Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 

Emergência de plântulas do pêssego porta-enxerto ‘Okinawa’: influência de períodos de estratificação (página 2)

W. Barbosa

 

MATERIAL E MÉTODOS

Os frutos do pessegueiro ‘Okinawa’ foram colhidos, em outubro de 1986, do campo de produção de sementes da Estação Experimental de Jundiaí (IAC). No laboratório da Seção de Fruticultura de Clima Temperado, em Campinas, os caroços foram extraídos dos frutos e imediatamente quebrados para obtenção das amêndoas. Estas foram mantidas em condições ambientais de laboratório por 96 horas, para desidratação (BARBOSA et al., 1984), e, posteriormente, separadas em amostras uniformes. A desidratação foi efetuada para permitir maior absorção do ácido giberélico (GA3) em solução aquosa.

Testaram-se cinco períodos de estratificação, a saber: 0, 10, 20, 30 e 40 dias. Para cada período de estratificação preestabelecido, foram separados cinco grupos de 30 amêndoas e colocados em béqueres, os quais receberam 10ml da solução do produto Giberellin (Laboratório Abbott, 10% PP), correspondentes a: 0, 5 10, 15 e 20ppm do princípio ativo (GA3). Na solução, adicionou-se o espalhante adesivo Citowett a 0,1%. As amêndoas ficaram imersas por 24 horas nas respectivas soluções do produto, excluindo-se as dos tratamentos-controles, que permaneceram pelo mesmo tempo em água destilada. Em seguida, as amêndoas dos controles foram semeadas em canteiros sob ripado, com 50% de luminosidade. As amêndoas dos demais tratamentos foram submetidos aos respectivos períodos de estratificação, em frigorífico, com temperatura entre 5 a 10ºC. O processo de estratificação das sementes foi o rotineiramente empregado no laboratório da Seção de Fruticultura de Clima Temperado, ou seja, acomodação das amêndoas tratadas com o fungicida. Thiran a 0,5% entre duas camadas de algodão levemente umedecido, em placas de Petri. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, composto de 25 tratamentos e duas repetições de 30 amêndoas cada uma. Após cada período de estratificação, as amêndoas, em suas parcelas individuais, eram retiradas do ambiente frio, contadas as germinadas e todo o grupo semeado à semelhança dos tratamentos-controle.

Realizaram-se observações e contagens semanalmente, por 40 dias após a semeadura, avaliando-se principalmente a porcentagem de emergência e o aspecto das plântulas, além da velocidade de crescimento, sanidade e coloração das folhas

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Efeitos do GA3 Como se pode comprovar pelo quadro 1, as amêndoas tratadas com GA3 e imediatamente semeadas nos canteiros, apresentaram índices de emergência semelhantes ao do controle (ao redor dos 15%), com exceção das do tratamento com 20ppm, que mostraram tendência de melhor emergência. As plântulas desses tratamentos, sem o efeito da estratificação a frio úmido, diferiram das demais do experimento no tocante à anormalidade; não se apresentaram com rosetas, porém tomaram formas ananicantes, com internódios bem curtos e crescimento anormal e lento (Figura 1A). É possível que a aplicação de maiores dosagens do produto possa contribuir para uma quebra da dormência fisiológica mais eficaz das amêndoas, proporcionando, assim, melhor emergência; isso, porém, deverá ser comprovado por novas investigações.

Efeitos da estratificação em associação ao GA3 Os dados do quadro 1 evidenciam que as dosagens maiores de GA3 induziram melhor emergência das plântulas, em especial na estratificação por 10 dias e na dosagem de 20ppm: obteve-se um significativo índice de 66,6%, em relação aos 36,6% do controle. Nesse período de estratificação, o GA3 aparentemente ativou o processo metabólico ou anulou os efeitos dos inibidores de crescimento. Não obstante a boa emergência deste tratamento (10 dias de frio e 20ppm de GA3), o efeito fisiológico do frio não foi suplantado, pois 65% das plântulas se tornaram anômalas, caracterizadas pela presença de rosetas (Figura 1B).

Nem a estratificação por 20 dias, mesmo quando associada às diversas concentrações de GA3, foi suficiente para satisfazer à exigência de frio das amêndoas, pois aproximadamente 15% das plântulas ainda se apresentavam com rosetas; entretanto, nas amêndoas tratadas com 20ppm de GA3 e 20 dias de frio, os sintomas de insuficiência de frio ficaram ocultos nas plântulas de 30 dias após a emergência; logo a seguir, porém, verificou-se uma severa inibição de crescimento e leve incidência de rosetas, da ordem de 14,2%.

Para os períodos de 20, 30 e 40 dias de estratificação com 480, 720 e 920 horas de frio respectivamente, o GA3 aparentemente não se mostrou vantajoso na emergência das plântulas; os números constatados assemelham-se aos dos controles, que já estavam na faixa de 86,6, 96,6 e 100,0% para os 20, 30 e 40 dias de estratificação respectivamente. Aos 30 e 40 dias de estratificação, em todas as dosagens, as amêndoas em geral já se apresentavam com as radículas salientes antes da semeadura. Entretanto, naquelas tratadas com GA3 a 10, 15 e 20ppm, as radículas se mostravam sensivelmente maiores, medindo mais que o dobro em relação às do controle. Neste caso, como no anterior, maiores concentrações de GA3 poderiam ser experimentadas para melhor verificação do seu efeito na germinação das sementes de pêssego.

Quadro 1.
Porcentagem de emergência (E) e de plântulas anormais (A) do pessegueiro porta-enxerto ‘Okinawa’,
de acordo com os períodos de estratificação e dosagens de GA3 a que foram submetidas as sementes.
Dados obtidos após 35 dias da emergência

Períodos de estratificação (dias)

0

10

20

30

40

Concentração

de GA3(ppm)

E

A (1)

E

A 82 (1)

E

A (2)

E

A

E

A

%

0

13,3

100,0

36,6

72,7

86,6

32,0

96,6

0,0

100,0

0,0

5

16,6

100,0

36,6

63,6

83,3

23,1

100,0

0,0

100,0

0,0

10

13,3

100,0

43,3

76,9

93,3

14,3

96,6

0,0

96,6

0,0

15

13,3

100,0

53,3

75,0

96,6

16,0

100,0

0,0

100,0

0,0

20

20,0

100,0

66,6

65,0

93,3

14,2 (3)

100,0

0,0

100,0

0,0

[1] Plântulas com sintomas de ananismo.

[2] Plântulas com sintomas de roseta.

[3] Plântulas com rosetas apicais constatadas 30 dias após a emergência

Para os períodos de 20, 30 e 40 dias de estratificação com 480, 720 e 920 horas de frio respectivamente, o GA3 aparentemente não se mostrou vantajoso na emergência das plântulas; os números constatados assemelham-se aos dos controles, que já estavam na faixa de 86,6, 96,6 e 100,0% para os 20, 30 e 40 dias de estratificação respectivamente. Aos 30 e 40 dias de estratificação, em todas as dosagens, as amêndoas em geral já se apresentavam com as radículas salientes antes da semeadura. Entretanto, naquelas tratadas com GA3 a 10, 15 e 20ppm, as radículas se mostravam sensivelmente maiores, medindo mais que o dobro em relação às do controle. Neste caso, como no anterior, maiores concentrações de GA3 poderiam ser experimentadas para melhor verificação do seu efeito na germinação das sementes de pêssego.

Efeitos da estratificação – O experimento confirmou que um determinado período de frio úmido é indispensável à quebra de dormência fisiológica das amêndoas do ‘Okinawa’: pois aquelas que não o receberam apresentaram baixa germinação e cerca de 100% das plântulas resultantes mostraram sintomas de ananismo (Figura 1A). A estratificação por 10 e 20 dias provou ser insuficiente para eliminar esses sintomas de anormalidade; apesar da ativação do processo metabólico das amêndoas, denotada pela boa emergência, especialmente com 20 dias de frio, mais de 30% das plântulas obtidas ainda se apresentavam com aberrações foliares (Figura 1B).

Os dados mostram que os melhores períodos de estratificação para o ‘Okinawa’ estão próximos ou pouco acima dos 30 dias. Nessa fase, as amêndoas fisiologicamente maduras estão aptas à adequada germinação e emergência e, conseqüentemente, a proporcionar plântulas de aspecto normal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • AMORIM, H.V. Respiração. In: FERRI, M.G. Fisiologia Vegetal. São Paulo, EPU/Ed. da Universidade de São Paulo, 1979. v.1, p.249-277.
  • BARBOSA, W.; DALL’ORTO, F.A.C. & OJIMA, M. Relação entre precocidade de maturação e desidratação das sementes de pêssego. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, 19(3):337-339, 1984.
  • ____________; TOMBOLATO, A.F.C.; DALL’ORTO, F.A.C.; OJIMA, M.; RIGITANO, O. & MARTINS, F.P. Conservação de sementes de pêssegos para produção de porta-enxertos. Campinas, Instituto Agronômico, 1986. 12p. (Boletim Técnico, 104).
  • BIGGS, R.H. Germination of ‘Okinawa’ peach seeds under the conditions of Florida. Proceedings of the Florida State for Horticultural Society, 79:370-373, 1966.
  • BONAMY, P.A. & DENNIS JUNIOR, F.G. Abscisic acid levels in seeds of peach. II. Effects of stratification temperature. Journal of the American Society for Horticultural Science, 102(1):26-28, 1977.
  • DIAZ, D.A. & MARTIN, G.C. Peach seed dormancy in relation to endogenous inhibitors and applied growth substances. Journal of the American Society for Horticultural Science, 97(5):651-654, 1972.
  • DONOHO JUNIOR, C.W. & WALKER, D.R. Effect of gibberellic acid on breaking of rest period in ‘Elberta’ peach. Science, Washington, D.C. 126(3):1178-1811, 1979.
  • MENTEN, J.O.M.; LORDELLO, M.G.E.; DALL’ORTO, F.A.C.; OJIMA, M. & RIGITANO, O. Resistência varietal do pessegueiro (Prunus persica Batsch) aos nematóides M. incognita e M. arenaria. In: REUNIÃO DE NEMATOLOGIA, 2., Piracicaba, 1976. Anais. Piracicaba, Sociedade Brasileira de Nematologia, 1977. p.165-174.
  • METIVIER, J.R. Dormência e germinação. In: FERRI, M.G. Fisiologia Vegetal. São Paulo, EPU/Ed. da Univ. de São Paulo, 1979. v.2, p.343-392.
  • OJIMA, M. & RIGITANO, O. Estudo de germinação de sementes de pêssego (Prunus persica Batsch) de diversas variedades. Bragantia, Campinas, 27:XLI-XLV, 1968. (Nota 11).
  • _________; DALL’ORTO, F.A.C. & RIGITANO, O. Mudas precoces de pessegueiros. Campinas, Instituto Agronômico, 1977. 13p. (Boletim Técnico, 45).
  • RIGITANO, O.; OJIMA, M. & DALL’ORTO, F.A.C. Comportamento de novas seleções de pêssegos introduzidos da Flórida. Campinas, Instituto Agronômico, 1975. 12p. (Circular, 46).
  • SHARPE, R.H. Okinawa peach shows promising resistance to root-knot nematodes. Proceedings of the Florida State for Horticultural Society, 70:320-322, 1957.
  • TUKEY, H.B. & CARLSON, R.F. Morphological changes in peach seedlings following after-ripening treatments of the seeds. Botanical Gazete, 106:431-440, 1945.

Wilson Barbosa; Fernando Antonio Campo-Dall’Orto; Mário Ojima, Fernando Picarelli Martins Orlando Rigitano
wbarbosa[arroba]iac.sp.gov.br



 Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.