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As sementes avaliadas foram colhidas de experimentos realizados em áreas localizadas no município de Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, pertencente à Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Ilha Solteira, apresentando como coordenadas geográficas 51o22’ de Longitude Oeste e 20o22’ de Latitude Sul, com altitude de 335 metros. O solo do local é um LATOSSOLO VERMELHO Distrófico, típico argiloso (Embrapa, 1999). A região apresenta precipitação pluvial média anual de aproximadamente 1.232 mm, temperatura média anual ao redor de 24,5oC e umidade relativa do ar entre 70 e 80% (variação anual).
O preparo do solo foi realizado com uma aração e duas gradagens, sendo a primeira gradagem efetuada logo após a aração e a segunda, às vésperas da semeadura. A adubação constou da aplicação nos sulcos de semeadura de 12 kg de N, 90 kg de P2 O5, 30 kg de K2O/ha e 40 kg/ha de FTE BR-12 como fonte de micronutrientes (B = 1,3%; Cu = 0,30%; Fe = 3,0%; Mn = 2,0%; Mo = 0,1%; Zn = 9,0%).
Os experimentos foram conduzidos sob o delineamento experimental de blocos ao acaso em esquema de parcelas subdivididas, com quatro repetições, sendo as parcelas constituídas por dois sistemas de cultivo, sequeiro e irrigado, e as subparcelas por duas cultivares, IAC 201 e Carajás, indicadas para o ecossistema de terras altas.
As sub parcelas foram compostas por seis fileiras de plantas com 6 metros de comprimento cada, espaçadas em 0,40 m. Foi considerada como área útil 8 m2 da sub parcela, tomando-se as quatro fileiras centrais, desprezando-se 0,50 m da extremidade de cada uma. As semeaduras foram realizadas nos dias 24/11/94 e 13/11/95, utilizando-se a densidade de 100 sementes viáveis por metro quadrado. Junto com as sementes aplicou-se 1,5 kg/ha de carbofuran 5G (i.a.) visando principalmente o controle de cupins (Synterms molestus, Procorniterms striatus e Cornitermes lespesii) e lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus). A emergência das plântulas ocorreu oito dias após a semeadura.
O controle de plantas daninhas foi realizado através da utilização do herbicida oxadiazon (1 kg/ha de i.a.) em pré-emergência, um dia após a semeadura e, 2,4D (670 g/ha de i.a.) em pós-emergência.
As irrigações foram realizadas por um sistema de aspersão convencional fixo, com uma taxa de aplicação de 3,3 mm/hora/aspersor, toda a vez que evapotranspiração máxima da cultura atingiu 8,25 mm, ou seja, consumo de 45% da capacidade de água disponível. O manejo da irrigação foi realizado utilizando os coeficientes da cultura (Kcs) do arroz sob sistema de sequeiro apresentados por Reichardt (1987). A quantidade e a distribuição de água recebida pela cultura do arroz estão contidas na Tabela 1.
A colheita do arroz foi efetuada quando os dois terços superiores de 50% das panículas apresentaram-se com sementes duras e o terço inferior com semi-duras. A seguir, foi realizada a trilha manual, secagem à sombra e a limpeza do material, separando-se a palha e as espiguetas vzias mediante abanação manual. Na sequência foram determinadas a massa das sementes colhidas em cada unidade experimental e a produtividade (kg ha-1), considerando a umidade de 13%, base úmida.
A massa de mil sementes foi determinada, com oito repetições por tratamento, mediante coleta ao acaso e da pesagem de duas amostras de 100 sementes de cada sub parcela.
A qualidade fisiológica das sementes foi avaliada pelos seguintes testes: Germinação - conduzido em germinador tipo BOD, com uma repetições de 50 sementes para cada sub parcela de campo, totalizando quatro repetições por tratamento, sob temperatura de 25°C, em rolo de papel toalha umidecido, na proporção de 2,5 vezes o seu peso seco, com água destilada. As contagens foram realizadas aos 5 e 10 dias após a instalação do teste (Brasil, 1992); Primeira Contagem do Teste de Germinação - porcentagem de plântulas normais computadas por ocasião da primeira contagem do teste de germinação; Índice de Velocidade de Germinação (IVG) - Determinado em conjunto com o teste de germinação, avaliando-se diariamente a porcentagem de plântulas normais até os 10 dias após a semeadura.
O IVG foi determinado empregando-se a fórmula apresentada por Vieira e Carvalho (1994): IVG = N1/D1 + N2/D2 + ... + Nn/Dn, onde: IVG = índice de velocidade de germinação; N1, N2, Nn = número de plântulas germinadas a 1, 2 e n dias após a montagem do teste; D1, D2, Dn = número de dias após a instalação do teste; Envelhecimento Acelerado - Conduzido em caixas plásticas tipo "gerbox" modificada, contendo 40 mL de água destilada, com quatro repetições de 50 sementes, uma de cada sub parcela. Essas caixas foram mantidas à 42°C por um período de 72 horas (Vieira e Carvalho, 1994). Em seguida, as sementes foram submetidas ao teste de germinação, conforme descrição anterior, com contagens das plântulas normais aos 5 dias após a semeadura; Condutividade Elétrica - foi determinada com quatro repetições de 50 sementes, uma de cada sub parcela de campo, pesadas e dispostas em recipientes plásticos (200 mL) contendo 75 mL de água destilada. Após 24 horas em câmara tipo BOD à 25°C, foi efetuada a leitura da condutividade elétrica utilizando um condutivímetro modelo Digimed D30. Os resultados de condutividade foram expressos em µS . cm-1 . g-1 de semente.
Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.
Os resultados médios das variáveis analisadas e os valores de F calculados na análise estatística dos dados, referentes à produtividade e a qualidade fisiológica das sementes, para a safra agrícola 1994/95 encontram-se na Tabela 2. Houve efeito significativo do sistema de cultivo e de cultivares na produtividade, na massa de mil sementes, na porcentagem de germinação após o envelhecimento acelerado e na condutividade elétrica. Esse efeito não foi constatado para a germinação, primeira contagem do teste de germinação e índice de velocidade de germinação (IVG). O efeito da interação entre os fatores analisados (Sistemas x Cultivares) não foi verificado em nenhuma das variáveis analisadas.
A irrigação aumentou a massa de mil sementes. Esse resultado foi verificado também em outros estudos (Dabney e Hoff, 1989; Oliveira, 1994; Prasertsak e Fukay, 1997), confirmando o efeito negativo da deficiência hídrica sobre a massa de sementes. A menor massa de sementes verificada no sistema de sequeiro se deve a menor disponibilidade hídrica na fase de maturação (Tabela 1), principalmente nos primeiros 14 dias em que a massa das sementes é definida (Machado, 1994).
O comportamento observado em relação ao peso de mil sementes também foi verificado na produtividade. De acordo com diversos estudos, a deficiência hídrica, principalmente na fase reprodutiva, reduz a produção de panículas (Crusciol et al., 1997c), o número total de espiguetas por panícula (Oliveira, 1995; Crusciol et al., 1997c; Prasertsak e Fukay, 1997), o número de espiguetas granadas (Oliveira, 1994, 1995; Crusciol et al., 1997d; Prasertsak e Fukay, 1997) e ainda aumenta o número de espiguetas chochas (Oliveira, 1994; Prasertsak e Fukay, 1997; Crusciol et al. 1997b), acarretando prejuízos à produtividade.
O maior rendimento de sementes observado neste estudo não se deve ao efeito favorável da disponibilidade hídrica sobre os componentes de produção, pois, como pode ser verificado na Tabela 1, a disponibilidade de água na fase reprodutiva foi semelhante para os dois sistemas. Assim, a maior produtividade do sistema sob irrigação por aspersão ocorreu em virtude da maior massa de sementes.
Em relação à qualidade fisiológica, não foram constatadas diferenças significativas entre os dois sistemas em relação a primeira contagem e contagem final do teste de germinação e IVG.
O teste de envelhecimento acelerado detectou maior porcentagem de plântulas normais quando foi usado o sistema de irrigação por aspersão. No teste de condutividade elétrica, verificou-se comportamento inverso ao teste de envelhecimento acelerado, entretanto, considerando que quanto maiores os valores de condutividade, pior a qualidade das sementes (Vieira e Carvalho, 1994), o sistema irrigado por aspersão favoreceu a produção de sementes de maior vigor. Crusciol et al. (1997e), avaliando a influência do manejo da água na qualidade fisiológica de sementes de arroz, também constataram menores valores de condutividade elétrica para sementes produzidas pelo sistema de irrigação por aspersão em relação ao sistema de sequeiro. Resultados semelhantes também foram constatados em outros trabalhos (Crusciol et al., 1997 a, b e 1999a).
Observando-se os dados referentes às cultivares, verificou-se produtividade e massa de mil sementes maiores para a cultivar Carajás. Em relação à qualidade fisiológica de sementes, as duas cultivares não diferiram quanto às duas contagens do teste de germinação e IVG. Contudo, o vigor avaliado pelo testes de envelhecimento acelerado e de condutividade elétrica foi maior para as sementes da cultivar Carajás.
Na Tabela 3 encontram-se as médias e os valores de F para dos dados de produtividade, da massa de mil sementes e da qualidade fisiológica de sementes.
Foram verificado efeitos significativos para sistemas de cultivo e cultivares para as variáveis produtividade e massa de mil sementes. Em relação à qualidade fisiológica, observou-se efeito significativo apenas para o fator cultivares no teste de condutividade elétrica. Da mesma forma que, no ano anterior, observa-se que as variáveis analisadas não foram afetadas pela interação dos fatores estudados.
À semelhança dos resultados observados na safra 1994/95, a maior produtividade e massa de mil sementes foram observadas no sistema irrigado por aspersão. Nesse sentido, Oliveira et al. (1995) também observaram aumento de produção sob irrigação, da ordem de 38 e 133%, para as cultivares Carajás e IAC 201, respectivamente. Esses resultados atestam os resultados favoráveis desse sistema de cultivo, observados em outros estudos, para essas variáveis (Oliveira, 1994; Prasertsak e Fukay, 1997; Crusciol et al. 1997c, d e 1999a). No ano agrícola 1995/96, a produção e a massa de sementes obtidas no sistema que foi irrigado por aspersão, em relação ao sistema sob sequeiro, variou em virtude da maior disponibilidade hídrica nas fases reprodutiva e de maturação (Tabela 1), o que favoreceu a massa de sementes e, possivelmente, os componentes de produção.
Ainda com relação à Tabela 3, comparando-se os dados referentes a qualidade fisiológica das sementes, nota-se que, apesar de não terem ocorrido diferenças significativas entre os dois sistemas de cultivo, as médias obtidas para o sistema irrigado por aspersão foram maiores que as constatadas no sistema de sequeiro, para todas as variáveis avaliadas.
Segundo Carvalho e Nakagawa (2000), qualquer fator que afetar o desenvolvimento e o acúmulo de reservas pela semente acarretará prejuízos ao seu vigor, destacando dentre esses fatores a disponibilidade hídrica. Essa diferença no acúmulo de reservas, pelas sementes de arroz pode ser constatado pela variação no peso de mil sementes, com maiores médias para o sistema irrigado por aspersão, justificando dessa forma a melhor qualidade observada nesse sistema. Crusciol et al. (1997f) também verificaram melhor qualidade fisiológica em sementes produzidas sob irrigação quando comparadas com o cultivo de sequeiro.
Quanto às cultivares, a Carajás, da mesma forma que na safra anterior, apresentou massa e produtividade de sementes significativamente superiores em relação a IAC 201. Quanto a qualidade fisiológica das sementes, a cultivar Carajás também apresentou resultados melhores, todavia, com diferença significativa apenas para os resultados de condutividade elétrica. Ao comparar a qualidade fisiológica de sementes das cultivares EPAGRI 108 e IAC 102, cultivadas no sistema pré-germinado, Andreotti et al. (1999) observaram também desempenho diferenciado entre cultivares, com maiores valores de germinação e vigor para a IAC 102.
Efeito significativos da interação entre os fatores analisados não foram constatados em nenhum dos anos agrícolas avaliados. Efeitos significativos na interação desses fatores foram observados por Oliveira et al. (1995) ao avaliarem quatro cultivares de arroz nos mesmos sistemas de cultivo. Esses autores também verificaram maior produtividade da cultivar Carajás para o sistema de sequeiro, enquanto que, para o sistema irrigado, as cultivares IAC 201 e Carajás apresentaram desempenho superior.
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Received on February 19, 2002.
Accepted on May 07, 2002.
Carlos Alexandre Costa Crusciol1, Orivaldo Arf2, Claudemir Zucareli1*, Rosemeire Helena da Silva11, Cláudio Cavariani1 e João Nakagawa1
arf[arroba]agr.feis.unesp.br
1. Departamento de Produção Vegetal-Agricultura, FCA, Universidade Estadual Paulista, Fazenda Experimental Lageado s/n, C.P. 237, 18603-970, Botucatu, São Paulo, Brasil.
2. Departamento de Fitotecnia, Economia e Sociologia Rural, FE/Unesp, Avenida Brasil, Centro, 56, C.P. 54, 15385-000, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil.
*Autor para correspondência. E-mail: claudemir[arroba]fca.unesp.br
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