Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
Quadro 4 - Distribuição de Renda e Matrícula em Escolas, |
||||
pre-escola |
1º grau |
2º grau |
superior |
Total |
Até 1 salário mínimo |
11.6 |
15.3 |
3.4 |
1.1 |
1 a 2 |
17.9 |
24.6 |
10.2 |
4.5 |
2 a 5 |
31.2 |
38.5 |
38.0 |
18.0 |
5 a 10 |
37.5 |
15.3 |
31.0 |
26.1 |
Mais de 10 |
48.3 |
|||
IBGE, Anuário Estatístico do Brasil, 1983, 245-247. |
2.2 Gastos governamentais em educação: (quadro 2):
Quadro 2: Gastos governamentais com Educaçao no Brasil (1983) |
||||
1º grau |
2º grau |
superior |
Total |
|
Federal |
38,2 |
8,9 |
52,7 |
29.5% |
Estadual* |
77.1 |
11.5 |
11.4% |
55.7% |
Municipal* |
98.0 |
2 |
--- |
14.8% |
TOTAL |
67.5 |
9.2 |
23.3 |
100% |
*cerca de 20% dos recursos estaduais e municipais provêm de transferências do governo federal. |
||||
Fonte: Dados preliminares, compilados principalmente a partir de Alberto de Melo e Souza, "Despesas Governamentais em Educaçao no Brasil", mimeo, 1983. |
A maioria dos gastos governamentais em educação são feitos a nível estadual e municipal, ainda que com transferências do governo federal. O Brasil gasta pouco em educação: cerca de 5% do PNB, e 13 a 15% do orçamento federal. Os estados e municípios pagam os salários dos professores de primeiro grau, e recebem repasses do Salário Educação, parte do qual é utilizado na forma de bolsas de estudo para o ensino particular. Os municípios gastam cerca de 30 a 40% de seus orçamentos em educação primária; o governo federal cuida, principalmente, do ensino superior.
2.3 Algumas características gerais do ensino básico: (quadro 3a.):
Quadro 3 |
|||
1ª série |
4ª série |
8ª série |
|
Alunos matriculados |
6,7 milhões |
40% |
17% |
Setor rural |
2,8 milhões |
18% |
0,012% |
% de alunos em idade maior do !ue a recomendada |
58% |
66.2% |
68% |
Taxa de repetência |
24% |
12% |
15% |
Taxa de evasão imediata |
14% |
8.4% |
11.2% |
b) Características Gerais do professorado de primeiro grau: |
|||
Total de professores: |
1.040.553 |
||
Na área rural: |
24% |
||
com estudos até o primeiro grau |
14% |
||
Com estudos completos de 2º grau |
45% |
||
Com estudos superiores |
41% |
||
Fonte: Ministério da Educaçao, Sinopse Estatística do Primeiro Grau, 1985, Edição Preliminar. |
O ensino básico é altamente deficiente, com grandes taxas de abandono e repetência, principalmente entre a primeira e quarta série. A ineficiência é especialmente alta nas zonas rurais, em que menos de um em cada cinco alunos de primeiro ano chegam ao 4º.
Existe uma grande ficção quanto ao sistema seriado e às idades consideradas "apropriadas" para os cursos:
- a primeira série, que deveria ser de alfabetização, leva normalmente dois anos para ser cumprida, e inclui um ano de "pré-escola" embutido e mal administrado, o que implica, em parte, as altas taxas de repetência;
2.4 - Algumas características do pessoal docente do ensino básico: (quadro 3b):
2.5 Algumas características gerais do ensino superior (quadro 5):
Quadro 5: Características Gerais do Sistema de Ensino Superior Brasileiro: |
|||
Pós-Graduação |
Setor Público |
Setor Privado |
|
Número de professores |
14 mil |
45 mil |
60 mil |
Número de estudantes |
40 mil |
450 mil |
950 mil |
Qualificação docente |
doutorado e mestrado |
pós graduação e mestrado |
graduação |
Salários |
bons a excelentes |
bons |
ruins |
Regime de trabalho |
tempo integral |
tempo integral |
tempo parcial |
Custo dos estudos |
bolsa de estudos |
gratuito |
pago |
Localização |
Centro sul |
centro-sul e nordeste |
centro-sul (periferia) |
3. Algumas propostas gerais sobre a problemática do ensino no Brasil.
O quadro anterior mostra com clareza que, apesar de insuficiente e inadequado às necessidades do país, o sistema educacional brasileiro já apresenta uma série de características de rigidês e imobilidade, que podem deitar a perder grande parte dos recursos que a ele venham a ser destinados. Para que isto não aconteça, algumas mudanças importantes de perspectiva devem ser introduzidas. Os objetivos gerais a serem obtidos, em todos os níveis, devem ser:
A título de sugestão, gostaria de mencionar algumas medidas bastante gerais que poderiam conduzir a estes objetivos:
3.1 - No ensino básico, a profissão de professor precisa ser revalorizada. Esta revalorização depende, em grande parte, de melhores salários; ela depende, também, de valorizar mais o ensino de primeiro ciclo em relação ao de segundo, invertendo o quadro que existe hoje.
3.2 - Deve haver um trabalho sistemático de desburocratização dos sistemas estaduais de ensino, com a transferência direta de recursos e autoridade para as escolas e para as salas de aula. A desburocratização deve levar também a automatizar os mecanismos de transferência de recursos federais para os estados e municípios.
3.3 - A introdução de ensino público de qualidade deve ser feita onde e quando for possível,e não pode esperar o atendimento quantitativo e horizontal sem qualidade, já que é o primeiro que proporciona competência e direção para o segundo. Experiências como a dos CIEPS no Rio de Janeiro, se acompanhadas de procedimentos pedagógicos e educacionais adequados, devem ser estimuladas e difundidas.
3.4 - Sistemas escolares para o atendimento de populações "defasadas" precisam ser criados e estimulados. Grande número de pessoas procuram escolas fora de sua idade "normal", em todos os níveis, e os programas convencionais são completamente inadaptados a suas necessidades, motivações e capacidade. Escolas para adolescentes sem curso primário, cursos superiores não convencionais para adultos que trabalham são os exemplos mais óbvios.
3.5 - Substituir, tanto quanto possível, as exigências de diplomas formais pela verificação de competência específica. No passado, a exigência de diplomas funcionava como um incentivo à escolarização. Hoje, ela funciona como elemento de burocratização do ensino, e da introdução de discriminações injustificadas no mercado de trabalho.
3.6 - Introduzir, em todos os níveis, mecanismos de avaliação do desempenho das instituições de ensino. Estas avaliações devem servir para sinalizar ao público quais cursos, e escolas, produzem melhores resultados; e para sinalizar aos governos e agências financiadoras onde os recursos estão públicos estão sendo melhor utilizados.
3.7 - Modernizar o Ministério da Educação e as Secretarias Estaduais. Esta modernização deve consistir em dar a estas instituições predominantemente funções de avaliação, acompanhamento e experimentação de novas metodologias, e não de controle e execução burocráticos, que devem ser transferidos tanto quanto possível às próprias escolas.
3.8 - Aumentar e incentivar os vínculos entre as instituições de ensino e as comunidades. O envolvimento de pais, associações de moradores, igrejas, empresas, sindicatos, e outras organizações comunitárias com os estabelecimentos de ensino é de grande importância para lhe dar maior contato com o mundo real, e inclusive lhe proporcionar, quando possível, recursos adicionais.
3.9 - Rever o papel do Estado em relação ao financiamento e ao controle do Ensino. O ensino de qualidade é caro, e, em todos os países em que ele existe, ele é de responsabilidade essencial do Estado. É socialmente injusto que, no Brasil, o Estado dê ensino superior gratuito aos filhos de classes altas e médias, e force os mais pobres a buscar o ensino privado e de má qualidade; seria também nefasto que o Estado se encarregasse somente do ensino de massas e de má qualidade, deixando ao setor privado o ensino de elite.
O papel do Estado em relação ao ensino poderia melhorar muito pela adoção, entre outras, das seguintes medidas:
a) introduzir, no setor privado, uma distinção clara entre "empresas de ensino", organizadas de forma privada e com fins lucrativos; e instituições de ensino comunitárias, e não lucrativas. As primeiras deveriam sem controles de preço e sem subsídios; as segundas, na medida em que comprovarem seu bom desempenho, poderiam receber auxílio público, na forma de verbas, professores e outros insumos.
b) introduzir, no setor público, sistemas graduais e efetivos de recuperação de custos, com os devidos cuidados para a proteção dos setores menos favorecidos. Isto aumentaria a disponibilidade financeira das instituições, e desestimularia o uso indevido dos recursos educacionais públicos por pessoas não adequadamente motivadas.
c) eliminação progressiva da idéia de que os sistemas educacionais podem ser efetivamente geridos por grandes burocracias centralizadas. As instituições de ensino deveriam, tanto quanto possível, ser transferidas para as comunidades em sua gestão quotidiana. Caberia ao Estado provê-las de recursos, mas, principalmente, de padrões, critérios, competência e estímulo.
* Conferência dada no Ciclo de Extensão III/87 da Escola Superior de Guerra, 13 de Outubro de 1987.
Simon Schwartzman
simon[arroba]schwartzman.org.br
http://www.schwartzman.org.br/simon/esg.htm
Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
|
|