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Prevalência de anticorpos anti anaplasma marginale (rickettsiales: anaplasmataceae) em bovinos na me (página 2)

José Carlos Pereira de Souza; Cleber Oliveira Soares; Claudio Roberto Madru

 

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido com amostras de soros bovino provenientes de oito municípios da mesorregião do Médio Paraíba do estado do Rio de Janeiro, conforme divisão político-administrativa da Fundação Cide (CIDE, 1997). Essa região possui uma população bovina, aproximada, de 211.658 cabeças, em uma área total de 388.259 hectares e com produção leiteira de 93.098.000 litros anuais. A mesorregião está localizada entre as latitudes mínimas de 22° 10'03" sul e 43° 35'08" oeste e, as latitudes máximas de 22° 43'23" sul e 44° 33'48" oeste (CIDE, 1997).

De acordo com a conveniência e a facilidade de acesso às propriedades, foram colhidas, através de venopunção jugular, amostras sangüíneas de 223 bovinos jovens e adultos, maiores que um ano de idade, puros Bos taurus ou mestiço B. taurus x B. indicus, aparentemente sadios. Os soros obtidos foram aliquotados em tubos tipo eppendorf e armazenados à –20 ºC para posterior análise sorológica. A amostragem foi realizada coletando um número maior ou igual a 0,1% da população de bovinos da mesorregião, conforme estudos anteriores (SOUZA et al., 2000).

As amostras de soro (n = 223) estão distribuídas entre oito municípios da seguinte forma: Rio das Flores (n = 21), Piraí (n = 9), Itatiaia (n=16), Rio Claro (n = 10), Barra do Piraí (n = 25), Valença (n = 29), Barra Mansa (n= 89) e Resende (n=24). Procedeu-se o agrupamento dos animais de acordo com a faixa etária: 1 a 3 anos (n = 53), 3 a 6 anos (n = 71) e > 6 anos (n = 99); de acordo com a aptidão zootécnica: animais com aptidão para corte (n = 38) e animais com aptidão para leite (n = 185); de acordo com o sexo: machos (n = 40) e fêmeas (n = 183).

Procedeu-se a pesquisa de anticorpos da classe IgG contra A. marginale através do ensaio ELISA indireto. Microplacas de 96 orifícios para titulação foram sensibilizadas com extrato total antigênico de A. marginale obtido segundo técnica descrita por ARAÚJO et al. (1998), diluído em tampão carbonato pH 9,6. Os soros controles negativos, controles positivos e os soros testes foram diluídos a 1:500 em tampão salino fosfatado com Tween 20 a 0,05% (PBST) pH 7,4. Foi utilizado, como conjugado, IgG de coelho anti IgG bovina marcada com fosfatase alcalina (Sigma Chemical), diluído em PBST pH 7,4. Como substrato-cromógeno foi utilizado o paranitrofenil fosfato (Sigma Chemical) diluído em tampão glicina pH 10,5. A leitura do ensaio foi realizada em espectrofotômetro multicanal para microplacas de 96 orifícios calibrado ao comprimento de onda de 405hm.

A análise estatística dos dados foi realizada utilizando os testes de Fisher e Qui-quadrado (c2). A linha de corte (cut-off), para o ELISA, foi determinada através da média aritmética mais três vezes o desvio padrão das densidades ópticas dos soros controles negativos.

RESULTADOS

Ao analisarem as 223 amostras de soro, observou-se que 219 (98,21%) foram soropositivas com anticorpos anti A. marginale. Das amostras positivas, 36,32% possuíam título de 1:500, 43,50% com título de 1:1000, 12,56% com título de 1:2000, 3,59% com título de 1:4000, 1,79% com título de 1:8000, 0,45% com título de 1:16000 e 1,79% foram soronegativas (Tabela 1).

A soroprevalência, de acordo a faixa etária, revelou que 96,23% dos animais com idade entre 1 a 3 anos, 100% com idade entre 3 a 6 anos e 97,98% dos animais com idade > 6 anos foram reagentes positivos. Não houve diferença estatística significativa (P > 0,05) entre as faixas etárias (Tabela 2).

A avaliação, quanto à aptidão zootécnica, demonstrou que 100% dos animais com aptidão para corte e 97,84% dos animais com aptidão para leite foram soropositivos (Tabela 3). Não houve diferença significativa (P > 0,05) entre as aptidões zootécnicas.

A análise estatística, de acordo com o sexo, revelou a soroprevalência relativa de 98,91% de fêmeas positivas e 95,00% de machos positivos (Tabela 4). Não houve diferença significativa (P > 0,05) entre os sexos.

Para os municípios, a soroprevalência foi de 100% em Piraí, 100% em Rio das Flores, 100% em Barra do Piraí, 100% em Barra Mansa, 81,25% em Itatiaia, 90% em Rio Claro, 100% em Valença e 100% em Resende. Houve diferença significativa (P < 0,0001) de soropositivos, entre os municípios, segundo o teste c2 (Figura 1).

DISCUSSÃO

A prevalência de anticorpos antiA. Marginale, encontrada no presente estudo, é considerada alta, epidemiologicamente (³ 75,0%) (MAHONEY, 1975). Embora existam fatores de resistência à anaplasmose, como raça, idade e condição imunológica (MOREL, 1989), a taxa de inoculação de A. marginale por B. microplus e a possível participação de outras fontes de transmissão, como fômites e dípteros hematófagos, justificam a caracterização da mesorregião do Médio Paraíba como área de estabilidade enzoótica.

A não observação de diferença estatística nas prevalências, segundo os grupos etários, as aptidões zootécnicas e os sexos, faz inferir que esses parâmetros não interferem na condição de estabilidade dessa mesorregião.

Embora tenha ocorrido diferença estatística na mesorregião, pois a prevalência de soropositivos no município de Itatiaia diferiu dos demais, esse município também apresentou uma situação de estabilidade enzoótica (81,25%) para A. marginale.

A soroprevalência dos municípios, obtida no presente trabalho, assemelha-se àquelas registradas em outros estados de diferentes regiões do país, onde predominam áreas de estabilidade enzoótica para A. marginale. Em um estudo realizado na Zona da Mata do estado de Minas Gerais, a prevalência de anticorpos anti A. marginale foi de 81,10% (RIBEIRO et al., 1984), e, no estado de Santa Catarina, o percentual de positividade observada foi de 86,00% (DALAGNOL et al., 1995), ambos determinados pela IFI. Os resultados desse estudo foram semelhantes aos encontrados em rebanhos leiteiros na Bahia, através de ELISA indireto, IFI e teste de conglutinação rápida (96,90%, 97,20% e 91,00% de positividade, respectivamente) (ARAÚJO et al., 1998).

Poucas áreas do Brasil, até o momento, foram caracterizadas como de instabilidade para A. marginale. Entre elas, o estado de Sergipe para as regiões climáticas do tipo árida, semi-árida, transição semi-árida e transição subúmida, onde a prevalência média foi de 16,30% (OLIVEIRA et al., 1992). Outra região considerada instável é a microrregião de Bagé, estado do Rio Grande do Sul, na qual a prevalência observada de animais reagentes para A. marginale foi de 64,00% (ARTILES et al., 1995). Em ambas as pesquisas, foi utilizado o TC na análise sorológica. Nessas duas microrregiões, as condições climáticas são desfavoráveis ao desenvolvimento dos vetores de A. marginale. Tanto em regiões de estabilidade quanto de instabilidade enzoótica, para hemoparasitos de bovinos, o ELISA indireto mostrou especificidade e sensibilidade iguais ou superiores à IFI. No entanto, o ELISA é mais adequado para estudos soroepidemiológicos por garantir maior amplitude de titulação (MADRUGA et al., 1997; ARAÚJO et al., 1998; SOUZA et al., 2000).

Os presentes resultados indicam que nessa circunstância epidemiológica a ocorrência de anaplasmose clínica é mínima, tornando-se necessária, apenas, a imunização de animais importados de outras áreas ou regiões de instabilidade enzoótica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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José Carlos Pereira de Souza /1 Cleber Oliveira Soares /1 Claudio Roberto Madruga /2 Carlos Luiz Massard /3
souzajcp[arroba]agricultura.gov.br

1. Doutorando do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária - Parasitologia Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Km 47, Rodovia Rio – São Paulo, Seropédica, RJ 23890-000. E-mail: csoares[arroba]ufrrj.br. Autor para correspondência.
2. Pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte – Embrapa, Campo Grande, MS.
3. Professor Titular do Departamento de Parasitologia Animal, UFRRJ.



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