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Efeito de diferentes níveis de proteína bruta em rações para crescimento de Carpas (página 2)

Álvaro Graeff

 

4. Material e métodos

Os experimentos foram realizados na Estação de Piscicultura de Caçador/EPAGRI, em caixas de cimento amianto com capacidade para 1.000 litros de água, em número de 32 parcelas, abastecidos individualmente com água derivada do açude de abastecimento na vazão de 0,5 litro por minuto.

O período experimental foi em três anos (1996 a 1998), nos meses de 19 novembro a 20 março, por um período de 120 dias, a partir de 7 dias de adaptação dos alevinos em cada parcela experimental, procurando em cada ano iniciar os experimentos com alevinos de idades e pesos semelhantes.

O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, em um fatorial de 4x2, em que testaram-se quatro dietas crescentes em proteína bruta (20,27,34,41% de PB) em duas densidades (15 e 30 peixes/metro quadrado) com quatro repetições por tratamento. Fixou-se a energia metabolizável em 2.900 kcal EM/kg de ração. As dietas foram formuladas com os mesmos ingredientes, porém em diferentes proporções percentuais, de modo a apresentarem os teores de proteína bruta crescente e a energia estabilizada, conforme a Tabela 1. Foram estocados 21 e 42 peixes (Cyprinus carpio var. specularis) em cada parcela, respectivamente na densidade 15 e 30 peixes/m2, com peso médio conjunto de 1,38 grama e comprimento médio conjunto de 4,15 centímetros com ±60 dias de idade nos três anos, sendo arraçoados na base de 5% do peso vivo ao dia.

As condições da água, que provêm de um tanque de abastecimento, foram coletadas e analisadas a cada quinze dias para as variáveis pH, com peagômetro marca Corning (PS-30), transparência com disco de Secchi, oxigênio dissolvido, gás carbônico, dureza, alcalinidade e amônia total, por meio de um kit para análise de água (marca alfa-tecnoquímica) no Laboratório de Qualidade de Água/Epagri - Caçador. O período de observação iniciou- se na segunda quinzena da implantação dos experimentos e terminou quinze dias após o termino dos mesmos, por um período de três anos.

As observações de temperatura da água foram feitas diariamente (9 h) com termômetro eletrônico (Thies Clima) no momento em que os peixes recebiam a ração diária. Também verificaram-se a temperatura ambiente e umidade com um aparelho de corda (marca Wilh-Lambrech Gmbh Gottingen).

A avaliação dos peixes foi feita a cada 30 dias utilizando-se 100% dos peixes estocados, quando foram tomadas as medidas de comprimento total por meio de um ictiômetro e o peso individual em uma balança eletrônica com precisão de 0,01g (marca Marte). Sempre que essas atividades eram feitas, os peixes eram sedados com 3,0 ml de quinaldina para 15 litros de água. Após 120 dias de experimento de cada ano, os peixes foram despescados e feitas as avaliações quantitativas, compreendendo as evoluções de crescimento em peso e comprimento, sobrevivência e conversão alimentar.

5. Resultados e discussão

A temperatura média mensal da água durante o período experimental (Figura 1) manteve-se entre 22,9 e 27,20C, ficando a média do período em 25,10C nos três anos dos experimentos. Arrignon (1979), Makinouchi (1980) e Castagnolli (1986) afirmaram que "o melhor crescimento das carpas se dá entre 240C a 280C"; assim sendo, a variação da temperatura nos períodos experimentais não limitou o crescimento dos peixes (Tabela 2).

Também a temperatura média mensal do ambiente durante os três anos dos experimentos, ou seja, entre os meses de novembro a março manteve-se entre 17,8 e 23,80C, isto é, foi ligeiramente acima do normal para a região para essa época do ano, favorecendo, com isso o aumento da produtividade natural nas águas.

Todos os parâmetros de qualidade da água em 1996 e 1997 estavam normais para a criação dos peixes. Na avaliação da qualidade de água em 1998, os parâmetros; pH, oxigênio e amônia estavam dentro do preconizado por Woynarowich (1985), Castagnolli (1992), Huet (1978) e Lukowicz (1982) para o desenvolvimento das carpas. Somente a transparência (Figura 2) aumentou nos últimos 60 dias, avaliação essa medida pelo disco de Secchi, e que não recomendável para a piscicultura orgânica, em função da redução da biomassa natural em suspensão, conforme Woynarowich (1985) afirmou em seu trabalho, mas sendo compensada pelo aumento da conversão alimentar (Tabela 3).

Também o nível de gás carbônico (Figura 2), em função da adubação orgânica, iniciou-se muito alto, ou seja, acima de 10 mg/litro, o que é critico, mas foi normalizando- se com o desenvolvimento do experimento até estar novamente alto nos últimos 15 dias deste experimento, mas não comprometendo os resultados, conforme Arrignon (1979) preconiza. A dureza também (Figura 2) esteve abaixo do recomendável por Boyd (1997), que é entre 50 e 80 mg/litro de CaCO3, ou seja, oscilou entre 20 a 50 mg/litro no inicio do experimento. E a alcalinidade (Figura 2), durante grande parte do experimento, esteve abaixo de 30 mg/litro, o que indicaria necessidade de calagem (Boyd, 1997), mas apesar disso não trouxe oscilações no pH e nem alterações comportamentais nos peixes. Concluindo, os diferentes tipos de ração e densidade não interferiram significativamente nas características físicas e químicas da água dos experimentos.

FIGURA 1 – Temperatura (0C) média da água e meio ambiente.

TABELA 2 – Média geral nos três experimentos (1996 a 1998) do peso médio (g) e comprimento médio (cm) de alevinos de carpa comum (Cyprinus carpio var. specularis) em duas densidades e quatro níveis de proteína bruta.

TABELA 3 – Média geral nos três experimentos (1996 a 1998) da taxa de sobrevivência, conversão alimentar de alevinos de carpa comum (Cyprinus carpio var. specularis) em duas densidades e quatro níveis de proteína bruta.

A sobrevivência obtida nos quatro tratamentos (Tabela 3) foi, em média, acima de 88%, estando dentro do esperado para as condições experimentais.

O incremento do peso médio dos peixes nos três anos com a densidade de 15 peixes/m2 foi de 8,88; 10,23; 10,80 e 11,88 g, respectivamente, nos tratamentos I, II, III e IV. Para a densidade de 30 peixes/m2, o resultado final foi 5,49; 6,83; 8,06 e 9,19 g, respectivamente, nos tratamentos de I a IV (Tabela 2). Não ocorreu interação entre densidades e proteínas significativa na análise da variância pelo teste F (P>0,05); por isso, os dois níveis de densidade e os quatro de proteína foram comparados de forma independente. A densidade 15 apresentou efeito superior a 30 pelo teste F da análise da variância. O efeito de proteínas foi significativo pelo teste F e seus graus de liberdade desdobrados em polinômios ortogonais. Na análise da regressão polinomial para ganho de peso em função dos quatro níveis de proteína na ração, a equação que melhor explica o comportamento é a linear: Y= 4.23 + 0.27 X (Figura 3).

Trabalhando com pacu (Piaractus mesopotamicus), Carneiro, Wagner e Dias (1992) concluem ser importante o aumento do teor de proteína bruta com o aumento da densidade. De acordo com Swingle (1968), Rosa et al.(1994), Coda et al.(1996), Graeff e Pruner (1996 ab) e Graeff e Pruner (1997 ab), a taxa de estocagem em cultivo é extremamente importante, pois se for muito baixa, resultará em peixes grandes e baixa produção; entretanto, se for muito elevada, resultará em alta produção com peixes de tamanho reduzido.

FIGURA 2 – pH, transparência (cm), oxigênio dissolvido (mg/L), gás carbônico, amônia total e alcalinidade (mg/L) da água.

FIGURA 3 – Regressão polinomial para ganho de peso em função de 4 níveis de proteína bruta.

A variável comprimento médio final dos peixes nos três anos apresentou, como resultado final para a densidade 15/m2, 8,03; 8,24; 8,54 e 8,98 cm, respectivamente, nos tratamentos de I a IV e está indicado na Tabela 2. Para a densidade de 30 peixes, o resultado final foi 6,76; 7,11; 7,57 e 7;83 cm, respectivamente, nos tratamentos de I a IV (Tabela 2). Também não houve interação entre densidades e proteínas significativa; portanto, os fatores foram comparados independentemente. A densidade 15 foi superior a 30 pelo teste F da analise da variância. O efeito de proteínas foi significativo pelo teste F e também foi desdobrado em polinômios ortogonais. Na análise da regressão polinomial para comprimento médio em função dos quatro níveis de proteína na ração, a equação que melhor explica o comportamento também é a linear: Y = 2.80 + 0.08 X (Figura 4).

Na conversão alimentar média, o efeito de densidades nos três anos não foi significativo na analise da variância; portanto, as densidades não diferem (Tabela 3). Mas com a variação de 2,91 a 4,18 g de ração por grama de ganho de peso, a conversão alimentar neste trabalho é deficiente. Teimei e Deyoe, citados por Teimei et al. 1969, consideram que uma conversão acima de 2 Kg de ração por quilograma de ganho de peso é insatisfatória. Na analise da regressão polinomial para conversão alimentar em função dos quatro níveis de proteína na ração, a equação que melhor explica o comportamento é linear:Y = 4.72 - 0.04 X (Figura 5), o que Lovell (1979) confirma.

 

FIGURA 4 – Regressão polinomial para incremento do comprimento em função de 4 níveis de proteína bruta

FIGURA 5 – Regressão polinomial para conversão alimentar em níveis de proteína bruta.

6. Conclusões

a) A resposta aos níveis de proteína na ração foi linear, pois quanto maior o índice de proteína bruta, melhor foi o desempenho dos peixes.

b) Para as variáveis que indicam o crescimento individual dos peixes (peso e crescimento), a densidade de 15 alevinos/m2 foi superior à de 30 alevinos/m2.

Agradecimento

À Universidade do Contestado - UNC – Campi Caçador, pela colaboração e financiamento para o desenvolvimento deste trabalho.

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Alvaro Graeff1, Evaldo Nazareno Pruner2 - agraeff[arroba]epagri.rct-sc.br

1. Médico Veterinário - Nutrição/EPAGRI - Estação de Piscicultura de Caçador, SC. agraeff[arroba]epagri.rct-sc.br

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