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Técnica para marcação dos adubos verdes crotalária júncea e mucuna-preta com 15N para estudos de din (página 2)

Alessandra Fabíola Bergamasco; Fábio Cesar da Silva; Luiz Henrique Antunes

MATERIAL E MÉTODOS

Utilizaram-se as seguintes leguminosas: crotalária júncea (Crotalaria juncea L.) cultivar IAC-1-2, e mucuna-preta (Mucuna aterrima, sinonímia Stizolobium aterrimum Piper & Tracy), cultivar comum, cujas características são apresentadas a seguir.

As crotalárias são originárias da Índia, com ampla adaptação às regiões tropicais. As plantas são arbustivas, de crescimento ereto e determinado, produzem fibras com celulose de alta qualidade próprias para a indústria de papel e outros fins. Por se tratar de uma espécie de crescimento rápido, que atinge em estação normal de semeadura a altura de 3,0 a 3,5 m, é recomendada para adubação verde. Além disso, é considerada má hospedeira de nematóides formadores de galhas e cistos. Apresenta produtividade média normal que vai de 10 a 15 t/ha de material seco (MS). O ciclo, do plantio até a colheita das vagens, pode chegar a 180 dias, porém para fins de adubação verde recomenda-se o corte quando ela apresenta máxima produção de material no florescimento, ao redor de 120 dias (Salgado et al., 1987).

A mucuna-preta é uma planta de crescimento rasteiro e vigoroso, de ciclo anual ou bianual e de ampla adaptação, recomendada, sobretudo, para a adubação verde. Apresenta comprovada eficiência no controle da população de nematóides formadores de galhas, e sua produção de material seco pode alcançar 10 t/ha. O ciclo, do plantio até a colheita das vagens, pode chegar a 240 dias, mas para fins de adubação verde, recomenda-se o corte na época de florescimento, por volta de 120 dias (Bulisani & Braga, 1987).

As características agronômicas, a alta produtividade e acentuada capacidade de fixação biológica do nitrogênio (FBN), o comprovado controle de nematóides e a ampla aceitação e utilização em grande escala para fins de adubação verde colaboraram para a escolha e o emprego das duas espécies de leguminosas no presente trabalho (Mascarenhas et al., 1994).

Planejou-se produzir 1.350 g de material vegetal seco marcado com 15N, de cada leguminosa. Para a marcação do material vegetal com o isótopo 15N, partiu-se do pressuposto de que as leguminosas não deveriam fixar o nitrogênio da atmosfera durante o seu crescimento, ou pelo menos ele deveria ser evitado até quando fosse possível, para não diluir o isótopo 15N a ser absorvido do nitrogênio aplicado ao solo. Para tanto, todo o solo utilizado no crescimento das leguminosas foi esterilizado com brometo de metila (10 mL de Bromex para cada 200 kg de solo) e as sementes, tratadas com hipoclorito de sódio. Foi utilizado um solo mineral, pobre em matéria orgânica e nitrogênio, para que a fonte principal de N para a leguminosa fosse aquela adicionada ao solo e enriquecida no isótopo 15N. Parcelou-se a dose total de nitrogênio, para que o nutriente estivesse disponível em vários estádios das culturas, ficando, assim, menos sujeito a perdas. As leguminosas foram semeadas em época não convencional (inverno), mantidas em casa de vegetação, com aquecimento e iluminação artificial, para evitar a fixação simbiótica do N2 e garantir um crescimento adequado. Planejou-se uma marcação mínima de 2 átomos % em excesso de 15N no material vegetal.

O solo escolhido foi um podzólico vermelho-amarelo, textura arenosa/média, com baixo teor de matéria orgânica, colhido da camada superficial (0 a 20 cm), na Estação Experimental de Pindorama (IAC) e que apresentou as seguintes características: 25 mg/dm3 de P (resina); 10 g/kg de MO; 4,7 de pH (CaCl2); 1,4 mmolc/dm3 de potássio; 15 mmolc/dm3 de cálcio; 5 mmolc/dm3 de magnésio; 23 mmolc/dm3 de hidrogênio mais alumínio; 46,4 mmolc/dm3 de CTC e 50% de saturação por bases.

Utilizaram-se vasos contendo 10 kg de terra, efetuando-se a adubação básica com 80 mg/kg de solo de P (superfosfato triplo), 50 mg/kg de solo de K (cloreto de potássio) e 5 mg/kg de solo de FTE-BR-12 (mistura de micronutrientes). Para correção da acidez do solo, foram adicionados 7,6 g/vaso de calcário dolomítico calcinado. Após a correção e a adubação, o solo apresentou o seguinte resultado de análise química: 46 mg/dm3 de P (resina); 10 g/kg de MO; 5,7 de pH (CaCl2); 3,4 mmolc/dm3 de potássio; 31 mmolc/dm3 de cálcio; 14 mmolc/dm3 de magnésio; 16 mmolc/dm3 de hidrogênio mais alumínio e 74% de saturação por bases.

Aos 11 de maio de 1993, semeou-se a mucuna-preta cujas plântulas germinaram decorridos sete dias (18/5/93). O desenvolvimento das plantas revelou-se adequado, apesar do ataque de fungo, identificado como Fusarium spp., o qual foi controlado com Benlate (0,75 g/L), na proporção de 100 mL dessa solução por vaso de 10 kg de terra (duas aplicações a cada sete dias) e da leve toxicidade de manganês, provavelmente em conseqüência da esterilização, agravada pelo cultivo em época mais fria, a qual foi controlada com uma calagem adicional de 4 g de calcário dolomítico calcinado. Aplicou-se 1,2 g/vaso de N, dividido em três frações, a saber: 0,3 g/vaso, em 26/5/93 (oito dias após emergência - dae); 0,3 g/vaso em 16/6/93 (21 dae) e 0,6 g em 29/6/93 (34 dae). O nitrogênio foi aplicado na forma de sulfato de amônio com 11,37 átomos % de 15N.

Realizou-se a colheita da mucuna-preta em 13 de agosto de 1993, com um ciclo de 94 dias, baseando-se na concentração de 15N encontrada em folhas pegas ao acaso e analisadas semanalmente e, também, na inspeção da ocorrência de nodulação radicular.

A crotalária só foi semeada em 27 de maio de 1993, em função de sua baixa tolerância à concentração de manganês, cujos teores, nas plantas, chegaram a 1.400 mg/kg, contra 218 mg/kg nas plantas normais, o que resultou na perda de duas semeaduras. Após a correção adicional com 4 g/vaso de calcário dolomítico, as plantas germinaram plenamente em 2/6/93. À aplicação de 1,2 g de nitrogênio nos vasos com crotalária júncea, adicionou-se uma dose de 0,3 g/vaso de N para garantir a marcação desejada e o pleno desenvolvimento, uma vez que as plantas não apresentaram nenhuma nodulação no início do crescimento.

As datas de aplicação de nitrogênio no solo foram as seguintes: em 17/6/93, aos quinze dias após a emergência (dae): 0,3 g/vaso de N; em 29/6/93, aos 27 dae: 0,3 g/vaso de N; em 14/7/93, aos 43 dae: 0,6 g/vaso de N, e, finalmente, em 4/8/93, aos 63 dae: 0,3 g/vaso de N. A concentração de 15N no sulfato de amônio foi a mesma aplicada na mucuna e a colheita da crotalária se deu em 22 de setembro de 1993, com um ciclo de 93 dias.

Utilizaram-se, respectivamente, 35 e 34 vasos na produção de mucuna-preta e crotalária júncea marcadas com 15N.

O material vegetal colhido (parte aérea e raízes) foi seco em estufa a 60oC; procedeu-se às determinações da massa vegetal seca, bem como às análises do teor de N e abundância de 15N, sendo o teor de N determinado por digestão-destilação semimicrokjeldahl (Bremner & Malvaney, 1982) e de abundância de 15N (átomos %) por espectrometria de massa, fazendo uso da combustão de Dumas como método de preparo de amostras (Trivelin et al., 1973).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados de produção de material seco, relação entre carbono e nitrogênio (C/N), teor de nitrogênio e abundância de 15N nas leguminosas constam do quadro 1.

A crotalária júncea apresentou C/N e enriquecimento em 15N maiores em função da baixa ocorrência de fixação simbiótica de N2, o que ficou caracterizado pela pequena nodulação radicular observada, fato esse confirmado pelo menor teor de nitrogênio e crescimento das raízes. A mucuna-preta, por sua vez revelou grande nodulação na colheita, apesar dos cuidados tomados. Como conseqüência, ela apresentou maior crescimento, tanto da parte aérea como das raízes, maior teor de nitrogênio nas raízes, o que acarretou a diluição isotópica do nitrogênio (marcação com 15N mais baixa) e menor C/N.

Verifica-se, no quadro 2, que a crotalária júncea apresentou maior abundância de 15N aos 51 dae, ocorrendo queda acentuada dos 72 aos 79 dae, indicando a diluição do isótopo nesse período, causada, provavelmente, pelo crescimento das plantas e pela fixação biológica do nitrogênio, pois os nódulos das raízes, embora fossem poucos, apresentavam-se ativos.

Para a mucuna-preta, observa-se maior concentração do isótopo aos 41 dae do que aos 78 dae, indicando maior diluição isotópica que a observada na crotalária júncea.

CONCLUSÃO

Confirmou-se a previsão de produção e marcação isotópica do material seco das leguminosas, tendo em vista o crescimento adequado das plantas e a estratégia de marcação utilizada. Foi obtido material vegetal seco de leguminosas com enriquecimento superior a 2 átomos % de 15N, o que permite a utilização do material em estudos de dinâmica de nitrogênio.

AGRADECIMENTOS

Aos Pesquisadores Ana Ines Lucena Lordello e Rubens Rodolfo A. Lordello, pelas facilidades oferecidas na esterilização do solo; ao Dr. Heitor Cantarella, pelas análises de solo e planta, às Técnicas de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica Virginia Maria Barbosa Villar, Valéria Garcia e Maria Jussara F.R. Vieira e à Oficial de Apoio Luzia de Fátima da Silva, pelo preparo de amostras de sementes, solo e folhas; a José Aurélio, Toninha, Izabel e Geraldo, pelo auxílio nas análises isotópicas; a Miguel e Silvia, pela tabulação dos resultados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MASCARENHAS, H.A.A; TANAKA, R.T.; COSTA, A.A.; ROSA, F.V. & COSTA, V.F. Efeito residual das leguminosas sobre o rendimento físico e econômico da cana-planta. Campinas, Instituto Agronômico, 1994. 15p. (Boletim científico, 32)

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Edmilson José Ambrosano(2-4), Paulo Cesar Ocheuze Trivelin(3-4) E Takashi Muraoka(3-4)
pcotrive[arroba]cena.usp.br
(1) Financiado pela FAPESP. Projeto Temático (93/0691-8) e IAEA: BRA/5/029, Viena. Recebido para publicação em 25 de maio e aceito em 4 de novembro de 1996.
(2) Seção de Leguminosas, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP).
(3) Centro de Energia Nuclear na Agricultura, CENA/USP, Caixa Postal 96, 13400-970 Piracicaba (SP).
(4) Com bolsa de produtividade científica do CNPq.



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