Migração é termo criado após o estabelecimento dos Estados-nações para descrever o cruzamento, por estrangeiros, de suas fronteiras, que passaram a ser definidas por linhas contínuas e precisas (Morén-Alegret, 1999). Posteriormente, passou a ser aplicado para a travessia de qualquer linha territorial político-administrativa.
Na segunda metade do século XX foram observadas enormes ondas migratórias, internacionais e domésticas. Na atualidade, calcula-se em cerca de 120 milhões o número de pessoas que vivem fora do país de nascimento, sem contar os filhos (Weiner, 1996). Destes, um quarto seria formado por trabalhadores legais, outro quarto, por seus familiares, mais um quarto, de ilegais, e um quarto de refugiados (Castels & Miller, 1998, p. 162). Em 1998, por exemplo, imigrantes formavam 18,9% da população da Suíça e 8,1% da população da Alemanha (onde somavam 7,2 milhões, sendo cerca de 2 milhões de turcos, 1.350.000 da antiga Iugoslávia, 536 mil italianos, 360 mil gregos, 277 mil poloneses e outros).
Com a redução da taxa de crescimento natural da população mundial, o debate político-ideológico mundial, até então centrado na questão do crescimento populacional, voltou-se para as suas diferenças regionais. Paralelamente, dada a dimensão que o fenômeno migratório foi alcançando, o tema das migrações foi conquistando o interesse da opinião pública e ganhando amplo espaço na discussão política e na análise acadêmica.
Neste ensaio, aponto para alguns temas que integram a questão migratória. Teoria do sistema migratório. Explicar as motivações do movimento migratório tem sido uma preocupação das ciências sociais.
Na modernidade, foram formuladas algumas teorias, como a relacionada à posição "neoclássica", que contempla o papel do mercado e suas forças de atração ou repulsão (pull e push), ou a relacionada à posição marxista, estruturalista, que salienta o papel do recrutamento do trabalho pelo capital. O pensamento pós-moderno, valorizando a articulação entre agenciamentos e estruturas, enfatiza o exame dos relacionamentos entre as "micro" e "macropolíticas" – expressões de Foucault e Guattari. Nesta linha, a partir da consideração de todas as ligações entre os pontos de saída e entrada de migrantes, incluindo-se aí redes familiares e sociais, conexões de cultura de massa etc., foi formulada a Teoria do Sistema Migratório (Castels & Miller, 1998, p. 23).
Politização. Temas altamente politizados, como a liberação da imigração e os direitos de imigrantes e seus descendentes, fazem parte do ideário dos partidos políticos dos países do Centro. Em 1991 a questão figurou na agenda da reunião do G-7. Neste ano, o crescimento vegetativo da população histórica alemã foi de -1,4%, o dos imigrantes na Alemanha, 4,9%, e o do país como um todo, 3,5%. Na União Européia como um todo, os índices foram 0,7%, 2,8% e 2,1%.
Papel da globalização. Colagens e descolagens entre instâncias políticas e econômicas acompanham a globalização e se manifestam no caso das migrações.
De forma contraditória, a globalização estimulou a mobilidade, ao mesmo tempo em que influiu para o levantamento de barreiras à migração.
A liberdade mais avançada tem sido observada nos mercados comuns de países, mercados comuns que expressam a colagem do político sobre o econômico, mas restrita aos cidadãos destes países. Na União Européia, o Tratado de Maastricht, de 1991, criou uma cidadania européia, com todos os direitos, à exceção de votar em eleições nacionais.
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