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Efeito do processamento e nível de proteína em dietas com milho e soja no desempenho de leitões desm (página 2)

J. A. Moreira; D. M. S. S. Vitti; J. B. Lopes; M. A. Trindade Neto

 

Introdução

Em média, o leitão lactente mama 16 vezes ao dia e a substituição satisfatória desse alimento, altamente nutritivo e digestivo, por dietas à base de cereais constitui-se no maior desafio na nutrição de suínos após o desmame (Aherne, 1990). Na alimentação do leitão desmamado, o milho e a soja são as principais fontes protéicas e energéticas de origem vegetal utilizadas. No entanto, como ocorre na forma natural, a presença do amido no milho e dos fatores antinutricionais (FAN) na soja desencadeiam distúrbios digestivos e sérios danos ao epitélio intestinal do leitão após o desmame (Shields Junior et al., 1980; Li et al., 1990). Tais efeitos prejudiciais, todavia, podem ser atenuados pelo cozimento, extrusão, micronização, irradiação e outros (Poel et al., 1989; Liener, 1994; Kaankuka et al., 1996). Não obstante, os resultados obtidos com o milho ou com a soja submetidos aos diversos tipos de processamentos são contraditórios.

Herkelman et al. (1990), avaliando a temperatura e o tempo de processamento entre o milho extrusado e o milho no estado natural verificaram que o método de extrusão permitiu aumento substancial na utilização de energia do milho por leitões desmamados. Moreira et al. (1994b) ao extrusarem o milho e utilizá-lo em rações fareladas não verificaram vantagens no desempenho de leitões entre 21 e 42 dias de idade. Resultados semelhantes foram constatados por Barbosa et al. (1999) em leitões com 6,5 kg de peso vivo, sugerindo que o baixo efeito do milho pré-gelatinizado poderia estar relacionado ao processamento inadequado na preparação do ingrediente.

Estudando alternativas para a substituição da proteína láctea em dietas destinadas a leitões desmamados aos 21 dias de idade, Li et al. (1990) observaram que o farelo de soja produzia efeitos deletérios no trato digestivo, com implicações negativas no desempenho. Por meio da extrusão, Friensen et al. (1993) constataram que a soja e subprodutos propiciaram desempenho dos leitões semelhante ao causado pelo farelo de soja. Utilizando método industrial, Sohn et al. (1994) concluíram que o processamento da soja integral permitiu aos leitões desmamados aos 21 dias de idade desempenho semelhante aos alimentados com produtos lácteos. Com o cozimento da soja integral, Kaankuka et al. (1996) obtiveram resultados satisfatórios em relação ao uso do farelo de soja nos leitões em idade de creche. Comparando diversas rações em leitões dos 21 aos 42 dias de idade, Barbosa et al. (1999) concluíram ser inviável a utilização de soja integral processadas a vapor e a seco, comparadas ao farelo de soja.

Além das implicações digestivas e fisiológicas no desdobramento do milho e da soja, a combinação das características dos ingredientes e o nível protéico da dieta são importantes fatores na alimentação do leitão pós-lactante. Contudo, os resultados e conclusões de diversos estudos com diferentes tipos de dietas e níveis protéicos em relação aos leitões desmamados são divergentes.

Assim, Harrison et al. (1989), Brudevold & Soulthern (1994), Trindade Neto et al. (1994) e Hannas et al. (2000) observaram que o nível protéico da dieta pode afetar o desempenho do leitão, nos períodos subseqüentes ao desmame.

Combinando ingredientes na distinção entre dietas, Tokach et al. (1990), Lepine et al. (1991) e Mahan & Newton (1993) verificaram que a inclusão acima de 25% dos produtos lácteos foi determinante na distinção dos resultados, quando avaliaram o desempenho de leitões após o desmame. Por sua vez, Trindade Neto et al. (1994), Berto et al. (1997), Carvalho (1998) e Mascarenhas et al. (1999) não observaram diferenças significativas com relação à mesma categoria de suínos ao incluírem níveis menores dos produtos.

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de dietas à base de milho e soja, processados de diferentes formas e com diferentes níveis de proteína, no desempenho de leitões.

Material e Métodos

Foram realizados dois experimentos na unidade de creche do Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, SP. Em cada experimento foram usados 80 leitões provenientes de cruzamentos entre reprodutores e matrizes comerciais, machos castrados e fêmeas, desmamados aos 20 e 18 dias de idade, com respectivos pesos iniciais de 5,3±0,89 kg e 4,7±0,54 kg, no primeiro e segundo experimentos, respectivamente.

O delineamento experimental usado, nos dois experimentos, foi o de blocos ao acaso, em esquema fatorial 2x2, com cinco repetições por tratamento e quatro animais por parcela. Os animais ficaram alojados em baias de 2,0x1,0 m, construídas em estrutura metálica, suspensas a 80 cm do chão, com piso de plástico vazado e comedouros semi-automáticos, localizadas em prédio de alvenaria com pé-direito de 3,4 m, janelas laterais do tipo vitral e três ventiladores para controlar o arejamento interno.

Os tratamentos constituíram-se de dois tipos de processamento de milho e de soja (como fonte protéica) no primeiro experimento, e de dietas com ou sem produtos lácteos e com dois níveis protéicos, no segundo experimento.

No primeiro experimento, foram utilizados o milho comum e o pré-gelatinizado, produto utilizado comercialmente na alimentação de leitões, e as fontes protéicas farelo de soja e soja integral macerada (imersão em água corrente por 12 horas). A soja integral macerada testada era de qualidade inferior e apresentava solubilidade protéica (66%) abaixo dos padrões da Associação Nacional dos Fabricantes de Rações.

No segundo experimento, dietas à base de milho pré-gelatinizado e de soja integral macerada continham ou não produtos lácteos e eram formuladas com 15% e 18% de proteína bruta (PB).

Os ingredientes empregados nas dietas foram analisados no Laboratório de Bromatologia do Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa.

A soja integral macerada continha 20,41% de extrato etéreo (EE) e sua inclusão nas dietas permitiu níveis de EE superiores aos encontrados na literatura para as atividades enzimáticas no trato digestivo dos leitões nas fases de vida estudadas (Lindemann et al., 1986; Cera et al., 1988).

O palatabilizante continha 90% de matéria seca: 15,2% de PB, 3.420 kcal/kg de energia metabolizável (valor estimado), 0,54% de Ca, 0,39% de P total (Pt) e 0,12% de P disponível (Pd). As dietas do primeiro (Tabela 1) e do segundo experimento (Tabela 2) foram formuladas com base no National Research Council (1998), permitindo-se a deficiência marginal de alguns aminoácidos. Alimentação e água foram fornecidas à vontade em comedouros semi-automáticos e bebedouros do tipo chupeta.

Tabela 1.
Composição centesimal das dietas oferecidas aos leitões desmamados aos 20 dias de idade, dos 20 aos 41 dias de idade (fase 1) e dos 42 aos 55 dias de idade (fase 2) no primeiro experimento(1).

(1)MCFS: milho comum e farelo de soja; MPGFS: milho pré-gelatinizado e farelo de soja; MCSIM: milho comum e soja integral macerada; MPGSIM: milho pré-gelatinizado e soja integral macerada. (2)Atividade ureática: 0,02; solubilidade protéica em KOH 0,2%: 66,0; inibidor de tripsina UTI/mg de amostra e hemaglutinina UH/mg amostra não encontrados. (3)Quantidades/kg de ração: vitamina A, 9.000 UI; vitamina D3, 1.800 UI; vitamina E, 18 mg; vitamina K3, 1,2 mg; vitamina B1, 1,4 mg; vitamina B2, 4 mg; vitamina B6, 1,4 mg; vitamina B12, 18 μg; niacina, 30 mg; αcido pantotênico, 12 mg; ácido fólico, 0,4 mg; biotina, 0,1 mg; colina, 300 mg; promotor de crescimento, 76 mg; antibiótico, 66 mg; antioxidante, 100 mg. (4)Quantidade/kg de ração: Fe, 80 mg; Cu, 12 mg; Mn, 70 mg; Zn, 100 mg; I, 1 mg; Se, 0,12 mg. (5)Oxitetraciclina na fase 1 e fosfato de tilosina na fase 2. (6)Valores determinados no Laboratório de Bromatologia _ IZ, Nova Odessa, SP.

Tabela 2.
Composição centesimal das dietas oferecidas aos leitões desmamados aos 18 dias de idade, dos 18 aos 39 dias de idade (fase 1) e dos 40 aos 53 dias de idade (fase 2) no segundo experimento(1).

(1)CPL 18: dieta com produtos lácteos e 18% de PB; SPL 18: dieta sem produtos lácteos e 18% de PB; CPL 15: dieta com produtos lácteos e 15% de PB; SPL 15: dieta sem produtos lácteos e 15% de PB; os produtos lácteos foram incluídos na proporção de 25% na fase 1 e de 10% na fase 2. (2)Atividade ureática, 0,02; solubilidade protéica em KOH 0,2%, 66,0; inibidor de tripsina UTI/mg de amostra e hemaglutinina UH/mg amostra não encontrados. (3)Quantidade/kg de ração: vitamina A, 9.000 UI; vitamina D3, 1.350 UI; vitamina E, 18 mg; vitamina K3, 1,6 mg; vitamina B1, 1,4 mg; vitamina B2, 4 mg; vitamina B6, 1,4 mg; vitamina B12, 18 μg; niacina, 30 mg; αcido pantotκnico, 12 mg; ácido fólico, 0,4 mg; biotina, 0,1 mg; colina, 300 mg; promotor de crescimento, 76 mg; antibiótico, 66 mg; antioxidante, 100 mg. (4)Quantidade/kg de mistura: Fe, 80 mg; Cu, 12 mg; Mn, 70 mg; Zn, 100 mg; I, 1 mg; Se, 0,12 mg. (5)Oxitetraciclina na fase 1 e fosfato de tilosina na fase 2. (6)Valores determinados no Laboratório de Bromatologia _ IZ, Nova Odessa, SP.

No primeiro e no segundo experimento, o desmame ocorreu, respectivamente, no 20º e 18º dia de idade dos leitões. Determinações diárias de ganho de peso, ingestão de alimento e conversão alimentar foram realizadas em diferentes fases de desenvolvimento dos leitões: de 20 a 41 dias de idade (fase 1) de 42 a 55 dias (fase 2) e de 20 a 55 dias (fase total) no primeiro experimento; de 18 a 39 dias de idade (fase 1) , de 40 a 53 dias (fase 2) e de 18 a 53 dias de idade (fase total) no segundo experimento. As análises estatísticas foram realizadas por meio do pacote computacional SAS (SAS Institute, 1996) e as médias comparadas pelo teste F, conforme o modelo:

Yijk= μ + Ai + Bj + ABij + Ck + eijk,

em que: Yijk  é a constante associada a todas as observações; μ é a média geral da variável; Aé o efeito do tipo de milho (experimento 1) ou da dieta (experimento 2) i, sendo i = 1 e 2; Bj é o efeito da fonte protéica (experimento 1) ou do nível protéico (experimento 2) j, sendo j = 1 e 2; ABij é o efeito da interação dos fatores i e j; Ck  é o efeito do bloco k, sendo k = 1, 2, ... e 5; eijk é o erro aleatório associado a cada observação.

Resultados e Discussão

Em todas as fases do experimento 1 não houve interação (P>0,05) do tipo de milho e da fonte protéica nas variáveis de desempenho, contudo foram detectados efeitos principais do milho comum e do farelo de soja (Tabela 3).

Tabela 3.
Desempenho de leitões desmamados aos 20 dias de idade, submetidos a dietas contendo milho (comum e pré-gelatinizado) e fonte protéica (farelo de soja e soja integral macerada), de 20 a 41 dias de idade (fase 1), de 42 a 55 dias de idade (fase 2) e de 20 a 55 dias (fase total), no primeiro experimento(1).

(1)Médias seguidas de letras distintas, maiúsculas (P<0,01) ou minúsculas (P<0,06) na mesma linha, diferem entre si pelo teste F; os dados representam médias de cinco repetições.

Na fase 1 (20 aos 41 dias de idade), a presença do milho comum nas dietas permitiu aos leitões maior ganho de peso e maior consumo de ração, sem interferir na conversão alimentar, quando comparado ao milho pré-gelatinizado. Os efeitos do farelo de soja no ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar foram maiores do que os da soja integral macerada.

O milho comum e o farelo de soja também destacaram-se na fase 2 (42 aos 55 dias de idade), permitindo maior ganho de peso e consumo de ração, sem apresentar diferenças na conversão alimentar.

Na fase total de creche (desmame aos 55 dias de idade), o milho comum propiciou maior ganho de peso e consumo de ração do que o pré-gelatinizado; os leitões alimentados com farelo de soja apresentaram melhor desempenho nas três variáveis (Tabela 3).

Resultados semelhantes foram obtidos por Moreira et al. (1994a) e Barbosa et al. (1999), com produtos de diferentes origens. Segundo Moreira et al. (1994a), na forma farelada as dietas com milho pré-cozido tornam-se pulverulentas, por causa da fina textura do produto, causando desconforto aos leitões, com prejuízo no consumo. O milho pré-gelatinizado, como fonte principal de energia em dietas fareladas, reduz o diâmetro geométrico médio (DGM) da mistura. Além da inclusão de óleo na ração para minimizar o problema (Moreira et al., 1994a), provavelmente, uma mudança na granulometria, mediante peletização, poderia favorecer o consumo das dietas com inclusão do milho pré-gelatinizado. Hongtrakul et al. (1998) ao avaliarem os efeitos do processo de extrusão em fontes de carboidratos constataram a formação de beta-amilose e amilopectina cristalizada (retrogradação) que podem diminuir a habilidade das enzimas amilases na ruptura das ligações do amido. Nesse caso, além da menor conversão do amido em carboidratos solúveis, incluindo em glicose, há potencial perda dos aminoácidos (digestibilidade) e vitaminas. Concluíram que o processo de extrusão dos carboidratos tem diferentes efeitos no desempenho, e o grau de gelatinização pode não ser o fator principal na explicação dessas variações.

Além das respostas inferiores no desempenho dos leitões, outro fator inviável no uso do milho pré-gelatinizado em dietas fareladas é o seu custo, que é superior ao do milho.

Os piores resultados de desempenho dos leitões alimentados com soja integral macerada decorreram do processamento (temperatura e tempo) da soja utilizada. Entre as diversas amostras processadas, a estabilização da temperatura foi o fator principal na determinação da qualidade da soja integral macerada, o que ficou evidenciado no consumo das dietas, independentemente do tipo de milho. Moreira et al. (1994a) e Kaankuka et al. (1996) verificaram que as condições do processamento foram relevantes nos resultados de desempenho obtidos com leitões em fase de creche. Sohn et al. (1994) também verificaram uniformidade no processamento da soja integral por método industrial e que o desempenho dos leitões foi semelhante, após 21 dias de idade, ao compararem dietas que continham soja integral e produtos lácteos. Processada em menor quantidade, a soja integral apresentou resultados satisfatórios de digestibilidade, quando submetida a calor, após a maceração (Trindade Neto et al., 1998). No presente trabalho, a qualidade da soja após o processamento estava abaixo do padrão recomendado; os resultados da solubilidade protéica (66%) indicaram redução na digestibilidade da soja integral macerada. Segundo Dale (1988), a solubilidade deveria estar entre 73% e 85% e valores abaixo desses caracterizariam o superaquecimento e, conseqüentemente, prejuízo no valor nutritivo do alimento.

Não obstante, outro fator que pode ter implicações negativas na ingestão e em decorrência no desempenho do leitão, é o teor lipídico da dieta com a substituição total do farelo pela forma integral da soja, conforme ocorreu no presente trabalho. A inclusão da soja integral macerada correspondeu, aproximadamente, a 7% de óleo nas dietas. Cera et al. (1988) também constataram que o aumento da suplementação de óleo, até 6%, em dietas para leitões desmamados aos 21 dias de idade, reduziu a retenção do N dietético. Os autores sugeriram que os efeitos negativos ocorreram, principalmente, nas duas semanas subseqüentes ao desmame, pela redução da área de absorção, quando o comprimento das vilosidades do jejuno permaneceu curto. Segundo Tokach et al. (1995), as características químicas dos ácidos graxos têm relação direta com as condições digestivas do leitão após o desmame, e a predominância de cadeias carbônicas longas prejudicam a digestão e utilização do óleo de soja.

No segundo experimento, também não houve interação (P>0,05) de tipo de dieta e nível protéico (Tabela 4).

Tabela 4.
Desempenho de leitões desmamados aos 18 dias de idade, submetidos a dietas com e sem produtos lácteos e com 18% e 15% de proteína bruta (PB), de 18 a 39 dias de idade (fase 1), de 40 a 53 dias (fase 2) e de 18 a 53 dias (fase total), no segundo experimento(1).

(1) Médias seguidas de letras distintas, maiúsculas (P<0,01) ou minúsculas (P<0,05) na mesma linha, diferem entre si pelo teste F; os dados representam médias de cinco repetições.

Durante a fase 1 (18 aos 39 dias de idade), os leitões que receberam as dietas com produto lácteo e nível protéico de 18% apresentaram maior ganho de peso. Da mesma forma, observaram-se efeitos isolados dos fatores sobre o consumo e ração, destacando-se as dietas com produtos lácteos e 18% de PB. Quanto à conversão alimentar, os melhores resultados foram observados em relação aos leitões alimentados com as dietas com produtos lácteos, não detectando-se diferenças entre os níveis protéicos.

A presença dos produtos lácteos, bem como o nível de lactose, provavelmente, conferiu maior digestibilidade às dietas; 24% da energia metabolizável calculada provieram desses ingredientes. Além de melhorar a qualidade, as características organolépticas dos produtos lácteos podem ter favorecido o consumo dessas dietas, Lepine et al. (1991) concluíram que a inclusão de produtos lácteos, em nível desejável na dieta, permitiu melhorar a digestibilidade e, conseqüentemente, o desempenho dos leitões. Os aminoácidos presentes no leite em pó desnatado possuem digestibilidade superior aos correspondentes no farelo de soja e no milho (National Research Council, 1998).

Os resultados superiores dos leitões que receberam o nível dietético de 18% de PB refletiram o melhor ajuste dos aminoácidos dietéticos, considerando que apenas lisina e metionina foram suplementados. As dietas de baixa proteína (15%), apresentaram déficits de triptofano e treonina, tomando-se por base a relação ideal sugerida pelo National Research Council (1998). Provavelmente, esse déficit teve implicações negativas no ganho de peso, pois os leitões alimentados com dietas de 15% de PB tiveram cerca de 85% do ganho de peso daqueles que receberam 18% de PB. Associado ao pior desempenho estaria o déficit estimado em 25% do triptofano e da treonina [(composição média calculada das dietas sem produtos lácteos/exigência do National Research Council, 1998) x 100].

No transcorrer da fase 2 (40 aos 53 dias de idade), prolongou-se a eficácia das dietas com produtos lácteos, no aumento do ganho de peso e do consumo de ração. A conversão alimentar não foi afetada pela presença ou não de produtos lácteos, mas os leitões que consumiram as dietas com 15% de PB apresentaram melhor resultado. Considerando ser esta uma fase de aumento no consumo, a maior eficiência na utilização dos nutrientes, aferida como conversão alimentar, provavelmente, decorreu do menor teor lipídico nas rações com a redução do nível protéico. Em relação à inclusão da soja integral macerada, as dietas com 15% de PB tinham, em média, 28% a menos de teor lipídico. Na composição centesimal das dietas experimentais essa diferença correspondia a cerca de 2% de óleo. Segundo Tokach et al. (1995), nas condições fisiológicas digestivas do leitão nas fases de creche, o óleo de soja não é uma fonte energética desejável nas dietas afins.

A diferença entre os ganhos de peso dos leitões confirmou a vantagem em combinar ingredientes, verificando-se que as dietas com produtos lácteos tiveram um consumo de 22,4% a mais do que as dietas sem produtos lácteos. Não havendo diferenças na conversão alimentar, ficou caracterizado que o acréscimo na ingestão dessas dietas permitiu o maior ganho de massa corporal dos leitões submetidos aos tratamentos afins. Lepine et al. (1991) e Tokach et al. (1995) observaram que a presença e o nível de produtos lácteos nas dietas de leitões após o desmame têm implicações favoráveis nas fases subseqüentes às de creche.

Quanto ao nível protéico, com a redução das exigências nutricionais, não foram detectadas diferenças entre 18% e 15% no ganho de peso e consumo diário das dietas a partir dos 40 dias de idade. Provavelmente, a semelhança nas variáveis deveu-se ao baixo déficit médio calculado de triptofano (-5%) e treonina (-7%), permitindo que a conversão alimentar fosse melhor nas dietas com 15% de PB. Esses resultados confirmam a sugestão de Trindade Neto et al. (1994) de redução do nível protéico se os aminoácidos em déficit fossem suplementados nas dietas para leitões desmamados aos 28 dias de idade. Fato comprovado por Carvalho (1998) ao utilizar leitões desmamados aos 21 dias de idade.

Na fase total de creche (do desmame aos 55 dias de idade), confirmaram-se os efeitos da dieta quando a inclusão de produtos lácteos (25% na fase 1 e 10% na fase 2) permitiu aos leitões maior ganho de peso e consumo, sem diferenças na conversão alimentar. Os resultados confirmaram que a presença de produtos lácteos em níveis satisfatórios nas dietas após o desmame permite aos leitões benefícios significativos durante o período de creche, que pode se estender nas fases subseqüentes (Lepine et al., 1991; Tokach et al., 1995; Trindade Neto et al., 1999).

O consumo diário de ração na fase total de creche foi maior com os leitões que receberam dietas com 18% de PB. Por causa da menor ingestão de ração, a melhor conversão alimentar ocorreu com os animais submetidos às dietas com 15% de PB. Com aumento do consumo de alimento na fase 2, provavelmente, o impacto do déficit de triptofano e treonina ocorrido na fase 1 foi minimizado, reduzindo-se as diferenças no desempenho quando foi considerada a fase total (55 dias de idade). Resultados semelhantes foram obtidos por Trindade Neto et al. (1994) e Carvalho (1998) ao compararem níveis protéicos que variavam de 16% a 20% em dietas de leitões desmamados na terceira e quarta semanas de idade.

Conclusões

1. As dietas que contêm produtos lácteos e as dietas com farelo de soja e milho comum propiciam desempenho superior de leitões, desmamados na terceira semana de idade.

2. O nível protéico de 18%, em dietas com milho pré-gelatinizado e soja integral macerada, favorece o desempenho de leitões desmamados na terceira semana de idade.

Agradecimento

À Fapesp, pelo apoio financeiro.

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Messias Alves da Trindade NetoI; Hacy Pinto BarbosaII; Izabel Marin PetelincarII; Eliana Aparecida SchammassIII
mailto:messiasn[arroba]usp.br

IUniversidade de São Paulo, Fac. de Medicina Veterinária e Zootecnia, Dep. de Nutrição e Produção Animal, CEP 13635-900 Pirassununga, SP. E-mail: trindadeneto[arroba]horizon.com.br
IIInstituto de Zootecnia (IZ), Centro de Nutrição e Alimentação Animal, Caixa Postal 60, CEP 13460-000 Nova Odessa, SP. E-mail:
almb[arroba]dglnet.com.br, izabel[arroba]izsp.br
IIIIZ, Centro de Métodos Quantitativos. E-mail:
eliana[arroba]izsp.br



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