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Arf (1992), estudando o efeito da época de semeadura da mucuna-preta (simultaneamente e aos 25, 50, 75 e 100 dias após a emergência do milho) intercalada na cultura do milho, verificou que o consórcio não afetou a produtividade do milho; a quantidade de matéria seca incorporada ao solo foi praticamente o dobro, quando comparada aos cultivos exclusivos do milho ou mucuna-preta, e a época mais adequada para semeadura da mucuna-preta foi ao redor de 75 dias após a emergência do milho, por produzir boa quantidade de matéria seca sem atrapalhar a colheita.
Skora Neto (1993), estudando o efeito do consórcio de adubos verdes (feijão-de-porco, mucuna-anã, guandu-anão, calopogônio, mucuna-preta, crotalária e caupi) com o milho (na semeadura e aos 30 e 55 dias após a semeadura), sobre a infestação de plantas daninhas, verificou que a presença das leguminosas não diminuiu a infestação na fase inicial do ciclo da cultura, de forma a reduzir as operações de controle; ao contrário, dificultou as capinas, aumentando o tempo gasto nessas operações. Houve redução na infestação, pela influência do consórcio, no final do ciclo e no período pós-colheita do milho, variando conforme a espécie consorciada e a época de consorciação em relação ao ciclo do milho.
Com este trabalho, objetivou-se avaliar o efeito da semeadura da mucuna-preta e lab-lab (75 e 100 dias após a semeadura do milho) intercalada nas entrelinhas da cultura do milho ou em cultivo exclusivo, sobre o acúmulo de matéria seca das três espécies, bem como o rendimento de grãos de milho e seus componentes.
O trabalho foi instalado em área experimental da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – UNESP, no município de Selvíria-MS, situado a 51°22' de longitude Oeste e 20°22' de latitude Sul, com altitude de 335 metros. O solo do local (Tabela 1) é do tipo Latossolo Vermelho-Escuro, epi-eutrófico álico, textura argilosa.
A precipitação média anual é de 1.370mm, a temperatura média anual é de 23,5oC e a umidade relativa do ar está entre 70 e 80% (média anual). A precipitação diária no período de setembro/94 a maio/95 é apresentada na Tabela 2.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com quatro repetições e sete tratamentos: milho exclusivo; milho + mucuna-preta semeada aos 75 DAS (dias após a semeadura do milho), milho + mucuna-preta aos 100 DAS, milho + lab-lab aos 75 dias DAS, milho + lab-lab aos 100 DAS, lab-lab e mucuna- preta em culturas exclusivas.
A mucuna-preta e o lab-lab no sistema de cultivo solteiro foram semeados também no espaçamento de 0,90m, utilizando-se 7 e 10 sementes viáveis/m, respectivamente.
Posteriormente, aos 75 e 100 dias após a emergência do milho, foram semeadas a mucuna-preta e o lab-lab em suas entrelinhas, com as mesmas densidades do sistema de cultivo solteiro.
As parcelas foram constituídas por uma área de dezoito fileiras de 10,0m de comprimento, considerando- se como bordadura as linhas laterais da parcela e mais 1,00m em ambas as extremidades de cada linha (área útil de 115,2 m2). Entre as parcelas foi mantido um espaço livre de 2,0m.
A adubação química básica nos sulcos de semeadura do milho constou de 250 kg/ha da formulação 4- 30-10. A adubação nitrogenada em cobertura foi realizada 38 dias após a emergência das plantas, utilizandose 50 kg/ha de N, na forma de sulfato de amônio. A mucuna-preta e o lab-lab não foram adubados.
As plantas daninhas foram controladas pela aplicação dos herbicidas atrazine + metolachlor (1.000g +1.500g/ha do i.a., respectivamente) em faixas de aproximadamente 0,30m de largura, sobre as linhas de milho, imediatamente após a semeadura. Nas entrelinhas, o controle foi realizado por meio de cultivo mecânico tratorizado, seguido de capina manual a enxada, procurando eliminar as plantas daninhas não atingidas pelo herbicida ou cultivo mecânico.
Foram avaliados o acúmulo de matéria seca das três espécies, por planta e por área, bem como o rendimento de grãos de milho e seus componentes.
Por ocasião do pendoamento do milho ou florescimento dos adubos verdes, foram coletadas 8 plantas de milho e a massa vegetal das leguminosas presentes em duas subamostras de 1,0m2 na área útil de cada parcela; o material foi levado ao laboratório e acondicionado para secagem em estufa com ventilação forçada à temperatura média de 60-70 ºC, até atingir peso constante.
A produção de matéria seca por área (kg/ha) foi estimada em função do peso da matéria seca, determinada por ocasião do pendoamento do milho ou florescimento dos adubos verdes. No caso do milho, realizouse o levantamento da população pela contagem do número de plantas em 2,5m de linha, em 4 pontos ao acaso, na área útil de cada parcela. No caso da mucunapreta e lab-lab, após a pesagem da matéria seca obtida em 1,0m2 de área, realizou-se, matematicamente, a conversão para matéria seca por hectare.
Por ocasião da colheita do milho, foram coletadas as espigas de 15 plantas em local pré-estabelecido, na área útil de cada parcela, para determinação dos seguintes parâmetros:
a) peso da espiga despalhada: determinada pela relação peso total das espigas/número de espigas;
b) peso do sabugo: determinado pela relação peso total dos sabugos/número de sabugos;
c) peso de grãos/espiga: determinado pela diferença entre os pesos de espiga e sabugo.
As espigas das plantas de três linhas de 8m de comprimento, da área útil de cada parcela, foram colhidas e submetidas à trilhagem mecânica, sendo os grãos obtidos pesados e os dados transformados em kg/ha (13% base úmida).
Os resultados obtidos na avaliação da matéria seca da parte aérea do milho, mucuna-preta e lab-lab em cultivo solteiro ou em consorciação estão apresentados na Tabela 3, na qual se verifica que a produção de matéria seca de milho, avaliada por ocasião do pendoamento, não sofreu influência da semeadura da mucuna-preta e lab-lab nas entrelinhas aos 75 e 100 dias após a semeadura da gramínea.
Os resultados são concordantes com os obtidos por Arf (1992), que, trabalhando com a mucuna-preta semeada nas entrelinhas do milho em diferentes épocas, concluiu que o adubo verde não interferiu no desenvolvimento do milho.
A produção de matéria seca por área atingiu valores superiores a 4.200kg/ha, enquanto Arf (1992) obteve valores próximos a 7.000kg/ha; essas diferenças podem ser atribuídas ao material genético utilizado, já que no presente trabalho utilizou-se o híbrido Cargill 125, enquanto aquele autor utilizou o híbrido G551, que apresenta plantas com maior porte, levando, obviamente, à produção de maior quantidade de matéria seca.
No que se refere à estimativa da produção de matéria seca de mucuna-preta e lab-lab por área, verifica- se que houve diferenças significativas entre os tratamentos. A mucuna-preta e o lab-lab no cultivo solteiro não diferiram significativamente quanto à quantidade de matéria seca; já em consórcio com o milho, a mucuna-preta produziu quantidade bem superior , tanto na semeadura aos 75 dias como na de 100 dias após a semeadura do milho (Tabela 3).
Observando as duas épocas de semeadura dos adubos verdes nas entrelinhas do milho (75 e 100 dias), verifica-se que a semeadura aos 75 dias após a semeadura do milho propiciou maior produção de matéria seca, principalmente no caso da mucunapreta, cuja produção diferiu da obtida no cultivo solteiro (Tabela 3). Os resultados mostram ser possível realizar adubação verde produzindo boa quantidade de matéria seca, sem deixar de produzir, no caso, milho na mesma área e no mesmo ano agrícola.
A menor quantidade de matéria seca produzida pelos adubos verdes na semeadura aos 100 dias, comparado-se com a dos 75 dias após a semeadura do milho, pode ser explicada principalmente em função da menor disponibilidade de água no solo, decorrente da baixa precipitação ocorrida nos meses de abril e maio (Tabela 2), que certamente prejudicaram mais a semeadura do lab-lab e mucuna, aos 100 DAS, realizada em 13/3/95 .
Quanto à estimativa de matéria seca total, observa- se que também houve diferenças significativas entre os tratamentos. O consórcio milho + mucuna-preta aos 75 DAS produziu a maior quantidade de matéria seca (11.116kg/ha), enquanto o milho solteiro produziu 4.290kg/ha e a mucuna-preta exclusiva, 7.974kg/ha (Tabela 3).
Os valores médios dos componentes do rendimento do milho em cultivo solteiro e em consórcio com mucunapreta ou lab-lab estão apresentados na Tabela 4, pela qual se verifica que não houve diferenças significativas entre os tratamentos quanto ao peso de espiga despalhada, peso do sabugo, peso de grãos por espiga e produção de grãos. Esses resultados indicam que a semeadura da mucuna-preta ou lab-lab entre as linhas do milho, aos 75 ou 100 dias após sua semeadura, não interfere na produção de matéria seca (Tabela 3) e nem nos componentes da produção e produtividade do milho. Resultados semelhantes foram obtidos por Arf (1992) e Lovadini et al. (1972), os quais também verificaram que o consórcio milho + lab-lab não afeta a produção do milho. No presente trabalho, o lab-lab e, principalmente, a mucuna-preta semeada aos 75 ou 100 dias após a semeadura do milho, além de não interferirem na produtividade da gramínea, propiciaram produção de quantidade satisfatória de matéria seca (11.116 e 8.372kg/ha, respectivamente), concordando com Bulisani e Braga (1985), para os quais não deve haver interferência do consórcio na operação de colheita do milho que, acredita-se, poderá ser colhido mecanicamente. Talvez, dependendo do tamanho da área, a dificuldade maior possa ocorrer na operação de semeadura que, em função do desenvolvimento do milho, deverá ser realizada manualmente, com matracas, ou mecanicamente, por meio de semeadura com tração animal.
Durante a condução do experimento, foi também possível observar que o lab-lab sofreu grande ataque de vaquinhas (Diabrotica speciosa), o mesmo não ocorrendo com a mucuna-preta.
Pelos resultados obtidos, pode-se concluir que a mucuna-preta ou o lab-lab semeados nas entrelinhas do milho aos 75 ou 100 dias após a sua semeadura não afetou a produtividade da gramínea; que, no consórcio, a quantidade de matéria seca produzida pela mucunapreta foi bem superior à do lab-lab, e que a maior quantidade de matéria seca foi produzida no sistema de consórcio milho + mucuna-preta semeada aos 75 dias após a semeadura do milho.
ARF, O. Efeito da adubação verde no desenvolvimento e produção das culturas de milho (Zea mays L.) e feijão (Phaseolus vulgaris L.). Ilha Solteira: UNESP, 1992. 48p. (Mimeografado)
BULISANI, E.A., BRAGA, N.R. Atualização em plantio direto. Campinas: Fundação Cargill. 1985. Potencialidades para a utilização de leguminosas como cobertura vegetal de inverno no Estado de São Paulo, p.223-235.
FAGERIA, N.K. Cultura do arroz de sequeiro: fatores afetando a produtividade. Piracicaba: Instituto da Potassa e do Fosfato-Instituto Internacional da Potassa, 1983. p.239-260.
LOVADINI, L.A.C., MASCARENHAS, H.A.A., MIYASAKA, S., PASTANA, F.I., NERY,C., LAUN, L.P.R. Emprego de Dolichos lab lab (L.) como adubo verde. I. Estudo do plantio intercalado na cultura do milho. Bragantia, Campinas, v.31, p.97-108, 1972.
NASCIMENTO, V.M., MELO, W.J., BUZETTI, S. Efeito do desmatamento sobre o teor de matéria orgânica de um solo sob vegetação de cerrado cultivado com milho (Zea mays), arroz (Oryza sativa L.) e soja (Glycine max (L) Merrill). Ilha Solteira: FEIS-UNESP,1981. p.50-52. (Relatório Técnico-Científico, 1).
RAIJ, B. van, QUAGGIO, J.A. Métodos de análise de solo para fins de fertilidade. Campinas: Instituto Agronômico, 1983. 31p. (Boletim Técnico, 81) SKORA NETO, F. Controle de plantas daninhas através de coberturas verdes consorciadas com milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.28, n.10, p.1165-1171, 1993.
VITTI. G.C., FERREIRA, M.E., PERECIN, D., ZANETTI NETO, P. Influência de cinco leguminosas, como adubação verde, na fertilidade de um Latossolo Vermelho Amarelo - fase arenosa (LVa). Científica, São Paulo, v.7, n.3, p.431-435, 1979.
1. Apoio financeiro da FAPESP.
2. Engenheiro Agronômo, Dr., Departamento de Fitotecnia, Economia e Sociologia Rural, Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, UNESP, 15.385-000. Ilha Solteira-SP. E-mail gd[arroba]adm.feis.unesp.br
Orivaldo Arf2; Salatiér Buzetti2; Marlene Cristina Alves2; Marco Eustáquio De Sá2; Ricardo Antonio Ferreira Rodrigues2; Fernando Braz Tangerino Hernandez2
arf[arroba]agr.feis.unesp.br
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