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MATERIAL E MÉTODOS

Cabras da raça Saanen foram acasaladas com três bodes Saanen e cinco bodes Boer, na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itapetininga – SP.

As matrizes foram mantidas em pastagem, com suplementação concentrada a partir do terço final de gestação. Após o parto, as matrizes e as crias foram mantidas em baias coletivas recebendo silagem de milho à vontade e concentrado (1 kg dia-1) até o desmame (60 dias). Nesse período foi avaliado o desempenho pré desmame: peso ao nascer (PN), peso a desmama (PD) e ganho de peso diário (GPD pré).

As crias desmamadas, 36 Saanen (SA) (n = 16 machos e 20 fêmeas) e 37 cruzadas Boer x Saanen (BO x SA) (n = 21 machos e 16 fêmeas), foram alojadas em baias coletivas de chão batido e com cama de maravalha e alimentadas com capim Elefante (Pennisetum purpureum, Schum, cv. Guaçú) picado, à vontade, e ração concentrada (20% de PB; 80%NDT; 0,6% de P e 0,8% de Ca), na quantidade de 2,5% do PV, corrigidos quinzenalmente, até alcançarem o PV final, ao redor de 23 kg.

Os machos foram abatidos em dois pesos vivos distintos: ao redor de 20 kg (leves - seis SA e seis BO x SA) ou ao redor de 25 kg (pesados - seis SA e oito BO x SA), após jejum de alimento sólido por 24 horas.

As carcaças quentes foram pesadas (PCQ), calculando- se o rendimento quente (RQ) e armazenadas à temperatura de 3°C, por 48 horas, sendo novamente pesadas (PCF), para determinação do rendimento de carcaça fria (RCF).

As carcaças foram manipuladas no Laboratório de Avaliação de Carcaças do Instituto de Zootecnia em Nova Odessa -SP. Foi feita uma avaliação subjetiva da distribuição da cobertura de gordura na carcaça, denominada nota de cobertura de gordura (NG), atribuíndo-se nota de um a cinco, com o valor máximo correspondendo a uma cobertura adequada e uniforme em toda a carcaça (COLOMERROCHER et al., 1987) e mensurado: comprimento interno da carcaça (CI = da sínfese isquio-pubiana à primeira costela em seu ponto médio); profundidade torácica (PT = largura máxima do tórax, entre as extremidades distais dos processos espinhosos da terceira e quarta vértebras torácicas e a inserção da terceira e quarta costelas no esterno, medido externamente); largura da garupa (LG=distância máxima entre os trocânteres de ambos os fêmures); comprimento da perna (CP = distância entre o trocanter maior do fêmur até a junção tarso-metatarsal) e perímetro da perna, tomado em seu ponto de medida máxima (PP). Considerou-se ainda a compacidade da carcaça (comp = PCF/CI) e a relação CP/PP.

A carcaça fria foi dividida longitudinalmente ao meio e separada em três cortes principais: dianteiro (pescoço, membro anterior e cinco costelas), traseiro (perna, garupa, lombo separado do dianteiro entre a quinta e sexta costelas) e costilhar (costelas, a partir da sexta, separadas do traseiro a uma distância de dois centímetros da coluna vertebral, mais os músculos abdominais), sendo cada corte pesado e o resultado expresso em porcentagem da meia carcaça. Posteriormente, em cada corte foi realizada a separação física e pesagem dos componentes: ossos, gordura e músculos, também expressos em porcentagem.

Antes da separação das frações ossos, músculos e gordura, nos cortes, foi medida a área de olho de lombo (AOL=área da secção transversal do músculo Lomgissimus dorsi) e espessura da gordura subcutânea (EGS), realizadas no corte transversal, à altura da 12ª e 13ª costelas.

Para estimar a composição química da carcaça, os componentes da meia carcaça esquerda foram juntados, congelados, moídos e homogeneizados; sendo retiradas quatro amostras, colocadas em placas de Petri, pesadas e liofilizadas. Após a liofilização as amostras foram pesadas novamente, processadas em liquidificador e analisados os teores de MS, PB, EE e MM.

Da meia carcaça direita foi retirada uma parte da área do costilhar, compreendendo a 9a, 10a e 11a costelas, que foi medida (da vértebra à ponta da costela) e cortada na altura de 61,5% de seu comprimento (HANKINS e HOWE, 1946). Nesta amostra foi efetuada a separação física de seus componentes (músculo, gordura e ossos) e pesagem, sendo expressos os valores em porcentagem do peso total desse corte. Os componentes foram juntados e moídos para formar amostra que foi liofilizada e enviada ao laboratório para análise química (MS, PB, EE e MM).

A avaliação qualitativa da carne foi feita considerando- se a força de cizalhamento e as perdas por cocção de quatro amostras retiradas do músculo Longissimus dorsi, entre a 12a e 13a costelas, na meia carcaça direita, preparadas conforme descrito no Manual de Cozimento e Avaliação Sensorial da Carne (CROSS et al., 1978). Para determinação da força de cizalhamento foi utilizado um aparelho do tipo Warner-Bratzler Shear Force fabricado por G-R eletrical Manufacturing Company (1317, Collings Lane, Manhattan, Kansas-66502, USA) com capacidade para 25kg.

As variáveis relativas a desempenho animal: peso ao nascer (PN); peso ao desmame (PD); ganhos de peso diário pré-desmame (GPD pré) e pós-desmame (GPD pós); idade para atingir peso final ao redor de 23 kg (ID) e peso final (PF) foram avaliadas pelo programa SAS (1998) através de um modelo inteiramente ao acaso, em esquema fatorial (2x2x2), considerando-se os efeitos de genótipo (Saanen ou Boer x Saanen) gênero (macho ou fêmea) e tipo de nascimento (simples ou duplo) e suas interações.

As variáveis relativas a características de carcaça NG; CI, LG, CP, PP, AOL, EGS, a compacidade da carcaça, a relação CP/PP, os pesos de carcaça quente (PCQ) e fria (PCF), os rendimentos de carcaça quente (RCQ) e fria (RCF), a proporção percentual de cortes da carcaça (dianteiro, costilhar e traseiro), proporção de músculo, de osso e de gordura de cada corte e da metade esquerda da carcaça, foram avaliados através do modelo fatorial (2x2), considerando o genótipo e faixa de peso de abate (leves e pesados) e suas interações Os dados sem distribuição normal e sem homogeneidade de variância sofreram transformação para (log x + 1), previamente à análise, através do software SAS (1998).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Quadro 1 encontram-se as médias corrigidas pelos quadrados mínimos dos dados de desempenho animal.

As médias do peso ao nascer diferiram (P<0,01) entre tipo de nascimento e gênero, pois os cabritos nascidos de parto simples foram mais pesados que os de parto duplo e os machos foram mais pesados que as fêmeas, todavia não houve diferença entre os genótipos para esta variável, o que pode ser devido à similaridade do peso adulto das raças avaliadas.

Os pesos ao desmame e o ganho de peso no período pré desmame diferiram (P<0,05) apenas para gênero. Os machos ganharam mais pesos que as fêmeas, sendo desmamados mais pesados. O ganho de peso pós-desmama seguiu esta mesma tendência, com os machos alcançando valores maiores que as fêmeas (P<0,05).

A idade para atingir o peso final também foi afetada (P<0,05) somente pelo gênero dos animais, com os machos alcançando o peso médio final, em torno de 23 kg, com idade inferior à das fêmeas.

Quadro 1.
Desempenho ponderal de cabritos Saanen (SA) e mestiços Boer x Saanen (BO x SA)
(médias corrigidas pelos quadrados mínimos)

Variável

GPD

GPD

Genótipo

Gênero

Tipo de nascimento

n

PN

PD

pré

pós

ID

PF

F

d

9

2,9

11,5

124

127

149

22,8

BO x SA

s

7

3,2

12,1

139

130

142

22,7

M

d

12

3,3

12,4

150

149

130

22,1

s

5

3,5

12,5

152

154

128

23,1

F

d

12

3,0

11,2

136

127

152

22,9

SA

s

8

3,2

12,0

143

135

144

23,2

M

d

10

3,4

12,2

147

151

129

22,6

s

6

3,8

12,6

148

143

126

22,1

CV %

-

-

-

18,2

15,3

10,7

13,4

12,1

5,3

Genótipo

-

-

-

ns

ns

ns

ns

ns

ns

Tipo de nascimento

-

-

-

**

ns

ns

ns

ns

ns

Gênero

-

-

-

**

*

*

*

*

ns

n: número de animais; Gênero; Tipo de nascimento (duplo ou simples); PN: peso ao nascer (kg); PD, peso ao desmame (kg); GPD pré: ganho de peso diário no período pré desmame (g); GPD pós: ganho de peso diário no período pós-desmame (g); ID: idade em dias para atingir peso final ao redor de 23 kg; PF: peso ao final do estudo (kg), ns: não significativo (P>0,05), *: P<0,05, **: P<0,01, CV: coeficiente de variação.

Esses resultados discordam de LU et al. (2000), que encontraram maiores pesos ao nascer e à 8a. semana em cabritos cruzados Boer, em relação à cabritos de raça nativa americana pura. Cabritos puros Saanen podem apresentar elevado potencial para ganho, como foi encontrado por BUENO et al. (1999) e BUENO et al. (2002). Os valores para o desempenho dos animais mostram que a raça Saanen, apesar de se caracterizar como raça leiteira, apresenta bom desempenho ponderal, nas fases iniciais da vida, devido ao seu peso adulto elevado.

Os valores de ganho de peso diário entre 124 - 154 g, tanto no período pré, como pós desmame, podem ser considerados bons para cabritos mestiços machos inteiros, todavia BUENO et al. (1999), conseguiram valores mais elevados, com ganho de peso médio diário de 198 g, com cabritos Saanen, alimentados com dietas com elevado valor energético.

Os valores obtidos foram similares ao de SILVA e ARAUJO (2001) e superaram os dados de OLIVEIRA et al. (2001), ambos com cabritos mestiços Boer, sendo, no entanto, inferiores aos encontrados por DHANDA et al. (1999a) para cabritos mestiços Boer x Saneen. Por outro lado, os resultados obtidos neste trabalho, com animais cruzados Boer, superam os verificados por VAN Niekerk e CASEY (1988) para cabritos puros Boer com até 25 kg de peso vivo. Essa variabilidade de resultados obtidos com os animais puros, ou cruzados Boer evidencia que outros fatores, além do sexo e tipo de nascimento, podem afetar o ganho de peso diário, devendo ser considerados, ainda, o nível nutricional a que os animais estão submetidos, bem como o potencial genético individual dos reprodutores utilizados nos estudos.

As medidas de carcaça fria, da área do olho do lombo, da espessura da gordura subcutânea e da nota para a distribuição da cobertura de gordura da carcaça, são apresentadas no Quadro 2.

As medidas de carcaça servem para caracterizar o produto (MANFREDINI et al., 1988) e apresentam alta correlação com seu peso, podendo ser utilizadas como indicadoras de características de carcaça (WOOD e MACFIE, 1980; EL KARIM et al., 1988; BUENO et al., 1998).

Quadro 2.
Medidas de carcaça de cabritos Saanen (SA) e mestiços Boer x Saanen (BO x SA)
(médias corrigidas pelos quadrados mínimos)

Variável

Genótipo

PA

CI

PT

LG

CP

PP

CP/PP

AOL

EGS

NG

Comp.

20,3

54,2

29,2

14,5

36,3

31,5

1,15

9,2

0,0

1,2

0,189

SA

25,1

57,9

33,1

15,9

39,1

35,7

1,10

10,3

0,3

1,5

0,214

19,9

54,1

29,8

15,2

35,3

32,6

1,08

9,6

0,2

1,6

0,199

BO x SA

24,9

55,8

32,7

15,6

39,2

36,7

1,07

10,4

0,5

2,1

0,235

CV %

4,3

9,5

10,5

12,8

5,1

11,9

3,4

11,8

16,1

10,1

6,5

Genótipo

-

ns

ns

ns

ns

ns

ns

ns

ns

*

*

PA

-

*

*

ns

*

*

ns

*

*

*

**

PA: peso de abate (kg), CI: comprimento interno (cm), PT: profundidade torácica (cm), LG: largura da garupa (cm), CP: comprimento da perna (cm), PP: perímetro da perna (cm), AOL: área de olho de lombo (cm2), EGS: espessura da gordura subcutânea (mm), NG: nota para a distribuição da cobertura de gordura (1-5), Comp: Compacidade (kg cm-1). ns: não significativo (P>0,05); *: P<0,05; **: P<0,01; CV: coeficiente de variação Não foi observado efeito do genótipo para as medidas de carcaça, denotando certa similaridade anatômica entre esses animais, havendo, todavia, diferença (P<0,05) para a nota de cobertura de gordura e compacidade da carcaça, com valores mais elevados para os animais BO x SA. Já o peso de abate teve efeito (P<0,05) para comprimento interno, profundidade torácica, comprimento da perna, perímetro da perna, área de olho de lombo, espessura da gordura subcutânea, nota para cobertura de gordura e compacidade (P<0,01), denotando que existe aumento destas medidas com o aumento de peso dos animais, o que é consistente do ponto de vista de crescimento corporal.

Os valores de espessura de gordura subcutânea foram muitos pequenos e denotam a escassa deposição de gordura nessa região em caprinos, em concordância com BUENO et. al., (1997), COLOMER-ROCHER et al. (1987) e MORAND-FHER et al. (1976), que citam que cabritos abatidos precocemente possuem pouca ou nenhuma deposição de gordura subcutânea.

Por outro lado, como em outras espécies, ocorre um aumento na deposição de gordura subcutânea com o aumento do grau de maturidade, o que esta de acordo com TAYLOR (1985).

Os valores mais elevados da nota de cobertura de gordura nos animais BO x SA, denotam que os animais cruzados apresentaram melhor acabamento de carcaça que os animais puros de origem leiteira.

Estes resultados estão de acordo com TSHABALALA et al. (2003), que encontraram maior proporção de gordura subcutânea nas carcaças de cabritos Boer que em cabritos de raça nativa sul-africana. Essa mesma tendência verificada nos animais de maior peso, em relação aos mais leves, independentemente do genótipo, confirma a afirmativa de BUENO et al. (1997) de que caprinos são tardios na maturação da carcaça, devendo ser abatidos com maior peso vivo, se o objetivo for a obtenção de carcaças com alguma cobertura de gordura.

A compacidade das carcaças, que é a relação entre o peso e o comprimento, foi maior nos mestiços Boer e nos animais mais pesados, o que denota maior deposição de tecidos por unidade de comprimento nessas categorias, sendo os valores encontrados maiores que os mostrados por ANOUS e MOURAD (2001).

No Quadro 3 encontram-se os valores médios de peso de carcaça, de rendimentos quente e frio, das proporções de seus cortes e da composição tecidual da carcaça e dos cortes dos dois genótipos, avaliados em dois pesos vivos. Os pesos de carcaça fria obtidos de 9,3 a 9,7 kg, para uma idade média de abate de 119 dias, e de 11,3 a 11,6 kg, aos 132 dias, para carcaças leves e pesadas, respectivamente, podem ser considerados bons, conforme COLOMER-ROCHER et al. (1987), pois atendem às expectativas do mercado consumidor. Dessa maneira tanto os animais puros SA, como os cruzados BO x SA, apresentam desempenho e carcaças com características que atendem às expectativas de mercado, todavia não se confirmaram as expectativas iniciais de alterações mais acentuadas, tanto no desempenho, como nas características de carcaça, em função do cruzamento.

Quadro 3.
Características de carcaça de cabritos Saanen (SA) e mestiços Boer x Saanen (BO x SA),
abatidos com peso vivos distintos (medias corrigidas pelos quadrados mínimos)

PCQ: peso da carcaça quente; RCQ: rendimento da carcaça quente; PCF: peso da carcaça fria; RCF: rendimento da carcaça fria CV = coeficiente de variação; ns: não significativo (P>0,05); *: P<0,05; **: P<0,01.

Foram observadas diferenças (P<0,05) para o rendimento quente e frio, somente em função do peso de abate, com maiores valores de rendimento nas carcaças de animais abatidos com maior peso vivo, independentemente do genótipo. Fato similar foi observado por BUENO et al. (1997), MAHGOUB e LU (1998) e DHANDA et al. (1999a) que encontraram aumento do rendimento com aumento de PV ao abate.

Os valores encontrados aqui são muito superiores aos de KADIM et al. (2003) com caprinos de raça nativa do Oriente Médio, abatidos com pesos elevados (30kg), e similares aos de PERES et al. (2001), para cabritos em aleitamento de raça naturalizada do Chile.

As proporções dos corte não demonstraram efeito de genótipo, contudo foi observado efeito (P<0,05) do peso de abate, pois as carcaças apresentaram diminuição da proporção de traseiro com o aumento do peso de abate. Segundo BUTTERFIELD (1988), em ovinos, alguns grupos musculares tem desenvolvimento mais precoce que outros, particularmente dos músculos responsáveis pela locomoção e sustentação do animal, como os músculos das pernas traseiras e dianteiras, e do lombo. Desta maneira, o grau de maturidade, ou de outra maneira, o peso de carcaça, pode definir a proporção das peças comerciais.

A proporção de tecidos nos diversos cortes não apresentou efeito para genótipo (P>0,05), com exceção da proporção de gordura no costilhar, que foi maior para os mestiços Boer, contudo a composição tecidual da meia-carcaça apresentou diferença estatística significativa entre genótipos, pois os mestiços Boer apresentaram carcaças com maior proporção de gordura que o Saanen puro. Este fato parece estar associado à diferente distribuição da gordura corporal dos animais, pois animais leiteiros têm maior deposição de gordura cavitária e menor deposição na carcaça, que os animais melhorados para corte (TAYLOR et al., 1989 e DHANDA et al., 1999a).

Foi encontrada uma maior relação músculo/osso para os animais mestiços Boer, denotando assim melhores características para corte, o que pode ser devido às massas musculares mais desenvolvidas nos animais desse genótipo. Os valores encontrados neste trabalho são inferiores aos de EL KHIDDIR et al.

(1998), que encontraram valores médios de três para a relação músculo:osso e superam os de BELLO e BABIKER (1988), para cabritos cruzados no Sudão, abatidos ao redor de 30 kg.

A proporção de músculos, contrariando as expectativas, não foi afetada pelo genótipo, o que pode ser devido ao baixo grau de maturidade dos animais no momento de abate. Os valores encontrados aqui são ligeiramente inferiores ao encontrados por MAHGOUB e LU (1998) para cabritos nativos do Oriente Médio, abatidos com 11 ou 18 kg, mas foram superiores ao de BUENO et al. (1997) para cabritos Saanen, abatidos com pesos inferiores aos deste estudo e similares aos de DHANDA et al. (1999a) para cabritos mestiços Boer abatidos ao redor de 30kg.

A composição tecidual da carcaça foi afetada (P<0,01) pelo peso de abate, ocorrendo aumento da proporção de gordura, diminuição da de ossos, assim como, aumento da relação músculo/osso. Tendência semelhante, de diminuição da proporção de osso e aumento da de gordura, foi encontrada por MAHGOUB e LU(1998) com raças nativas do Oriente Médio, bem como por BUENO et al. (1997) para cabritos Saanen.

A composição tecidual da seção da 10a costela mostrou a mesma tendência de variação que a composição da carcaça, contudo a proporção de gordura teve efeito (P<0,05) somente de genótipo e a relação músculo/osso teve interação significativa (P<0,05) entre os fatores avaliados, observando-se aumento somente nos animais mestiços Boer, não mostrando, todavia, aumento desta variável em função do aumento do peso de abate.

A composição química das carcaças não apresentou diferenças entre genótipos e somente o peso de abate causou mudanças significativas com diminuição da proporção de água com o aumento de peso (Quadro 4). A composição química do corte da costela não mostrou diferenças, seja em função do genótipo, seja em função do peso de abate, em nenhuma das variáveis avaliadas, acompanhando a mesma tendência observada na sua composição física (Quadro 3) .

Quadro 4.
Composição química da carcaça e do corte da seção da 10a costela de cabritos Saanen (SA) e mestiços Boer x Saanen (BO x SA),
abatidos em dois pesos distintos (medias corrigidas pelos quadrados mínimos)

Composição Química

 

Peso de

 

Carcaça

 

Corte da seção da 10a Costela

Genótipo

Abate

Água

EE

MM

PB

Água

EE

MM

PB

leves

65,5

11,9

5,1

17,4

62,1

13,2

6,5

18,2

SA

pesados

63,8

12,9

5,2

18,1

59,9

13,8

6,0

20,3

leves

65,6

12,7

4,8

16,9

61,3

13,5

6,2

19,0

BO x SA

pesados

62,1

13,4

5,1

19,4

58,9

14,7

5,9

20,5

Genótipo

ns

ns

ns

ns

ns

ns

ns

ns

Peso de Abate

*

ns

ns

ns

ns

ns

ns

ns

CV

%

12,1

11,4

13,8

14,3

11,3

9,9

10,7

11,7

EE= extrato etéreo; MM= matéria mineral; PB= proteína bruta; CV = coeficiente de variação; ns: não significativo (P>0,05); *: P<0,05.

As características da carne dos cabritos, apresentadas no Quadro 5, foram muito semelhantes, não sendo observando qualquer efeito das variáveis estudadas, o que denota a similaridade entre os genótipos neste aspecto. O aumento de peso, dentro da faixa de variação estudada, também não causou mudança nestas variáveis, que estão associadas à qualidade da carne.

Quadro 5.
Características do músculo Longissimus de cabritos Saanen (SA) e mestiços Boer x Saanen
(BO x SA) (médias corrigidas pelos quadrados minimos).

Os valores observados para perda por cocção foram similares aos de KADIM et al. (2003), KADIM et al. (2004) e de SEN et al. (2004), para carne de cabritos abatidos tardiamente, mas inferiores aos de DHANDA et al. (1999b) para cabritos mestiços Boer abatidos precocemente, todavia, as diferenças observadas devem-se, em parte, às diferenças entre a metodologia adotada na obtenção destes dados neste trabalho e aquelas utilizadas nos trabalhos citados.

Os valores de força de cizalhamento foram inferiores aos de SEN et al. (2004) para cabritos abatidos tardiamente e aos de DHANDA et al. (1999b) para cabritos mestiços Boer abatidos precocemente, assim como aos de KADIM et al. (2003), KADIM et al. (2004), evidenciando a maciez da carne de caprinos abatidos precocemente.

CONCLUSÕES

O uso de bodes da raça Boer em cruzamento sobre cabras leiteiras Saanen não resulta na melhora no desempenho das crias, com os cabritos mestiços Boer apresentando desempenho equivalente ao das crias puras Saanen.

As carcaças dos dois genótipos são parecidas, todavia os cabritos mestiços Boer apresentam algumas características favoráveis, em relação aos puros leiteiros, principalmente na terminação da carcaça, caracterizada pela melhor distribuição da gordura de cobertura, o que melhora as condições de armazenamento a frio, além de melhor compacidade e relação músculo/osso na carcaça.

As características da carne não são afetadas pelo cruzamento nem pelo peso de abate.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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Eduardo Antonio Da Cunha2, Mauro Sartori Bueno2, Carlos Frederico De Carvalho Rodrigues3, Luiz Eduardo Dos Santos2, Frederico Fontoura Leinz3, Silvio Doria De Almeida Ribeiro4, Ana Maria Candido Ribeiro4.
msbueno[arroba]iz.sp.gov.br; cunha[arroba]iz.sp.gov.br; lesantos[arroba]iz.sp.gov.br

Notas

1. Projeto financiado pela FAPESP (00/10473-3). Recebido para publicação em: 08/04/04. Aceito para pubicação em:15/06/04.

2. Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Zootecnia Diversificada, Instituto de Zootecnia, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Caixa postal 60, CEP 13460-000, Nova Odessa, SP. E-mail: cunha[arroba]iz.sp.gov.br .

3. Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itapetininga, Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro Leste, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, CEP 18200-000, Itapetininga, SP.

4. Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal, Espírito Santo do Pinhal, SP.



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