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O experimento foi desenvolvido na Estação Experimental de Jundiaí, do Instituto Agronômico, situada a 23o12' S, 46o53' W e a 715 m de altitude. Utilizou-se uma área de 800 m2, plantada com a videira `Niagara Rosada', com seis anos de idade, conduzida em espaldeira com três fios de arame, no espaçamento de 2 m entre as linhas e de 1 m entre as plantas. Os tratos culturais foram os recomendados para a região e usou-se cobertura morta como forro para o solo na cultura.
As amostragens do teor de sólidos solúveis (grau Brix) foram feitas semanalmente, coletando-se três bagas (porção alta, baixa e média) de cachos marcados, com cinco repetições, e utilizando refra-tômetro de campo. Os dados meteorológicos referentes às leituras diárias de temperatura máxima e mínima, chuva e insolação, foram obtidos em estação agrometeorológica convencional situada a 300 m do experimento.
As medições foram feitas durante os seguintes anos agrícolas e datas de poda: 1991 (1o/7; 15/7; 1o/8; 15/8 e 1o/9);1992 (1o/8 e 15/8) e 1993 (1o/8; 15/8 e 1o/9).
Para estimativa do teor de sólidos solúveis, empregaram-se regressões simples e múltiplas com as seguintes variáveis:
Y = teor de sólidos solúveis na uva (Brix);
X1 = graus-dia (GD) com temperatura base de 10oC, acumulados até a data de amostragem. Os graus-dia foram calculados por GD = (Tmáx + Tmín)/2 - 10, onde Tmáx é a temperatura máxima (oC) e Tmín a temperatura mínima (oC) do dia;
X2 = número de horas de insolação (INSOL) acumuladas até a data de amostragem;
X3 = total de chuva (CHUVA), em milímetros, também acumulado até a amostragem.
As épocas de acúmulo de graus-dia, insolação e chuva consideradas partiram da poda e do florescimento.
O teste para avaliação do modelo de regressão mais viável de utilização foi efetuado com um conjunto independente de dados de teor de sólidos solúveis, não usado na obtenção da equação de estimativa.
Na figura 1 são apresentadas as curvas do acúmulo do teor de sólidos solúveis para a videira `Niagara Rosada' para diferentes épocas de poda na região de Jundiaí (SP).
Figura 1.
Curvas de maturação da videira `Niagara Rosada', em Jundiaí, para diferentes épocas de poda.
As curvas de forma sigmóide mostraram, como encontrado por Maujean et al.(1987), dois períodos de acúmulo de açúcar: durante o de grãos verdes, com forte acumulação, e outro, com reduzido acúmulo, tendendo para curva assintótica.
Foi notada uma tendência de as curvas de maturação se assemelharem, formando padrões diferenciados para poda em julho, agosto e setembro, durante os anos agrícolas de 1991 e 1992.
Para o cultivar Concord, Ahmedullah & Himelrick (1990) indicam o mesmo tipo de curva sigmóide para o acúmulo de açúcar, verificando que ela acompanhou muito de perto a forma da curva do aumento da massa da baga até meados do fim do ciclo. Evidentemente, o fenômeno vale para videiras em geral e o paralelismo entre as curvas representa a necessária criação de espaço físico para acúmulo de açúcares. No mesmo trabalho, mostram que a curva de acidez total é também sigmóide, em sentido inverso à do acúmulo de açúcar.
Kliewer (1990) enfatizou que, em relação a carboidratos, pode-se notar, nas videiras, um período de sua utilização, coincidindo com o maior desenvolvimento vegetativo, seguido de um pequeno período de auto-suficiência (equilíbrio entre consumo e armazenamento) e, finalmente, um de acumulação ou armazenamento de carboidratos. Nessa última fase, ocorre grande aumento das bagas e acúmulo de açúcar nos frutos, coincidindo com o armazenamento de carboidratos nos ramos.
Objetivando desenvolver equações de estimativa do teor de açúcar nas uvas, preliminarmente, efetuaram-se análises de regressão linear simples (Quadro 1) para avaliar o efeito individual das variáveis meteorológicas acumuladas a partir das datas de poda e de florescimento no teor de sólidos solúveis da uva mediante o coeficiente de regressão.
(1): Y = teor de sólidos solúveis na uva (Brix); X1 = graus-dia (GD) com temperatura base de 10oC, acumulados até a data de amostragem.Os graus-dia foram calculados por GD = (Tmáx + Tmín)/2 - 10, onde Tmáx é a temperatura máxima (oC) e Tmín a temperatura mínima (oC) do dia; X2 = número de horas de insolação (INSOL) acumuladas até a data de amostragem; X3 = total de chuva (CHUVA), em milímetros, também acumulados até a amostragem.
Os valores dos coeficientes de regressão permitem evidenciar o efeito da temperatura, representada pelos graus-dia, no acúmulo de sólidos solúveis na uva. Maiores coeficientes foram obtidos para graus-dia acumulados a partir da data de poda, quando comparados aos acumulados a partir da data de florescimento, provavelmente por esta ser de difícil determinação, uma vez que nem todas as plantas das parcelas florescem na mesma data.
No quadro 2 encontram-se os coeficientes das equações de regressão múltipla entre o teor de sólidos solúveis na uva e combinações de variáveis meteorológicas.
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1): Y = teor de sólidos solúveis na uva (Brix); X1 = graus-dia (GD) com temperatura base de 10oC, acumulados até a data de amostragem.Os graus-dia foram calculados por GD = (Tmáx + Tmín)/2 - 10, onde Tmáx é a temperatura máxima (oC) e Tmín a temperatura mínima (oC) do dia; X2 = número de horas de insolação (INSOL) acumuladas até a data de amostragem; X3 = total de chuva (CHUVA), em milímetros, também acumulados até a amostragem.
Levando em consideração os valores do coeficiente de regressão, nota-se que a equação com melhor desempenho foi a que tinha como variáveis independentes: graus-dia e chuva acumulados a partir da data de poda. Isso difere da equação usada por Chudyck et al.(1979), utilizando como variáveis independentes: graus-dia e insolação acumulados a partir do florescimento.
Na figura 2 é apresentada a comparação entre os valores de teor de sólidos solúveis observados e estimados pela equação de melhor desempenho:
y = -13,2 + 0,0137 X1 + 0,0066 X3 (r = 0,89).
Figura 2.
Comparação entre valores observados e estimados do teor de sólidos solúveis para a videira `Niagara Rosada'
Essa equação revelou um erro-padrão de estimativa de 1,4oBrix e dispersão dos pontos amostrais, de um conjunto de dados independentes, e aproximou-se bastante da reta 1:1, principalmente para teores de açúcar com valores superiores a 6oBrix.
A equacão estimou o teor de sólidos solúveis na uva, com acerto de 1,5oBrix em 80% dos casos analisados (36) e em 95% com acerto na faixa de 2oBrix, mostrando que pode ser utilizada na estimativa de valores de teor de açúcar do crescimento até a colheita.
Nesse experimento, não se incluiu o efeito na produção de açúcar de fatores culturais e do solo, os quais, embora importantes, são de difícil utilização em equações de regressão. Entretanto, a análise dos dados mostrou que graus-dia e chuva acumulados a partir da época da poda podem ser utilizados, na região de Jundiaí, para estimar o teor de açúcar na uva `Niagara Rosada'.
Para estimar o teor de sólidos solúveis na uva `Niagara Rosada', a equação que mostrou melhor desempenho foi a que levou em consideração o total de graus-dia e a chuva como variáveis, acumuladas a partir da data de poda.
Mário José Pedro Júnior(2, 3), Celso Valdevino Pommer(2, 3) E Fernando Picarelli Martins(2)
pommer[arroba]unb.br
(1) Recebido para publicação em 4 de outubro de 1995 e aceito em 21 de julho de 1997.
(2) Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP).
(3) Com bolsa de produtividade científica do CNPq.
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