RESUMO: Em cultura de videira (Vitis vinifera L. 'Italia') foram observadas em Jales, SP, no ano agrícola de 1993, plantas que apresentavam características morfológicas diferentes desse cultivar e de outras espécies deste gênero. Num mesmo ramo da planta, a ântese ocorria do ápice para a base, sentido oposto ao normalmente encontrado. As flores apresentavam pedicelo curto (quase séssil); a corola, no período da ântese não formava uma caliptra (deiscência apical), os filetes eram curtos, o estigma séssil, o ovário globoso e os nectários pouco desenvolvidos. Sugere-se que tenham ocorrido alterações genéticas, promovendo essas características anormais, que não pertencem a gênero Vitis, porém estão presentes em gêneros correlatos como Cissus, Parthenocissus e Ampelopsis (Vitaceae).
Descritores: Vitis vinifera, uva Itália, inflorescências anormais
Unusual inflorescence types in 'Italia' grapevine
ABSTRACT: In a Vitis vinifera L. vineyard, located in Jales, SP, some plants of the cultivar "Italia" showed in 1993 different characteristics of this and of other cultivars of the same genus. In a given branch, flowers presented anthesis from the apex to the basis, a situation opposite to the normally found. Flowers presented short pedicel, almost sessile; the corolla, at anthesis did not form a calyptra (apical dehiscence), the filaments were short, the stygma was sessile, the ovary was globose, and the nectaries were little developed. It is suggested that ontogenetical changes occurred establishing these unusual characteristics for this genus, although they were also present in correlated genera such as Cissus, Parthenocissus and Ampelopsis (Vitaceae).
Key Words: Vitis vinifera, Italy grape, unusual inflorescences
No ano agrícola de 1993, um produtor de uvas do município de Jales (SP) informou a ocorrência de ramos de videira, do cultivar Itália, nos quais as flores eram diferentes das normais. Segundo o relato, em 1992, já haviam surgido alguns poucos ramos com o mesmo problema. As inflorescências desses ramos terminavam por não produzir fruto nenhum. Em 1993, a freqüência havia aumentado na sua propriedade, aparecendo ramos com problemas em cerca de oito plantas num mesmo talhão, o qual totalizava cerca de 600 plantas. Todas as plantas receberam exatamente os mesmos tratos fitossanitários e culturais. Os ramos com flores diferentes foram sistematicamente erradicados das plantas. No ano seguinte, não foi observada a ocorrência do problema.
A importância econômica do fenômeno, da forma como ocorreu, foi muito pequena. Entretanto, pelo relato de incremento de um ano para o outro, o potencial de redução na produção era bem significativo.
Diversos estudos têm sido realizados sobre a morfologia e o desenvolvimento floral em videiras, tais como: Dorsey (1912); Agaoglu (1971); Pratt (1971) e Srinivasan & Mullins (1976). Plantas do gênero Vitis foram descritas como dióicas, poligamodióicas ou perfeitas (monóicas ou hermafro-ditas). As flores podem ser díclinas ou monóclinas (perfeitas ou hermafroditas). Entretanto, muitas dessas flores chamadas perfeitas possuem um dos sexos rudimentar ou incompletamente desenvolvido, sendo, neste caso, denominadas flores estaminadas ou pistiladas (Dorsey, 1912). Segundo Oberle (1938), estas flores provavelmente resultaram de hibridações interespecíficas. Nas flores pistiladas, por exemplo, os estames produzem pólen, mas este não é funcional. Similarmente, nas flores estaminadas, os óvulos são incompletamente desenvolvidos, e na fase de formação do saco embrionário, este aborta.
O cultivar Itália, de flores perfeitas, é originado do cruzamento de 'Bicane' e 'Moscatel de Hamburgo', também com flores perfeitas.
O objetivo deste trabalho foi descrever a ocorrência de flores anormais e não produtivas em videiras do cultivar Itália, na região de Jales.
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