Artigo original: "Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., Out 2005, vol.57, no.5, p.644-651. ISSN 0102-0935"
Estudou-se o efeito do balanço cátion-aniônico da dieta (BCAD) no desempenho animal e na fermentação ruminal, utilizando-se 25 carneiros machos, da raça Santa Inês, durante 75 dias. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com cinco tratamentos. Para a manipulação do BCAD, foram adicionados sulfato de amônio e bicarbonato de sódio, obtendo-se os seguintes tratamentos: -160, -40, 140, 250 e 500 mEq/kg de matéria seca. O aumento do BCAD resultou em aumentos da ingestão de matéria seca, do ganho diário, da eficiência alimentar e do pH ruminal (P<0,05). O perfil de ácidos graxos ruminais não foi afetado pelo BCAD.
Palavras-chave: ovino, balanço cátion-aniônico, rúmen, matéria seca, pH
The effect of dietary cation-anion balance (DCAB) on dry matter intake, daily weight gain, feed conversion efficiency, rumen pH and rumen volatile fatty acid profile in Santa Ines sheep was studied. Dietary treatments were formulated combining sodium sulphate and sodium bicarbonate in appropriate ratios to achieve DCAB balance of –160, -40, 140, 250 and 500 mEq/kg dry matter. Twenty five male lambs were assigned to the five treatments in a randomized block design for a 75-day feeding trial. Increasing DCAB was associated with increasing voluntary dry matter intake, daily weight gain, feed conversion efficiency and rumen pH (P<0.05); but DCAB did not affect the volatile fatty acid profile in the rumen.
Keywords: sheep, rumen, cation-anion balance, dry matter intake, pH
O balanço cátion-aniônico dietético (BCAD), também conhecido por diferença cátion-aniônica da dieta (DCAD), balanço eletrolítico (BE) ou balanço iônico da dieta (BID), representa a diferença entre os cátions e os ânions fixos totais, presentes na dieta. A maioria dos experimentos calcula o BCAD em mEq de (Na+ + K+) - (Cl- + SO4-) por kg ou 100 gramas de matéria seca. O enxofre, apesar de não ser um íon fixo, é incluído no cálculo do BCAD para ruminantes, pois os sulfatos acidificam diretamente os fluidos biológicos. Esses íons são escolhidos para o cálculo do BCAD por influenciarem o balanço ácido-base apesar de terem influência em outras funções no metabolismo animal (Block, 1994).
A homeostase ácido-base é um fator de fundamental importância em qualquer espécie animal. Para que os processos vitais transcorram normalmente, o pH dos fluidos corporais deve ser mantido entre limites estritos. Pequenas modificações nessa concentração podem causar alterações na velocidade das reações químicas das células. Deve-se corrigir o acréscimo de ácido, ou íon hidrogênio, aos líquidos corporais, já que com o metabolismo há produção constante de ácidos. Em condições normais, há um contínuo acréscimo de ácidos aos líquidos corporais, pela ingestão ou pelo metabolismo celular (Cunninghan, 1999).
O equilíbrio ácido-base tem influência direta no metabolismo animal e, por isso, uma relação intrínseca com desempenho (Miles e Butcher, 1993). Um fator que poderia explicar a relação entre o BCAD e o desempenho é a bomba de Na+ e K+. Esse processo é responsável pelo consumo de aproximadamente 40% da energia de manutenção (Block, 1994). Alterações promovidas pelo BCAD na fermentação ruminal também poderiam explicar a sua relação com o desempenho. Tucker et al. (1988), ao arraçoarem vacas holandesas em lactação, com dietas contendo diferentes níveis de BCAD, concluíram que o pH do líquido ruminal diminuiu com o decréscimo do balanço cátion-aniônico, mas não houve alteração na fermentação ruminal. Vagnoni e Oetzel (1998), ao trabalharem com vacas secas, encontraram decréscimo no pH do líquido ruminal quando da utilização de dietas aniônicas, entretanto a fermentação ruminal não foi alterada.
Vacas em lactação devem ter o BCAD altamente positivo, já que esses ruminantes apresentam altas taxas metabólicas e, portanto, há uma tendência para o ambiente celular tornar-se ácido (Block, 1994). Tucker et al. (1988) sugeriram em vacas lactantes, para o máximo desempenho, que o BCAD esteja entre +200 a +375mEq/kg de matéria seca (MS). Den Hartog et al. (1990) relataram desempenho inferior de vitelos com NaHCO3 e BCAD de +200mEq/kg de MS em relação ao grupo-controle, enquanto o grupo com (NH4) SO4 e BCAD de -100mEq/kg de MS apresentou resultados intermediários. Para bovinos de corte, Ross et al. (1994), ao trabalharem com novilhos Angus em crescimento, concluíram que o melhor desempenho foi conseguido com BCAD de 150 a 300mEq de (Na +K) – (Cl)/kg de MS. Fauchon et al. (1995) observaram que dietas entre 500 e 700 mEq de (Na +K) – (Cl) /kg de MS foram as que apresentaram maior desempenho para ovinos em crescimento. Jackson et al. (2001), em experimento conduzido com bezerros tratados com BCAD de 0 ou 200mEq [(Na+K) – (Cl+S)]/kg de MS, não observaram diferenças no desempenho entre os dois tratamentos.
O trabalho teve por objetivo verificar os efeitos de diferentes relações entre cátions e ânions sobre a ingestão de matéria seca, ganho de peso diário, eficiência alimentar e fermentação ruminal em ovinos da raça Santa Inês.
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