Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
O estudo foi realizado na unidade de suínos do Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, SP.
No primeiro ensaio experimental, após análise bromatológica, determinaram-se os valores digestíveis e metabolizáveis do resíduo de polpas de frutas desidratadas (RPFD). Foram utilizados 12 leitões machos castrados, provenientes de cruzamentos entre reprodutores e matrizes comerciais, com peso inicial de 12,2 ± 1,6 kg. Os animais foram alojados em gaiolas de estudos metabólicos semelhantes às descritas por Pekas (1968). O período experimental foi de doze dias sete para adaptação às instalações e às dietas e cinco para coleta de fezes e urina.
A unidade de digestibilidade foi construída em alvenaria, com dimensões de 20 x 6 m, pé-direito de 3 m, com todos os lados fechados e laterais com janelas tipo vitral revestidas com vidros e internamente forradas com isopor, para isolamento térmico. O espaço foi equipado com três condicionadores de ar, do tipo "Split System", modelo RAS 402CS + RAS 403AC, com condensação de ar e capacidade de 4,0 TR (tonelada de refrigeração/hora - 1 TR = 12000 BTU), permitindo que a temperatura média não ultrapassasse 22 ± 2ºC.
Os tratamentos consistiram de dieta-referência (Tabela 1), composta de milho, farelo de soja, produto lácteo e vitaminas, e dieta-teste, com a inclusão de RPFD em substituição a 30% da matéria seca na referência, com suplementação equivalente de minerais e vitaminas.
Cada animal recebeu a mesma quantidade diária de dieta, na base da matéria seca, por unidade de tamanho metabólico (peso corporal kg0,75), segundo a fórmula de Matterson et al. (1965). As técnicas de manejo, coleta de fezes e urina foram feitas segundo Colnago (1979) e Trindade Neto et al. (1994).
O delineamento adotado foi blocos ao acaso, com seis repetições por tratamento e um animal por unidade experimental. Os coeficientes de digestibilidade na matéria seca, valores da energias digestível e metabolizável foram submetidos à análise de variância e as diferenças entre médias, comparadas pelo teste F.
No ensaio de desempenho, o RPFD foi avaliado como alternativa de substituição do milho nas dietas. As fases consideradas no estudo foram inicial-1 (21 aos 35 dias de idade) inicial-2 (36 aos 56 dias de idade) e período total de creche (21 aos 56 dias de idade). Foram utilizados 90 leitões (45 machos castrados e 45 fêmeas, desmamados na terceira semana de idade) provenientes de cruzamentos entre reprodutores e matrizes comerciais.
A unidade de creche foi construída em alvenaria, com pé-direito de 3,20 m e janelas do tipo vitral revestidas com vidro, para auxiliar no controle da ventilação. Internamente, foi equipada com cinco ventiladores giratórios de parede e baias coletivas construídas em estrutura metálica, com piso plástico vazado, instalado a 80cm do piso do galpão. As baias, medindo 1,00 x 2,00 m, possuíam comedouros metálicos semi-automáticos, bebedouros do tipo chupeta e aquecedores de resistência elétrica. Dois termômetros de máxima e mínima foram instalados (um em cada ala) na altura do piso das baias. As leituras diárias determinavam o controle de funcionamento dos aquecedores e ventiladores, procurando-se atender às demandas de temperatura ambiente, conforme a fase de desenvolvimento dos leitões.
O delineamento utilizado foi de blocos ao acaso com cinco tratamentos e seis repetições. Adotando-se o peso inicial como referência na formação dos blocos, a unidade experimental foi constituída de três animais com 6,6 ± 0,76 kg.
Os tratamentos, definidos com base no ensaio de digestibilidade e metabolismo, foram níveis de inclusão (0, 25, 50, 75 e 100%) do RPFD em substituição ao milho, estão apresentados na Tabela 2 e 3. Na elaboração das dietas, procurou-se atender às exigências nutricionais de cada fase, prescritas pelo NRC (1998).
O controle experimental ocorreu ao final de cada fase, quando aferiram-se o peso vivo, ganho em peso, o consumo de ração e a conversão alimentar. Os dados de desempenho foram submetidos à análise de regressão por polinômios ortogonais, por meio do pacote computacional SAS (1993), conforme o modelo:
Yij= m + Ni + Bj + eij
em que: Yij= constante associada a todas observações; m = média geral da variável; Ni = efeito do nível i do RPFD, sendo i = 0, 25, 50, 75 e 100%; Bj = efeito do bloco j, sendo j = 1, 2, ... e 6; eij = erro aleatório associado a cada observação.
Uma vez que não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos nas variáveis de desempenho, foi calculada a relação entre ganho de peso dos leitões. Essa relação foi obtida com a divisão dos resultados afins às dietas que continham o RPFD pelo ganho obtido com o tratamento sem a inclusão do ingrediente-teste, determinando-se, numericamente, a diferença porcentual entre as respostas obtidas.
Resultados e Discussão
Os resultados de composição química, digestibilidade e metabolizabilidade do RPFD são apresentados na Tabela 4. Trata-se de um alimento energético, em virtude do baixo nível protéico e das relações entre as frações da energia constituinte (Bondi, 1988; Trindade Neto et al., 2002).
Com base nos dados bromatológicos obtidos no ensaio de digestibilidade e metabolismo, o RPFD caracterizou-se como um ingrediente alternativo para a alimentação de leitões em comparação com o milho.
Quanto à composição química e aos valores digestíveis e metabolizáveis do RPFD, constata-se que a elevada concentração de amido deve-se a presença da farinha de arroz proveniente do processo de moagem das polpas de frutas desidratadas. Os demais açúcares (mono e dissacarídeos) são provenientes das partículas de frutas não-retidas nas peneiras. Os valores de energias digestível e metabolizável assemelham-se aos do milho e estão acima da farinha de arroz, segundo NRC (1998).
Durante o estudo de metabolismo, pôde-se observar a fácil aceitação do ingrediente em teste, graças ao agradável aroma e ao sabor adocicado, atribuídos à presença de açúcares. O suíno possui grande sensibilidade olfativa e gustativa (Patience et al., 1995), sobretudo nas primeiras fases de crescimento, quando as papilas gustativas são mais desenvolvidas (Veum, 1991). Resposta semelhante em relação à aceitação de produto adocicado foi observada por Barbosa et al. (1999a), que determinaram digestibilidade e valores energéticos de resíduo de bolacha com leitões em fase inicial de crescimento.
Na avaliação do desempenho, a substituição do milho por níveis crescentes de RPFD nas rações não afetou (P>0,05) o ganho de peso, o consumo de ração e a conversão alimentar, em todas as fases do ensaio experimental, conforme é apresentado na Tabela 5.
Na fase inicial-1, a substituição do milho por 75% do RPFD, em valores matemáticos, proporcionou 25% de ganho de peso e 14% no consumo de ração, em comparação à dieta-controle. A eficiência na utilização da dieta com 75% de RPFD refletiu, positivamente, na conversão alimentar, que, embora não tenha diferido (P>0,05) dos demais tratamentos, ficou 6% abaixo do controle. Essas respostas confirmam o melhor valor da fração metabolizável da energia contida no RPFD, comparada à do milho e da farinha de arroz, obtido pela relação energia metabolizável:energia digestível, de 98,29% para o RPFD, 97% para o milho e 94% para farinha de arroz.
A maior relação energia metabolizável:energia digestível decorre das características bioquímicas dos carboidratos presentes no alimento, sendo fundamental para o leitão nas fases iniciais de crescimento. A predominância do amido (polissacarídeo) nas dietas à base de cereais torna-se limitante para a capacidade digestiva do leitão recém-desmamado, quando oferecidas em substituição ao leite da porca que é altamente digestível. Por outro lado, a presença de açúcares simples, como a glicose e frutose (monossacarídeos) e lactose (dissacarídeos), favorece a ação enzimática e o processo digestivo do leitão no período pós-desmame. Em decorrência de limitações fisiológicas e digestivas do suíno nas primeiras semanas, por ocasião do desmame antecipado, como ocorreu no presente estudo, as características das dietas e dos carboidratos presentes, provavelmente, influenciaram as condições qualiquantitativas das produções enzimática, pancreática e intestinal do leitão, conforme Kidder & Manners (1978) e Pekas (1991).
Quando houve substituição integral do milho pelo RPFD na dieta, as respostas numéricas para ganho de peso e conversão alimentar pioraram, possivelmente, em razão da redução da granulometria e da textura, quando a ração adquiriu um aspecto mais farináceo. Observações semelhantes quanto à textura do ingrediente e às implicações negativas sobre o consumo da dieta após sua inclusão foram feitas por Moreira et al. (1994) e Barbosa et al. (1999b), que utilizaram milho pré-gelatinizado em dietas de leitões nos períodos de creche.
Dos resultados de desempenho observados na fase inicial-2 e no período total, numericamente, o nível de 50% de substituição do milho pelo RPFD proporcionou maior eficiência de utilização da dieta. A diferença numérica ficou melhor caracterizada no ganho de peso e na conversão alimentar. Embora não tenha havido diferenças estatísticas nas variáveis aferidas no desempenho, entre as dietas com RPFD, verificou-se que aquela com 100% de substituição do milho, quantitativamente, propiciou menor desempenho aos leitões. Essa caracterização dos dados ratifica as observações feitas para a fase inicial-1, quanto à granulometria e textura, destacando-se a redução do consumo em relação a 50 e 75%, mas não em relação à de menor nível ou sem a inclusão do ingrediente-teste, quando a demanda do alimento foi aumentada com o crescimento.
Ao considerar os resultados médios do período total de creche, também não foram observadas (P>0,05) diferenças estatísticas entre as variáveis estudadas. Considerando as variações numéricas, como ocorreu nas fases 1 e 2, destacaram-se os resultados obtidos para as dietas com 50 a 75% do RPFD em substituição ao milho, no desempenho dos leitões. Como ocorreu nas fases anteriores, as dietas contendo o RPFD propiciaram, numericamente, maior desempenho aos leitões. No entanto, aquela com substituição integral do milho ratificou os resultados das fases descritas, provavelmente, em virtude da textura e granulometria inapropriadas para uma ração farelada.
Com base nos resultados do presente estudo, o RPFD torna-se um ingrediente alternativo e um substituto viável para o milho, melhorando as características de dietas de leitões após o desmame. Tratando-se de subproduto e, anteriormente considerado resíduo descartável, o RPFD poderá ser utilizado como redutor do custo de dieta para leitões. Fazendo considerações sobre o custo da alimentação na produção de suínos, Girotto (1990) destacou a significativa participação do milho no custo final de produção, por ser um ingrediente com maior percentual de inclusão na alimentação do suíno. Com relação à presença da farinha de arroz na composição do RPFD, as informações de Costa (2001) apontam o grão de arroz e seus subprodutos como excelentes substitutos ao grão de milho na alimentação de monogástricos, especialmente suínos. O autor destacou o uso da quirera de arroz em substituição integral ao milho da dieta de leitões após o desmame.
Além dos aspectos bromatológicos o ingrediente testado apresentou características atrativas para os leitões. Neste estudo, os benefícios da sua inclusão ocorreram, sobretudo na fase inicial-1, visto que, além da composição química, o RPFD confere melhor aroma e sabor à ração, à medida que seus níveis de inclusão se elevam. Efeito semelhante foi obtido por Barbosa et al. (1999b), ao avaliarem resíduos de bolacha para leitões em fase de crescimento pós-desmame. Com leitões, além do valor biológico, as características organolépticas do ingrediente são fundamentais na elaboração de dietas, graças aos apurados sentidos olfativos e gustativos, nas fases iniciais de crescimento.
Quanto às características organolépticas, o RPFD pode apresentar aroma diferenciado, resultante da maior presença da fruta na sua respectiva estação. A fim de evitar essa variabilidade, no presente estudo adotou-se a uniformização prévia do material que estava estocado em ambiente propício, observando-se, então, o aroma predominante da banana e a manutenção do sabor levemente adocicado da mistura.
As considerações dos resultados (P>0,05) apresentados, sob diferenças numéricas (percentuais) em todas as fases, visam caracterizar os efeitos que podem ser cumulativos nas fases subseqüentes ao desenvolvimento, conforme destacaram Tokach et al. (1995) e Trindade Neto et al. (2002a), ao avaliarem dietas para leitões nas fases iniciais de crescimento.
Assim, o RPFD pode ser melhor destinado aos produtores de suínos na região onde é obtido, o que anteriormente era feito como descarte industrial sem qualquer perspectiva de receita adicional para a empresa.
Em dieta farelada, o resíduo de polpas de frutas desidratadas pode substituir totalmente o milho. Numericamente, o melhor desempenho foi obtido com 75% de substituição na fase inicial-1 e 50% na fase inicial-2.
À AJINOMOTO Biolatina Ind. e Com. Ltda., à CERIZZA AMBIENTAL Ltda e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Messias Alves da Trindade NetoI; Izabel Marin PetelincarII; Dirlei Antônio BertoIII; José Aparecido MoreiraIV; Dorinha Miriam Silber S. VittiV
messiasn[arroba]usp.br
IProfessor Doutor do Departamento de Nutrição e Produção Animal da FMVZ-USP, Campus de Pirassununga, Rua Duque de Caxias Norte, 225, CEP: 13630-000 Pirassununga SP Brasil
IIInstituto de Zootecnia, R. Heitor Penteado 56, Nova Odessa, SP, Brasil, CEP: 13460-000
IIIProfessor Doutor do Departamento de Produção e Exploração Animal, FMVZ, UNESP/Botucatu, SP
IVAluno de pós-graduação do Centro de Energia Nuclear na Agricultura-ESALQ-USP, Piracicaba, SP
VProfessora Doutora do CENA ESALQ-USP, Piracicaba, SP
Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
|
|