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O trabalho de pesquisa foi conduzido em área experimental pertencente à Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – Unesp, situada no município de Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, apresentando como coordenadas geográficas 51o 22’’ de longitude Oeste e 20o 22’’ de latitude Sul, com altitude de 335 metros. A precipitação, temperatura e umidade relativas médias anuais são de aproximadamente 1370 mm, 23,5oC, 70 a 80%, respectivamente.
O solo do local é do tipo Latossolo Vermelho Escuro álico, textura argilosa, segundo Demattê (1980) e classificado como Latossolo Vermelho distroférrico típico (Embrapa, 1999), anteriormente ocupado por vegetação de cerrado.
As características químicas do solo foram determinadas antes da instalação do experimento, segundo metodologia proposta por Raij e Quaggio (1983), estando os resultados apresentados na Tabela 1.
O solo foi preparado através de uma aração e duas gradagens, sendo a primeira logo após a aração e a segunda realizada às vésperas da semeadura. A adubação química básica nos sulcos de semeadura constou 20 kg ha-1 de N, 70 kg ha-1 de P2O5 e 40 kg ha-1 de K2O. A semeadura foi realizada no dia 05.11.2002, utilizando a densidade de semeadura de 70 sementes viáveis por metro de sulco. Junto com as sementes aplicou-se 1,5 kg ha-1 de Carbofuran (i.a.), visando, principalmente, o controle de cupins e lagarta-elasmo. As parcelas ocuparam uma área de 2,40 x 5,00 m, ou seja, 6 linhas espaçadas entre si por 0,40 m, tendo como área útil 4 linhas centrais. As irrigações foram realizadas através de um sistema convencional por aspersão, quando na ocorrência de deficiência hídrica.
O delineamento estatístico utilizado foi o de blocos casualizados, em um esquema fatorial 2x2x4, totalizando 16 tratamentos constituídos pela combinação de dois cultivares de arroz (IAC 201 e IAC 202), com e sem fungicida e quatro doses de nitrogênio em cobertura (0, 50, 100 e 150 kg ha-1 de N), com quatro repetições. Na adubação nitrogenada, utilizou-se como fonte a uréia, aplicada 40 dias após a emergência das plantas e após a aplicação foi efetuada irrigação com a finalidade de minimizar as perdas de nitrogênio por volatilização.
As plantas foram pulverizadas com tebuconazole (150 g ha-1 i.a.) e tricyclazole (250 g ha-1 i.a.) contra doenças fúngicas, principalmente brusone e helmintosporiose, aos 30 e 50 DAE das plantas, fazendo parte dos tratamentos, já que não se aplica fungicida preventivamente na cultura em grande parte das áreas produtoras.
As leituras do teor de clorofila (10 folhas por parcela) foram realizadas através do clorofilômetro marca Minolta, no estádio de florescimento, em pontos situados na metade da folha a partir da base.
Após a leitura, as folhas foram coletadas para determinação da concentração de nitrogênio na matéria seca.
Quando 90% das panículas apresentaram os grãos com coloração típica de maduros, realizou-se a colheita, manualmente. Em seguida, foi realizada a secagem ao sol, durante dois dias, e posteriormente, a trilha mecânica.
O Sistema de Análise Estatística - Sanest (Zonta et al., 1987) foi utilizado para a realização das análises de variância. O teste de Tukey em nível de 5% foi usado para comparar as médias dos cultivares de arroz e do efeito ou não dos fungicidas. Para as doses de nitrogênio, aplicaram-se análises de regressão para verificar se houve ou não ajuste dos dados obtidos.
O florescimento e ciclo do cultivar IAC 201 foram menores, 65 e 100 dias, respectivamente, em relação ao cultivar IAC 202, que apresentou florescimento aos 77 dias e colheita aos 107 dias. Comportamento semelhante foi encontrado por Arf et al. (2000) para os mesmos cultivares, no mesmo período de cultivo.
A ocorrência de doenças na cultura do arroz durante o período de cultivo foi insignificante. Com relação à brusone nas folhas e panículas, o mesmo foi constatado por Arf (1993), Oliveira (1994) e Arf et al. (2000). Também não foi observado acamamento nos tratamentos que receberam as maiores doses de nitrogênio, e mesmo no cultivar IAC 201, que é tido como mais sensível ao acamamento. Arf et al. (2000), estudando vários cultivares, dentre eles o cultivar IAC 201 e IAC 202, para a época de semeadura em novembro, verificaram que o cultivar IAC 201 apresentou o maior índice de acamamento (1,64), que corresponde a menos de 5% de plantas acamadas, podendo ser explicado pela maior altura de plantas, e para o cultivar IAC 202 foi constatada ausência de acamamento de plantas.
A análise de correlação simples evidenciou que as leituras do clorofilômetro correlacionaram-se positivamente e significativamente com a concentração de nitrogênio na matéria seca da planta, apresentando coeficiente de correlação igual a 0,56 (significativo ao nível de 5%). Isso mostra que o clorofilômetro pode ser uma importante ferramenta na avaliação do estado nutricional da planta referente ao N. Os valores obtidos para teor de N estão dentro do considerado adequado, de acordo com Raij et al. (1997).
Os resultados obtidos nas diversas características avaliadas estão apresentados nas Tabelas 2 e 3. No que se refere ao número de panículas m-2, não houve diferença entre os tratamentos, o que indica que os cultivares apresentaram capacidade de perfilhamento semelhante e o solo forneceu quantidade necessária de N para suprir as necessidades da cultura, quando considerada essa avaliação. Tais resultados concordam com os obtidos por Arf (1993), que também não obteve diferenças entre doses de nitrogênio nos cultivares Rio Paranaíba, Araguaia e Guarani. São concordantes também com Neves (1999), que estudou o efeito do N nos cultivares Carajás e IAC 202 e Arf et al. (2003), que utilizando de 0 a 100 kg ha-1 N, nos cultivares Primavera, Confiança e Maravilha, não verificaram diferenças na produtividade de grãos. Porém, Stone e Silva (1998), Cazetta (2003) e Mauad et al. (2003) verificaram menor valor para essa característica na ausência de nitrogênio, já que esse nutriente pode estimular o perfilhamento, aumentando o número de panículas por área.
Verifica-se que para grãos formados por panícula o cultivar IAC 202 apresentou média superior em relação ao cultivar IAC 201. As doses de nitrogênio se ajustaram a uma função linear crescente (Y = 120,318 + 0,006X), mostrando que o nitrogênio exerceu um importante papel na formação dos grãos por panícula. Singh e Pillai (1996) têm atribuído o aumento na produtividade de grãos em decorrência da adubação nitrogenada ao aumento do número de grãos formados por panícula.
Quanto à massa de 100 grãos, o cultivar IAC 202 apresentou maior média que o cultivar IAC 201 e os dados não se ajustaram a nenhuma função matemática testada quando confrontadas às doses de N aplicadas.
Andrade et al. (1995), testando cinco doses de N (0 a 160 kg ha-1), em dois locais no Rio de Janeiro em dois cultivares de arroz, verificaram que o nitrogênio não influenciou a produtividade de grãos, mas houve tendência de aumento na porcentagem de inteiros e na massa de 1000 grãos. No entanto, Cazetta (2003) observou que a adubação nitrogenada em cobertura (0 a 125 kg ha-1 de N) não influenciou nessa característica, demonstrando, assim, a dependência do efeito ligada a vários fatores.
Para a variável produtividade, o IAC 202 (4512 kg ha-1) apresentou maior média que o IAC 201 (3800 kg ha-1). As doses de nitrogênio se ajustaram a uma função quadrática, sendo que a máxima produtividade foi atingida com a aplicação de 90 kg ha-1 de N, dose superior à recomendada para o Estado de São Paulo (Raij et al., 1997). O ciclo precoce do IAC 201 em relação ao IAC 202 pode ter influenciado no rendimento de grãos e na resposta ao nitrogênio.
Segundo Andrade e Amorim Netto (1996), esse incremento na produtividade em função da adubação nitrogenada se deve, em parte, ao aumento dos componentes de produção (panículas/m2 e número de grãos por panícula). O número de panículas m-2 não variou com o aumento das doses de N, mostrando que o número de grãos formados por panícula e a massa de 100 grãos exerceram papel importante na produtividade de grãos, já que o cultivar IAC 202 foi superior ao IAC 201 nesses dois componentes de produção. Resultados semelhantes foram encontrados por Mariot et al. (2003), ao conseguirem um incremento na produtividade, de modo linear e quadrático, com a adubação nitrogenada nas doses (0, 40, 80 e 120 kg ha-1 de N), nos cultivares IRGA 417 e BR - IRGA 410. Também Freitas et al. (2001) estudaram o efeito de doses de nitrogênio (0 a 150 kg ha-1 de N) em cobertura, aplicadas em três épocas (1/3 N no transplantio das mudas, 1/3 aos 20 dias e 1/3 aos 40 dias, após o transplantio) e como fonte uréia, em dois cultivares de arroz. Verificaram que para a produtividade de grãos os cultivares responderam significativamente à aplicação de N e a média de produtividade de grãos dos três cultivares na maior dose de N foi superior a 8000 kg ha-1. Stone et al. (1999) testaram cinco doses de N (0, 40, 80, 120 e 160 kg ha-1 de N), aplicadas parceladamente (1/3 N na semeadura e o restante aos 35 e 65 DAE das plantas) em cobertura e como fonte o sulfato de amônio, em genótipos de arroz de terras altas, irrigados por aspersão. Observaram que a produtividade de grãos apresentou resposta quadrática ao N, alcançando a produtividade máxima de 5500 kg ha-1, com a dose de 112, 9 kg ha-1 de N. Entretanto, Arf (1993), estudando diferentes cultivares de arroz de sequeiro e quatro épocas de adubação nitrogenada, nas doses de 10 kg ha-1 de N na semeadura e 40 kg ha-1 de N em cobertura, observou que a adubação nitrogenada não influenciou a produtividade, embora esta tenha superado 4000 kg ha-1. Esses dados sugerem que o efeito da aplicação do nitrogênio sobre a produtividade é variável, e provavelmente depende do cultivar, da época de aplicação do N, do manejo do solo e da cultura, de fatores ambientais e outros.
A aplicação de fungicida não surtiu efeito em nenhuma das características avaliadas, assim como na produtividade de grãos.
O IAC 202 proporcionou maior produtividade de grãos que o IAC 201, com a máxima produtividade sendo alcançada com a aplicação de 90 kg ha-1 de nitrogênio.
A utilização de fungicida não influenciou nos componentes de produção.
Recomendar-se-ia a utilização do cultivar IAC 202, pela sua maior produtividade, com o uso de 90 kg ha-1 de nitrogênio em cobertura e sem adoção de aplicação de fungicida.
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Received on August 16, 2004.
Accepted on January 18, 2005.
Flávia de Andrade Meira1, Salatiér Buzetti1*, José Guilherme de Freitas2, Orivaldo Arf1 e Marco Eustáquio de Sá1
arf[arroba]agr.feis.unesp.br
1. Departamento de Fitossanidade, Engenharia Rural e Solos, Universidade Estadual Paulista, C.P. 31, 15385-000, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil.
2. Centro de Plantas Graníferas, IAC, C.P. 28, 13001-970, Campinas, São Paulo, Brasil. *Autor para correspondência. e-mail: sbuzetti[arroba]agr.feis.unesp.br
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