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Um experimento foi delineado para determinar os efeitos da monensina na dieta sobre a idade e peso na puberdade de novilhas de corte mestiças de Bos Taurus, dividindo-se os animais em dois grupos: um de novilhas mais leves e outro com novilhas mais pesadas. Utilizou-se três tratamentos, sendo um controle que continha 80% de forragem e 20% de concentrado; o segundo com a mesma dieta mais 200 mg/cabeça de monensina, restringindo-se o alimento para se obter o mesmo ganho de peso do tratamento um e o terceiro igual ao segundo liberando a ingestão. Esse estudo indicou que a idade à puberdade foi significativamente diminuída nas novilhas alimentadas com monensina, não aumentando o peso corporal (MOSELEY et al., 1982).
Dados de desempenho de aproximadamente 16.000 cabeças de gado foram sumarizados e utilizados para documentar os efeitos da monensina em bovinos alimentados à vontade. Os animais que receberam monensina na dieta obtiveram ganho superior de 1,6%, consumiram 6,4% menos e requereram 7,5% menos alimento/100 kg de ganho que os animais alimentados com a dieta controle. Monensina resultou em melhora na eficiência alimento/ganho de 2,9 Mcal de energia metabolizável (EM/kg de MS da dieta). A média de monensina utilizada nos experimentos foi de 31,8 ± 7,5 mg/kg MS. Concentrações altas de monensina não melhoraram a conversão alimentar, quando comparadas com níveis mais baixos do produto, segundo GOODRICH et al. (1984).
Noventa novilhas Brangus foram estratificadas de acordo com peso e idade e distribuídas aleatoriamente em um tratamento controle com 80% de feno de alfafa e 20% de uma mistura concentrada, um segundo tratamento continha a dieta controle com 200 mg de monensina/ cabeça/ dia e um terceiro com dieta de 50% de feno de alfafa e 50% de concentrado. Análises de ácidos graxos voláteis foram feitas com 80 dias de experimento em vários horários, ocorrendo aumento no ácido propriônico para os tratamentos 2 e 3 e redução do ácido acético. As novilhas com elevado valor de ácido propriônico alcançaram idade à puberdade 29,5 dias antes com 17,2 kg a menos que o controle. A redução da idade à puberdade observada neste estudo indica que pode ocorrer aumento significativo na porcentagem de novilhas em condições de serem emprenhadas para parir com 24 meses de idade (McCARTOR et al., 1979).
O objetivo do presente trabalho foi avaliar resultados de desempenho de bezerras holandesas leiteiras de reposição em crescimento, utilizando-se monensina, a fim de se obterem respostas do seu uso nas criações em condições climáticas tropicais e possível melhora na eficiência de produção.
O experimento constou de dois tratamentos, sendo um controle (C) e outro com suplementação de monensina (M), com 16 animais por tratamento, com peso médio de 84 kg e 70 dias de idade. Os animais entraram no experimento logo após o desmame e permaneceram durante quatro meses em coleta de dados. Os animais receberam silagem de milho misturada com concentrado e feno de coastcross. Uma amostra de ração foi coletada mensalmente para análise bromatológica, segundo a ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS - AOAC (1985). A monensina utilizada foi obtida do produto comercial Rumensim (Elanco), administrada individualmente e diariamente em cápsulas de gelatina com aplicador esofágico. Os animais passaram por um período de adaptação ao ionóforo, durante uma semana, com administração de 0,25 g de Rumensim, a partir da segunda semana os animais começaram a receber cápsulas de 0,5 g de Rumensim, até completar dois meses de experimento, e 1,0 g do produto, nos dois últimos meses. Os animais permaneceram em três piquetes de 45x12 m, sendo que dois piquetes continham 11 animais e o outro dez animais, possuindo coxos cobertos e um pequeno curral de contenção. Foram analisados os seguintes parâmetros: ganho de peso, média de ingestão alimentar, conversão alimentar, altura de cernelha, perímetro torácico, comprimento corpóreo e glicose sangüínea.
Os animais foram pesados, medidos e tiveram seu sangue amostrado da jugular mensalmente. O consumo alimentar foi controlado uma vez por mês em três dias consecutivos e, diariamente, foram realizadas observações gerais quanto ao estado de saúde dos animais.
O delineamento estatístico foi inteiramente casualisado e os dados analisados por intermédio do programa computacional SAS, sendo testada previamente a homogeneidade das variâncias e normalidade dos resíduos e posteriormente analisados como medidas repetidas no tempo, pelo PROC GLM. Foram utilizados os dados do dia zero como co-variável para as variáveis peso vivo, altura na cernelha, perímetro torácico, comprimento corpóreo e glicose sangüínea. Nível de significância de 5% foi adotado em todos os testes.
A composição bromatológica da ração fornecida encontra-se na Tabela 1 e o consumo de matéria seca durante o experimento, na Tabela 2. Pode-se verificar o aumento da ingestão de matéria seca com o avançar do tempo, em conseqüência do crescimento dos animais.
Para a variável de peso vivo foi encontrado efeito significativo no tempo (P<0,006), mostrando uma curva linear crescente, observando-se também um resultado significativo entre os tratamentos em 90 dias (P<0,0072, CV = 6,54) e 120 dias (P<0,0036, CV = 9,74) de experimentação. Os animais submetidos ao tratamento com monensina apresentaram, nestes dois períodos, maior peso vivo em comparação aos do controle, com aumento de 3,4% em 90 dias e 7,4% aos 120 dias, mostrado na Figura 1. O ganho de peso durante todo o período experimental também foi maior para os animais suplementados com monensina (P<0,0007, CV = 16,87), comparado com os animais controle, observando-se aumento de 26,56% de ganho para os animais suplementados (Figura 2).
Os valores encontrados para altura na cernelha (Figura 3) mostraram tendência a um efeito no tempo (P<0,0697), não apresentando diferença entre os tratamentos nos períodos amostrados, apenas tendência (P<0,0657) aos 90 dias de experimento, mostrando maior altura para os animais controle, mas este efeito não foi observado aos 120 dias de experimento.
Os valores de perímetro torácico não mostraram efeito no tempo (P<0,2489), mas sim um efeito significativo entre os tratamentos nos períodos 90 dias (P<0,0082, CV = 2,33) e 120 dias (P<0,0044, CV = 3,64) e tendência no período de 60 dias (P<0,0835, CV = 2,32) de experimentação. Os animais suplementados com monensina apresentaram para estes dois períodos maior perímetro torácico em comparação com o controle, com aumento de 2,55% no perímetro no período de 120 dias (Figura 3). Para a variável comprimento não foi observada diferença no tempo (P<0,1863) e entre os tratamentos (P<0,4087), conforme ilustrado na Figura 3.
Existem trabalhos mostrando o efeito da suplementação de monensina em novilhas e novilhos, apresentando valores superiores de desempenho. BOLING et al. (1977), avaliando o efeito da monensina em novilhos em crescimento e terminação, observaram maior ganho nos animais suplementados com monensina, encontrando ganhos de até 32,7% superior ao tratamento controle com a dose de 50 mg de monensina/animal/dia, para animais em crescimento da raça Angus. Neste experimento, o ganho de 26,5% superior proporcionado pela adição de monensina em relação ao controle, pode ser considerado relativamente alto no desempenho de animais suplementados.
Já THOMAS et al. (1993), em um conjunto de experimentos envolvendo um total de 590 novilhas de raça leiteira, observaram maior ganho de peso com a adição de monensina, em que os animais suplementados apresentaram melhora de 9,8% no ganho, comparados com os animais sem suplementação, resultado inferior comparado com o obtido neste trabalho, mas mesmo assim mostrando aumento para os animais suplementados com o ionóforo. Resultados mais próximos a este experimento de ganho de peso foram obtidos por POTTER et al. (1976), trabalhando com animais de corte alimentados com forragens, que encontraram aumento de 17% no ganho de peso e também melhora de 20% na eficiência alimentar com suplementação de 200 mg de monensina, e BAILE et al. (1981), trabalhando com novilhas Holandesas, que obtiveram 15% de aumento no ganho de peso.
A energia para ruminantes é largamente derivada de produtos da digestão microbiana dos alimentos no rúmen, vindos deste processo, os ácidos graxos acético, propiônico e butírico. Destes, o propiônico serve como a maior fonte de energia em suporte ao crescimento corporal para desenvolvimento de novilhas de reposição (THOMAS, 1993). Segundo MEDEL et al. (1991), a observação das trocas dos padrões ruminais de fermentação pela monensina, a favor do ácido propiônico, proporciona aumento da taxa de crescimento e resposta endócrina precoce, aparentemente influenciando os mecanismos reguladores da puberdade em novilhas suplementadas com monensina.
MOSELEY et al. (1982), trabalhando com novilhas de corte suplementadas com monensina, também encontraram maior ganho de peso, da ordem de 290 g animal/dia, sendo que, neste trabalho, as novilhas holandesas obtiveram média de ganho de 170 g/animal/dia. Observaram, também, diminuição na idade à puberdade para as novilhas suplementadas com o ionóforo, sugerindo que esta diminuição na idade foi obtida talvez pela precoce maturação do sistema endócrino, responsável pela puberdade ter ocorrido mais cedo. Isto leva à hipótese de uma relação entre o começo da puberdade e os processos de fermentação, metabolismo energético e do sistema endócrino.
Os resultados de glicose sangüínea mostraram efeito significativo no tempo (P<0,0126), mas não foi observado diferença entre os tratamentos (P<0,7800) em nenhum dos períodos de coleta (Figura 4). A variação no tempo pode ter sido causada pelo horário de alimentação dos animais, uma vez que as coletas foram realizadas todas em um mesmo período, devido a um horário restrito de retorno do material coletado ao laboratório. A coleta foi realizada algumas vezes com os animais ainda em alimentação, o que pode ter interferido nos resultados dos períodos de 30 e 60 dias. Como conseqüência da presença de monensina, altera-se a proporção de ácidos graxos voláteis no rúmen, aumentando o propionato, principal precursor da glicose. Sendo este eficiente precursor de glicose, obtém-se maior utilização de aminoácidos para síntese de proteína, devido à diminuição da utilização destes para gliconeogênese. O aumento da via metabólica de produção de propionato diminui a produção de metabólitos intermediários utilizados na produção do metano, o que representa ineficiência na utilização da energia do alimento (MEDEL et al., 1991). Entretanto, neste experimento, não foi possível detectar diferenças significativas nas taxas de glicose sangüínea entre os tratamentos.
A monensina promoveu maior crescimento em novilhas de reposição, podendo proporcionar maior desenvolvimento, levando à precocidade reprodutiva e produtiva.
Agradecimento
À Empresa Agrindus, por ter permitido a realização deste trabalho em suas instalações e com seus animais; à Empresa Elanco, pelo fornecimento do produto Rumensin; e à Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos - USP, pelo financiamento do material utilizado por este experimento.
ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS - AOAC. 1985. Official methods of analysis. 13.ed. Washington: AOAC. p.1-38.
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Márcia Saladini Vieira Salles2, Marcus Antonio Zanetti3, Renata Maria Consentino Conti4, César Gonçalves de Lima5 - mzanetti[arroba]usp.br
1 FZEA-USP.
2 Doutoranda FCF-USP. E.mail: saladini[arroba]usp.br
3 Prof. Titular FZEA-USP. E.mail: mzanetti[arroba]usp.br
4 Mestranda FZEA-USP. E.mail: reconti[arroba]abelha.zoot.usp.br
5 Prof. Dr., Estatístico, FZEA-USP. E.mail: cegdlima[arroba]usp.br
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