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Condições de atmosfera controlada, temperatura e umidade relativa no armazenamento de maçãs ‘Fuji’ (página 2)

Angelo Pedro Jacomino; Ricardo Alfredo Kluge; Auri Brackmann; Paulo Roberto

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após oito meses de armazenamento, independente dos tratamentos, os frutos não apresentaram diferença significativa na firmeza da polpa, na saída da câmara (Tabela 1). Esses resultados concordam com Brackmann & Saquet (1995), que não obtiveram diferenças significativas na firmeza da polpa de frutos armazenados em pressões parciais de 1,0 kPa, 1,5 kPa e 2,0 kPa de O2 a 1°C e 2°C. No entanto, após sete dias de exposição a 20°C, firmeza da polpa mais elevada foi observada nos frutos submetidos à pressão parcial de 0,7 kPa de O2 à temperatura de –0,5°C, diferindo estatisticamente apenas do tratamento em que as condições de AC foram instaladas após um mês de armazenamento refrigerado (Tabela 2). A retenção da firmeza da polpa em condições de oxigênio ultra-baixo deve-se à diminuição da respiração e conseqüente retardamento do amadurecimento. No entanto, Bortoluzzi (1997) não obteve diferença significativa na firmeza da polpa de maçãs ‘Fuji’ armazenadas a 0,7 kPa e 1,0 kPa de O2 nas temperaturas de 0 e 1,0°C.

Os frutos armazenados a –0,5°C e submetidos a 1,0 kPa de O2 e baixa UR (90%) apresentaram a maior acidez titulável e os maiores teores de SST na saída da câmara (Tabela 1). Esses frutos estavam com características visuais de murchamento (dados não apresentados), em função da perda excessiva de água, o que deve ter concentrado os açúcares e os ácidos orgânicos no suco (BRACKMANN et al., 1999). Portanto, deve ser evitado o uso de baixa UR por tempo prolongado. O atraso no resfriamento também manteve teores mais elevados de SST, porém não diferindo dos frutos submetidos ao armazenamento a 0,5°C sob AC com 0,7 kPa de O2 e ao atraso da instalação da AC (Tabela 1). Brackmann et al. (1998) não verificaram diferenças nos valores de SST em maçãs ‘Fuji’ em função do período de instalação da AC. No entanto, não há na literatura informações sobre o efeito do atraso do resfriamento sobre a manutenção dos teores de SST.

Após sete dias de exposição a 20°C, os teores de SST dos frutos foram iguais, estatisticamente, entre os tratamentos (Tabela 2), concordando com Bortoluzzi (1997) e Brackmann et al. (1998), que não verificaram efeito das condições de armazenamento sobre esse parâmetro em maçãs ‘Fuji’. Já em relação à acidez titulável, os frutos submetidos à baixa UR apresentaram novamente os maiores valores absolutos para esse parâmetro, diferindo estatisticamente apenas dos frutos submetidos a 1,0 kPa de O2- após 1 mês em AR (Tabela 2). O atraso na instalação da AC promoveu uma redução mais pronunciada da acidez titulável, provavelmente pelo consumo mais acentuado de ácidos orgânicos durante o período em que os frutos permaneceram somente em condições refrigeradas.

Os frutos armazenados a –0,5°C sob AC com 0,7 kPa e 1,0 kPa de O2 apresentaram epiderme mais verde e menos amarela, na saída da câmara, em comparação aos frutos submetidos a essas mesmas condições de AC a 0,5°C e ao uso de baixa UR (Tabela 1). Além disso, os frutos submetidos ao atraso do resfriamento e da instalação da AC, estavam mais verdes e menos amarelos que os submetidos à baixa UR (Tabela 1), sugerindo que a desidratação dos frutos pode ter acarretado um aumento no metabolismo ou na síntese de etileno, pois Nakano et al. (2003) observaram que a perda de água, em caquis colhidos imaturos, estimulou a biossíntese de etileno. Para Sharples (1982), a menor perda da cor verde da epiderme pode ser obtida com o uso de baixas pressões de O2, pela inibição da degradação das clorofilas. Após sete dias de exposição a 20°C, os frutos submetidos a 1,0kPa de O2 à temperatura de 0,5°C apresentavam a epiderme mais verde e menos amarela, quando comparados a essa mesma pressão parcial de O2 a –0,5°C (Tabela 2).

Em relação à degenerescência da polpa, não se constatou diferença significativa entre os frutos dos tratamentos testados, na saída da câmara (Tabela 1). O uso de baixa UR não foi eficiente no controle da degenerescência de polpa, contrariando Little & Barrand (1989). Segundo esses autores, o uso de umidade relativa elevada promove o desenvolvimento de degenerescência da polpa. Quanto ao uso de temperatura mais elevada no início do armazenamento, Little & Peggie (1987) observaram uma menor incidência de degenerescência da polpa em maçãs ‘Jonathan’ e ‘Granny Smith’, com a redução gradativa da temperatura de armazenamento até 0°C. De acordo com Little & Barrand (1989), a susceptibilidade de determinadas frutas à baixa temperatura pode ser diminuída mediante resfriamento gradativo, pois o estresse por baixa temperatura é mais crítico no início do armazenamento. Após sete dias a 20°C, os frutos armazenados à temperatura de –0,5°C sob AC com 0,7 kPa de O2 apresentaram a menor incidência de degenerescência da polpa, especialmente quando comparados aos frutos submetidos ao atraso na instalação da AC e ao uso de 1,0 kPa de O2 a –0,5°C (Tabela 2). Curry (1989) não observou variação na incidência de degenerescência da polpa em maçãs ‘Fuji’ com o abaixamento das pressões parciais de O2 para 0,5 kPa. Também Bortoluzzi (1997) não encontrou diferença significativa entre frutos armazenados sob 1,0 e 0,7 kPa de O2, quanto à incidência desse distúrbio.

A incidência de podridões, na saída da câmara, foi menor nos frutos mantidos em AR durante um mês antes da instalação da AC com 1,0 kPa de O2, diferindo estatisticamente apenas do tratamento com 0,7 kPa de O2 a 0,5°C e 1,0 kPa de O2 a –0,5°C (Tabela 1). O uso de baixa UR e o atraso no resfriamento também apresentaram bons resultados nesse parâmetro, determinando menor incidência de podridões em comparação à AC com 0,7 kPa de O2 a 0,5°C. De acordo com Schwarz (1994), a elevada incidência de podridões está relacionada à alta UR durante o armazenamento. No entanto, Brackmann et al. (1995) não obtiveram efeito significativo com o uso de baixa UR e de alta temperatura no início do armazenamento sobre o controle de podridões em maçãs ‘Fuji’. Após sete dias à temperatura de 20°C, os frutos submetidos ao retardamento do resfriamento e ao atraso na instalação da AC, apresentaram menor ocorrência de podridões, diferindo estatisticamente dos frutos armazenados em AC a 0,5°C (Tabela 2).

CONCLUSÕES

De modo geral, as condições de armazenamento avaliadas neste trabalho não proporcionaram diferenças significativas na qualidade de maçãs ‘Fuji’, após oito meses de armazenamento e mais sete dias de exposição a 20°C.

No entanto, o atraso no resfriamento, por meio da exposição dos frutos a 20°C por dois dias antes do armazenamento a –0,5°C sob AC com 1,0 kPa de O2 +<0,5 kPa de CO2, e o retardamento na instalação das condições de AC (1,0 kPa de O2 + <0,5 kPa de CO2 a –0,5°C) em um mês, apresentaram bons resultados no controle das podridões após sete dias a 20°C, especialmente quando comparados com o armazenamento a 0,5°C sob AC com 0,7 e 1,0 kPa de O2 +<0,5 kPa de CO2.

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Auri Brackmann1, Ricardo Fabiano Hettwer Giehl2, Ivan Sestari3, Cristiano André Steffens4
brackmann[arroba]ccr.ufsm.br

1. Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciências Agrárias – Professor Adjunto, Departamento de Fitotecnia –Universidade Federal de Santa Maria/UFSM – 97105-900 – Santa Maria, RS – brackman[arroba]ccr.ufsm.br
2. Engenheiro Agrônomo, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Agronomia/PPGA da UFSM – Bolsista CNPq –
hetgiehl[arroba]yahoo.com.br
3. Engenheiro Agrônomo, mestrando do PPGA da UFSM – Bolsista CNPq –
isestari[arroba]yahoo.com.br
4. Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia, doutorando do PPGA da UFSM – Bolsista CAPES –
cristianosteffens[arroba]bol.com.br
Recebido para publicação em 21 de julho de 2004 e aprovado em 4 de março de 2005)



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