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Os resultados obtidos na abertura das câmaras evidenciam que a temperatura de 0,5oC manteve a firmeza de polpa mais elevada e reduziu a ocorrência de podridões e ‘bitter pit’ em relação aos frutos armazenados a 2,5oC (Tabelas 1 e 5). Porém, a 0,5oC houve menores valores de acidez e sólidos solúveis totais (SST), além de uma maior incidência de rachadura de frutos e degenerescência da polpa (Tabelas 2,3,4 e 5). Após sete dias da primeira análise os frutos armazenados a 0,5oC, mantiveram valores mais elevados de acidez titulável e sólidos solúveis totais, no entanto, houve uma maior redução de firmeza de polpa e maior incidência de degenerescência interna.
Provavelmente, os frutos armazenados a 2,5oC, devido a maturação mais avançada, desidrataram mais que os frutos armazenados a 0,5oC, quando expostos a temperatura ambiente por sete dias, fato este que aumentou a firmeza de polpa e sólidos solúveis totais em relação a análise realizada na abertura das câmaras.
A degenerescência da polpa e a rachadura dos frutos (Tabelas 4 e 5), ocorreram com maior intensidade a 0,5oC, tanto na saída da câmara como após sete dias em temperatura ambiente. Este resultado indica que a ‘Gala’ pode ser sensível a danos por baixa temperatura quando armazenada em AC, embora há quem tenha recomendado a temperatura de 0oC a 1oC (BENDER, 1981), para o armazenamento desta cultivar.
Quanto às condições de atmosfera controlada, a concentração de 0% de CO2 apresentou os piores resultados em todos os parâmetros avaliados.
Encontrou-se uma relação positiva entre a manutenção da firmeza da polpa e o aumento nos teores de CO2.
Tais resultados estão de acordo com EAVES et al (1964), PORRIT (1966); ANDERSON (1967) e NORTH & COCKBURN (1978), que afirmam que o aumento do CO2 mantém a firmeza de polpa mais elevada em maçãs, até um limite máximo obtido em função da tolerância de cada cultivar ao gás. A firmeza de polpa e acidez titulável mantiveram-se mais elevados nas concentrações de 5%CO2 e 1,25%O2 e 3%CO2 e 0,75%O2. Estas concentrações estão bastante próximas às encontradas por BENDER (1989), de 3,2%CO2 e 1,1%O2, que considerou a melhor codição de AC para ‘Gala’. O efeito do baixo oxigênio sobre a manutenção da firmeza de polpa em maçãs foi também verificado por BOHLING & HANSEN (1985) e BRACKMANN et al.(1995), com 1% O2.
Os menores valores de degenerescência da polpa e "bitter pit" foram obtidos nas condições de 3%CO2 e 0,75%O2 e 3%CO2 e 2%O2. Estas concentrações estão bastante próximas as recomendadas por MEHERIUK (1990), de 1% a 3% CO2 e 1% a 2% O2, o qual salienta também a sensibilidade desta cultivar a altas concentrações de CO2, que causariam distúrbios fisiológicos. Menor incidência de podridões ocorreu nas concentrações de 5%CO2 e 1,25%O2; 3%CO2 e 0,75%O2; 3%CO2 e 2%O2. SOMMER et al.(1981) mostraram uma correlação entre o aumento das concentrações de CO2 e a diminuição do O2 com a redução do crescimento de fungos, indicando a importância de uma alta concentração de CO2 (³3,0% ) e baixa de oxigênio no controle de podridões.
Numa análise conjunta dos resultados constatou-se que o efeito das concentrações de CO2 e O2 sobre os parâmetros avaliados evidenciam que concentrações de CO2 entre 3% e 5% e concentrações de O2 entre 0,75% e 2% diminuiram as perdas devido a distúrbios fisiológicos e podridões e mantiveram as qualidades físico-químicas em níveis mais elevados.
Na condição de atmosfera normal, nas duas temperaturas, os frutos apresentaram rápida perda de qualidade, sendo que após cinco meses os frutos apresentavam qualidade insatisfatória para a comercialização e consumo.
Com base nos resultados deste trabalho conclui-se que maçã, cultivar Gala, armazenada em AC, mantem melhor firmeza de polpa, com menor ocorrência de podridões e "bitter pit", na temperatura de 0,5ºC. Há menor manifestação de degenerescência da polpa e rachadura dos frutos na temperatura de 2,5ºC.
O melhor efeito na manutenção da qualidade das maçãs, armazenadas em atmosfera controlada, é obtida utilizando concentração de CO2 entre 3% a 5% e de O2 entre 0,75% a 2,0%, que diminuem distúrbios fisiológicos e podridões dos frutos.
Os autores agradecem à Associação Brasileira de Produtores de Maçã pelo financiamento deste trabalho.
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BOHLING, H.; HANSEN, H. Untersuchungen ueber das Lagerungsverhalten von Apfeln in kontrollierten Atmosphaeren mit sehr niedrigen Sauerstoffanteilen. Erwerbsobstbau, Berlin, v.27, n.4, p.80-84, 1985.
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BRACKMANN, Auri1. ARGENTA, L..C.2 & MAZARO, Sergio M.1
brackmann[arroba]ccr.ufsm.br
1. UFSM/CCR/Deptº de Fitotecnia - Núcleo de Pesquisa em Pós-Colheita - Campus Universitário - CEP 97119-900 - TEL (055)2211616 - Santa Maria/RS.
2. EPAGRI/Laboratório de Nutrição e Fisiologia Vegetal - Caçador/SC.
(Recebido para publicação em 20/12/95).
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