Contra a corrente: treze idéias fora do lugar
(VI)
Errado. O contrário é verdadeiro, mas a inserção internacional não exime a capacitação endógena.
O chamado "senso comum" costuma refletir um determinado conhecimento prático da sociedade, emergindo algumas vezes da experiência passada, ou de "abalizadas pesquisas" ou opiniões de "especialistas". No caso da globalização, parece haver um certo "consenso" de que esse processo acarreta, no longo prazo, conseqüências positivas em termos de modernização, mas que, no curto e médio prazos, ele seria responsável por tendências à divergência econômica e à concentração de ativos na economia mundial, pelo suposto aumento da pobreza global, por uma indução perversa às crises financeiras (produto da abertura comercial e aos "capitais voláteis") e pela mais do que "inevitável" (aos olhos dos críticos mais acerbos) exacerbação das desigualdades na distribuição de renda entre países e dentro dos países, isto é, entre os vários estratos de cidadãos.
Pois bem: esse "consenso" em torno do "senso comum", sustentado ou não em "análises comprovadas" de economistas e mesmo, eventualmente, de organizações internacionais, está errado e, contrariamente ao que se crê e se afirma correntemente, a globalização não provoca pobreza e concentração, como estudos mais abalizados podem comprovar. Ao contrário, ele desconcentra riqueza e renda, e tende a contribuir para a elevação dos padrões sociais ao sustentar taxas mais elevadas de crescimento e de integração na economia mundial (e portanto de modernização tecnológica). Uma discussão detalhada, com apresentação de estatísticas e dados comprobatórios se revelaria pouco factível aqui, mas vou remeter a trabalhos importantes que devem ser consultados em qualquer debate sério sobre o assunto.
Como demonstra o economista e professor da Columbia University (catalão de origem) Xavier Sala-i-Martin (website: http://www.columbia.edu/~xs23/home.html), em lugar das supostas tendências ao crescimento das desigualdades (refletidas até em documentos como o Relatório do Desenvolvimento Humano, por exemplo), as taxas de pobreza e as desigualdades globais na repartição de renda têm na verdade declinado em escala global nas duas últimas décadas. Sala-i-Martin, com base em novas metodologias e um diferente foco analítico (o indivíduo, não o país; o consumo, antes que a renda), traz evidências contundentes nesse sentido: elas podem ser conferidas em seu estudo "The disturbing ‘rise’ of global income inequality", preparado para o National Bureau of Economic Research (disponível no link: www.nber.org/w8904).
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