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No experimento de HAFLEY et al. (1989), foram estudados os efeitos da suplementação de diferentes tipos de proteína para novilhos em pastagem de verão. Apesar de a pastagem apresentar teores de proteína bruta variando entre 8 e 14%, os autores encontraram baixos níveis de amonia ruminal (< 6 mg NH3/100 mL). Os tratamentos consistiram de: A) controle negativo; B) controle energético; C) 0,137 kg/animal/dia de proteína não-degradável; D) 0,182 kg/animal/dia de proteína degradável; e E) 0,364 kg/animal/dia de uma mistura de proteína degradável e não-degradável. O melhor resultado foi obtido pela mistura das duas proteínas, que propiciaram ganhos em peso superiores ao controle (0,73 versus 0,62 e 0,62 kg/an./dia). Os grupos de animais que receberam proteína não-degradável e degradável ganharam 0,65 e 0,67 kg/an/dia, respectivamente. Os autores concluíram que houve tendência de maiores ganhos com proteína degradável, sendo que este fato, aliado aos baixos níveis de amônia ruminal, indicou que a degradação da proteína de gramíneas de clima quente é baixa. O aumento no ganho de peso com a mistura dos dois tipos de proteína sugere que a proteína não-degradável da gramínea não é bem utilizada pelo animal, uma vez que houve resposta positiva para a proteína não-degradável adicional, mostrando que esta foi utilizada no trato digestivo baixo, ao contrário da fração correspondente da gramínea, que não deve ter sido aproveitada, como seria de se esperar.
McCOLLUM III e HORN (l989) afirmaram que os suplementos protéicos geralmente aumentam o desempenho animal em pastagens, devido a vários fatores, sendo o aumento na ingestão de forragem o principal. No caso de pastagem com menos de 7% de proteína, o nitrogênio suplementar fornecido aos microrganismos aumenta a síntese protéica e a taxa de digestão; também é importante a proteína que passa pelo rúmen, sem ser degradada. O maior fluxo de proteína melhora a eficiência da utilização da energia, em nível de tecido, pelo fornecimento de aminoacidos deficientes, provendo substratos glicogênicos e também melhorando o N ruminal por intermédio da reciclagem do nitrogênio. Segundo os autores, um dos grandes problemas é determinar quando suplementar e qual é o melhor tipo de proteína (degradável ou não-degradável), uma vez que os resultados variam com os experimentos e os diferentes locais. A aplicação de programas de suplemantação é limitada pela falta de conhecimento do modo de ação dos suplementos em relação às características das pastagens e do animal. No experimento realizado por BARGO e REARTE (1998), em que foram utilizados suplementos com dois níveis de proteína de alta e baixa degradabilidade, para vacas em pastagem de aveia forrageira, não houve diferença na ingestão de matéria seca (MS) e no pH ruminal, sendo que, no grupo suplementado com baixa proteína e no de baixa degradabilidade (farinha de penas), houve menor nível de amônia ruminal.
OROPEZA et al. (1998) obtiveram ganhos de 540 g/d para bovinos em pastagem tropical, su-plementados com 2 kg de concentrado mais mistura mineral. Foi verificado que os animais suple-mentados ingeriram a mesma quantidade de ma- téria seca que os animais que receberam apenas pasto.
Um dos inconvenientes da suplementação com mistura mineral contendo proteína e/ou energia é a grande variação no consumo, que depende, além de outros fatores, da qualidade e da oferta da pastagem. (LOPES et al., 1997). A variação no consumo é também observada quando é oferecida apenas a mistura mineral, sendo que a ingestão geralmente não está relacionada com as exigências minerais (McDOWELL, 1996).
O objetivo deste presente experimento foi testar quatro suplementos minerais existentes no mercado, na época de seca, para animais em pastagem de braquiária, recebendo suplementação de cana-de-açúcar.
O presente experimento foi realizado na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, no Campus de Pirassununga, no período de seca, com o objetivo de avaliar quatro suplementos minerais comerciais contendo proteína verdadeira e nitrogênio não-protéico. Foram utilizados 48 bovinos mestiços Nelore x Caracu, 24 machos castrados e 24 fêmeas, com peso vivo inicial médio de 207,3 kg, distribuídos em quatro tratamentos, a saber: Tratamento A - sal proteinado sem uréia; B - sal proteinado com uréia; C - sal mineral e D - sal mineral com uréia . Os 48 animais foram distribuídos em 24 piquetes de capim Braquiária decumbens, sendo um macho e uma fêmea por piquete de 0,1 ha. Os animais receberam suplementação de 10,5 kg de cana-de-açúcar/cab./dia. Cada piquete possuía bebedouro, cocho para forragem e cocho para sal mineral. O experimento teve duração de 112 dias, sendo 28 dias de adaptação e 84 de coleta de dados.
Os animais foram pesados a cada 28 dias e o consumo das misturas foi controlado semanalmente. Os piquetes foram amostrados no início e final do experimento.
Na Tabela 1, são apresentados os níveis de garantia das misturas utilizadas.
No início do experimento, havia disponibilidade média de forragem, nos piquetes, de 442 kg MS e no final, de 357 kg MS. Os pastos apresentaram, em média, na matéria seca 5,5% de proteína bruta (PB), 33% de fibra bruta (FB), 0,4 Ca e 0,1 P, enquanto a cana-de-açúcar apresentou, em média, na matéria seca 3,2% PB, 25,6% FB, 0,25% de Ca e 0,04% P.
A parte volumosa da ração caracterizou-se por ser deficiente em proteína, uma vez que o pasto apresentou, em média, 5,5% de proteína e a cana-de-açúcar, 3,2%, sendo que devido à época de seca, ambas as proteínas devem ser consideradas de baixa qualidade. A parte energética foi menos crítica, devido à presença de cana-de-açúcar.
Na Tabela 2, são apresentados os ganhos de peso médios durante o período experimental, bem como o consumo das misturas minerais.
Como pode ser verificado, o pior desempenho foi apresentado pelos animais que receberam apenas a mistura mineral (perda diária de 96 g). Os animais que receberam proteinado sem uréia ganharam 86 g/d e estatisticamente não diferiram dos animais suplementados com uréia que ganharam 207 g/d. A explicação para este fato é a maior ingestão de nitrogênio por este último grupo, que era o nutriente limitante não só devido ao baixo teor do pasto (que era muito limitado), mas principalmente pelo fornecimento da cana-de-açúcar, que é muito pobre em proteína. O proteinado propiciou ingestão de 64 g PB, enquanto o sal com uréia, 123 g. O melhor desempenho no presente experimento (ganho de 357 g/dia) foi apresentado pelo grupo que recebeu o proteinado com uréia, que também apresentou o maior consumo tanto de suplemento (650 g/dia), quanto de PB (341 g), indicando que no presente experimento foi importante o nível de nitrogênio, e não a degradabilidade da proteína. Estes resultados foram semelhantes aos obtidos por HAFLEY et al. (1989), que obtiveram o melhor resultado para o suplemento que continha mistura de proteína degradável e não-degradável, e também semelhantes aos obtidos por VILLELA et al. (1981), que obtiveram resultados positivos com a suplementação de uréia para animais em pasto de braquiária. No experimento realizado por OROPEZA et al. (1998), os animais ganharam 540 g/dia, porém consumiram somente 2 kg de suplemento/dia.
Quanto ao tipo de proteína, é interessante frisar que, no estudo realizado por BARGO e REARTE (1998), a suplementação com proteínas de alta e baixa degradabilidade não teve efeito na ingestão de matéria seca, não sendo medido o ganho de peso, devido ao baixo número de animais e ao curto período experimental. No trabalho realizado por BROWN e PATE (1997), os bovinos alimentados com feno amoniado apresentaram desempenho superior, quando receberam suplementos farelo de algodão ou farinha de penas em comparação com uréia (média e baixa degradabilidade em comparação com alta degradabilidade). FRANCO (1997) não notou diferença na degradação ruminal da MS, PB e FDN da forragem, quando se realizou suplementação com proteína de baixa, média e alta degradabilidade, nos níveis de 0,5; 1,0; e 1,5 kg/cab./dia.
Considerando as exigências do NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC (1996), para animais de 200 kg de peso vivo, com ganho de 0,5 kg e ingestão de 4,0 kg MS/dia, as ingestões dos suplementos minerais e seus respectivos níveis de garantia, foi elaborada a Tabela 3, na qual são apresentadas as porcentagens das ingestões dos elementos minerais via suplementos, com relação às exigências. Os dados mostram valores elevados, principalmente para os minerais proteinados, devendo constituir-se em motivo de preocupação, uma vez que o consumo deste tipo de alimento é considerado muito variável. O sal comum (NaCl) é um elemento considerado de grande importância para limitar o consumo do suplemento e, segundo RICH e GILL (1998), animais com 210 kg de peso vivo devem consumir diariamente 250 g de sal comum para que o consumo do suplemento seja controlado. No presente experimento, a ingestão de NaCl pelos animais suplementados com proteinado e proteinado mais uréia foi de 101 e 86 g, respectivamente, valores estes bem inferiores aos citados pelos autores, mostrando que o sal comum é apenas uma da variáveis. É sabido que alguns alimentos como, por exemplo, o farelo de algodão é altamente palatável e pode alterar o consumo de maneira significativa. No trabalho desenvolvido pela Embrapa (LOPES et al., 1997), os autores afirmaram que o consumo é bastante variável e, com mistura contendo 30% de NaCl, o consumo do proteinado deve-se situar entre 200 e 300 g/dia.
A mistura mineral com 52% de proteína bruta propiciou ganho de peso superior aos demais suplementos.
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Marcus Antonio Zanetti1, José Mauro Luiz Resende2, Fernando Schalch3, Cláudia Maria Miotto2 - mzanetti[arroba]usp.br
1 Professor Titular da Faculdade de Zootecnia e Eng. de Alimentos da USP em Pirassununga.
2 Zootecnista.
3 Médico Veterinário do Campus da USP em Pirassununga.
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