Fazer o diagnóstico e tratar a dependência do álcool precocemente têm uma importância fundamental no prognóstico deste transtorno para o paciente e para a sociedade. Perto de um quinto dos pacientes tratados na rede primária bebe em um nível considerado de alto risco ou faz uso nocivo do álcool (Fleming, 1999). Geralmente o primeiro contato desses paciente com o serviço de saúde ocorre por intermédio dos médicos clínicos gerais. Entretanto, estudos têm demonstrado que é um transtorno pouco diagnosticado e tratado por eles (Klamen & Miller, 1997). Os médicos não fazem o diagnóstico nem tratam o uso nocivo ou dependência de álcool e drogas com mesma freqüência e precisão que o fazem com as outras doenças crônicas (Cleary & Miller, 1988). Em geral o foco desses profissionais está voltado para as doenças clínicas decorrentes da dependência, que ocorrem tardiamente, e não para a dependência subjacente (Walsh, 1995). O período médio entre o primeiro problema decorrente do uso do álcool e a primeira intervenção voltada a este problema é de cinco anos (W.H.O, 1987). A demora para iniciar o tratamento e o tratamento inadequado pioram o prognóstico levando a crer que os pacientes dependentes de álcool raramente se recuperam (Galanter, 1998). Uma das razões para estes problemas pode ser a falta de um currículo mínimo nas faculdades de medicina para treinamento dos estudantes nesta área.
Clark (1981) descreveu quatro impedimentos para o médico elaborar o diagnóstico e tratamento da dependência do álcool: (1) cognitivo - falta de conhecimento da variedade de sintomas gerados pela dependência ou meios sistemáticos de fazer o diagnóstico diferencial; (2) atitude - uma visão negativa do paciente e do tratamento; (3) comunicação - a resistência dos pacientes dependentes provocam nos médicos respostas pouco acolhedoras; e (4) conceptual - os médicos não vêem a dependência como uma doença que eles tenham a responsabilidade de diagnosticar e tratar.
Reconhecendo a falta de treinamento na área de dependência química, o NIAAA (National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism) e o NIDA (National Institute on Drug Abuse), nos Estados Unidos, e universidades Inglesas, elaboraram um programa de treinamento para diagnóstico, prevenção e tratamento da dependência de álcool e drogas. Estas iniciativas baseiam-se no fato de que o treinamento tem-se demonstrado efetivo na habilitação técnica para o diagnóstico e tratamento da dependência, bem como na promoção de mudanças positivas nas atitudes dos profissionais com relação ao paciente (Walsh, 1995; Chappel & Jordan & Treadway, 1997).
No Brasil não existe nenhuma exigência governamental, nem um consenso entre os pesquisadores de como deveria ser um currículo mínimo que garantisse aos estudantes de medicina adequada habilidade no manejo clínico do paciente dependente de álcool. Diante desse quadro, a UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP/Escola Paulista de Medicina, em parceria com o MEC (Ministério da Educação e Cultura), elaborou um treinamento direcionado aos médicos clínicos gerais para o diagnóstico precoce e tratamento da Dependência de Álcool.
O treinamento tem a duração de 8 horas distribuídas em 3 módulos:
Módulo1: Introdução teórica aos conceitos básicos e avaliação diagnóstica do uso nocivo e dependência de álcool.
Módulo 2: Avaliação e tratamento dos transtornos mentais associados ao do uso de álcool.
Módulo 3:Tratamento farmacológico e não farmacológico da dependência de álcool
· Dar subsídios ao clínico para fazer o diagnóstico precoce da dependência do álcool melhorando com isso o prognóstico do paciente.
· Proporcionar aos médicos um entendimento amplo que envolva as questões biológicas, cognitivas, comportamentais e sociais presentes na dependência química, bem como exploração e mudança nas atitudes desses profissionais.
· Capacitar o clínico geral para tratar as principais complicações e comorbidades psiquiátricas que ocorrem da dependência de álcool.
· Capacitar o clínico geral para aplicar estratégias motivacionais por meio de uma Intervenção Breve, objetivando motivar o paciente para o tratamento.
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