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MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho em pauta foi desenvolvido na área experimental do Departamento de Horticultura da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ), da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, SP.

A laranjeira 'Pêra' (Citrus sinensis, L. Osbeck) foi a variedade copa escolhida para avaliação no presente ensaio, por tratar-se da variedade de laranja doce mais importante para a citricultura paulista. Os porta-enxertos selecionados foram o limoeiro 'Cravo' (Citrus limonia, L. Osbeck), a tangerineira 'Cleópatra' (Citrus reticulata, Blanco), e o citrumeleiro 'Swingle' (Citrus paradisi x Poncirus trifoliata).

Cinco diferentes composições de mistura foram definidas para servirem de substrato para a formação das mudas. As combinações volumétricas selecionadas foram:

1) Terra (100%).

2) Terra (33%) + areia fina (33%) + esterco bovino curtido (33%).

3) Terra (33%) + vermiculita (33%) + esterco bovino curtido (33%).

4) Terra (33%) + raspa de madeira (33%) + esterco bovino curtido (33%).

5) Terra (25%) + raspa de madeira (25%) + areia fina (25%) + esterco bovino curtido (25%).

O delineamento estatístico adotado no experimento foi o de blocos aleatorizados, em esquema fatorial 5 x 3 (substratos x porta-enxertos), perfazendo 15 tratamentos em 4 blocos, 4 plantas por repetição e 3 repetições em cada bloco.

O solo utilizado como substrato no experimento foi coletado à profundidade de 0-35 cm. A análise química (TABELA 1) revelou que os diferentes nutrientes encontravam-se em níveis adequados, não necessitando, portanto de nenhum tipo de correção ou adubação. As diferentes composições foram esterilizadas com brometo de metila (100 cm3/m3 substrato). Após 48 horas de esterilização, procedeu-se o enchimento dos recipientes com as diferentes composições de substrato. O recipiente escolhido para a utilização no ensaio foi o saco de polietileno preto com as seguintes dimensões: 40 cm de altura x 15 cm de largura, com capacidade para aproximadamente 7,0 L de substrato.

As sementes de limoeiro 'Cravo' foram coletadas a partir de frutos de uma mesma planta do Banco de Germoplasma de Citros do Centro de Citricultura "Sylvio Moreira", do IAC, em Cordeirópolis, SP. As sementes das variedades tangerineira 'Cleópatra' e citrumeleiro 'Swingle' foram retiradas de frutos colhidos de árvores do Banco de Germoplasma de variedades porta-enxerto de citros da Fazenda Experimental Lageado da UNESP, em Botucatu, SP. A semeadura foi realizada em canteiros de terra, em área experimental do Departamento de Horticultura da ESALQ.

As plântulas das três variedades porta-enxerto, após seleção, foram repicadas para os recipientes, 90 dias após a semeadura, quando o experimento foi então instalado no campo, obedecendo ao delineamento estatístico. Todos os tratos culturais necessários ao desenvolvimento dos porta-enxertos foram realizados, e incluem, capinas manuais (quando necessário), adubações mensais (100 ml/recipiente da solução de 60 g nitrocálcio/ 10 L água), e pulverizações com defensivos para o controle de pragas e doenças (quando necessário).

Os dados biométricos, coletados no decorrer do ensaio, foram: a) altura média dos porta-enxertos, 30 e 180 dias após a repicagem; b) diâmetro médio do caule dos porta-enxertos, a 15 cm de altura, 180 dias após a repicagem; c) massa verde da parte aérea decapitada dos cavalos, 30 dias após a enxertia; e) comprimento médio do enxerto, 120 dias após a enxertia; f) massa verde da parte aérea das mudas na fase final de formação das mesmas (120 dias após a enxertia); g) massa verde do sistema radicular das mudas na fase final de formação das mesmas (120 dias após a enxertia).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As TABELAS 2 a 8 resumem todos os dados biométricos coletados no ensaio. A análise da variância revelou que a interação, bem como os fatores substrato e porta-enxerto, foram estatisticamente significativos para todas as variáveis estudadas.

Os dados referentes à altura média dos porta-enxertos, 30 dias após a repicagem, (TABELA 2) mostram que o limoeiro 'Cravo' e o citrumeleiro 'Swingle' apresentaram maior desenvolvimento inicial que a tangerineira 'Cleópatra', em todos os substratos estudados. Esses dados concordam com os de Pompeu Jr. (1991), o qual também relata o vigor inferior deste porta-enxerto quando comparado aos demais. Mattos et al. (1988) também constataram que plantas de tangerineira 'Cleópatra' apresentaram desenvolvimento inferior às plantas de limoeiro 'Cravo' e laranjeira 'Caipira', quando cultivadas em diversas misturas de substratos.

No referente ao efeito do substrato no desenvolvimento de cada porta-enxerto em particular, nota-se que, para o limoeiro 'Cravo', os substratos 1 e 5 induziram maior desenvolvimento das plantas, as quais não diferiram significativamente daquelas no substrato 4. Os substratos 2 e 3 induziram o menor desenvolvimento das plantas desse porta-enxerto sem diferirem daquelas no substrato 4. As plantas de tangerineira 'Cleópatra' apresentaram alturas semelhantes em todos os substratos testados, a exceção do substrato 1 (100% terra), o qual foi significativamente inferior aos demais. Plantas de citrumeleiro 'Swingle' também apresentaram alturas semelhantes na maioria dos substratos pesquisados, a exceção do substrato 2, o qual proporcionou desenvolvimento significativamente inferior às plantas desse porta-enxerto.

Seis meses após a repicagem, as plantas continuaram a mostrar desenvolvimento diferenciado, tanto em relação ao porta-enxerto como em relação à composição do substrato escolhido (TABELA 3). De um forma geral, plantas de limoeiro 'Cravo' apresentaram maior desenvolvimento em relação aos demais porta-enxertos nos substratos 1, 4 e 5, enquanto que plantas de citrumeleiro 'Swingle' e tangerineira 'Cleópatra' foram superiores às de limoeiro 'Cravo' no substrato 2. No referente ao efeito dos diferentes substratos no desenvolvimento de cada porta-enxerto em particular, nota-se que os substratos 4 e 5 propocionaram desenvolvimento significativamente superior às plantas de limoeiro 'Cravo'; o substrato 2 o pior, e os demais substratos (1 e 3), desenvolvimento intermediário a esse porta-enxerto. Plantas de tangerineira 'Cleópatra' apresentaram desenvolvimento significativamente inferior no substrato 1 (terra) quando comparado aos demais substratos, os quais não diferiram entre si, ao nível de 5 % de probabilidade. Plantas de citrumeleiro 'Swingle' também apresentaram desenvolvimento significativamente inferior em terra, assim como no substrato 4 (terra + raspas de madeira + esterco). Substrato 5 (terra + raspas de madeira + areira + esterco) proporcionaram maior desenvolvimento às plantas desse cavalo. Pesquisas realizadas por Platt (1977) e More (1978) também confirmam que misturas à base de raspas de madeira e areia conferiram bom desenvolvimento a mudas de citros.

O diâmetro médio dos porta-enxertos é medida que pode, muitas vezes, ser muito importante para a formação de mudas de citros, pois indicam vigor adequado para a recepção do enxerto. O efeito dos diferentes substratos no desenvolvimento diferenciado dos três porta-enxertos estudados também pode ser constatado através das medições do diâmetro do caule das plantas, a 15 cm de altura, 180 dias após a repicagem (TABELA 4). Nota-se que, no geral, os porta-enxertos que mostraram maior desenvolvimento em altura (limoeiro 'Cravo' e citrumeleiro 'Swingle') foram os mesmos que indicaram maiores valores de diâmetro. Os dados de altura e diâmetro das plantas concordam com aqueles obtidos para a produção de massa verde pelos porta-enxertos, quando da decapitação da parte aérea dos mesmos, após a enxertia (TABELA 5). Para o limoeiro 'Cravo', da mesma forma como o constatado para altura das plantas, os substratos 1, 4 e 5 induziram a maiores valores de diâmetro, valores estes estatisticamente superiores aos constatados nos substratos 2 e 3 (TABELA 4). Plantas de citrumeleiro 'Swingle' apresentaram maior diâmetro nos substratos 2, 3, e 5, os quais foram estatisticamente superiores aos constatados nas plantas cultivadas nos substratos 1 e 4. Resultados semelhantes aos de citrumeleiro 'Swingle' também foram constatados para as plantas de tangerineira 'Cleópatra'.

A TABELA 6 reúne os dados de comprimento médio dos enxertos realizados no ensaio, na fase de "muda pronta" (120 dias após a enxertia). A análise da variância revelou que não houve diferença significativa no comprimento médio dos enxertos entre os diferentes substratos estudados, dentro de cada porta-enxerto. Entretanto, plantas enxertadas em limoeiro 'Cravo' apresentaram os maiores valores de comprimento de enxerto quando comparadas com as plantas enxertadas nos demais porta-enxertos, para a maioria dos substratos (TABELA 6). Plantas sobre citrumeleiro 'Swingle' mostram valores de comprimento de enxerto significativamente inferiores, contrastando com os grandes valores de vigor (altura, diâmetro e massa verde do porta-enxerto). Apesar do citrumeleiro 'Swingle' ser porta-enxerto vigoroso, é também híbrido de Poncirus trifoliata, que apresenta dormência no inverno (Stathakopoulos & Erickson, 1966). É possível que os enxertos, já realizados no início do outono, não apresentaram desenvolvimento semelhante àqueles em limoeiro 'Cravo' e tangerineira 'Cleópatra' devido ao fato das plantas de citrumeleiro estarem em dormência.

No referente à massa verde da parte aérea (TABELA 7), nota-se que não ocorreram diferenças significativas entre os porta-enxertos nos substratos 1 e 5. Entretanto, plantas sobre limoeiro 'Cravo' e citrumeleiro 'Swingle' produziram valores superiores de massa verde nos substratos 2 e 3, superiores aos daqueles sobre tangerineira 'Cleópatra', cultivadas nas mesmas misturas. Os substratos 2 e 3 apresentam esterco em sua composição. Mattos et al. (1988) também constataram efeito significativamente superior dos substratos a base de esterco de galinha no desenvolvimento de mudas de citros.

No referente ao efeito dos cinco substratos no desenvolvimento de cada porta-enxerto em particular, nota-se que, para o limoeiro 'Cravo', as misturas 3, 4 e 5 produziram maior massa verde da laranjeira 'Pêra', enquanto que o substrato 1 (terra) foi observado o menor valor. Da mesma forma, o substrato 1 também se mostrou inferior para os demais porta-enxertos (TABELA 7).

Após análise dos dados referentes à massa verde do sistema radicular das mudas formadas, verifica-se que, para a maioria dos substratos estudados, plantas de citrumeleiro 'Swingle' produziram os maiores volumes de raízes (TABELA 8). Os dados aqui relatados discordam das pesquisas de Castle & Youtsey (1977), que demonstram o pouco vigor do sistema radicular desse porta-enxerto em relação aos demais. Em relação ao efeito do substrato na produção de massa radicular para cada cavalo, verifica-se que os substratos 2, 4 e 5 foram mais uma vez os melhores para limoeiro 'Cravo'. O substrato 3 (terra + areia + esterco) induziu ao maior volume de raízes (massa verde) em citrumeleiro 'Swingle', enquanto que o substrato 5 (terra + raspas de madeira + areia + esterco) proporcionou o melhor desenvolvimento de raízes de tangerineira 'Cleópatra' em relação aos demais substratos estudados (TABELA 8).

CONCLUSÕES

- Plantas de limoeiro 'Cravo' e citrumeleiro 'Swingle' apresentaram maior desenvolvimento que aquelas de tangerineira 'Cleópatra' para a maioria dos substratos estudados.

- A mistura de materiais com terra constitui-se em substrato sempre superior àquele constituido exclusivamente de terra. Esse fato pôde ser constatado para todos os parâmetros estudados nos três porta-enxertos avaliados.

- A composição do substrato influenciou diferentemente o desenvolvimento de cada porta-enxerto estudado e nos parâmetros de desenvolvimento de mudas de laranjeira 'Pêra' sobre os mesmos cavalos. Entretanto, de uma maneira geral, misturas compostas de 1/3 de terra e 1/3 de esterco em volume proporcionaram resultados superiores.

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F. A. A. Mourão Filho1; C. T. S. Dias2; A. A. Salibe3
ctsdias[arroba]carpa.ciagri.usp.br
1
Depto. de Horticultura-ESALQ/USP, C.P. 9, CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.
2Depto. de Matemática e Estatística-ESALQ/USP, C.P. 9, CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.
3Depto de Horticultura. FCA/UNESP, C.P. 27, CEP: 18600-970 - Botucatu, SP.



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