Molibdênio foliar e nitrogênio em feijoeiro cultivado no sistema plantio direto

Enviado por Orivaldo Arf


RESUMO. O nitrogênio é o nutriente absorvido em maior quantidade pelo feijoeiro e seu metabolismo pode ser seriamente prejudicado em condições de deficiência de molibdênio. O objetivo do trabalho foi avaliar a resposta do feijoeiro de inverno, cultivado no sistema plantio direto à aplicação de molibdênio (0, 40, 80 e 120 g/ha) via foliar e adubação nitrogenada na semeadura (0 e 20 kg/ha) e em cobertura (0 e 70 kg/ha). Utilizou-se o delineamento experimental de blocos casualizados, com quatro repetições. O solo do local é um latossolo vermelho Distrófico típico. Analisaram-se: população de plantas, teor de nitrogênio, matéria seca da planta, número de vagens e grãos por planta, número de grãos/vagem, massa de 100 grãos e rendimento de grãos. Conclui-se que a aplicação de molibdênio foliar, de nitrogênio na semeadura ou em cobertura propicia incrementos no rendimento de grãos do cultivar Pérola. O cultivar IAC Carioca - Eté não responde à adubação molíbdica e nitrogenada.

Palavras-chave: Phaseolus vulgaris L., molibdênio, fixação biológica, nitrogênio na semeadura, nitrogênio em cobertura, plantio direto.

ABSTRACT. Molybdenum and nitrogen fertilization on bean crop in no tillage sistem.

Nitrogen is the most uptaken nutrient by common bean and its metabolism depends on molybdenum supply. The objective this work was to evaluate the common bean cropped in winter, in no tillage system and submitted to leaf molybdenum application (0, 40, 80 and 120g/ha), and nitrogen fertilization at sowing (0 and 20kg/ha) and at side dressing (0 and 70kg/ha). The experimental design utilized was a randomized complete blocks, in a factorial scheme 4x2x2 (molybdenum on leaf x nitrogen at sowing x nitrogen at side dressing), with four replications. The soil of experimental area was a typic acrustox. The parameters analyzed were: stand, nitrogen content in plants, plant dry matter, numbers of pods and grains per plant, grains per pods, hundred grains weight and grain yield. It was concluded that molybdenum application on leaf, nitrogen at sowing or at side dressing increase grain yield in common bean Perola cultivar. In the IAC Carioca - Eté cultivar there is no effect of molybdenum or nitrogen applicated.

Key words: Phaseolus vulgaris L., molybdenum, biological fixation, nitrogen at sowing, nitrogen at side dressing, no tillage.

Introdução

O feijão é uma leguminosa de grande importância na economia brasileira tanto por questões sociais, relacionadas com seu papel na alimentação humana, por ser uma alternativa de exploração econômica para propriedades rurais, inclusive as pequenas e por ser uma alternativa que ocupa mão-de-obra menos qualificada (Ferreira e Barros, 2002).

Na cultura do feijão, o nitrogênio é o nutriente absorvido em maior quantidade, sendo requerido em quantidades superiores a 100 kg/ha para garantir altas produtividades. Quando o nitrogênio é deficiente (<2%), as plantas são atrofiadas, com caule e ramos delgados e folhas apresentando coloração entre verdepálido e amarelo. A formação de ramos é reduzida e poucas flores se desenvolvem. As vagens contêm poucas sementes, as quais são pequenas, resultando em baixa produtividade de grãos (Oliveira et al., 1996). Devido à mobilidade do nitrogênio no solo, esse nutriente tem sido pesquisado tanto no sistema convencional como no plantio direto, pois apesar do feijoeiro apresentar respostas a doses de nitrogênio, quando utilizado em sistema convencional, o acúmulo de matéria orgânica comum no sistema plantio direto influencia diretamente a disponibilidade do nutriente, mudando, dessa forma, sua dinâmica no solo. Portanto, espera-se que no plantio direto a cultura apresente resultados diferenciados, de acordo com a dose e as plantas de cobertura utilizadas (Sato et al., 2002).

No Brasil, o feijão é cultivado, na maioria das vezes, em condições de solos ácidos, situação em que a fixação biológica de nitrogênio é deficiente. Nessas condições, a deficiência de molibdênio pode contribuir para redução do fornecimento de nitrogênio para as plantas, uma vez que esse micronutriente é essencial para o crescimento vegetal, participando como co-fator de enzimas envolvidas em reações bioquímicas importantes no metabolismo do nitrogênio. Segundo Dechen et al. (1991), a grande importância do molbdênio para as leguminosas está na sua relação direta com o processo biológico de fixação do nitrogênio (a nitrogenase catalisa a redução do N2 atmosférico até NH3, feita pelo Rhizobium) e na incorporação do nitrogênio em moléculas orgânicas (a redutase do nitrato que catalisa a redução do NO3 a NO2).

Visando avaliar o efeito de diferentes doses de molibdênio e nitrogênio na semeadura e em cobertura sobre o cv. Meia Noite, Araújo et al. (2002) realizaram um experimento no verão e outro no inverno, encontrando efeito significativo das doses de Mo, N na semeadura e em cobertura e das interações doses de N na semeadura x doses de N em cobertura.

Observaram maior produtividade com a aplicação de 20 kg/ha de N na semeadura mais 79 g/ha de Mo via foliar. O teor de nitrogênio total nas folhas também foi influenciado pela aplicação do Mo, nitrogênio na semeadura e em cobertura, assim como pelas interações doses de Mo x doses de N em cobertura e doses de N na semeadura x doses de N em cobertura.

De acordo com Pires et al. (2002), as respostas das plantas à aplicação de molibdênio têm se mostrado variáveis entre as espécies e mesmo entre as cultivares da mesma espécie. Tal comportamento é conseqüência das variações na capacidade de absorção, translocação, acúmulo no tecido e utilização do nutriente pela planta. Entretanto, em termos gerais, o feijoeiro responde positivamente à aplicação de molibdênio, proporcionando incrementos à produção em resposta à aplicação do micronutriente.

O trabalho teve por objetivo estudar o efeito de diferentes doses de molibdênio aplicado via foliar (0, 40, 80 e 120 g/ha) e sua interação com adubação nitrogenada no sulco de semeadura (0 e 20 kg/ha) e em cobertura (0 e 70 kg/ha) no desenvolvimento e na produção do feijoeiro de inverno cultivado no sistema plantio direto, em dois anos de cultivo.

Material e métodos

O trabalho foi desenvolvido na área experimental da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira - Unesp, Campus de Ilha Solteira, localizada no município de Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul. O solo do local é da classe Latossolo Vermelho distrófico típico (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, 1999). A precipitação média anual é de 1.370 mm, a temperatura média anual é de 23,5oC e a umidade relativa do ar está entre 70 e 80% (média anual). Antes da instalação do experimento foram coletadas amostras de solo para realização de análise química do solo de acordo com metodologia descrita por Raij e Quaggio (1983), sendo os resultados apresentados na Tabela 1.

O experimento foi instalado em área anteriormente ocupada pela cultura do milho, que foi manejada com desintegrador mecânico do tipo triton com objetivo de reduzir o tamanho dos resíduos da cultura anterior e distribuir de forma uniforme a vegetação na área de cultivo. A dessecação (préplantio) foi realizada com glyphosate (1.560 e 1.920 g do i.a./ha para o primeiro e segundo ano de cultivo, respectivamente).

O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso com quatro repetições e 16 tratamentos dispostos em esquema fatorial (4x2x2), constituídos por doses crescentes de molibdênio foliar (0, 40, 80 e 120 g/ha) e sua interação com a adubação nitrogenada (uréia) no sulco de semeadura (0 e 20 kg/ha) e em cobertura (0 e 70 kg/ha). As parcelas foram constituídas de 6 linhas de 6 m de comprimento, sendo considerada como área útil as quatro linhas centrais, desprezando-se também 0,5 m das extremidades de cada linha.

O feijão foi semeado, mecanicamente, no dia 16 de abril de 2002 utilizando o cultivar IAC Carioca Eté com 16-17 sementes viáveis/m, e no dia 30 de abril de 2003 utilizando o cultivar Pérola com sementes necessárias para obtenção 12-13 plantas/m, ambos com espaçamento de 0,50 m entrelinhas. As sementes receberam tratamento com thiram + carboxin (200 + 200 g do i.a./100 kg de sementes) no primeiro ano de cultivo e benomyl (200 g do i.a./100 kg de sementes) no segundo ano, visando à prevenção de doenças.

A adubação química básica nos sulcos de semeadura foi calculada de acordo com as características químicas do solo e as recomendações de Ambrosano et al. (1997) e foi constituída de 70 kg/ha de P2O5 (superfosfato simples), 30 kg/ha de K2O (cloreto de potássio) e zero ou 20 kg/ha de nitrogênio na forma de uréia, dependendo do tratamento. Após a semeadura, a área foi irrigada para promover a germinação das sementes. A emergência ocorreu aos 5 e 6 dias após a semeadura, respectivamente, nos anos de 2002 e 2003. Os tratamentos com adubação de cobertura foram realizadas aos 21 e 16 dias após a emergência das plântulas, respectivamente, para os anos de 2002 e 2003, seguindo as recomendações de Ambrosano et al. (1997).

O controle das pragas e doenças no cultivo de 2002 foi feito através de pulverizações, que se iniciaram no dia 30/04/2002, 14 dias após a emergência das plântulas, com a utilização do inseticida methamidophos (300 g/ha do i. a.), e posteriormente aos 31 e 58 dias da emergência das plântulas realizou-se nova pulverização com methamidophos + benomyl + mancozeb (300 + 250 + 1600 g/ha do i. a.). No cultivo de 2003, o controle fitossanitário foi realizado com pulverizações de methamidophos (300 g/ha do i. a.), methamidophos + benomyl + mancozeb (300 + 250 + 1.200 g/ha do i.a.) e methamidophos + mancozeb (300 + 1200 g/ha do i. a.), realizadas aos 26, 30 e 57 dias após a emergência das plântulas, respectivamente.

Visando ao controle de plantas daninhas, realizouse, aos 23 e 26 dias após a emergência das plântulas, aplicação em pós-emergência do herbicida fluazifop - p - butil + fomosefan (200 + 250 g/ha do i.a e 160 + 200 g/ha do i.a.), respectivamente para os anos de 2002 e 2003.

O florescimento pleno ocorreu cerca de 38 e 40 dias após a emergência das plântulas e a colheita foi realizada de forma manual no dia 10 e 30 de julho (em 2 linhas de 5 metros de comprimento), com um ciclo de 80 e 90 dias para os anos de 2002 e 2003, respectivamente.

Durante o período de cultivo, nos dois anos de experimentação, foram realizadas as seguintes avaliações: população de plantas inicial e final; matéria seca da planta; teor de nitrogênio total na planta; número de vagens por planta; número grãos por planta; número de grãos por vagem; massa de 100 grãos e rendimento de grãos.

Todos os dados foram avaliados através da análise de variância pelo teste F. Quando o valor de F foi significativo ao nível de 5% de probabilidade, aplicou-se o teste de Tukey, para comparação das médias, avaliando a aplicação de nitrogênio e utilizou-se regressão polinomial para doses de molibdênio. Foi utilizado o programa SANEST, Sistema de análise Estatística para microcomputadores (Zonta e Machado, 1986).


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