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A Revolução dos Cravos - 25 de abril de 1974 (página 2)

Mónica Graciela Afonso

Testemunhas

Muitas vezes acontece que os fatos tem a capacidade de ser mais fortes, e superiores a nós.

Se calhar tudo quanto segue é um vivo reflexo desta afirmação.

Esta parte do trabalho compreende as vivências de quatro portugueses que viveram de maneira diferente o mesma revolução dos cravos.

O Tó, homem calmo como seu Alentejo adotivo, tem 41 anos e é professor na universidade de Beja; ele falou com grande clareza dos processos políticos que aconteceram naqueles anos.

Domitilda de 41 anos é vivaz e eufórica; (quase igual a seu Algarve natal); ela é advogada e professora na universidade.

Ana Bela de 43 anos também algarvia (mas calma e silenciosa como os alentejanos) Trabalha na Segurança Social de Faro e é investigadora social.

Finalmente o Dr.Casimiro quem também é do Algarve e acho que deve ter 55 anos, foi um dos que lutaram nas ex-colonias. Ele esteve em Lourenço Marques.

O que continua forma parte do que foi o dia a dia na vida destes Portugueses.

Agradeço-lhes a fato de ter-me falado nisto e de permitir me conhecer a história desde uma visão mais "caseira".

Os relatos iam e vinham no tempo, foi por isso que eu tentei agrupá-los para agilizar o trabalho.

Estes Portugueses opinaram que o 25 de abril se deveu a que os militares queriam acabar com a guerra colonial (que já levava 13 anos) e com o regime salazarista e acrescentaram "No fundo, todos nós estávamos à espera de que isso acontecesse. Alguém tinha que tomar a primeira atitude" (Tó)

Chama a atenção como um regime fascista que esteve no poder por quase meio século cai da madrugada à manha e como seu discurso "Não discutimos a pátria e a sua história, não discutimos a autoridade e seu prestigio" perde validez em poucas horas.

É paradógico, e se calhar contraditório, que o mesmo regime que impulsou o nacionalismo e que re-criou o fado como música identificatória de Portugal comece a cair a partir de uma música.

A revolução foi suave e alegre como uma melodia na primavera.

É importante saber qual é a estrutura social e que coisas garantiram a permanência do sistema por tanto tempo.

Neste sentido Domitilda e o Tó falam do que acontecia.

Eles viveram àquela época como muito conservadora e de normas muito rígidas a mais de sentir que não tinham aceso ao conhecimento do que acontecia.

Eles dizeram que até o `74 houve muito analfabetismo já que só era obrigatória até a 4º classe por isso só tinham educação secundária uma minoria; e os que estudavam eram uma elite, sem ir mais longe no Algarve havia unicamente duas escolas secundárias, no entanto que agora em todas as "terras" há uma.

Também se modificou o regime interno das escolas por exemplo até o `74 no liceu usava-se bata e nela uma fitinha com uma cor.

Cada cor representava um ano diferente de liceu, assim o primeiro ano era representado com a fita cor de rosa, o segundo vermelho, o sexto castanho, e o sétimo preto.

Quando se entrava ao liceu eram identificados pela cor da fitinha, que era obrigatório usar já que se esta não estava o funcionário não deixava entrar os alunos à escola. Neste sentido eram muito rigorosos.

Outra coisa que se vivia no dia a dia nas escolas era a proibição as mulheres de usar calças e a imposição de usar sempre soquete (mesmo nos cálidos meses da junho e julho).

O liceu no qual Domitilda se formou tinha uma entrada com três corredores, um à direita, outro à esquerda e um enfrente.

Os moços até quinto ano de liceu (ou seja até os 15 anos) entravam para a esquerda. Os mais velhos para a direita e só os moços do sexto e sétimo grau podiam circular por todo o liceu.

De resto havia que restringir-se àquele corredor onde estavam as aulas.

Nao havía convívio entre rapazes e raparigas havendo aulas masculinas e femininas.

Só no sexto e setimo ano é que havíam turmas mistas.

A moral era tao rija que dar um beijo na rua era proibido, ja que era uma ofensa aos bons costumes, também estava mal visto que un moço entrasse á escola junto com uma miúda já que se isto acontecia podiam ser chamados pelo diretor.

Havia carreiras que só podiam estudar os homens ficando as mulheres totalmente relegadas.

Não só com respeito à educação as mulheres estavam relegadas se não que socialmente tinham poucos direitos e o regime estava infiltrado até nos sentimentos das pessoas já que os casamentos não eram totalmente livres.

Por exemplo um homem podia casar com quem quisesse; podia casar com uma mulher que não tivesse estudos nem dinheiro.

No entanto que a mulher era quem não podia casar com um homem que não tivesse o mesmo estatuto e não podia (se assim o desejava) mantê-lo.

A mesa do café de Faro fica animada com esta conversa e aparecem os exemplos "Houve um caso em Olhão, de um rapaz que trabalhava numa sapataria e namorava com uma professora de escola primária e para poder casar com ela o patrão teve que dar-lhe uma parte na sociedade se não este não podia casar". Ana Bela que também estava lá acrescentou: "Logo do 25 soubesse que o moço era informante da PIDE".

Noutro aspeto onde se via que o papel da mulher era desvalorizado quanto ao do homem é no trabalho já que para que esta pudesse trabalhar tinha que ter uma autorização por escrito do marido, também a mulher não podia fumar em público nem ir ao café (costume típica portuguesa)a não ser que fosse acompanhada pelo marido.

Voltando as escolas é necessário dizer que todos aqueles que estudavam tinham a obrigação de fazer parte de "Mocedade Portuguesa" que era uma organização juvenil do regime que infundia os sentimentos de nacionalismo e amor à pátria.(Também nela se fundia doutrinação política e religiosa)

"Nos feriados, procissões, cerimônias oficiais tínhamos que ir vestidos com o uniforme da escola e ninguém podia não formar parte das mocidades.Porque estávamos a favor do regime ou não estávamos.

Era uma ditadura e tínhamos que fazer parte daquele cerimonial". Diz Domitilda.

Outro componente que esteve presente no salazarismo foi a censura e a falta de liberdade para expressar idéias e opiniões. A censura era tão forte que todas as publicações eram vistas e revistas e qualquer palavra que pudesse ser ofensiva da boa moral e dos bons costumes o que fosse contra o regime era censurada. A mais existia o medo infundido pela P.I.D.E. (Polícia Internacional e de Defesa do Estado.Chamada familiarmente polícia política) que tinham informantes secretos por toda parte.

"Por exemplo a gente estava aqui, no café, a falar qualquer coisa sobre o governo, sobre o regime e a polícia intervinha e levavam-te preso. Se cantavas na rua uma canção que eles pensassem que ia contra o governo também podias ir preso. Naquela época houveram muitos presos políticos. Estes presos eram torturados (tanto física como psicologicamente. Por exemplo não os deixavam dormir por dois ou três dias entre outras coisas).

Não só existia esta polícia secreta que era paga pelo regime se não que eles tinham informadores e por exemplo iam as escolas e pediam de ver os jornais antigos dos estudantes que as vezes os levavam e mais tarde voltavam a trazer. Eles queriam manter o controle sobre tudo, tanto é assim que para trabalhar no funcionalismo público havia que fazer uma declaração que dizia que se estava a favor do regime e só se entrava ao serviço público depois da P.I.D.E. ter passado uma credencial dizendo que a pessoa podia ir àquele emprego.

A situação econômica de Portugal nunca foi boa.

Salazar nos fins da década de `20 chega ao poder como primeiro ministro e consegue equilibrar as finanças, é por isso que é visto a nível internacional como um grande financeiro e nos 48 anos de regime salazarista tudo se manteve.

Não aumentou o preço do pão, nem dos salários, nem as rendas das casas, isto fez que a economia ficasse estagnada e já não havia investimentos. As coisas iam-se remediando mas não com investimentos.

Por exemplo "Quando se deu o 25 do abril o norte de Portugal nem sequer tinha estradas. São os soldados os que vão abrir as estradas, estávamos atrasadíssimos. Havia dinheiro mas não havia desenvolvimento.

Isto tinha que ver com a política conservadora e com que o dinheiro ia para as colônias." (para alimentar a guerra).Diz Ana Bela

Esta estagnação na economia provoca falta de emprego; (muitos são os Portugueses que emigram por esta causa) e por tanto miséria.

Como a mendicidade estava proibida estavam as mitras que se bem não eram prisões também não se podia sair e era o sítio onde eram escondidos da sociedade os mendigos. A função destes sítios era ocultar para poder dizer assim que não havia miséria.

Podemos dizer que durante o regime salazarista Portugal viveu de costas para Europa ("Orgulhosamente sós") e isto se agravou na década de `60 que é quando começam os movimentos de libertação nas colônias.

Para sustentar esta guerra de 13 anos que manteve Portugal com suas colônias era preciso muito dinheiro e uma máquina de guerra muito grande. O dinheiro saía dos impostos dos Portugueses e dos poços de Petróleo da Angola, mas Portugal não usufrutuava o dinheiro que vinha das colônias porque este tinha que voltar para lá como barcos, armas, ordenados, aviões. "Havia que alimentar aquela guerra".

Guerra que segundo o Dr. Casimiro (ele lutou em Lourenço Marques) foi uma guerra de guerrilhas e una guerra muito cobarde.

"É a partir da segunda grande guerra; que começam a surgir os movimentos de libertação nas colônias.

Os Estados Unidos e o União Soviética tinham seus movimentos de libertação e ajudavam com armas, ideologia e dinheiro.

Os dirigentes dos movimentos de libertação iam estudar para lá para aprender tácticas de guerrilha e recebiam as influências destes países.

Dos Estados Unidos o modelo capitalista e da União Soviética o modelo comunista".

O 25 do abril não só é conhecido como revolução dos cravos (foi uma florista quem começou a distribuí-los pelos soldados) se não também como Movimento dos Capitães.

"Estes capitães eram estudantes que se envolviam na política e eram apanhados pela P.I.D.E.

Por tanto eram mandados à guerra, primeiro com uma patente de alferes, depois passavam para tenente e logo para capitão (em combate na carreira de oficiais se ascendia rapidamente).

Assim passados seis meses de estarem na África eram capitães.

Estes capitães conheciam de política porque já no continente tinham tido problemas com a P.I.D.E. e na África eles continuaram sua atividade política e foram minando as idéias dos soldados e de outros capitães que pouco a pouco foram deixando-se levar pelas novas idéias, que eram, entre outras, a queda do fascismo.

Da esquerda vinham chegando os ecos da Revolução Russa; Marxismo; Leninismo; que iam entrando na cabeça dos civis primeiro e quando eles iam para a tropa e se tornavam militares levavam essas idéias para África e conseguiram que muita gente a sua volta compartilha se esses ideais.

"A situação já tinha tomado uma grande dimensão e precisava de qualquer coisa para rebentar".

Muitos civis Portugueses que estavam exilados na França já estavam organizados no partido socialista e comunista e começaram a trocar idéias com os militares e a combinar o golpe" ( comenta o Tó).

"Estes capitães tinham uma visão diferente da guerra colonial e ao respeito tinha sido publicado o livro do general Spínola "Portugal e o futuro" onde dizia que o problema das colônias não podia ser resolvido através das armas e que havia que buscar uma solução pacífica e política.

É assim que as Forças Armadas se revoltam contra Marcelo Caetano.

O período no qual Caetano governa é conhecido como a primavera marcelista já que ele tinha uma visão mais aberta que seu antecessor e parecia que havia aberto Portugal. (dado que com ele desce um pouco a censura e começa a haver mais liberdade).Os portugueses tinham esperança nele.

"Marcelo Caetano era professor de direito na Universidade de Lisboa e tinha estado ao frente da Contestação Juvenil (lutas juvenis) e tinha realmente apertura só que a Brigada do Reumatismo (velhos conservadores que conduziam o poder econômico e tinham ingerência no poder político) e a P.I.D.E. não o deixaram implementar as mudanças políticas que ele desejava". (Comenta Domitilda).

O Tó e a Domitilda pensam a mesma coisa com respeito a que o governo sabia que esta revolução ia acontecer dado que a realidade tomou uma dimensão que fez que se perdesse o poder.

É neste contexto que se produz o levantamento dos generais na madrugada do 25 de abril de 1974.

"As pessoas não imaginavam nada e não tinham conhecimento do que passava mas prontamente aderiram ao movimento e mesmo os outros militares que não entraram no conflito também apoiaram.

Só uma ou duas unidades da Força Aérea tentaram resistir ao golpe mas isto foi por pouco tempo e como eles não queriam lutas puseram as armas no chão e rendiram-se.

As 7-8 de manha se ouviram os primeiros comunicados que diziam para manter a calma, para não ir a rua, para não entrar em pânico, para no ir ao supermercado e fazer compras em excesso e por volta das 9 h. da manha já toda a gente sabia que se estava a produzir o golpe militar."

Os militares foram para a "Asambleia Popular" (que de popular não tinha nada) para paralisar a ação do governo.

Em Lisboa as pessoas saíram a rua. (A pesar dos comunicados oficias que diziam para permanecer nas casas), assim como também foram para o Quartel do Carmo.

Na entanto no Algarve não se sabia bem que se acontecia e para eles esse 25 de abril foi um dia normal já que trabalharam e tiveram liceu.

As pessoas saiam a rua a ver que se passava e a informação do golpe militar ia passando de boca a boca.

Se bem o pessoal estava contente ainda tinha medo de que todo voltasse para trás como já tinha acontecido com o golpe que se fez nas Caldas da Rainha.

A grande festa e manifestação de alegria se produz no primeiro de maio e as pessoas ficam tranqüilas na certeza do triunfo de golpe quando Marcelo Caetano foge para o Brasil.

É então que começam as mudanças, se realizam nos liceus grandes saneamentos ficando na rua todos aqueles professores que eram informantes da P.I.D.E.

Começam a ver-se os filmes pornográficos (antes do 25 de abril as cenas de beijos eram cortadas porque eram um atentado ao pudor) e se faziam sessões especiais. Havia uma grande ânsia por ver. "Imagina,diz Domitilda, as pessoas nunca tinham visto".

"Também se começa a dar a liberdade aos presos políticos e se abrem as cadeias. Isto foi uma festa popular."

Também os exilados políticos que tinham saído para França, Espanha começam a voltar (como a emigração era clandestina, havia passadores muito bem pagos que arranjavam passaportes).

O país fica então organizado com uma "Junta de Salvação Nacional" que era militar e que o povo apoiava.

É preciso aclarar que a revolta não foi comunista, que o comunismo aparece porque era o único partido organizado na clandestinidade. Eles faziam jornais para mostrar as pessoas o que se passava no país.

Os militares ficam pouco tempo no poder e preparam todo para as eleições.

******

O 25 de abril trouxe profundas mudanças para os portugueses, não só a nível social e político se não que esta revolução repercutiu também noutras terras.

" Com o 25 de abril ganhamos a liberdade e acabamos por dar-lhe a liberdade as colônias" (Dr. Cassimiro).

É com o 25 de abril que as colônias portuguesas na África ficam livres pondo desta maneira fim a um problema que já levava 13 anos e muitas vidas.

A mais, segundo o Dr. Casimiro, veterano de guerra, estas guerras de guerrilhas bem podiam ter-se prolongado até os dias de hoje porque não havia nem avance nem retrocesso das tropas. Os oficiais portugueses estavam cansados desta situação. Estavam cansados de sacrificar pessoas, famílias e de ver como muitos colegas ou conhecidos voltavam da África estropiados tanto física como psicologicamente.

Desde sua visão de português ele diz:

"Eles estavam melhor quando eram colônias nossas, e tinham um nível de vida superior".(Provavelmente isto seja assim dado que quando as colônias independizaram-se todas as empresas privadas as quais Salazar tinha-lhes dado apoio para instalar-se retiram-se)

"Eu via nos supermercados as bancas abarrotadas de coisas, peixes, mariscos, frutos tropicais, todos eles, produtos de alta qualidade.

Hoje eu vejo esses mesmos supermercados vazios, com as pedras limpas, com nada para vender e com preços altos e eu me interrogo se aquilo era exploração.

Eu não acredito que as ex colônias hoje tenham níveis de vida superiores, pelo contrário eles mesmos o reconhecem; a África portuguesa regrediu de uma maneira espantosa a causa de lutas internas, destruição e morte".

O mesmo Dr. Casimiro faz a seguinte reflexão: "Valeu a pena o 25 de abril para acabar com a guerra colonial, para que não morressem mais pessoas e para acabar com aquela guerra injusta".

No entanto os ideais da revolução Democracia, Justiça, Igualdade foram adulterados já que não produziram os efeitos buscados.

"Não me parece que esses objetivos tenham sido alcançados na África e aqui no continente foram alcançados de maneira muito mitigada. Acho que logo esses ideais foram revistos e a democracia ratificada.

O que valeu a pena da revolução foi a integração com Europa porque vivíamos como um país repelido do resto do continente já que o slogan de Salazar era "Orgulhosamente Sós" e hoje somos um país prestigiado na Europa e na comunidade européia."

A crítica que o dr. Casimiro faz a descolonização é que esta tinha que ser feita assegurando os interesses dos nativos e assegurando também os interesses dos portugueses que lá estavam.

A descolonização podia ter sido feita evitando tanta morte;ou seja melhor para eles (autóctones) e para nós.

"A descolonização foi muito precipitada e feita a pressa por tanto faltou preparação das elites locais para governar."

Ana Bela interrompe a conversação para dizer: "Os negros foram muito mal tratados em África" ao qual o Dr. Casimiro responde-lhe: "Eu fui comandante e comandei soldados brancos e pretos e os tratava igual.

Os dirigentes da minha jerarquia sentíamos até um pouco alguma pressão para privilegiar aos negros, havia muito cuidado com os locais."

Ante a insistência de Ana Bela em assegurar que os brancos tratavam mal aos pretos ele diz justificando-se: "Que os brancos exploravam aos pretos...eu não sei. Há exploração em todos os lados. Onde é que não há exploração?"

Logo o Dr. Casimiro agrega: "Os negros também comandavam, o que estava na minha companhia tinha patente mais alta do que a minha. Isto mostra que eles não eram humilhados; a mais eles viviam melhor nas cidades da África que no interior de Portugal, disso não há dúvida."

A guerra só acabou porque se deu o 25 de abril e ela nunca foi ganha por ninguém e acaba administrativamente em Lisboa com o início de diálogos com o movimento de libertação.

Se não tivesse sido pelo 25 de abril ainda hoje a guerra na África continuaria a existir e continuariam a haver soldados estropiados e mortos.

"Ninguém me convence a mim que o Movimento de Libertação ganharia aquela frente." Diz o Dr. Casimiro e agrega:

"Para o 25 de abril a situação nas frentes era mais favorável para Portugal do que tinha sido em momentos anteriores".

Ante a minha insistência de querer saber como ficaram eles logo do 25 de abril com a "perda" das colônias Ana Bela diz "Não perdemos as colônias só lhes demos a independência, que era uma coisa que tinha que ser feita.

Não estamos contentes de lá ainda hajam problemas."

******

À distancia as coisas podem-se ver melhor. Fica claro que o 25 do abril se enterram o passado para dar lugar ao nascimento de um novo presente.

Os portugueses acordaram a um novo conceito: A esperança.

Hoje a P.I.D.E. e a censura são uma lembrança definitivamente soterrada; aquelas ofensas à moral e os bons costumes ficaram esquecidas trás um beijo no meio da rua.

Aquelas realidades cotidianas como a forte emigração, geralmente clandestina, passaram à história e agora são outras as questões que estão no ar.

Se bem os portugueses preferem viver em democracia reconhecem que o ideário do 25 do abril não se cumpriu e que as melhores coisas que trouxe foi a liberdade y a fim do guerra na África.

A propaganda política salazarista que por 48 anos minou as cabeças das pessoas ainda tem vigência e muitos são os portugueses que não acham que o fim da guerra colonial tenha sido algo bom porque continuaram reconhecendo-se como legítimos donos daquelas terras assim como seguem pensando que os culturas africanas são fracas e inferiores, que eles são menos inteligentes e que não sabem nem podem viver nem governar-se sozinhos.

Amparados nesta convicção foram muitos os portugueses que menosprezaram e trataram mal aos pretos, mas quando se dá o 25 de abril tiveram medo que toda essa violência exercida sobre eles pudesse agora virar-se em contra e fugiram para o continente.

Esses portugueses "retornados" recebem de seus compatriotas quase o mesmo trato indiferente e frio que souberam dar em terras africanas.

Um capítulo da história fechou-se o 25 de abril; falta agora; fechar o capítulo sobre a forte discriminação racial que há em Portugal.

Discriminação que se faz evidente quando falam e atuam; o Dr. Casimiro disse "Na África havia que lutar contra os negros e com os negros." Demonstrando certa antipatia ao fato de ter aos negros "muito perto"

Também vi discriminação desde os gestos ou atitudes: Vi pessoas não subir a um elevador porque nele havia um preto, por exemplo.

As mentalidades terão que mudar (tarefa pouco fácil de lograr). Se calhar (parafraseando a Saramago) por evolução Européia.

¿Ou será que os próximo anos vai encontra-los com uma mentalidade tão retrograda?.

Bibliografia

  • MEDEIROS FERREIRA, José "Ensaio histórico sobre a Revolução do 25 de abril. O período pré-constitucional" Publicações Alfa Lisboa 1990.-
  • AFONSO PRAÇA; ANTUNES, Albertino e outros "25 de abril" 2º edição Casa viva editora, limitada Lisboa 1974.-
  • DE LA LOMA, César "La revolución de la flor" Ediciones Sedmay Madrid 1974.-
  • BARREIRA Cecília "Os estilos de vida e convívio quotidiano"
  • DINIZ, María Clementina "O amor e a sexualidade"
  • SOUZA, Antinina "A família e a condição feminina"
  • GONZÁLEZ BERMEJO, Ernesto "Portugal sin monóculo" Revista Crisis nº 21 enero 1975. Bs. As.-
  • OLIVEIRA MARQUES "Breve história de Portugal" Editorial presença. Lisboa 1996.-
  • SERRAO Jael e OLIVEIRA MARQUES: "Portugal e o Estado Novo (1930-1960)" Coleção: Nova História de Portugal. Editorial Presença Lisboa.-
  • Testemunha: da Dra. Em Estudos Sociais Ana Bela Acevedo, Dra. Em advocacia Domitilda Correia Senhor Jose Costa Dr. E Geral retirado Casimiro Nunes Vídeo português feito aos dez anos da Revolução dos Cravos.
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Mónica Graciela Afonso

mgafonso[arroba]yahoo.com.ar



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