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Estes eram, e ainda são, os princípios formadores e de operação do c.e.s.a.r; eles são atuais e, na minha opinião, podem continuar a sê-lo por décadas a fio.
2. Você pode explicar qual é a dinâmica de funcionamento do Cesar? Quais os parceiros do Centro?
O c.e.s.a.r vende inovação no mercado, tentando para isso captar projetos complexos, críticos, que ofereçam oportunidade para inovar, entre empresas que têm que competir no mercado nacional ou internacional. Um dos nossos mottos poderia ser o de Peter Drucker... "acreditamos que a inovação é a única fonte de aumento de competitividade"... e tentamos segui-lo à risca.
Captamos projetos, desenvolvemos soluções, quando possível agregando elementos inovadores, tentamos generalizar estas soluções para problemas correlatos, em outras empresas, ou em nichos de mercado, saímos para vender isso como produto, serviço ou uma combinação dos dois... quando sabemos vender bem e estamos ganhando com isso, quase sempre é hora de juntar o pessoal que está fazendo isso dentro do c.e.s.a.r a parceiros externos, de tecnologia, negócios e investimento e formar, fora dele, um outro negócio, ajudando a aumentar a diversidade institucional na região. Os parceiros do c.e.s.a.r são nossos clientes, outros centros de inovação, empresas do Porto Digital, as universidades ao nosso redor [e às vezes longe daqui], grandes empresas de tecnologia, fundos de investimento... uma miríade de outros atores. Ninguém faz nada sozinho, muito menos inovação.
3. O Cesar optou por desenvolver softwares com código-fonte fechado, quando existe uma tendência em abrir o código-fonte. Outras empresas dentro do Porto Digital fizeram esta opção. Qual a razão desta opção? Ter a Microsoft como um parceiro limita o investimento do Centro em soluções com código aberto?
O c.e.s.a.r nem optou por código aberto nem fechado; desenvolve os dois estilos e nos dois estilos. Muitos dos nossos clientes [sim, um centro de inovação tem clientes!] querem soluções fechadas e, outros, código aberto. Fazemos os dois e, quando podemos escolher nós próprios, ou quando podemos aconselhar, preferimos o modelo aberto. Aberto, aqui, quer dizer muito mais do que a licença do software, está ligado à formação de comunidades, ao processo de desenvolvimento, muito mais do que é percebido pelo tipo de licença do software apenas.
Em conjunto com Jones Albuquerque, da UFRPE, e uma legião de assistentes, estamos lecionando, pelo quarto ano seguido, uma cadeira de pós-graduação em "engenharia de software para fábricas de software livre" [http://www.fabricadesol.com], que tem tido um razoável sucesso e onde tais questões são discutidas e que tem, também, servido de influência para o c.e.s.a.r, empresas do Porto Digital e até criado uma fábrica de software livre, a OXE [ http://www.oxe.org.br ], sob cujo processo e expertise foi feito o sistema de informação da Pitang [ http://www.pitang.com.br ], todo desenvolvido sobre plataformas de código aberto.
Nossa parceria com a Microsoft não especifica que status o código que de lá sair terá e a Microsoft, por sua vez, investe cada vez mais em software e padrões abertos. De minha parte, acredito que esta questão, do ponto de vista da infra-estrutura, serviços e aplicações de computação, comunicação e controle, é cada vez mais periférica: Google, Yahoo, MSN, eBay, Amazon, salesforce.com, sugarcrm.com mostram que software é cada vez mais serviço do que produto, mais assinatura do que licença [ou algum tipo dela, grátis].
Pena que tal não seja visto no Brasil nem pela academia, nem pelas empresas e tampouco pelo planejamento estratégico do setor. O resultado é que perdemos a última década num debate peripatético sobre o status ontológico de software, enquanto a Índia, para citar um país apenas, realiza em exportações quase três vezes o tamanho do mercado brasileiro, sem se preocupar se o resultado é aberto ou fechado. Coisas do Brasil, diria Tom Jobim...
4. O senhor não demonstrou muito entusiamo com a Lei de Inovação. O que faltou na Lei para que realmente inovasse o cenário de inovação e transferência de tecnologia no Brasil?
O tempo que a Lei de Inovação levou para ser regulamentada dá uma idéia das dificuldades que enfrentam as esferas de governo que vêm tentando promover mais inovação no setor empresarial, para torná-lo mais competitivo. Este não é um discurso fácil de passar pelos círculos mais clássicos do poder, pois a principal medida da lei, sem dúvida, é a oferta de recursos públicos para inovação na iniciativa privada. Uma boa parte do texto da lei trata das instituições federais de ensino e pesquisa e seus funcionários, mas isso é claramente secundário quando visto no contexto mais amplo, do país. Sem que haja, nas empresas, o contexto para inovação, a disposição, a capacidade, as pessoas para inovar, o efeito de qualquer mudança no setor acadêmico e de pesquisa, onde está quase a totalidade dos pesquisadores, será muito limitado.
Olha para os EUA: o presidente visita o Silicon Valley [em 21/04/06] para, no auditório da Cisco Systems, anunciar o investimento federal para que o país "continue" competitivo com a China e a Índia... US$ 136 bilhões em 10 anos, dos quais US$ 86 bilhões em redução de impostos para investimento empresarial em educação e pesquisa. Isso num país cujo déficit orcamentário é astronômico. Como dizia David Landes, o desenvolvimento, na América Latina, é feito pela lógica... na lógica não cabem planos certamente megalomaníacos como o dos EUA, de apostarem tanto em fundamentos e insumos para inovação. Eu acho que é, ou era, isso que esperamos, todos, de uma política nacional de inovação, haja ou não uma "lei" para ela. Noutros países, as "leis" nem sempre existem, mas os investimentos estão no orçamento... aqui, há leis mas não há, normalmente, orçamento. Pena.
5. Mesmo estando fora dos grandes centros de produção científica brasileira, concentrados na região Sudeste e Sul, o Cesar é uma referência em TIC. O senhor já disse em outras entrevistas que valoriza a "origem na periferia" que o Centro tem. Que diferença faz interferir na realidade a partir da periferia?
O mundo e seus mercados são uma grande rede, com centros aqui e li, e os centros, pelas tensões geradas pelos mercados que já atendem, acabam tendo menos liberdade para inovar, para criar. Na periferia, tudo é mais difícil, mas muito mais é possível. O c.e.s.a.r foi construído quase a partir do zero, como centro de inovação, pois não tínhamos modelos para nos espelhar nem na região, periférica no país, nem no país, periférico no mundo.
Eu acho que o Brasil tinha que assumir mais este seu caráter periférico. Temos que assumir que não estamos competindo com Europa, EUA, Japão, Coréia e, agora, com China e Índia. Não soubemos ou não quisemos fazer as escolhas que nos colocariam na classe destes países. Nosso espaço é na periferia, onde não conseguimos, no mais das vezes, identificar África do Sul, Indonésia, Malásia, Tailândia, Filipinas, México como os competidores que eles realmente são. Não nos faria mal sabermo-nos periféricos e agir como tal, sem as ilusões de grandeur que, às vezes, parecemos ter. O c.e.s.a.r foi pensado e construído como periferia e ainda terá muito o que inovar quando, muito além do tempo dos seus criadores, pensar e conseguir agir assim.
6. Apesar do potencial do mercado interno brasileiro e da comprovada expertise que temos no desenvolvimento de soluções em software o Brasil segue com déficit comercial nesta área. O que falta, por parte das empresas e do governo para que o país se transforme num pólo exportador de programas de computador como é a Índia, por exemplo? Já é possível avaliar o impacto da Lei de Informática neste cenário?
Poder-se-ia dizer que, primeiro, falta atitude. As empresas brasileiras de software [salvo raríssimas exceções] são locais e isso as circunscreve ao Brasil. Mas também há um déficit de condições: se não há empresas brasileiras de classe mundial, porque as multinacionais do setor demoraram tanto a "descobrir o Brasil" e, mesmo assim, quando o fazem, agora, é para atender a demanda de contratos de grandes multinacionais que também estão estabelecidas no país? Ao fazer perguntas como esta se descobre que o Brasil não se preparou, até agora, para fazer negócios de conhecimento e que o custo de fazê-lo, aqui, não é competitivo com a Índia, para citar o exemplo da vez.
A infra-estrutura legal, fiscal e trabalhista brasileira é confusa, certas horas impeditiva para o desenvolvimento de negócios que exigem o entendimento e inserção em janelas de oportunidade que às vezes estão abertas por meses, apenas. Abrir uma empresa, no Brasil, leva muitos meses; empresas de software são negócios de alto risco que precisam ser fechados quando não dão certo. Fechar uma empresa, no Brasil, leva anos... neste ponto o Brasil é mesmo um grande Portugal. Lá, o governo acaba de enviar ao parlamento 333 medidas para tornar o país mais competitivo, pois sabe que está perdendo espaço e muito tempo na Europa e no mundo; talvez o Brasil devesse olhar tal esforço de perto e fazer algo parecido aqui, urgente.
Mas há um problema ainda mais fundamental, o de não termos investido, a sério, em formação de técnicos e engenheiros, nas últimas décadas, além da nossa formação básica de matemática, lógica e física, para todas as áreas, deixar muito a desejar... e daí resulta um Brasil que não conseguirá, nem tão cedo, competir com a Índia em serviços e tampouco com a China em produto. O Brasil precisa achar sua classe e seus competidores, para além das commodities minerais e agrícolas, se quiser ter algum sucesso fora destas áreas. É muito mais difícil se inserir no mercado de software do que no de soja, e pode muito bem ser que quem tenha competência para o último não o tenha para o primeiro...
Do ponto de vista da Lei de Informática, pode-se dizer que o pouco que ocorre em inovação, no Brasil, é oriundo dela. Mas há problemas não tratados e graves: a lei trata isenção sobre a produção de hardware, mas a quase a totalidade do hardware produzido no país é desenhado em centros internacionais de competência que, pelos motivos já explicitados, não estão no Brasil. O resultado é que a maior parte do investimento feito, no país, pelas empresas beneficiárias da Lei destina-se à área de software, que por sua vez não é tratada na legislação. Uma legislação de intervenção no domínio econômico de software talvez devesse ser pensada, olhando para o futuro, um futuro onde, quase que indubitavelmente, toda a produção de commodities eletrônicas de baixo peso e alto valor agregado será feita na Ásia.
A Idade da Pedra não acabou por falta de pedra, como se sabe, mas porque outras alternativas mais eficazes e eficientes apareceram; no Brasil, a idade do hardware só subsiste [aqui] porque temos olhado para hardware, econômica e politicamente, como um silo, como se fosse independente de tudo ao seu redor. Na minha opinião, querer que se fabrique hardware no Brasil sem que empresas privadas brasileiras sejam competitivas no mercado mundial de alguns nichos, pelo menos, porque dominam o ciclo de valor de seus produtos [leia-se desenho, inovação, posicionamento, vendas...] é querer continuar prevendo o futuro com um retrovisor. Como criar tais empresas -e se há infra-estrutura legal, fiscal... etc.- no país é o "x" da questão, que também não tratamos nas últimas décadas.
7. Um dos grandes problemas no Brasil é a dificuldade das empresas de tecnologia de atrair capital de risco. O César tem exemplos positivos neste sentido. Qual a fórmula para atrair capital de risco? Isso envolve mudança de cultura por parte dos investidores ou tem a ver unicamente com a capacidade de se mostrar atraente?
O capital "de risco" em países como o Brasil é muito arisco... porque compara seu investimento empreendedor, na formação de negócios que normalmente têm por base tecnologias ainda não testadas no mercado [em larga escala], portanto sujeito a uma alta taxa de mortalidade, aos títulos do governo, garantidos como eles só, oferecendo os maiores juros reais do mundo, graças a um país desequilibrado, que não resolve suas pensões e aposentadorias, o desequilíbrio do setor público, enfim, que está fora de fase com o mundo lá fora, onde há investimento, muito, normal e de risco.
Mas, pelo que rezam os ministros da fazenda quando assumem o cargo [esquecendo o que diziam antes], todos os sinais macro-econômicos nacionais estão verdes, e tudo deveria estar bem. Ora, a macro-economia não cria empresas, não faz o país crescer, não gera empregos, renda e muito menos sua distribuição. Macro-economias como a nossa fazem, por outro lado, com que gestores de fundos de investimento de primeira linha passem dois anos atrás de meros 100 milhões de reais [um trocado, fora daqui] para integralizar um fundo para empresas de tecnologia, sem sucesso.
Neste contexto, a receita do c.e.s.a.r é ter um processo certificado [ISO9001:2000] de criação de novos negócios a partir de demandas de mercado já identificadas e com projetos já realizados para atendê-las. Em suma, diminuimos o risco através do aumento do controle do processo de criação de negócios, pela formação e certificação das equipes envolvidas, pela melhoria do foco no mercado, dando preferência à inovação do tipo pull (do mercado para a inovação) em relação modo push (dos laboratórios para o mercado)... ou seja, sabendo que os investidores de risco não são tão de risco assim, diminuimos o risco. Mas ainda erramos muito, tentamos menos do que deveríamos, porque não temos condições estruturais e conjunturais para ousar mais, e temos muito, mas muito o que aprender.
8. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assinou este ano decreto oficializando a criação de um Sistema de Inovação Paulista que tem como um de seus pilares um Sistema de Parques Tecnológicos que contempla várias regiões do Estado conforme suas vocações. O parque de Campinas, por exemplo, será direcionado para a instalação de centros de P&D em tecnologias da comunicação e informação. O Estado de Pernambuco criou o Porto Digital em 2000 e os resultados favoráveis vieram rápido já que o faturamento das empresas compõe 3,5% do PIB do Estado? Qual a importância destes sistemas de inovação?
A importância de tais sistemas é articular os mais diversos eixos dos ciclos de vida de inovação nas empresas, nas instituições de ensino, pesquisa, desenvolvimento e inovação e no governo. No Recife, o Porto Digital é o articulador, motivador, incentivador e, em alguns casos, mola motriz do processo, mas não é preciso pensar muito para entender que os atores principais são as empresas, na iniciativa privada, na sua eterna luta pela sobrevivência. No meu entendimento, o maior desafio de uma empresa é sobreviver e, aí, as maiores oportunidades para inovar não estão, apesar do senso comum em contrário, em insumos tecnológicos oriundos de pesquisa e desenvolvimento.
O principal locus de inovação, em uma empresa, é seu modelo de negócio e as competências, capacidades e conexões com as quais ele é implementado. É claro que não se faz empresa de tecnologia sem tecnologia, mas é bom lembrar que o verdadeiro teste da inovação é o mercado, são as mudanças de comportamento dos produtores e consumidores de tecnologia, e não a tecnologia em si, ou seus agentes.
Os sistemas locais de inovação serão tão mais importantes quanto mais pessoas e empresas entenderem isso... ao mesmo tempo aprendendo que não existe esta estória de pequena empresa de base tecnológica: o que existe é empresa de crescimento empreendedor, que pode, se propriamente conduzida, crescer a taxas muito maiores que o mercado e seus competidores, sem uma inversào de recursos e de pessoal correspondente. Tais "pequenas empresas" de base tecnológica, em um sistema local de inovação, são pontos de partida e não o conjunto de chegada. Temos que ainda não tenhamos entendido este problema de forma prática, no país, e isto ainda vai nos atrasar muito em relação a outras regiões.
Um sistema de inovação como o Porto Digital, além de articular muitos atores, cria marca, percepção externa, ajuda a resolver um dos maiores problemas de empresas "de tecnologia" periféricas, que é a descrença de potencias compradores de mercados supostamente mais maduros ou avançados. Acho que podemos creditar em parte ao Porto Digital o PIB de TICs de Pernambuco ter mais que dobrado em cinco anos, quando a performance do setor, no país, não chegou nem perto disso. Mas os resultados não vieram rapidamente não; o Porto Digital é um projeto de quinze anos e ainda há muito o que fazer...
9. Quais as metas do Porto Digital? Há perspectivas de ampliação do sistema em Pernambuco?
O Porto Digital quer agregar, em 2015, 200 empresas de informática, cada uma empregando em média 100 pessoas, cada qual agregando US$ 100.000 de valor à empresa. Isto significaria menos de duas vezes o número de empresas atual, mas três vezes o número de colaboradores por empresa e um faturamento per capita três vezes maior. Ou seja... se tivermos sucesso, serão 20.000 pessoas gerando 10% do PIB de Pernambuco. Não é um projeto de governo, nem de mandatos. O estado de Pernambuco está envolvido, a Prefeitura do Recife também, ambos têm papéis muito relevantes para o futuro do projeto, mas todos concordamos que os principais papéis são da iniciativa privada, que gera emprego, exporta soluções, cria imaginários, atrai investidores... o que, por sua vez, chama a atenção do governo, e por aí vai.
Sobre o projeto ser ampliado para outras cidades, em Pernambuco, há discussões, propostas... mas nenhum plano para execução imediata.
10. O Porto Digital fica no Bairro do Recife, área tombada como patrimônio histórico pelo Iphan. Qual o significado de instalar um pólo tecnológico num sítio histórico? Que mudanças você destaca na região desde a implantação do Porto Digital?
A renovação de sítios e prédios históricos está casada com modelos problemáticos de reocupação, e acho que estamos repensando isso em parte no Bairro do Recife, onde fica o Porto Digital. Há quem pareça não pensar que em prédios históricos havia, no passado, empresas, igrejas, órgãos públicos. A maioria destas ocupações não casa com tais espaços hoje em dia e as empresas de informática parecem ser uma alternativa. Deveria haver, em meu entender, mais incentivos para que tal acontecesse; na Índia, há isenção de impostos urbanos para empresas de informática a partir de um certo porte. Aqui, deveria haver isenção de IPTU para determinados tipos de prédio, porque os custos de manter um prédio histórico são maiores do que os de uma construção moderna. Mas estamos debatendo isso e há espaço para muita manobra.
Do ponto de vista das mudanças, o Porto Digital já atraiu 3.500 pessoas para o Bairro, um contingente cujas exigências estão ajudando a mudar o cenário desta região da cidade. Mas ainda falta muito; a retirada das últimas operacões portuárias que ainda restam no velho porto ainda levará anos e isso faz com que andemos mais lentamente do que esperávamos.
11. A Capes aprovou recentemente um mestrado profissional em engenharia de software que será oferecido pelo Cesar. Mesmo estando perto de um centro formador de mão de obra que é a UFPE, por que assumir também o papel de formar profissionais?
A UFPE é um entre 19 centros de formação de capital humano em tecnologias da informação e comunicação do Grande Recife, onde recentemente a CAPES aprovou, além do mestrado profissional do c.e.s.a.r, um mestrado acadêmico da Universidade de Pernambuco, onde também há um grupo de educadores e pesquisadores competente e dedicado. Nós, c.e.s.a.r, submetemos à CAPES uma proposta de mestrado profissional inovadora, baseada na prática real de engenharia de software dentro de um centro de inovação, acostumado a formar e qualificar empresas de TICs que dependem de métodos, processos, tecnologias e sua gestão. Nosso entendimento é que as pós-graduações clássicas, dos muitos centros de qualidade acadêmica que há no Brasil, não atendem este mercado e, por isso, estamos criando esta pós-graduação no c.e.s.a.r. De nenhuma forma ela se opõe ou se sobrepõe a qualquer outra já existente, mas as complementa, cria mais diversidade institucional... em um país que precisa de uma verdadeira revolução na construção de habilidades para competir no mercado mundial.
12. Pensando no mercado de software como um mercado global, existe uma estratégia de internacionalização do Cesar? Trazer eventos como o Sun Tech Days é parte dela? Sua viagem pela Europa é parte deste projeto?
Sim, existe, e eventos como o Sun Tech Days, o Bridge [British Brazilian discussion group on Entrepreneurship] e muitos outros são parte de tal estratégia, assim como muitas viagens de muitos de nós, daqui do c.e.s.ar, por todo o mundo, dos EUA à China, do Reino Unido a Índia, da Irlanda à Argentina, da Alemanha à Itália, França e Finlândia. Estamos nos articulando pelo mundo afora e esta é uma necessidade permanente; o mndo é uma rede, esta rede é um mundo plano para muitos, já, e fazer parte dela, competitivamente, envolve conexões de muitos tipos e intensidades. Não é porque somos periferia que não somos conectados.
13. No Brasil a maioria das instituições de ensino superior são privadas. Na sua opinião como é possível estimular a inovação também a partir das universidades privadas que via de regra não recebem investimentos do governo para isso como acontece com as universidades públicas? Não se trata de um típico dilema de Colombo: a universidade não faz pesquisa porque não tem investimento e não tem investimento porque não faz pesquisa?
Talvez esta seja uma das mais difíceis equações que o Brasil tem que resolver, do ponto de vista de formação de capital humano sofisticado, nas próximas décadas. Enquanto a política oficial é claramente contra a iniciativa privada, esta já responde por mais de 2/3 dos alunos do ensino superior, participação que só vai aumentar. Ao mesmo tempo, as operações estatais de educação superior não conseguem responder ao desafio da quantidade, pois não têm recursos para tal, e a pequena percentagem que atinge a excelência, que pode eventualmente servir de referência em suas áreas de atuação, depende muito mais do esforço de seus professores e pesquisadores do que da existência de uma política federal ou estadual, de longo curso, para mantê-las. E isto não é uma coisa deste governo federal ou dos governos estaduais atuais, é algo com que nos confrontamos há décadas.
Educação não foi prioridade nas últimas décadas e não tem, hoje, a atenção que deveria ter, principalmente quando se olha para o futuro e se vê que os países, regiões, vão depender cada vez mais de conhecimento, ou seja, gente. Mesmo gente que emigra, que sai dos seus países por falta de oportunidade, dá resultado: os brasileiros que trabalham fora remeterem US$ 6.4 bilhões de dólares para cá, em 2005, 2/3 das receitas de exportação do complexo de soja; devem ser um dos principis componentes da balança comercial... E os engenheiros indianos expatriados tiveram, através de sua rede de contatos, negócios e poder, papel fundamental na criação e evolução da indústria de software indiana.
Nós vamos ter que tratar, cedo ou tarde, educação superior como o mercado que ele se tornou no Brasil. É preciso ordenar o setor, separar a formulação de política do fomento e financiamento, da execução, do acompanhamento e da avaliação, pois é muito difícil para um ministério, como o MEC, exercer a contento todos os papéis ao mesmo tempo. Se fizéssemos um esforço sem reservas ou segundas intenções das partes envolvidas, não seria impossível chegar a uma equeção moderna, eficiente e eficaz para o ensino superior no Brasil, com menos regras, autorizações, avaliações e muito mais ação onde realmente interessa, que é na formação.
Mas não vejo como progredir rapidamente, pois é difícil passar a certa classe de planejadores de governo, especialmente os que cuidam dos caixas, a urgência de mudar os processos educacionais do país para nos tornamos competidores de classe mundial. Por boas que sejam as intenções e competência do pessoal de educação, no governo, eles normalmente discursam ao vazio, em qualquer governo... que normalmente pensa que educar é... inaugurar prédios e "dar" bolsas.
Silvia Lemos Meira
silvio[arroba]cesar.org.br
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