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Estacas de araçazeiro foram coletadas de plantas matrizes com aproximadamente cinco anos de idade e cerca de 80 cm de altura, localizadas no pomar do Departamento de Fitotecnia da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, em Pelotas, RS.
O sombreamento das plantas foi realizado com o auxílio de três túneis (1,0 m de altura por 0,90 m de largura e 6 m de comprimento), cobertos totalmente com telas de polipropileno (Sombrite) com malha comercial de 30, 50 e 70% de sombreamento. Em cada túnel havia 12 plantas, e outro grupo com o mesmo número de plantas foi mantido a pleno sol (0% de sombra).
A coleta do material foi realizada em novembro de 1996, após um ano e oito meses de sombreamento. Foram coletadas três estacas de cada tratamento (doze no total), cada estaca constituindo uma única repetição, de onde foram retiradas amostras de folhas e ramos, que foram pesados e armazenados adequadamente, para análises posteriores de carboidratos solúveis totais, redutores, amido, e fenóis solúveis totais. O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, com três repetições, e para a comparação de médias foi utilizado o teste de Duncan a 5%.
Os teores de carboidratos solúveis totais foram realizados com material fresco, após a extração com etanol 80%, pelo método da antrona (Clegg, 1956). Do resíduo da centrifugação, após a extração dos carboidratos solúveis totais, foi extraído o amido e quantificado, segundo McCready et al. (1950). A quantificação dos carboidratos redutores realizou-se a partir do extrato de carboidratos solúveis totais, segundo a metodologia descrita por Dubois et al. (1956). A análise dos compostos fenólicos totais em água foi realizada pelo método Folin-Denis (Swain & Hillis, 1959), usando floroglicina como padrão.
O aumento da intensidade do sombreamento provocou elevação dos teores de amido nas folhas e tendência à elevação destes no caule, como pode ser observado nas Figs. 1 e 2. Conjuntamente, pode ser observada uma diminuição dos teores de carboidratos redutores no caule e uma diminuição destes nos níveis 50% e 70% de sombreamento, embora não tenham diferido da testemunha para as folhas.
Para a variável carboidratos solúveis totais foi observada uma leve tendência à diminuição desta, à medida que os níveis de sombreamento aumentam para o caule. Não foi verificada influência do sombreamento nessa variável, nas folhas (Fig. 3).
O aumento ocorrido nos teores de amido, nas folhas e caule, pode ser muito importante, pois, segundo Hess (1969), a capacidade de enraizamento está diretamente relacionada com o teor de carboidratos, de maneira que um aumento nos níveis destes, promoveriam maior porcentagem de enraizamento. Poulsen & Andersen (1980), entretanto, afirmam que existe uma exigência diferencial entre espécies quanto aos teores mínimos de carboidratos na estaca, para que ocorra a iniciação das raízes.
Uma vez que ocorreu aumento do teor de amido, que é uma substância de reserva, é possível esperar que estacas submetidas aos níveis mais altos de sombreamento, além de terem maior capacidade de enraizamento, teriam ainda maior resistência em caso de condições adversas (baixas temperaturas, déficit hídrico, etc.) ao enraizamento, fato observado por Voltolini (1996), cujo material sombreado não só teve maior porcentagem de estacas enraizadas e maior número e comprimento de raízes, como também a mortalidade e a queda das folhas foi reduzida.
O teor de compostos fenólicos nas folhas diminuiu significativamente no nível de 70% de sombreamento, em comparação com a testemunha, como pode ser observado na Fig. 4. No caule, foi observada uma tendência de o sombreamento diminuir os teores de compostos fenólicos, se comparados com a testemunha. Esses resultados estão de acordo com o descrito por Herman & Hess (1963), que, trabalhando com Vigna e Hibiscus, encontraram menor conteúdo de compostos fenólicos em tecidos estiolados dessas espécies. Segundo Hansem & Eriksen (1974) e Hartmann & Kester (1990), a redução da luz promove uma alteração do conteúdo de certos inibidores de crescimento naturais e dos compostos fenólicos.
Uma vez que os compostos fenólicos oxidam-se em contato com o oxigênio, esta reação causa a necrose dos tecidos, dificultando o enraizamento. Por esse motivo, a redução de compostos fenólicos no material utilizado para a propagação é de grande importância, principalmente nas espécies da família das mirtáceas, como é o caso do araçá, no qual a morte das estacas pela oxidação dos tecidos pelos compostos fenólicos é um sério problema e tem dificultado a propagação vegetativa. Verifica-se, pois, que o sombreamento é benéfico com relação ao preparo do material que será destinado à propagação vegetativa; porém, estudos complementares são necessários para avaliar qual a melhor porcentagem de sombreamento que proporcionará o melhor acúmulo de substâncias de reserva e redução de compostos fenólicos na espécie em estudo, bem como o melhor nível de enraizamento determinado por essa prática.
1. O aumento do teor de amido obtido em folhas e caules de araçazeiro apresenta uma relação direta com o aumento da porcentagem de sombreamento, sendo mais pronunciado nas folhas.
2. O teor de carboidratos redutores, em folhas e caules de araçazeiro, diminui à medida que aumenta a porcentagem de sombreamento das plantas.
3. O sombreamento não afeta significativamente o teor de carboidratos solúveis totais de folhas e caules de araçazeiro, mas estes apresentam uma pequena redução com a utilização dessa prática.
4. O aumento da porcentagem de sombreamento proporciona uma redução dos teores de compostos fenólicos das folhas e caule de araçazeiro, mas os efeitos são mais pronunciados nas folhas.
João Guilherme Casagrande Junior /2, Valmor João Bianchi /2, Eder Zarnott Strelow /3, Marcos Antonio Bacarin /4 e José Carlos Fachinello /5
vbianchi[arroba]ufpel.tche.br
2. Eng. Agr., Mestrando do curso de Fruticultura de Clima Temperado, FAEM-UFPEL, Caixa Postal 354, CEP 96001-970 Pelotas,RS.
3. Estudante do curso de Agronomia, FAEM-UFPEL. Bolsista do CNPq.
4. Eng. Agr., Dr., Prof. Adjunto, Dep. Botânica, IB-UFPEL, Caixa Postal 354, CEP 96010-900 Pelotas, RS. E-mail: bacarin[arroba]ufpel.tche.br
5. Eng. Agr., Dr., Prof. Titular, Dep. Fitotecnia, FAEM-UFPEL.
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