Efeito da temperatura e cama do aviário na virulência de Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae

Enviado por Sérgio B. Alves


Efeito da temperatura e cama do aviário na virulência de Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. e Metarhizium anisopliae (Metsch.) para o controle do cascudinho (Alphitobius diaperinus) (Panzer) (Coleoptera: Tenebrionidae)

Effect of temperature and poultry litter in Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. and Metarhizium anisopliae (Metsch) Virulence against the lesser mealworm Alphitobius diaperinus (Panzer) (Coleoptera: Tenebrionidae)

 

RESUMO

O estudo avaliou a influência da temperatura e de cama nova e usada na germinação, crescimento vegetativo, virulência e produção de conídios de isolados de Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. e Metarhizium anisopliae (Metsch.) sobre larvas e adultos do cascudinho Alphitobius diaperinus (Panzer). O crescimento vegetativo e a produção de conídios foram avaliados em meio de cultura. Para a avaliação da virulência os insetos foram tratados com suspensões contendo 1 x 108 conídios/ml. Os experimentos foram realizados em câmara B.O.D. (26ºC e 32ºC e 14h de fotofase). Diariamente os insetos mortos foram coletados para quantificação da produção de conídios. Para avaliação das camas, após a inoculação, insetos foram transferidos para recipientes contendo cama de aviário (nova e usada). Os isolados de B. bassiana foram mais sensíveis à temperatura elevada em relação aos isolados de M. anisopliae no que se refere à viabilidade, crescimento vegetativo e virulência (P < 0,05). A conidiogênese também foi maior para B. bassiana a 26ºC (7 a 11 x 108 conídios/cadáver larval e 8 x 108 conídios/cadáver adulto) (P < 0,05). O estágio larval foi, em média, cerca de 10 vezes mais suscetível aos isolados de M. anisopliae, a 26ºC, que os adultos. Em relação a B. bassiana, não foi observada diferença na suscetibilidade entre larvas e adultos nessa temperatura. Entretanto, a suscetibilidade a 32°C foi maior para as larvas, com os isolados CB116 e UEL50. A maior mortalidade ocorreu quando larvas e adultos foram tratados com B. bassiana e mantidos sobre a cama nova e a 26ºC (15,7% e 66,7%, respectivamente) (P < 0,05).

Palavras-chave: Fungo entomopatogênico, controle microbiano, produção animal

 

ABSTRACT

This study was carried out to evaluate the influence of temperature and poultry litter on germination vegetative growth virulence and conidial production of Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. and Metarhizium anisopliae (Metsch.) isolates on larvae and adults of the lesser mealworm (Alphitobius diaperinus) (Panzer). The vegetative growth and conidial production were evaluated on culture media. Virulence was studied submerging larvae and adults in a conidial suspension (1 x 108 conidia/ml). All the experiments were carried out in growth chamber (26ºC and 32ºC and 14h photophase). Fungus-killed insects were daily collected and used for microscopic conidial counts. The poultry litter effect was evaluated by submerging the insects in a fungal suspension (108 conidia/ml) and then transferring them to cups containing poultry litter (new and used). B. bassiana isolates were more sensitive than M. anisopliae to high temperature because conidia viability, vegetative growth and virulence were negatively affected (P < 0,05). The conidial production was higher to B. bassiana in 26ºC (7 to 11 x 108 conidia/larval cadaver and 8 x 108 conidia/adult cadaver) (P < 0,05). Larval stage was about 10 times more sensitive to M. anisopliae at 26ºC than adults stage. Regarding B. bassiana, differences on sensitivity between larval stages and adults were not observed at this temperature. However, at 32ºC, larval stage was more sensitive for CB116 and UEL50 isolates. Mortality was higher when larvae and adults (15.7 and 66.7% respectively) were treated by B. bassiana and maintained on new poultry litter at 26ºC) (P < 0,05).

Key words: Entomopathogenic fungus, microbial control, animal production

 

O besouro Alphitobius diaperinus (Panzer), conhecido como cascudinho, é um dos grandes problemas da avicultura mundial e, embora seja conhecido como praga secundária de farinhas, rações e derivados de grãos armazenados, adaptou-se às condições dos aviários, onde se alimenta de ração, fezes e de animais mortos (Mcallister et al. 1995). Estes insetos podem causar perdas econômicas à avicultura por afetarem o desenvolvimento inicial das aves, pois são ingeridos em grande quantidade no lugar da ração balanceada, podendo afetar o ganho inicial de peso, além de causar ferimentos no trato digestivo. São também fonte de inóculo e potenciais transmissores de bactérias, vírus, fungos, protozoários e platelmintos parasitos (Vaughan & Turner 1984, Avancini & Ueta 1991, Despins & Axtell 1995, Mcallister et al. 1995, Chernaki-Leffer et al. 2002).

A limpeza freqüente do aviário, com remoção da cama após a retirada dos animais, é uma das formas de reduzir o número de insetos, embora seja cara e trabalhosa (Steelman 1996). Assim, o uso de inseticidas químicos e o manejo do ambiente são os mais adequados e utilizados pelos produtores, pois os inseticidas podem ser aplicados diretamente no piso, paredes e colunas do aviário, após a limpeza (Axtell & Arends 1990). Contudo, pelo fato de serem tóxicos também às aves, os tratamentos devem ser feitos somente ao final do ciclo de criação, o que limita essa tática de controle.

O controle biológico pode ser uma alternativa viável, principalmente pela segurança às aves, pois fungos, vírus, bactérias e nematóides entomopatogênicos são considerados seguros tanto para o homem como para o ambiente (Pereira & Alves 1998). Além disso, a permanência desses organismos no ambiente é potencialmente maior do que a dos produtos químicos (Crawford et al. 1998).

Especificamente em relação ao cascudinho, a ocorrência natural de fungos entomopatogênicos em populações do inseto em aviários, já foi registrada nos EUA por Steinkraus et al. (1991), que relataram epizootias de Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. No Brasil, Alves et al. (2004, 2005) isolaram Metarhizium anisopliae (Metsch.) e Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. de adultos do cascudinho. A suscetibilidade de larvas e adultos do inseto a tais fungos entomopatogênicos foi demonstrada em trabalhos realizados em condições de laboratório, tanto no Brasil, como em outros países (Crawford et al. 1998, Geden et al. 1998, Alves et al. 2004, Chernaki-Leffer 2004).

A presença de propágulos de um patógeno virulento sobre um hospedeiro suscetível não garante sua colonização. São as condições do ambiente que permitem ou não a germinação e posterior colonização do hospedeiro pelo patógeno (Alves & Leucona 1998). Entre elas, destacam-se nos aviários, a temperatura, o pH da cama, a presença natural de amônia e de outras substâncias químicas e microrganismos saprofíticos, além da eventual ocorrência de inseticidas, desinfetantes e antibióticos utilizados no manejo dos aviários. Ainda segundo Alves & Leucona (1998), a temperatura afeta a estabilidade dos patógenos durante o armazenamento e também seu ciclo de desenvolvimento sobre o hospedeiro. De modo geral, a faixa favorável de temperatura para a aplicação de entomopatógenos no campo está entre 20°C e 30°C, porém existe uma temperatura ideal para cada fase do ciclo das relações patógeno-hospedeiro. Como os microrganismos não possuem mecanismos biológicos de defesa contra grandes variações de temperatura, esse fator pode ser limitante, direta ou indiretamente, para a maioria dos entomopatógenos, incluindo-se os fungos.

Estudos realizados em Cascavel, PR, visando conhecer a dinâmica populacional do cascudinho em aviários comerciais, indicam que a maior concentração de larvas e adultos do inseto se deu no terço anterior do aviário, região permanentemente ocupada pelas aves durante todo o seu crescimento onde a oferta de alimento é grande e constante. Nesta região a temperatura média na cama é de cerca de 30°C. Nos dois terços posteriores do aviário a temperatura média registrada é de 26°C e, à medida que as aves crescem e se dispersam pelo aviário, os insetos acompanham esse deslocamento (Uemura 2004, não publicado).

Assim, como forma de auxiliar futuros trabalhos de campo visando o controle do cascudinho com aplicação de fungos entomopatogênicos, desenvolveu-se a pesquisa com o objetivo de determinar o efeito da temperatura sobre a viabilidade, crescimento vegetativo, virulência e produção de conídios de isolados de B. bassiana e M. anisopliae, previamente selecionados para o controle do inseto e o efeito da cama nova e usada na eficiência de B. bassiana contra larvas e adultos do cascudinho.

A escolha das temperaturas para os experimentos não foi feita priorizando o melhor desenvolvimento dos fungos, mas sim as condições reais de sua futura aplicação nos aviários, como condição fundamental para o controle da praga em questão.

 


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