou entre 0,09 e 0,11 mg/L. Estes valores estão distantes das concentrações letais referenciadas por LEWIS e MORRIS (1986), citados por VINATEA (1997), para a carpa comum (Cyprinus carpio L.).
A transparência (Tabela 3) permaneceu, durante todo período experimental, entre 24,0 e 50,0cm de altura, indicando boa densidade de plâncton (TAVARES, 1995). A turbidez, que está diretamente correlacionada à transparência, permaneceu entre 9,40 e 23,22 cm. Isto é conseqüência do cultivo praticado no experimento, no qual houve a presença de argilas colóidais, substâncias em solução, matéria orgânica colóidal ou dissolvida ou mesmo do plâncton (TAVARES, 1995).
Durante os dois anos de experimento, as carpas comuns apresentaram peso médio inicial de 0,48 g e peso médio final, conforme as densidades 5, 10, 15 e 20 peixes por metro quadrado, respectivamente, de 3,64; 2,80; 2,31 e 2,25g (Tabelas 2 e 4). O comportamento do ganho de peso em função das densidades é melhor explicado pela equação de regressão quadrática Y = 4,4067 - 0,2869X + 0,007754X2 (Figura 3).
Também, o comprimento médio inicial foi de 3,15 cm e comprimento médio final, respectivamente, de 8,67; 8,06; 7,81 e 7,47 cm, conforme as densidades (Tabela 2). O ganho de comprimento em função das densidades é melhor descrito por intermédio da equação de regressão linear Y = 5,8252 - 0,07736X (Figura 4).
Os resultados do crescimento em peso e comprimento foram inferiores aos encontrados por GRAEFF (1997a), em que foram usadas as mesmas densidades porém as temperaturas foram mais elevadas (14,2 a 19,1oC) e a dieta alimentar foi diferente (34% PB e 2925 kcal/kg de ração). Entretanto, os resultados foram superiores ao encontrado por GRAEFF (1997b) em trabalho com densidades iguais e superiores, mostrando nitidamente a influência de densidades acima de 30 alevinos por metro quadrado, em que o ponto crítico de crescimento tem influência mais acentuada.
A densidade nos lotes em crescimento, no período de inverno, ocasiona o Fenômeno de "Tobi" (SHIMAZU, 1973), um fato zootécnico importante pois resulta em crescimentos diferenciados dentro da mesma população.
Constam da Tabela 2 , em percentual de quantidade de alevinos, as seleções I, II e III: na densidade 5 - 41,27 (II) e 58,73 (III), na densidade 10 - 1,86 (I), 67,59 (II) e 30,55 (III), na densidade 15 - 2,56 (I), 78,57 (II) e 18,87 (III), na densidade 20 - 3,36 (I), 75,31 (II) e 21,31 (III). Para fins de classificação nas seleções I, II e III, os pesos médios das seleções de nossa Estação de Piscicultura são 0,48; 2,06 e 4,79g, respectivamente.
As diferentes densidades não influenciaram a sobrevivência. A porcentagem de sobrevivência nas densidades 5, 10, 15 e 20 foram, respectivamente, 98,41, 97,61, 97,35 e 97,21% (Tabela 5). Os modelos testados para a sobrevivência, em função das densidades, não foram significativos pelo teste F a 5% de probabilidade.
Segundo SWINGLE (1961), é coerente expressar como coeficiente aparente de conversão alimentar, quando se pretende calcular a conversão em um sistema de cultivo, onde se tem adubação química ou orgânica, pois o alimento natural pode contribuir com o crescimento dos peixes. Neste trabalho, para a variável conversão alimentar aparente, ocorreu interação significativa entre densidades e anos, a 5% de probabilidade pelo teste F da análise da variância. Por isto, no ano de 1998, a conversão alimentar aparente nas densidades 5 a 20 foi, respectivamente, 1,44; 1,71; 2,46 e 2,59:1 (Tabela 5), sendo linear de acordo com a equação Y = 0,9978 + 0,084375X (Figura 5). Já no ano de 1999, não houve influência das densidades na conversão alimentar (Tabela 5). As conversões alimentares obtidas neste experimento foram melhores que as encontradas por GRAEFF (1997b) em experimento conduzido sob as mesmas condições.
Avaliação econômica
A pesquisa em piscicultura apresenta entre seus objetivos não só melhorar a taxa de conversão alimentar, atingir maior produtividade, mas maximizar o rendimento, com verticalização da curva de crescimento dos peixes, favorecendo um rápido giro de capital e economia de alimento (VALENTINE, 1972).
Na Tabela 4 apresentam-se alguns pressupostos necessários para a obtenção do custo de produção. Anteriormente já foi comentado sobre o povoamento, peso médio inicial e final, taxa de sobrevivência e a percentagem e resultado da classificação dos alevinos em seleções I, II e III. Na Tabela 6 é sumarizada os custos de construção do açude, e sua depreciação em 20 anos (custo da terra, açude, manutenção e despesas eventuais) representa um custo fixo de R$ 304,85. O uso intensivo de adubos químicos, rações, alevinos e mão-de-obra (alimentação diária e despesca) representa um custo variável de R$ 3208,34; 5524,31; 7822,33 e 10.143,95 nas densidades de 5, 10, 15 e 20, respectivamente, por ciclo de produção por hectare (120 dias), possibilitando serem realizados dois ciclos por ano. O custo total (custo fixo + custo variável) corresponde a um valor por milheiro de alevinos de R$ 71,40; 59,72; 55,66 e 53,74 nas densidades de 5 a 20 alevinos/m2, respectivamente. A diferença entre o custo total e a receita com alevinos proporcionou um lucro de R$ 263,10; 1075,58; 1840,78 e 2887,25 por hectare nas densidades de 5 a 20, respectivamente. Portanto, a rentabilidade de se investir em tecnologia (alta densidade) faz com que esta prática seja recomendável.
O povoamento com densidades crescentes de até 20 alevinos de carpa comum/m2 no inverno é viável, sendo o crescimento da maior parte de sua população satisfatório.
O aumento da densidade populacional diminui o ganho de peso e crescimento individual dos alevinos e aumenta a taxa de conversão alimentar.
Com o aumento da densidade, a participação das classificações por seleções é inversamente proporcional ao seu crescimento.
A lucratividade da atividade é crescente com o aumento da densidade, havendo diminuição do custo médio ou unitário.
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Álvaro Graeff1, Carlos Leomar Kreuz2, Evaldo Nazareno Pruner3, Márcia Mondardo Spengler4 – agraeff[arroba]epagri.rct-sc.br
1 Médico Veterinário CRMV SC-0704 - Nutrição/EPAGRI - Estação de Piscicultura de Caçador. E.mail: galvaro[arroba]unc-cdr.rct-sc.br
2 Eng.-Agrônomo CREA10-19599, D.Sc., Sócio-economia/EPAGR-Estação Experimental de Caçador. E.mail: kcarlos[arroba]unc-cdr.rct-sc.br
3 Médico Veterinário CRMV SC-0401 - Reprodução/EPAGRI - Estação de Piscicultura de Caçador. E.mail: pruner[arroba]unc-cdr.rct-sc.br
4 Engenheiro-Agrônomo CREA 10-26092, M.Sc, Estatística/EPAGRI - Estação Experimental de Caçador - Caixa Postal 591, Fone (0xx49)563-0211 Fax (0xx49)563-3211 - 89500-000 - Caçador, SC. E.mail: spengler[arroba]unc-cdr.rct-sc.br
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