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MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados 19 cordeiras e 19 cordeiros não castrados, da raça Suffolk, desmamados em média com 60 ± 1,9 dias e alocados aleatoriamente em baias coletivas, com piso ripado suspenso, na Unidade de Ovinos do Instituto de Zootecnia em Nova Odessa, SP. A alimentação constou de volumoso a vontade e ração concentrada, composta de milho triturado (50%), farelo de soja (19%), farelo de algodão (15%), farelo de trigo (13%), sal (1%), minerais (0,5%) e calcita (1,5%) na quantidade de 3,5% do peso dos animais, corrigido a cada 14 dias.

Três diferentes volumosos conservados foram avaliados: silagem de milho, silagem de sorgo granífero e feno de Coast cross (Cynodon dactylon L. Pears). A sua composição bromatológica encontra-se na tabela 1. os animais foram pesados no início e final do experimento (peso final) e em intervalos de 14 dias, sempre pela manhã, antes da alimentação matinal, tendo sido encaminhados aos abate quando atingiram, aproximadamente, 33 e 35kg de peso vivo, para fêmeas e machos, respectivamente. Após jejum de alimentos sólidos por 24 horas, foram pesados novamente (peso ao abate) e abatidos. Foram pesados o sangue, as patas, a pele e a cabeça; amarrou-se o esôfago e o reto e pesaram-se as vísceras cheias. O conjunto pulmão-traquéia-coração, o sistema digestivo (SD) cheio e o fígado foram separados e pesados. A gordura circundante do sistema digestivo foi separada e pesada, sendo denominada gordura mesentérica. Os rins foram retirados das carcaças quentes juntamente com a sua gordura circundante, foram separados e pesados e a gordura denominada de perirenal. O SD foi esvaziado e determinou-se o peso do SD vazio e vísceras vazias. As carcaças foram pesadas e mediu-se o pH 15 minutos após o abate (pH 0), através de pHmetro com eletrodo de penetração, no músculo longissimus dorsi.

As carcaças foram armazenadas a temperatura de 3ºC por 48 horas e pesadas novamente para determinação do rendimento de carcaça fria ou comercial. Nessa ocasião, mediu-se novamente o pH (pH 48) no mesmo local. Subtraiu-se o peso do conteúdo gastrintestinal do peso ao abate dos animais e determinou-se peso vazio e o rendimento verdadeiro. Atribuiu-se nota de um a cinco para o grau de cobertura da gordura subcutânea das carcaças, sendo um fraco e cinco excessivo, e mediu-se a largura da garupa (distância máxima entre os trocânteres de ambos os fêmures ).

As carcaças foram cortadas ao meio e na meia carcaça esquerda mensurou-se o comprimento interno (da sínfese ísquio-pubiana até a primeira costela), a profundidade do tórax (largura máxima do tórax, entre as extremidades distais dos processos espinhosos da terceira e quarta vértebras torácicas e a inserção da terceira e quarta costelas no esterno, medido externamente), o comprimento da perna (distância entre o trocânter maior do fêmur até a junção tarso-metatarsal) e a circunferência da perna (perímetro da perna em sua largura máxima). A meia carcaça esquerda foi pesada e separada em dianteiro (pescoço, membro anterior e cinco costelas), traseiro (perna, garupa, lombo separado do dianteiro entre a quinta e sexta costelas) e costilhar (costela, a partir da sexta, separadas do traseiro a uma distância de, aproximadamente, dois centímetros da coluna vertebral, mais os músculos abdominais). Nesses cortes, efetuou-se a separação física de seus componentes em ossos, gordura e músculos, os quais foram pesados e expressos como porcentagem dos cortes ou da meia-carcaça. A área do músculo longissimus dorsi (olho de lombo), medida através de gabarito padrão transparente quadriculado (0,64cm2/célula), e a espessura da gordura subcutânea foram mensuradas no corte realizado entre a 12ª e 13ª costelas. A compacidade das carcaças foi conseguida através da relação entre o peso da carcaça fria e comprimento interno (kg/cm).

Utilizou-se um delineamento inteiramente ao acaso em esquema fatorial (3X2), com três alimentos volumosos e dois sexos. Na avaliação de desempenho animal (ganho de peso diário e idade de abate) o peso inicial fez parte do modelo e nos componentes não-carcaça e características de carcaça o peso de abate entrou no modelo matemático:

Yijk = m +vi + sj + vsij + b(xijk - x) + e,

onde: Yijk é o valor da observação referente à repetição k, da combinação do nível i dos alimentos volumosos com nível j de sexo; m é a média geral; vi é o efeito do tipo de alimento de volumoso; sj é o efeito do sexo do cordeiro; vsij é o efeito da interação tipo de alimento volumoso com o sexo; b é o coeficiente de regressão linear; xijk é o peso inicial ou peso de abate e e é o erro experimental. O número de repetições por tratamento foi, para a silagem de milho, sete machos e seis fêmeas, para silagem de sorgo, seis machos e seis fêmeas e, para o feno, seis machos e sete fêmeas.

Em função da natureza dos dados, algumas das variáveis sofreram transformação visando trabalhar-se com os mesmos dentro de uma distribuição normal. Sofreram transformação log X a idade de abate (em dias), a porcentagem de gordura perirenal e a porcentagem de ossos da carcaça. A espessura de gordura subcutânea (mm) sofreu transformação 1/X. Utilizou-se o procedimento GLM do SAS e as comparações de médias foram realizadas através do teste de Tukey. Foram efetuadas correlações entre algumas variáveis avaliadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise de variância não mostrou interação significativa (P>0,05) entre tipo de alimentos volumosos e sexos para nenhuma das variáveis avaliadas. A tabela 2 mostra que o tipo de alimento volumoso consumido pelos animais afetou (P<0,05) o ganho diário de peso e a idade para alcançar o peso de abate. Os cordeiros alimentados com silagem de milho e de sorgo apresentaram maiores ganhos diários de peso que os alimentados com feno, o que possibilitou seu abate com menor idade. Houve diferença entre sexos (P<0,05) no ganho diário de peso e idade de abate. O maior ganho de peso dos animais alimentados com silagens deveu-se ao seu menor teor de FDN e, provavelmente, maior concentração energética das silagens em relação ao feno. Segundo ZAGO & RIBAS (1989) não há diferença na ingestão de matéria seca (74,6 e 79,5g/dia/UTM), nem na digestibilidade aparente com ovinos (54,3 e 54,2%) entre silagens de milho e sorgo, o que pode explicar a similaridade dos resultados encontrados para esses volumosos. Os valores de ganho diário de peso foram superiores aos encontrados por MACEDO et al. (1999) de 137g/dia, para cordeiros mestiços criados em confinamento e similares aos de BONNA FILHO et al. (1994) de 269,52 a 329,05g/dia, para cordeiros mestiços confinados.

Os componentes não-carcaça, expressos como porcentagem do peso ao abate, podem ser encontrados no tabela 3. Observa-se que esses não variaram (P>0,05) em função do alimento volumoso consumido, com exceção da gordura perirenal que atingiu valores inferiores (P<0,05) nos animais alimentados com feno, o que confirma a maior concentração energética das silagens. O efeito de sexo apresentou diferença significativa (P<0,05) somente para a porcentagem de gordura perirenal e mesentérica, que foram maiores (P<0,05) nas fêmeas do que nos machos, o que vai ao encontro dos resultados encontrados por WOOD et al .(1980).

As características de carcaça são apresentadas na tabela 4. Os rendimentos de carcaça (quente, frio e verdadeiro) não diferiram (P>0,05) em função do tipo de alimento volumoso consumido, contudo foram maiores (P<0,05) nas fêmeas do que nos machos. Foi, também, evidenciado por GARCIA et al. (2000) maior rendimento de carcaça para fêmeas em relação aos machos. Os valores de rendimento de carcaça fria foram inferiores aos citados por GARCIA et al. (1997), de 50,13%, para cordeiros ¾ Suffolk alimentados com dieta com elevada concentração energética.

A separação física dos componentes da carcaça mostrou que os animais alimentados com silagem de milho apresentaram carcaças mais gordas (P<0,05) que os demais, porcentagem de músculos inferior (P<0,05) aos alimentados com silagem de sorgo e porcentagem de ossos semelhantes (P>0,05) aos outros alimentos volumosos consumidos. As fêmeas apresentaram maior (P<0,05) porcentagem de gordura na carcaça que os machos, o que concorda com Mersmann (1990), e menor (P<0,05) porcentagem de ossos. As correlações negativas entre porcentagem de gordura com porcentagem de músculos (r=-0,76) e porcentagem de gordura com porcentagem de ossos nas carcaças (r=-0,65), a baixa correlação entre porcentagem de músculos com a de ossos (r=0,01) mostram que o aumento na porcentagem de gordura nas carcaças leva à diminuição nas porcentagens de músculos e ossos.

A porcentagem dos cortes das carcaças não sofreu efeito do tipo de alimento volumoso consumido ou do sexo (P>0,05). Os componentes dos cortes, obtidos por separação física, mostraram que o teor de gordura foi sempre superior (P<0,05) para os animais alimentados com silagem de milho e para as fêmeas. Já os valores de pH das carcaças mostraram diminuição característica do processo de maturação e não apresentaram diferenças (P>0,05) entre alimentos volumosos avaliados, nem entre sexos. Também, a área de olho de lombo, a espessura da gordura subcutânea e o grau de gordura das carcaças foram similares (P>0,05) entre os alimentos volumosos avaliados. O efeito do sexo foi significativo (P<0,05) para a espessura da gordura subcutânea e grau de gordura, que mostraram valores mais elevados para as fêmeas. A correlação entre porcentagem de gordura na carcaça com a espessura da gordura subcutânea (r=0,57) ou com o grau de gordura (r=0,73) mostra que estas variáveis possibilitam inferir adequadamente o teor de gordura separável das carcaças, o que concorda com CUNHA et al., (1999). Os valores para a espessura da gordura subcutânea e grau de gordura encontrados por MACEDO et al. (1997), de 1,5mm e 2,68, respectivamente, para cordeiros cruzados abatidos com 268 dias de idade foram similares aos encontrados neste estudo.

O grau de compacidade das carcaças evidenciou que os animais alimentados com silagem de milho apresentaram carcaças mais compactas (P<0,05) que as dos animais alimentados com silagem de sorgo ou feno. Não houve efeito de sexo (P>0,05) nesta variável e os valores foram similares aos de MUNIZ et al. (1997) para cordeiros cruzados Corriedale x Texel, abatidos com 208 dias. as correlações entre compacidade e porcentagem de gordura separável da carcaça (r=0,52), grau de gordura (r=0,54) e porcentagem de músculos (r=-0,22) mostraram que a maior deposição de tecidos por unidade de comprimento deveu-se a uma maior deposição de gordura e não de músculos.

As médias corrigidas para medidas de carcaças podem ser encontradas na tabela 5. Não foram evidenciados diferenças estatísticas significativas entre os alimentos volumosos avaliados e sexos, denotando que esses volumosos não alteram estas características.

CONCLUSÕES

Silagem de milho ou de sorgo possibilitam desempenho semelhante para terminação de cordeiros confinados, visando o abate precoce e o feno de gramínea levou a menor desempenho dos animais e abate mais tardio. As características de carcaça são alteradas pelo tipo de alimento volumoso consumido pelos animais, sendo que a silagem de milho produz carcaças mais gordas e mais compactas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos funcionários de apoio à pesquisa científica e tecnológica Paulo Pereira dos Santos, Onofre Martins, José Sperch, José Aparecido de Oliveira, Pedro Joaquim da Silva e Olinda Aparecida de Oliveira Costa, pela valiosa colaboração na execução deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Eduardo Antonio da Cunha /2 Mauro Sartori Bueno /3 Luiz Eduardo dos Santos /3 Domingos Sanchez Roda /2 Ivani Pozar Otsuk /4
msbueno[arroba]iz.sp.gov.br; cunha[arroba]iz.sp.gov.br; lesantos[arroba]iz.sp.gov.br

A publicação dos textos técnicos disponíveis na WEB de autoria dos pesquisadores da área de ovinocultura, Drs. Luiz Eduardo dos Santos, Eduardo Antonio da Cunha e Mauro Sartori Bueno, está liberada desde que na forma integra, sem alterações e tendo claramente citados os autores e a instituição (Instituto de Zootecnia - Nova Odessa (SP) / APTA / SAA.)

1. Projeto financiado pela FAPESP.
2. Pesquisador Científico do Centro de Etologia, Ambiência e Manejo, Instituto de Zootecnia, Rua Heitor Penteado, 56, 13460-000, Nova Odessa, SP. E-mail:
ceam[arroba]izsp.br. Autor para correspondência.
3. Pesquisador Científico do Centro de Nutrição e Alimentação Animal, Instituto de Zootecnia.
4. Pesquisadora Científica do Centro de Métodos Quantitativos, Instituto de Zootecnia.



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