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O programa estatístico SPSS foi utilizado para a criação do banco de dados a entrada dos dados coletados. As variáveis foram analisadas descritivamente.
No que se refere à população estudada, a média da idade foi 47 anos com desvio padrão de 11, prevalecendo indivíduos casados (52%), com escolaridade de 1º grau -ensino fundamental (62%), tendo como ocupação: cargos operacionais (29%) administrativos (29%) e com renda familiar em torno de cinco a 20 salários mínimos(5, 46) 46> (tabela 1).
Dos 175 pacientes entrevistados no período de setembro de 1998 a agosto de 1999, foram encontrados 41% (N=71) de pacientes que preenchiam o critério para SDA (síndrome de dependência do álcool). Foi constatado apenas um caso falso-positivo, no qual o resultado do AUDIT foi igual a oito, mas a pontuação do SADD foi igual a zero, não preenchendo assim os critérios necessários para SDA.
Quanto ao grau de severidade da dependência alcóolica 27% (N=19) eram dependentes leves, 44% (N=31) dependentes moderados a 29% (N=21) dependentes graves. Os diagnósticos gastroenterológicos prevalecentes foram: hepatopatias crônicas de origem alcoólica (N=37/52%) a hepatite (N=11 / 15%).
A tabela 2 mostra esses dados em maiores detalhes.
Tendo em vista que os pacientes alcoolistas procuram mais freqüentemente tratamento clínico do que o tratamento especializado, surge a questão de como tratar os alcoolistas que procuram somente o tratamento clínico. Primeiramente se faz necessário identificar o mais cedo possível um bebedor com consumo nocivo ou dependente de álcool. Estudos mostram que somente 28% das alcoolistas sã0 reconhecidos pelos médicos(21), ou seja, se o profissional perceber tardiamente a existência de um problema com álcool, o tratamento do paciento acaba por ser prejudicado. Frente a esta necessidade o AUDIT deveria ser usado como um questionário incorporado na rotina médica do clínico ou mesmo em triagens no prontosocorro, facilitando o diagnóstico, o prognóstico a um futuro encaminhamento para um serviço especializado(6). Confirmando a eficiência deste instrumento no estudo presente, encontramos apenas um caso falso-positivo de uma amostra de 71 pacientes, onde o AUDIT foi igual a 8 e o SADD zero.
Por outro lado, o ideal seria levar o tratamento até o paciente, uma vez que os alcoolistas hepatopatas geralmente nã0 procuram atendimento especializado, pois sã0 menos dependentes do álcool, enfrentam menos problemas sociais a psicológicos a bebem por mais anos do que os pacientes que nã0 desenvolveram doenças hepáticas(25). Um estudo recente traçou o perfil de alcoolistas em dois diferentes tipos de tratamentos ambulatoriais, o especializado e o clínico (gastroenterologia). O padrão de consumo alcoólico foi maior em quantidade e freqüência nos pacientes do ambulatório especializado quando comparado com o padrão de consumo encontrado na gastroenterologia, porém os últimos apresentaram história de consumo mais longa. Em relação a qualidade de vida, o aspecto saúde mental indicou que os pacientes do ambulatório especializado sofreram mais conseqüências a enfrentaram mais problemas decorrentes do consumo alcoólico do que os pacientes da gastroenterologia. Também foi observado uma certa limitação por parte dos pacientes da gastroenterologia(9) em relacionar a doença hepática com a doença alcoólica. Estudo sobre o comportamento frente à saúde de bebedores com a sem doenças hepáticas constatou que os pacientes que possuíam doenças hepáticas eram um grupo de pacientes com limitações de "insight" entre seu comportamento a seu reconhecimento perante a saúde(7).
No presente estudo foi constatada maior porcentagem de pacientes com grau de dependência alcóolica moderada, confirmando alguns dados da literatura, sugerindo com isso a necessidade de intervenções terapêuticas na área de dependência química.
Atualmente, existe tendência de intervenção breve baseada na entrevista motivacional(3, 12, 17). Este método preconiza a utilização de um "menu" de estratégias no qual o entrevistador determina a técnica utilizada de acordo com a prontidão para a mudança do paciente, segundo os estágios de mudança de Prochaska e DiClemente(18, 19, 20). Cada estratégia possui duração de 5 a 15 minutos, visando o fornecimento de informações que valorizam a liberdade de escolha do paciente(22). Os tipos de intervenção variam, mas freqüentemente incluem material para leitura ou simples conselhos ou informações. Uma série de estudos realizados examinou o use de materiais de auto-ajuda para bebedores pesados a concluiu sua efetividade(15). No Reino Unido, Heatherton et aI (1986) avaliaram o impacto de um manual semelhante a descobriram que os bebedores que haviam recebido o manual tinham reduzido significantemente o consumo a relatado menos problemas com o álcool do que o grupo controle. Tais métodos enfatizaram o auto-monitoramento de beber e o autocontrole com o treinamento do auto-reforço(16).
Concluindo, existe um amplo espectro de atuações possíveis no tratamento do alcoolismo, porém a necessidade atual é de uma ação rápida a eficaz no sentido de levar o tratamento a quem não procura, utilizando estratégias de intervenção breve e/ou simples aconseIhamento, visando dar conta de grande parte da de manda da população de alcoolistas que necessitam de tratamento especializado. Uma maneira de organizar esse trabalho seria o investimento em educação a treinamento para os profissionais de saúde ou por meio da criação de um serviço de interconsulta no hospital geral, direcionando o tratamento individualizado frente às necessidades dos pacientes alcoolistas, uma vez que o alcoolismo é um dos mais relevantes assuntos em saúde pública no Brasil a no mundo.
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Janaina Luisi Turisco(1), Roberta Payá(2), Neliana Buzi Figlie(3), Ronaldo Laranjeira(4)
laranjeira[arroba]uniad.org.br (
1) Psicóloga, Pesquisadora a Bolsista (Iniciação Científica/Fapesp) da UNIAD-Depto. de Psiquiatria da UNIFESP
(2) Psicóloga, Pesquisadora a Bolsista (Iniciação Científica/Fapesp) da UNIAD - Depto de Psiquiatria da UNIFESP
(3) Mestre em Psiquiatria, Psicóloga a Pesquisadora da UNIAD - Depto de Psiquiatria da UNIFESP
(4) Doutor em Psiquiatria, Coordenador da UNIAD a Professor Adjunto do Depto de Psiquiatria da UNIFESP Recebido em 2.3.00 Aprovado em 27.6.00
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