Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
Foram utilizadas folhas totalmente expandidas e com os bordos intactos, procedentes de plantas originadas de sementes, das seguintes espécies silvestres do Rio Grande do Sul: uvalheira (Eugenia uvalha Camb.), araçazeiro (Psidium cattleyanum Sabine), goiabeira serrana (Feijoa sellowiana Berg.) e pitangueira (Eugenia uniflora DC). As quatro espécies utilizadas são pertencentes à família Myrtaceae.
Foram adotados os seguintes métodos:
Métodos "padrão" ou de laboratório
Método gravimétrico - foram realizadas fotocópias das folhas sobre papel xerográfico comum (sulfite 75g/m2). Também foram desenhados os perímetros das mesmas sobre papel filtro WHATMAN n° 42. As silhuetas obtidas foram então pesadas com uso de uma balança analítica modelo Mettler-AE 166, e comparadas com áreas conhecidas dos mesmos papéis.
Método de pesagem dos discos foliares - utilizando-se um vazador com área conhecida, foram destacados discos foliares das porções basal, mediana e apical do limbo foliar. Através da área conhecida dos discos foliares destacados, do peso dos mesmos e do peso da folha, tomados através de uma balança analítica modelo Mettler-AE 166, foi estimada a área foliar total.
Medidor automático de área foliar - utilizando-se um medidor de área foliar modelo Li-Cor 3000 (Li-Cor Corporation, USA), foi realizada a leitura direta da área foliar.
Método do planímetro - através do uso de um planímetro, marca Koizumi - modelo KP- 27, foi determinada a área das fotocópias das folhas impressas sobre papel xerográfico (sulfite 75g/m2).
Métodos estimadores ou de campo
Método das figuras geométricas circunscritas - a partir das medidas do comprimento e maior largura das folhas, obtidas com paquímetro, foi calculada a área das elipses circunscritas aos limbos foliares.
Modelo matemático. - a estimativa da área foliar verdadeira foi calculada através da equação de regressão linear simples entre as áreas das figuras geométricas circunscritas (elipses) e as áreas calculadas pelo método padrão ou através de um coeficiente de correção (K), calculado pela seguinte equação:
E AP - somatório das áreas calculadas pelo método padrão; e
E AR - somatório das áreas dos retângulos circunscritos aos limbos foliares.
Em função da disponibilidade de material, os métodos testados foram distribuídos entre as espécies estudadas da seguinte maneira:
Foi adotado o delineamento experimental em blocos ao acaso, com 10 plantas (blocos) e 20 folhas por planta. A comparação das médias foi realizada através do teste de Tukey.
As TABELAS 1, 2, 3 e 4 apresentam as médias obtidas para os diferentes métodos de laboratório e espécies estudadas. Entre as espécies, o araçazeiro apresentou a maior área foliar média, seguido da goiabeira serrana, da pitangueira e da uvalheira. Dentre os métodos, as áreas foliares médias mais elevadas foram obtidas através do método gravimétrico (fotocópia ou Whatman 42), enquanto que os valores mais baixos foram obtidos através dos discos foliares.
Segundo vários autores, para a determinação da área foliar através do método gravimétrico, a silhueta das mesmas pode ser desenhada em papel filtro com densidade homogênea (BENINCASA et al., 1976; LUCCHESI, 1984; BENINCASA, 1988) ou obtida através de fotocópia das mesmas em papel sulfite (HUERTA, 1962; BARROS et al., 1973; REIS & MÜLLER, 1979; GOMIDE & CASTRO NETO, 1989). Neste trabalho buscou-se comparar o uso de fotocópias e o desenho das silhuetas das folhas sobre papel Whatman 42. Na TABELA 5 são apresentadas as médias dos coeficientes de variação do peso de 50 discos com área constante de 5,27 cm2. Os discos de papel Whatman 42 apresentaram peso e uniformidade superiores ao papel sulfite, mas não foram encontradas diferenças significativas entre as médias calculadas por estes dois métodos, nas espécies em que foram testados (TABELAS 1 e 2). Devido ao alto custo do papel Whatman, ou outro de mesma qualidade, e também a possíveis erros que ocorreram, presumivelmente devido à superestimativa da área foliar por variações ocorridas no corte da silhueta, além da existência de ampla bibliografia na qual é utilizado o método das fotocópias como padrão (GOMIDE et al., 1977; PINTO et al., 1979; ABRAHÃO, 1981; GOMIDE, 1989), verifica-se que, dependendo do grau de precisão exigido no experimento, o uso de fotocópias para a determinação da área foliar através do método gravimétrico é viável. Através deste método podem ser obtidos resultados relativamente seguros e de forma bastante econômica.
O método dos discos foliares subestimou as áreas foliares nas espécies em que foi testado. Somente para a goiabeira serrana as áreas calculadas através de discos retirados da porção apical das folhas não diferiram significativamente das áreas calculadas através do medidor automático de área foliar, do método gravimétrico e do planímetro (TABELA 3). Assim, os resultados apresentados são inversos aos de GOMIDE et al. (1977) e PINTO et al. (1979), onde os discos foliares retirados das porções basais, medianas e apicais, mesmo não diferindo significativamente do método padrão utilizado (fotocópia), superestimaram a área foliar em cafeeiro (Coffea arabica L.) e goiabeira (Psidium guajava L.), respectivamente. Da mesma forma, estes resultados foram inversos à afirmação de Huck & Bolas (1956), citado por HUERTA (1962), de que existe uma variação decrescente do peso da lâmina e da nervura central desde a base até o ápice. Assim, pode-se observar que este método é variável de acordo com a espécie utilizada e deve sempre ser comparado a outros métodos, levando-se em conta as características morfológicas da espécie em estudo. Ross (1981), citado por NORMAN & CAMPBELL (1989), recomenda que o disco foliar seja retirado de uma porção da folha onde a relação peso da matéria seca/área seja igual à média de toda a folha.
Pela revisão da literatura, observou-se que a maioria dos trabalhos realizados utilizou o método gravimétrico ou a medição direta através de planímetro como padrão (HUERTA, 1962; BARROS et al., 1973; KARIKARI, 1973; BENINCASA et al., 1976; GOMIDE et al., 1977; PINTO et al., 1979; ABRAHÃO, 1981; GOMIDE & CASTRO NETO, 1989). Por outro lado, a utilização de medidores automáticos de área foliar proporciona um grau de aferimento e facilidade de operação muito superiores aos demais métodos, tendo como único problema o alto custo do equipamento (PINTO et al., 1979; BENINCASA, 1988; GOMIDE & CASTRO NETO, 1989, NORMAN & CAMPBELL, 1989). Conforme pode-se observar nas TABELAS 1, 2, 3 e 4, as áreas medidas determinadas através da medição direta, por planímetro ou medidor automático de área foliar, não diferiram significativamente entre si em nenhuma das 4 espécies. Dessa forma, pode-se aconselhar o uso preferencial destes dois métodos para a utilização como padrão. Por outro lado, dependendo das condições financeiras existentes, assim como do local onde, será desenvolvido o trabalho e do grau de precisão exigido, o uso do método gravimétrico, através de papel filtro ou fotocópia, pode ser aconselhável.
Em face aos resultados discutidos acima, foram realizadas regressões lineares entre as áreas obtidas pelo medidor automático de área foliar, planímetro, papel sulfite (fotocópia) e papel filtro (Whatman 42) e as medidas de comprimento e maior largura das folhas nas quatro espécies estudadas (TABELA 6). Observou-se que houve um comportamento diferenciado entre os métodos, dentro das espécies, para os coeficientes de determinação (r2) encontrados. Assim, foram selecionados os métodos que não diferiram significativamente do medidor automático de área foliar ou do planímetro e onde obteve-se os maiores valores de r2 (medidor automático de área foliar para a uvalheira, planímetro para o araçazeiro e goiabeira serrana e fotocópia para a pitangueira), os quais foram utilizados como padrão para a determinação da área foliar através dos métodos de campo.
Observando mais atentamente a TABELA 6, nota-se um r2 muito baixo para a regressão linear entre planímetro x área do retângulo (L x 1) para folhas de uvalheira, ao passo que a regressão entre o medidor automático de área foliar x área do retângulo (L x 1) apresentou um r2 bastante elevado. Este fato demonstra a baixa precisão do planímetro quando utilizado para a determinação da área de folhas pequenas, visto que, entre as espécies testadas, a menor área foliar média foi encontrada nesta espécie (< 6,5 cm2). Outro dado interessante observado na TABELA 6 foram os altos valores de r2 encontrados para as regressões entre o método gravimétrico através de fotocópia e as áreas dos retângulos nas quatro espécies estudadas. Embora deva ser feita uma observação no sentido de que as medidas de comprimento e maior largura foram tomadas sobre as fotocópias e não sobre as folhas "in vivo", estes dados vêm a fortalecer as discussões anteriores sobre a possível utilização do método das fotocópias como padrão.
Nas TABELAS 6, 7, 8 e 9 são apresentadas as médias obtidas através dos métodos estimadores ou de campo (elipse circunscrita, coeficiente K e regressão), comparados com o respectivo padrão. Nota-se que a equação da elipse superestimou a área foliar para as quatro espécies estudadas, enquanto que a equação da regressão subestimou a área foliar para a uvalheira. De maneira geral, os melhores resultados foram obtidos através do uso de regressão linear ou do coeficiente K. Assim, as estimativas das áreas foliares para as quatro espécies estudadas podem ser tomadas a partir das equações:
y = 0,68X, para a uvalheira;
y = 0,66X ou y = 2,658 + 0,554X, para o araçazeiro;
y = 0/75X ou y = 0,856X - 2,115, para a goiabeira serrana;
y = 0,69X ou y = 0,503 + 0,643X, para a pitangueira;
onde X = comprimento (L) x largura (1) da folha.
Com base nos resultados acima apresentados e discutidos, nota-se que existe uma certa variação de acordo com o método ou espécie estudada. Assim, a escolha do método de laboratório, utilizado como padrão, ou o método de campo a ser adotado, deve sempre levar em conta fatores como o grau de precisão exigido no experimento, as características morfológicas e fisiológicas da espécie estudada e os recursos financeiros disponíveis.
M.S. MielkeI, II; A. HoffmannI; L. EndresI; J.C. FachinelloI
endres[arroba]ufal.br
I. Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel/UFPEL, C.P. 354, CEP: 96010-900- Pelotas, RS
II. Bolsista da FAPERGS
Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
|
|