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A avaliação econômica foi realizada sobre o experimento conduzido em 120 dias de engorda (período de 22 de novembro de 1995 a 21 de março de 1996), no Posto de Piscicultura de Videira, Santa Catarina, sobre o desenvolvimento de alevinos seleção II, oriundos de 120 dias de estocagem de inverno na Estação de Piscicultura de Caçador/EPAGRI, Santa Catarina (GRAEFF et al., 2001).
Os tratamentos constam de três densidades de povoamento (1,00; 0,50 e 0,33 peixes/m2) dispostos num delineamento inteiramente ao acaso com três repetições, avaliados a cada 30 dias para peso e comprimento.
A dieta foi formulada com produtos facilmente encontrados na região, dentro dos critérios para espécie (27% de proteína bruta e 2925 kcal de Energia metabolizável por quilograma de ração) e o sistema de produção (NRC, 1993) conforme a Tabela 1. A alimentação foi ofertada uma vez ao dia, na proporção de 3% do peso vivo. A quantidade de ração ofertada era reajustada a cada 30 dias, no momento das avaliações para peso e comprimento. Nesse momento, eram pesados com uma balança eletrônica com precisão de 0,01 g, marca Mettler 4400-Delta Ranger e medidos aproximadamente 50% dos peixes de cada parcela com uma régua milimetrada.
Os viveiros foram adubados a cada 30 dias com 42,0 kg de Superfosfato Triplo com 46% de P2O5 e mais 75,0 kg de Uréia com 45% de N/hectare.
As verificações da temperatura da água foram realizadas mediante medições diárias com termômetro digital na superfície e a 0,80 cm de profundidade, às 9 horas e às 15 horas, quando também era oferecida a ração. Para avaliações da temperatura ambiente, utilizou-se um aparelho de corda, marca Wilh-Lambrech/Gmbh Gottingern. O acompanhamento da qualidade da água foi feito pelo Laboratório de Qualidade de Água/Epagri - Caçador; para as variáveis: pH, oxigênio dissolvido, gás carbônico, dureza, alcalinidade, amônia, nitrato, turbidez, semanalmente. A transparência foi verificada uma vez por semana utilizando-se o disco de Secchi.
Ao término do experimento, foi realizada a análise econômica, tendo-se por base 1 hectare de produção de carpas comum (Cyprinus carpio LINNAEUS, 1758) em cada uma das três densidades estudadas, com dois ciclos de produção (um real e outro estimado), em uma planilha de custo.
5.1 Avaliação Zootécnica
O incremento do peso e comprimento médio dos peixes e biomassa final total durante a execução do experimento apresentou um resultado final zootecnicamente satisfatório, conforme a Tabela 2, já apresentado por Graeff e Pruner (2000), os quais afirmam que, dependendo do destino dado ao peixe, os maiores para filés ou in natura e os menores para conservas e fishburgues, qualquer densidade mostraria resultado significativo. Dentro do ponto de vista preconizado por Valentine (1972), isso é maximizar o rendimento, com verticalização da curva de crescimento dos peixes, favorecendo um rápido giro de capital e economia de alimento (VALENTINE,1972).
A conversão alimentar aparente nas densidades de 1,00; 0,50 e 0,33 foi de 1,34; 1,05 e 1,23 e a sobrevivência 73,78; 71,35 e 75,21%, respectivamente, estavam dentro do esperado para os experimentos da região.
Quanto ao uso de adubação química, o resultado foi eficaz para o aumento da biomassa total em complementação à ração oferecida, reafirmando a conclusão de Graeff e Pruner (1999), em que foi observado e identificado o aumento da biomassa natural por microscopia ótica.
A temperatura da água durante o período experimental (Tabela 3) manteve-se entre 20,4 e 21,8oC, no período da manhã, ficando a média do período em 21,1oC. No período da tarde, oscilou entre 24,6 e 25,2oC e a média ficou em 24,7oC. Nota-se que as temperaturas foram inferiores às que afirmaram Arrignon (1979) e Makinouchi (1980): "o melhor crescimento das carpas se dá entre 24,0o a 28,0oC", fato que aparentemente não trouxe prejuízo ao crescimento dos alevinos. A temperatura média ambiente durante o experimento oscilou entre 25,7 e 24,4oC, ficando a média em 25,4oC, normal para a média histórica da região.
Os valores do pH, O2D, CO2, dureza, amônia, nitrito (Tabela 3), segundo Reid e Wood (1976), Huet (1978), Arrignon (1979), Lukowicz (1982), Ordog e Nunes (1988), Castagnolli (1992) e Arana (1997) estavam dentro do preconizado e são considerados normais para as criações de peixes.
A alcalinidade, pelo contrário, manteve-se entre 37,20 a 42,50 mg/L de CaC03, dentro do nível recomendado por Boyd (1976) e Tavares (1994), que é de 30 a 300 mg/L
A transparência (Tabela 3) permaneceu, durante todo período experimental, entre 24,0 e 50,0 cm de altura, indicando boa densidade de plâncton (TAVARES, 1994). A turbidez, que está diretamente correlacionada à transparência, permaneceu entre 9,40 e 23,22 NTU. Isso é conseqüência do cultivo praticado no experimento, no qual há a presença de argilas colóidais, matéria orgânica dissolvida ou mesmo do plâncton (TAVARES, 1994).
5.2 Avaliação Econômica
Com a pesquisa em piscicultura objetiva-se não só melhorar a taxa de conversão alimentar, atingindo-se maior produtividade, mas também maximizar o rendimento, com verticalização da curva de crescimento dos peixes, favorecendo um rápido giro de capital e economia de alimento (VALENTINE, 1972).
Na Tabela 4 é apresentada uma planilha utilizada para a obtenção do custo de produção em um sistema de produção de 120 dias com densidades diferenciadas. Anteriormente, já foi comentado sobre o povoamento, peso médio inicial e final, taxa de sobrevivência. Na Tabela 5 são sumarizados os custos de manutenção do açude e sua depreciação em 20 anos, representando um custo fixo de R$ 802,50. O uso intensivo de adubos químicos, rações, alevinos e mão-de-obra (alimentação diária e despesca) representam um custo variável de R$ 2.929,12; 3.141,56 e 4.101,64, nas densidadesde 3.500, 5.000 e 10.000 peixes por hectare respectivamente, em um ciclo de produção de 120 dias, possibilitando a realização de dois ciclos por ano. O custo total (custo fixo + custo variável) corresponde a um valor por quilo de peixe produzido de R$ 1,36; 1,30 e 1,30, nas densidades de 3.500 a 10.000 peixes/ha, respectivamente. O valor recebido pelos produtores da região, que vendem os peixes de 200 a 300 g para conservas e "fishburgers", e os maiores que 450 g para o processamento no frigorifico ou pesque-pague, foi R$ 1,50 o quilo. A diferença entre o custo total e a receita com os peixes proporcionou um lucro de R$ 369,38; 594,94 e 741,86 por hectare em dois ciclos, nas densidades de 3.500, 5.000 e 10.000 peixes/hectare, respectivamente. Portanto, a rentabilidade de se investir em tecnologia em alta densidade faz com que essa prática seja recomendável.
Com o aumento da densidade da população, a produção final é influenciada proporcionalmente a esse aumento.
O aumento da densidade populacional diminui o ganho de peso individual e o crescimento individual dos peixes.
O povoamento com densidades crescentes de até 10.000 alevinos de carpa comum/ha em dois ciclos de produção na região é economicamente viável, sendo o crescimento da maior parte de sua população satisfatório.
A lucratividade da atividade é crescente com o aumento da densidade, havendo diminuição do custo médio ou unitário do custo do quilo do peixe produzido.
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Álvaro Graeff1 - agraeff[arroba]epagri.rct-sc.br
1. Médico Veterinário CRMV SC-0704 – Esp. Nutrição de Peixes/EPAGRI-Unidade de Piscicultura de Caçador Caixa Postal 591 – Fone (0xx49) 561-2000 – Fax (0xx49) 561-2010 – 89500-000 – Caçador, SC. agraeff[arroba]epagri.rct-sc.br
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