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Fertilização foliar de nitrogênio para laranjeira em estágio de formação (página 2)

Alessandra Fabíola Bergamasco; Fábio Cesar da Silva; Luiz Henrique Antunes

 

MATERIAL E MÉTODOS

Foram realizados dois experimentos com laranjeira Pera (Citrus sinensis Osbeck), enxertadas sobre limoeiro Cravo (Citrus limon L. Burm). Em ambos os experimentos o delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com três repetições.

As plantas empregadas no primeiro experimento foram transplantadas para tambores contendo 25 kg de terra e três meses após as folhas foram pinceladas com solução aquosa contendo 10,3 g kg-1 de N na forma de uréia marcada com 10,82% de átomos de 15N. As plantas foram colhidas 1,5; 3,0; 6,0; 9,0; 12,0; 24,0; 48,0 e 360,0 horas após o momento da aplicação do nutriente. A seguir, as folhas que receberam solução 15N foram lavadas com três porções de água destilada, após serem separadas das plantas. A água usada na lavagem das folhas foi recolhida e acidulada com ácido sulfúrico diluído e posteriormente submetida à análise para determinações de N total e razão isotópica 14N/15N.

No segundo experimento, as mudas de laranjeira, em jacazinho à espera do transplantio para os tambores, receberam adubação foliar com solução nitrogenada (10,3 g kg-1) também na forma de uréia marcada com 10,82% de átomos de 15N. Os tratamentos consistiram de uma, duas, quatro e quatro pulverizações com 15 ml de solução nitrogenada por planta e por vez, obdecendo intervalos de três dias entre as pulverizações. Cinco dias depois da última adubação foliar, as mudas foram tranplantadas para os tambores com 25 kg de terra. As plantas que receberam uma, duas, quatro e quatro aplicações foliares de N na fase de muda foram colhidas aos 75, 120, 160 e 360 dias após o transplantio, respectivamente.

Em ambos os experimentos as plantas foram divididas em folhas, caule (até a junção com o porta-enxerto) e porta-enxerto com todas as raízes, e secas em estufa de ventilação forçada a 65oC, pesadas e moídas. Após digestão sulfúrica das amostras, procedeu-se à determinação do N total pelo método de Kjeldahl. O destilado, após a titulação para se determinar N total, foi acidulado com ácido sulfúrico diluído e posto para secar em estufa a 65oC para análise por espectrometira de massas (Trivelin et al., 1973). Os resultados obtidos foram submetidas à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste F ao nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na TABELA 1 encontram-se os dados relativos à matéria seca e os teores de N das plantas do primeiro experimento. Verifica-se não haver diferenças estatísticas na produção de matéria seca das diversas partes da planta cítrica em função da aplicação foliar de N independentemente da época de colheita. A quantidade de N aplicado (42 mg planta-1 de N), não provocou alterações nos teores médios de N total nas diversas partes da planta.

Embora o teor de N total da folha não tenha sido alterado pela adubação nitrogenada, através da técnica isotópica constata-se que o N aplicado é rapidamente absorvido (TABELA 2). A taxa de absorção aumenta progressivamente com o passar do tempo; 48 horas após a aplicação, 52,2 do N aplicado havia sido absorvido, chegando nessa ocasião a corresponder a 4,77% da quantidade total existente nas folhas. Lea-Cox & Syvertsen (1995), empregando uréia-15N, determinaram que a maior taxa de absorção foliar de N ocorreu nas 48 horas após a adubação foliar, a qual aumentou a concentração de N em 7,5% do total de N existente nas folhas. Estes valores estão próximos aos encontrados em culturas, como por exemplo, para cana-de-açúcar (Trivelin et al., 1988), feijoeiro (Muraoka et al., 1991) e soja (Santiago, 1989); embora maiores valores de recuperação tenham sido observados em algodoeiro (Rosolem et al., 1990).

Parte do N aplicado não foi recuperado na planta. Como as folhas que receberam o N foram lavadas com água destilada, pode-se supor que o N não absorvido foi retirado pela água, como concluiu Lea-Cox & Syvertsen (1995). Na água de lavagem e nas folhas determinou-se o N e encontrou-se apenas 8% da quantidade total aplicada. Somando-se os valores de N recuperados na planta e na água de lavagem, obtém-se uma recuperação total de 60%. Assim fica evidente que 40% do N aplicado nas folhas foi perdido. Rosolem et al. (1990), usando a técnica isotópica, não recuperaram 10% do N aplicado nas folhas do algodoeiro e levantaram a hipótese das perdas terem ocorrido por volatilização de amônia após a adubação foliar com uréia. Marschner (1995) relata valores de perdas de N encontrados na literatura que variavam de 4% (trigo) a 30% (grama azul). Embora a atividade ureolítica das folhas de laranjeiras seja considerada baixa ou média em relação a outras culturas (Hogan et al., 1983), como as perdas de N por volatilização de amônia foram expressivas, pode-se supor que a atividade de outras enzimas envolvidas no processo assimilatório do N devam ser avaliadas quando se deseja estimar o potencial de perdas do N aplicado pela parte aérea da laranjeira. Fatores como a turbulência do ar e a temperatura ambiente, que exercem grande influência sobre o ponto de compensação de amônia, devem também ser considerados (Farquhar et al., 1980, Hartwig & Bockman,1994).

Os resultados obtidos no segundo experimento (TABELA 3) mostraram que o fornecimento de N foliar, nas quantidades utilizadas, independentemente do número de aplicações, foi ineficaz às plantas. As laranjeiras colhidas aos 120, 180 e 360 dias após o transplante mostravam grave sintoma de deficiência de N. Devem ter ocorrido grandes perdas de nitrogênio, na forma gasosa, à semelhança do primeiro experimento.

O peso de matéria seca das folhas aumentou até aos 180 dias após o início do experimento, diminuindo em seguida devido a intensa queda de folhas no período subsequente. Nas plantas testemunhas, a quantidade de folhas que caíram foi relativamente maior do que nas plantas dos tratamentos que receberam adubação foliar.

A quantidade média de N contido na muda antes da adubação foliar foi de 1.263 mg. A adubação foliar forneceu 12, 24 e 48% deste valor, respectivamente, para 1, 2 e 4 aplicações foliares, sendo portanto uma quantidade de N não desprezível e, mesmo assim não ocorreu efeito da adubação foliar sobre o acúmulo de matéria seca e teor de N.

Constatou-se pelos resultados apresentados na TABELA 4 que a recuperação do N aplicado por via foliar nas mudas variou entre 15 e 39%. A recuperação foi dependente do tempo transcorrido após a aplicação e da dose aplicada. Além dos aspectos discutidos anteriormente sobre a volatilização de amônia, resultante da hidrólise enzimática da uréia absorvida pelas folhas, deve-se considerar, também, que a queda de folhas contribui para perdas de N do sistema. Perda de N também pode ocorrer no momento da aplicação e como o N foi aplicado por pulverização foliar, parte deste N pode não ter atingido as folhas.

CONCLUSÕES

Os dados obtidos experimentalmente permitem concluir que:

  • São necessárias 48 horas para que as plantas cítricas, com três meses de idade após o transplantio, absorvam 52% do N aplicado nas suas folhas.
  • A recuperação máxima do N aplicado via foliar em plantas cítricas antes do transplantio foi em torno de 38% dos 75 aos 120 dias após a sua aplicação.
  • Não houve efeito da adubação foliar com N no acúmulo de matéria seca e conteúdo de N da laranjeira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Antonio Enedi Boaretto1; Plácido Schiavinato Neto1; Takashi Muraoka1; Mauro Wagner Oliveira2; Paulo César Ochezue Trivelin3
pcotrive[arroba]cena.usp.br
1 Laboratório de Fertilidade do Solo - CENA/USP, C.P. 96 - CEP: 13400-970 - Piracicaba, SP.
2Depto. de Fitotecnia - UFV, C.P. 308 - CEP: 36571-000 - Viçosa, MG.
3Laboratório de Isótopos Estáveis - CENA/USP.



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