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Material e Métodos

O experimento foi conduzido no Instituto de Zootecnia, na sede do Núcleo de Desenvolvimento Regional de Pesquisa Zootécnica, em Itapetininga, SP, e na Unidade de Campo de Ovinos do Centro de Etologia, Ambiência e Manejo, em Nova Odessa, SP. Os cordeiros utilizados eram da parição de 1996.

Ovelhas da raça Ideal e Corriedale, com 3 anos de idade, mantidas em pastagem de coast-cross (Cynodon dactylon L. Pears) (15 ovelhas/ha), em Itapetininga, foram acasaladas, em março de 1996, com machos Suffolk, Ile de France, ou da mesma raça. Receberam suplementação de concentrado composto de milho (48%), farelo de algodão (17%), soja (24%) e trigo (7,5%), calcário calcítico (1,5%), sal (1,0%) e mistura mineral (1,0%) (Tabela 1) no terço final da gestação (300 g/dia) e durante o aleitamento (400 g/dia). As crias foram desmamadas ao redor dos 60 dias (outubro de 1996), pesadas e enviadas para a Unidade de Ovinos, em Nova Odessa. Os animais foram confinados em baias coletivas de 1,5 x 3,0 metros, com piso ripado suspenso, com sete animais por baia, durante 90 dias, sendo alimentados com silagem de milho à vontade e concentrado (idêntico ao anterior), fornecidos em duas porções diárias. O concentrado foi fornecido na quantidade de 2,5% do peso vivo do animal/dia, corrigido a cada quatorze dias.

Foram utilizadas 69 crias (31 machos e 38 fêmeas), provenientes de parto simples, representando os seguintes genótipos (tratamentos):

  • crias da raça Ideal (4 machos e 4 fêmeas);
  • crias de carneiros Suffolk com ovelhas Ideal (7 machos e 9 fêmeas);
  • crias de carneiros Ile de France com ovelhas Ideal (6 machos e 6 fêmeas);
  • crias da raça Corriedale (4 machos e 4 fêmeas);
  • crias de carneiros Suffolk com ovelhas Corriedale (5 machos e 8 fêmeas); e
  • crias de carneiros Ile de France com ovelhas Corriedale (5 machos e 7 fêmeas).

Os animais foram pesados no nascimento, no desmame, a cada quatorze dias durante o período de confinamento e ao seu final, para se calcular o ganho em peso no período. O abate foi efetuado aos 150 dias de idade, sendo os animais pesados após jejum de alimento sólido por 20 horas (peso de abate). As carcaças quentes foram pesadas e, em seguida, armazenadas à temperatura de 3ºC por 48 horas, sendo pesadas novamente (carcaça fria) e a diferença de peso denominada perdas por oreio. O rendimento de carcaça foi calculado sobre o peso vivo ao abate (após jejum). As carcaças foram cortadas ao meio; a meia-carcaça esquerda foi pesada e mensurados o comprimento interno (distância entre a inserção do primeiro par de costelas na coluna vertebral e o sacro) e externo da carcaça (distância entre a articulação da sétima vértebra cervical e primeira torácica, até a articulação entre a última vértebra sacral com a primeira caudal), a profundidade do tórax (largura máxima do tórax, entre as extremidades distais dos processos espinhosos da terceira e quarta vértebras torácicas e a inserção da terceira e quarta costelas no esterno, medida externamente), o comprimento da perna (distância entre o trocânter maior do fêmur até a junção tarso-metatarsal) e o perímetro da perna em sua parte mais larga, conforme Figura 1. A meia-carcaça esquerda foi cortada em dianteiro (pescoço, membro anterior e cinco costelas), traseiro (perna, garupa, lombo separado do dianteiro entre a 5a e 6a costelas) e costilhar (costelas, a partir da 6a, separadas do traseiro à distância de, aproximadamente, 2 cm da coluna vertebral, mais os músculos abdominais). A área de olho de lombo e a espessura da gordura subcutânea foram medidas no corte realizado entre a 12a e 13a costelas, utilizando-se papel vegetal quadriculado.

Os resultados de desempenho foram analisados segundo o modelo:

em que

Yijk = valor observado para a variável em estudo referente à repetição k da combinação do nível i dos genótipos com o nível j do sexo,

ti = efeito do genótipo;

sj = efeito do sexo do cordeiro;

(ts)ij = efeito da interação do genótipo X sexo; e

eij = erro experimental.

Para análise dos resultados de características de carcaça, foi acrescentado no modelo o efeito do peso do cordeiro ao abate, como covariável, segundo o modelo:

em que

Yijk = valor observado para a variável em estudo referente à repetição k da combinação do nível i dos genótipos com o nível j do sexo;

ti = efeito do genótipo;

sj = efeito do sexo do cordeiro;

b = coeficiente de regressão linear;

xijk = peso ao abate do cordeiro do genótipo i, do sexo j, na repetição k;

(ts)ij = efeito da interação do genótipo x sexo; e

eij = erro experimental.

Foram realizadas, também, correlações entre as medidas de carcaça e peso ao abate e de carcaça dos animais.

Resultados e Discussão

Na Tabela 2, são apresentados os dados de desempenho das crias dos diferentes genótipos avaliados. O cruzamento de carneiros de corte com ovelhas de raças lanígeras não aumentou os pesos ao nascer e ao desmame das crias; todavia, o ganho de peso pré-desmame foi maior (P<0,05) para as crias do cruzamento Suffolk x Ideal que para as crias Corriedale e não diferiu em relação aos demais genótipos. O peso aos 150 dias dos cordeiros do cruzamento Suffolk x Ideal foi maior (P<0,01), somente, em relação aos dos cordeiros Ideal. O ganho de peso pós-desmame foi maior (P<0,01) para os cordeiros cruzados Suffolk que o dos cordeiros Ideal, não diferindo dos cordeiros Corriedale e dos cruzados Ile de France. Estes dados indicaram que a introdução de raças de corte em cruzamento com matrizes de raças lanígeras aumentou o peso final dos animais cruzados com a raça Ideal.

O peso ao desmame dos cordeiros da raça Ideal e Corriedale encontrados neste estudo são bastante próximos dos obtidos por RODA et al. (1984), para cordeiros criados em pastagem. Os ganhos de peso vivo encontrados para os animais cruzados são superiores aos de CARVALHO et al. (1997), para crias mestiças Ideal x Texel, confinadas e alimentadas com silagem de milho e concentrado, e aos de MACEDO et al. (1997) para cordeiros Corriedale ou cruzas desses com Bergamacia ou Hampshire. GUERRA e HERNANDEZ (1992) mostraram que o uso de machos de raça de corte (suffolk ou Hampshire) sobre fêmeas lanígeras (rambouilet) foi capaz de aumentar o peso ao abate de crias cruzados em relação aos puros.

A Tabela 3 apresenta o peso de abate dos cordeiros e os pesos e rendimentos de carcaça. Os pesos das carcaças quentes ou frias foram superiores para os animais cruzados em relação aos de raça pura lanígera e o do cruzamento da raça Suffolk x Ideal foi superior (P<0,01) aos demais, seguido pelos animais oriundos do genótipo Suffolk x Corriedale, Ile de France x Corriedale e Ile de France x Ideal, com as raças puras lanígeras apresentando os menores valores. Estes resultados indicaram que o uso de machos de corte sobre fêmeas lanígeras foi efetivo em aumentar o peso das carcaças, destacando-se o uso de machos Suffolk. A raça Ile de France também aumentou o peso das carcaças, podendo ser utilizada em tais cruzamentos.

Estes resultados concordam com os de CASOLI et al. (1984), que, na Itália, também conseguiram maior peso de carcaça de crias provenientes de cruzamentos de machos Suffolk ou Ile de France sobre fêmeas de raça Apenina (nativa) em relação aos animais puros Apeninos, e GÜNEY (1990), com o uso de carneiros Ile de France sobre ovelhas nativas. Contudo, MUNIZ et al. (1997) não obtiveram aumento no peso de carcaça fria de crias provenientes do cruzamento de ile de France com Corriedale.

Os rendimentos de carcaça quente e fria apresentaram diferença (P<0,01) entre os genótipos avaliados. Os cordeiros da raça Corriedale apresentaram menor rendimento que os animais dos genótipos suffolk x ideal e Ile de France x Corriedale; os demais não apresentaram diferenças. Isso mostra que a raça Ile de France pode melhorar o rendimento de carcaça fria de cordeiros filhos de ovelhas Corriedale.

Os rendimentos de carcaça quente e fria foram similares aos encontrados por CARVALHO et al. (1997), para cordeiros confinados e abatidas com 137,3 dias, e MACEDO et al. (1997), para cordeiros confinados e abatidas aos 268 dias. Aumento do rendimento de carcaça de crias oriundas do uso de machos de corte sobre fêmeas não-especializadas foi constatado por MUNIZ et al. (1997) e GÜNEY (1990).

O peso das meias-carcaças e os percentuais de dianteiro, traseiro, costilhar, a espessura de gordura subcutânea e a área de olho de lombo podem ser visualizados na Tabela 4. O rendimento dos cortes apresentou diferença (P<0,05) apenas para a porcentagem de dianteiro, maior nos cordeiros Corriedale em relação aos demais. Foi averiguada, também, diferença (P<0,05) entre sexos, mostrando que os machos apresentam esta região anatômica mais desenvolvida que as fêmeas, provavelmente decorrente de dimorfismo sexual. Os demais cortes não apresentaram diferença, mostrando que todos os genótipos avaliados apresentam similaridades no corte mais nobre da carcaça, o traseiro.

A espessura de gordura subcutânea não mostrou diferenças entre genótipos (P>0,05), sendo, todavia, maior para as fêmeas (P<0,01). Isso mostra que as fêmeas depositam gordura na carcaça mais precocemente que os machos (BASS et al., 1990; MERSMANN, 1990), devido, provavelmente, às diferenças hormonais existentes entre os sexos. Constata-se que, quando se deseja mesma cobertura de gordura subcutânea, o peso de abate de fêmeas deve ser inferior aos dos machos.

Essa característica parece ser mais influenciada pelo peso de abate que pelo genótipo (WOODet al. 1980), o que pode ser confirmado pela correlação positiva entre o peso de abate e a espessura de gordura (r=0,67 para macho e r=0,74 para fêmea). O aumento do peso vivo ou grau de maturidade dos animais leva a aumento na proporção de gordura na carcaça, segundo SAINZ (1996). A espessura de gordura acima do músculo longissimus dorsi, segundo WOOD e MACFIE (1980), apresenta correlação com o peso total de gordura da carcaça. Isso mostra que animais mais pesados, ou seja, com maior grau de maturidade, apresentam maior espessura de gordura subcutânea que os animais mais leves, sendo fator importante para se definir a característica do produto a ser colocado no mercado.

Os valores de espessura de gordura subcutânea são muito inferiores ao citado por SAINZ (1996), como máximo desejável nos Estados Unidos, inferiores aos de BONA FILHO et al. (1994), para cordeiros mestiços abatidos com 139 dias de idade e peso ao redor de 40 kg, e superiores aos de MACEDO et al. (1997), para crias cruzadas abatidas ao redor de 270 dias.

A área de olho de lombo (AOL) não mostrou diferença para genótipos e sexo. Este fato concorda com FAHMY (1985), que também não encontrou diferenças na AOL entre cordeiros de vários cruzamentos abatidos com peso vivo semelhantes. Todavia, mostrou correlação positiva com o peso ao abate (r=0,87), mostrando que este, e não o genótipo, é fator determinante dessa variável. JONES et al. (1996) também mostraram que a AOL é influenciada pelo peso da carcaça quente.

Os valores para AOL encontrados para os animais cruzados são superiores aos de PIRES et al. (1996), para crias mestiças abatidas ao redor de 30 kg. ARAUJO et al. (1996) encontraram, para crias Ideal com peso de carcaça de 11,5 kg, valores levemente inferiores aos das crias Ideal deste estudo. MACEDO et al. (1997) encontraram valor de AOL similar ao deste estudo para cordeiros cruzados abatidos entre 30 e 32 kg de peso vivo. CARVALHO et al. (1997) obtiveram valor de AOL inferior ao deste estudo, para crias abatidas com 20,7 kg.

O comprimento interno e externo da carcaça, a profundidade de tórax e o comprimento e perímetro da perna são apresentadas na Tabela 5. O comprimento externo das carcaças apresentou diferença estatística entre genótipos (P<0,05), e não entre sexos. Os cordeiros oriundos do cruzamento com Suffolk mostraram carcaças mais compridas e os animais puros da raça Ideal, carcaças mais curtas; os cruzados da raça Ile de France ou Corriedale puro apresentaram valores intermediários.

O comprimento interno apresentou valores maiores (P<0,01) para os cruzados Suffolk, seguidos pelos cruzados Ile de France; as raças puras apresentaram os menores valores.

A profundidade do tórax foi maior para os cruzados com Suffolk em relação aos Corriedales puros. O comprimento da perna foi maior para os animais Suffolk x Ideal e inferior para os cordeiros puros da raça Ideal, sendo os demais genótipos em posição intermediária. O perímetro da perna mostrou valores superiores (P<0,05) para os cruzados Suffolk e valores inferiores para os animais da raça Corriedale puros. Não foi observada diferença entre sexos para estas variáveis.

As correlações entre as medidas das carcaças e os pesos vivos ao abate e pesos das carcaças foram altamente significativas (Tabela 6), mostrando que estas podem ser utilizadas para inferir o peso das carcaças; dentre estas, a profundidade do tórax foi a que apresentou maior valor de coeficiente de correlação (r = 0,88) com os pesos de carcaça quente e fria. este fato concorda com EL KARIN et al. (1988), ao afirmarem que esta medida apresenta o maior coeficiente de correlação com o peso de carcaça.

Na Tabela 7, é apresentada a relação entre o perímetro e comprimento da perna e o índice de compacidade da carcaça (peso da carcaça fria/comprimento externo). A relação entre o perímetro e o comprimento da perna não apresentou diferença significativa para genótipos e sexo, mostrando que os animais apresentaram desenvolvimento harmonioso entre estas. A relação entre o perímetro e o comprimento não apresentou correlação (Tabela 6) com qualquer outra variável estudada.

 

O índice de compacidade mostrou efeito significativo somente entre os genótipos (P<0,01), sendo maior para os animais cruzados Ile de France e menor para os puros lanígeros, com os cruzados Suffolk apresentando valores intermediários. A compacidade da carcaça apresentou correlação positiva e significativa com o peso de abate (r=0,94) e da carcaça quente (r=0,96) ou fria (r=0,96), mostrando que o peso de abate tem grande influência sobre esta variável. Apesar dos cruzados Suffolk apresentarem, em média, carcaças mais pesadas, em função do maior comprimento, verificou-se menor compacidade em relação aos cruzados Ile de France.

Conclusões

A utilização de carneiros da raças Suffolk ou Ile de France, especializados para corte, sobre fêmeas lanígeras resulta em aumento no peso da carcaça de suas crias.

As raças Suffolk e a Ile de France apresentaram, respectivamente, aumento do comprimento e da compacidade da carcaça.

A espessura da gordura subcutânea é influenciada pelo sexo e pelo peso vivo ao abate, não havendo efeito do genótipo, ao passo que a área de olho de lombo é afetada somente pelo peso vivo ao abate.

As medidas de carcaça podem ser utilizadas para estimar o seu peso.

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Eduardo Antonio da Cunha /2, Luiz Eduardo dos Santos /3, Mauro Sartori Bueno /3, Domingos Sanchez Roda /2, Frederico Fontoura Leinz /4, Carlos Frederico de Carvalho Rodrigues /4
msbueno[arroba]iz.sp.gov.br; cunha[arroba]iz.sp.gov.br; lesantos[arroba]iz.sp.gov.br

1. Financiado pela FAPESP.
2. Pesquisador Científico do Centro de Etologia, Ambiência e Manejo do Instituto de Zootecnia, E.mail:
ceam[arroba]izsp.br
3. Pesquisador Científico do Centro de Nutrição e Alimentação Animal do Instituto de Zootecnia.
4. Pesquisador Científico do Núcleo de Pesquisas Zootécnicas do Sudoeste, Itapetininga, SP.

A publicação dos textos técnicos disponíveis na WEB de autoria dos pesquisadores da área de ovinocultura, Drs. Luiz Eduardo dos Santos, Eduardo Antonio da Cunha e Mauro Sartori Bueno, está liberada desde que na forma integra, sem alterações e tendo claramente citados os autores e a instituição (Instituto de Zootecnia - Nova Odessa (SP) / APTA / SAA.)



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