Condições de atmosfera controlada, temperatura e umidade relativa no armazenamento de maçãs ‘Fuji’

Enviado por Auri Brackmann


RESUMO: Conduziu-se este trabalho com o objetivo de avaliar o efeito da temperatura de armazenamento, níveis de umidade relativa do ar (UR) e pressões parciais de O2 sobre a qualidade de maçãs ‘Fuji’ conservadas em atmosfera controlada (AC). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições, contendo 25 frutos cada uma. Os tratamentos avaliados foram: armazenamento a 0,5°C sob AC com (1) 0,7 kPa de O2 e (2) 1,0 kPa de O2; armazenamento a –0,5°C sob AC com (3) 0,7 kPa de O2; (4) 1,0 kPa de O2; (5) 1,0 kPa de O2 mais baixa UR na câmara; (6) 1,0 kPa de O2, após 2 dias de exposição a 20°C e (7) 1,0 kPa de O2 após 1 mês de armazenamento refrigerado (AR). Em todos os tratamentos as pressões parciais de CO2 foram mantidas abaixo de 0,5 kPa. Os frutos foram expostos a uma UR de 96%, exceto no tratamento com baixa UR, em que os níveis permaneceram próximos a 90%. De modo geral, as condições de armazenamento avaliadas neste trabalho não proporcionaram diferenças significativas na qualidade de maçãs ‘Fuji’, após oito meses de armazenamento e exposição a 20°C durante sete dias. No entanto, o atraso no resfriamento, por meio da exposição dos frutos a 20°C por dois dias antes do armazenamento a –0,5°C sob AC com 1,0 kPa de O2, e o retardamento na instalação das condições de AC (1,0 kPa de O2 a –0,5°C) em um mês, apresentaram bons resultados no controle das podridões após sete dias a 20°C, especialmente quando comparados com o armazenamento a 0,5°C sob AC com 0,7 e 1,0 kPa de O2 +<0,5 kPa de CO2.

Termos para indexação: Malus domestica Borkh., degenerescência da polpa, distúrbios fisiológicos.

ABSTRACT: This experiment was carried out with the objective to evaluate the effect of temperature, relative humidity (RH) levels and O2 partial pressures on the quality of ‘Fuji’ apples stored on controlled atmosphere (CA). The experimental design was entirely randomized with four replications of 25 fruits. Evaluated treatments were: storage at 0.5°C under CA with (1) 0.7kPa O2 and (2) 1.0kPa O2; storage at –0.5°C under CA with (3) 0.7kPa O2; (4) 1.0kPa O2; (5) 1.0kPa O2 plus low RH – 90%; (6) 1.0kPa O-2 after 2 days at 20°C (delayed storage) and (7) 1.0kPa O-2 after 1 month of cold storage. Partial pressures CO2 were maintained lower than 0.5kPa in all treatments. In general, storage conditions evaluated in this work did not allow significative differences on quality maintenance of ‘Fuji’ apples after 8 months of storage plus 7 days of shelf-life. However delayed storage, through the placing of fruits at 20°C during 2 days before transfer to CA with 1.0kPa O2 +<0.5kPa CO2 at -0.5°C, and cold storage of fruits during 1 month before CA storage, exhibited good results on rot control after 7 days of shelf-life at 20°C, especially when compared with storage at 0.5°C under CA with 0.7 and 1.0kPa O2 +<0.5kPa CO2.

Index terms: Malus domestica Borkh., flesh breakdown, physiological disorders.

INTRODUÇÃO

Durante o armazenamento de maçãs ‘Fuji’ as baixas temperaturas reduzem o metabolismo dos frutos aumentando seu período de conservação. No entanto, abaixo de um nível crítico, podem provocar o colapso das células e a manifestação de distúrbios fisiológicos. De acordo com Little & Barrand (1989), a maçã ‘Fuji’ não é suscetível ao dano por baixa temperatura, podendo ser conservada satisfatoriamente sob refrigeração a –0,5ºC (BRACKMANN et al., 1998).

O armazenamento em condições de atmosfera controlada (AC) permite um aumento ainda maior da vida pós-colheita da maçã ‘Fuji’, em relação à refrigeração. Nas condições brasileiras, esta cultivar deve ser armazenada em uma atmosfera com baixa pressão parcial de CO2 (<0,8 kPa) e com pressão parcial de O2 inferior a 1,5 kPa (BRACKMANN et al., 1995). Condições inadequadas de AC promovem a incidência de distúrbios fisiológicos, principalmente de degenerescência da polpa, que é responsável por grandes perdas durante o armazenamento de maçãs ‘Fuji’. Esse distúrbio se caracteriza por um escurecimento na região do córtex, que não atinge a região carpelar. Várias são as causas relacionadas a esse distúrbio fisiológico durante o armazenamento, destacando-se a alta umidade relativa do ar, baixa temperatura de armazenamento (LITTLE & BARRAND, 1989), alta incidência de pingode- mel (STAINER, 1990) e baixa pressão parcial de O2 (LAU et al., 1987). Para Peppelenbos & Oosterhaven (1996), o dano causado em pressões parciais de O2 muito baixas é devido a níveis insuficientes de ATP, necessários para manter os requerimentos de energia. Com isso, os processos de reparação das membranas celulares cessam e as células morrem, causando escurecimento e necrose dos tecidos.

Técnicas complementares de AC, como a utilização de pressões parciais ultra-baixas de O2, situadas entre 0,5 kPa e 1,0 kPa ("ultra low oxigen" – ULO), têm sido estudadas em muitas cultivares. A esse respeito, Curry (1989) não verificou a ocorrência de degenerescência da polpa em maçãs ‘Fuji’ armazenadas em AC com pressões parciais de 0,5 kPa e 1,0 kPa de O2. Já Bortoluzzi (1997) observou que a redução do O2 de 1,5 kPa para 0,7 kPa aumentou a incidência de degenerescência da polpa nessa cultivar, sendo observados sinais de fermentação nos frutos armazenados na última condição.

A umidade relativa do ar (UR) é outro fator muito importante no armazenamento. A alta UR predispõe os frutos à ocorrência de degenerescência (LITTLE & BARRAND, 1989), ao ataque de fungos e a rachaduras (SCHWARZ, 1994). Brackmann et al. (1995) verificaram menor incidência de degenerescência na maçã ‘Fuji’ com a diminuição da UR de 97% para 75%. No entanto, os frutos apresentaram-se desidratados ao final do período de armazenamento. De acordo com Werner (1989), o armazenamento dos frutos por um período curto em baixa UR possibilita uma regressão na severidade de pingo-demel, reduzindo futuras ocorrências de degenerescência da polpa em frutos com alta incidência desse distúrbio fisiológico.

Tendo em vista a existência de divergências quanto às melhores condições de armazenamento de maçãs ‘Fuji’, objetivou-se avaliar o efeito da temperatura, da umidade relativa, de pressões ultra-baixas de O2 e do retardamento do resfriamento e da instalação da atmosfera controlada sobre as qualidades físico-químicas dos frutos.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Núcleo de Pesquisa em Pós-Colheita (NPP) do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria, RS. Os frutos utilizados foram colhidos em um pomar comercial do município de Vacaria, RS. Ao chegarem ao NPP, os frutos foram selecionados e descartados os danificados e com podridões. Posteriormente, as amostras experimentais foram homogeneizadas. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado; com sete tratamentos com quatro repetições, sendo as unidades experimentais compostas por 25 frutos. As condições avaliadas foram: armazenamento a 0,5°C sob AC com (1) 0,7 kPa de O2 e (2) 1,0 kPa de O2; armazenamento a –0,5°C sob AC com (3) 0,7 kPa de O2; (4) 1,0 kPa de O2; (5) 1,0 kPa de O2 mais baixa UR na câmara; (6) 1,0 kPa de O2, após 2 dias de exposição a 20°C e (7) 1,0 kPa de O2 após 1 mês de armazenamento refrigerado (AR).

Os frutos foram armazenados em minicâmaras experimentais com 80 L de volume, fechadas de forma hermética, nas quais instalou-se a condição de atmosfera referente a cada tratamento. Para a instalação da atmosfera, reduziu-se a pressão parcial de O2 com a injeção de nitrogênio produzido por um gerador de N2, que usa o princípio "Pressure Swing Adsorption" (PSA). Para evitar o acúmulo de CO2 utilizou-se cal hidratada no interior das minicâmaras. Para manter baixa a umidade relativa durante o armazenamento dos frutos submetidos à baixa UR (90%), utilizou-se cloreto de cálcio (CaCl2). Além disso, instalouse um psicrômetro no interior dessa minicâmara, para acompanhar a UR de modo a determinar o momento de se efetuar a troca do CaCl2, quando este saturava.

As minicâmaras de AC foram conectadas a um equipamento eletrônico de medição e controle automático de gases da marca Kronenberger, sendo realizadas as correções das pressões parciais dos gases diversas vezes ao dia. As temperaturas das câmaras frigoríficas foram reguladas automaticamente por meio de termostatos de alta precisão e acompanhadas diariamente por meio de termômetros com bulbo de mercúrio inseridos na polpa de alguns frutos.

Após oito meses foram realizadas as análises laboratoriais no momento da saída dos frutos das câmaras e após sete dias de exposição a 20ºC. Os parâmetros avaliados foram: cor de fundo da epiderme: determinada com o auxílio de um colorímetro da marca Minolta, que utiliza o sistema tridimensional L*a*b* de cores e os resultados expressos pela soma de a* + b*, sendo que quanto maior esse valor mais amarela e menos verde é a coloração de fundo da epiderme; firmeza da polpa: avaliada na região equatorial dos frutos, em lados opostos, com um penetrômetro manual com ponteira de 11,5 mm de diâmetro Condições de atmosfera controlada, temperatura e umidade... 805 Ciênc. agrotec., Lavras, v. 29, n. 4, p. 803-809, jul./ago., 2005 e os resultados expressos em Newton (N); sólidos solúveis totais (SST): determinados com o auxílio de um refratômetro manual com correção da temperatura e expressos em °Brix; acidez titulável: determinada pela titulação de uma solução contendo 10 mL de suco diluído em 100 mL de água destilada com NaOH (0,1N) até pH 8,1, sendo os resultados expressos em meq 100 mL-1; degenerescência da polpa: avaliada pela contagem de frutos que apresentavam, internamente, sintomas característicos desse distúrbio fisiológico e os resultados expressos em porcentagem de frutos com esse distúrbio; incidência de podridões: determinada pela contagem dos frutos que apresentavam lesões com diâmetro superior a 5 mm e com sintomas característicos de ataques de fungos, sendo expressa em porcentagem de frutos podres.

Os dados, expressos em porcentagem, foram transformados pela fórmula proceder a análise da variância. As médias foram comparadas entre si pelo teste de Duncan em nível de 5% de probabilidade de erro.


Página seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.