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Composição química e digestibilidade da massa de forragem em pastagem irrigada de capim-aruana exclu (página 2)

Luciana Gerdes; Herbert Barbosa de Mattos; Joaquim Carlos Werner; Maria Ter

Resultados e Discussão

Na Tabela 1, são apresentados os teores de PB da massa total de forragem e dos seus componentes (aruana, aveia preta e azevém), em seis períodos de pastejo com ovinos.

A interação períodos de pastejo x tipos de pastagem para os teores de PB da massa total de forragem (Tabela 1) foi significativa (P=0,0977). Apenas no terceiro período de pastejo (P3: 30/08 a 05/09/00), o teor de PB da massa total de forragem diferiu entre os dois tipos de pastagem, sendo maior na pastagem de capim-aruana exclusivo (P=0,0033). Neste período, houve também boa contribuição da aveia preta e do azevém (0,73 t. MS ha-1) no tratamento sobre-semeado (Gerdes et al., 2005). Porém, os teores de PB das forrageiras de inverno foram menores em relação aos do capim-aruana (Tabela 1), por estarem em estádio avançado de desenvolvimento e com as menores porcentagens de lâminas (Gerdes et al., 2005), fazendo baixar os teores de PB do tratamento sobre-semeado. Este fato não ocorreu nos dois primeiros períodos de pastejo (P1: 24/05 a 01/06/00 e P2: 04/07 a 12/07/00), quando os teores de PB da aveia e do azevém foram mais elevados (P=0,0001) que os do terceiro e, especialmente do quarto período (P4: 18/10 a 26/10/00) para o azevém, que caiu a 9,0%. Restle et al. (2000), contrariamente verificaram os menores teores de PB da forragem em pastagens de aveia preta + azevém no primeiro (02/06 a 02/07) e segundo (02/07 a 05/08) períodos de pastejo e o maior no terceiro (05/08 a 25/08).

Os teores de PB do componente aruana foram semelhantes (P=0,4115) entre as duas pastagens em todos os períodos de avaliação e nas suas médias (Tabela 1), sendo superiores aos encontrados por Ghisi et al. (1989) e Cecato et al. (1994). Zimmer (1999), trabalhando com duas alturas pós-pastejo e duas doses de nitrogênio em capim-aruana, na estação seca do ano, obteve teor médio de proteína bruta de 18,7%. Esse valor foi próximo aos do componente aruana mostrados na Tabela 1, nos períodos referentes à estação seca do ano (P1, P2 e P3).

Nas Tabelas 2 e 3, encontram-se os dados referentes aos conteúdos de FDN, FDA e lignina da massa total de forragem ofertada para os animais e dos componentes forrageiros nas pastagens sobre-semeada e exclusiva de capim-aruana, em seis períodos de utilizção.

Os teores de FDN da massa total de forragem na pastagem sobre-semeada foram menores (P<0,10) que os da pastagem exclusiva de capim-aruana, tanto na média dos períodos de pastejo (P=0,0127) quanto nos dois primeiros (P1: P=0,0682 e P2: P=0,0145), permanecendo semelhantes (P>0,10) nos demais períodos de utilização das pastagens (Tabela 2). Os mais baixos teores de FDN das duas forrageiras de inverno (Tabela 3), nos dois primeiros períodos, quando suas presenças eram em torno de 7,5% no P1 e 11,5% no P2 (Gerdes et al., 2005), colaboraram para a queda no teor de FDN da pastagem sobre-semeada. Ainda mais que os componentes botânicos (aruana, plantas invasoras e material morto) constituintes desta pastagem, tiveram presenças semelhantes quando comparados com os componentes da pastagem exclusiva (Gerdes et al., 2005), não interferindo, possivelmente, nos teores de FDN.

Os teores de FDA e lignina da massa total de forragem (Tabela 2) também foram menores (PFDA= (0,0123 e PLignina= (0,0147) na pastagem contendo as forrageiras de inverno que na pastagem exclusiva, na média dos seis períodos de pastejo.

No componente aruana (Tabela 3), houve interação (P=0,0548) entre períodos de pastejo e tipos de pastagem para FDN. No quarto período, o teor de FDN do aruana na pastagem exclusiva foi maior (P=0,0081) que o da pastagem sobre-semeada, não havendo diferença significativa entre os dois tipos de pastagem (P=0,1305) nos demais e na média dos seis períodos, que apresentou 72,7 e 71,6% para pastagem AE e MFI, respectivamente.

Para os teores de FDA e lignina do componente aruana (Tabela 3), não houve diferença significativa entre os dois tipos de pastagem (PFDA = 0,1162 e PLignina = (0,8053), na média dos seis períodos.

O teor de FDN da aveia preta (Tabela 3) aumentou de forma significativa (P=0,001) com o avanço nos períodos de utilização da pastagem (P1: 56,5%; P2: 60,2% e P3: 65,8%). Diferentemente, os teores de FDA e lignina, onde o FDA foi mais baixo (P<0,10) no último período (P3), mantiveram teores semelhantes ao longo desses três períodos avaliados.

O azevém apresentou aumento (P=0,0001) dos teores de FDN e FDA (Tabela 3) no período final (P4) do seu ciclo de crescimento, em relação aos precedentes. Segundo Blaser (1964), com a maturação, há acelerado acúmulo de carboidratos estruturais na parede celular de plantas forrageiras.

Os valores de digestibilidade in vitro da massa seca total de forragem e de seus componentes nas pastagens exclusivas e sobre-semeadas, ao longo dos seis períodos de utilização, são mostrados na Tabela 4.

Não houve diferença significativa entre os dois tipos de pastagem, na média dos seis períodos de pastejo, para a DIVMS da massa total de forragem (P=0,4423) e da do componente aruana (P=0,2903), que tiveram valores de 68,7 e 68,0% para a massa total de forragem e de 71,3 e 70,6% para o componente aruana, nas pastagens de aruana com sobre-semeadura e testemunha, respectivamente (Tabela 4). Esperava-se, de acordo com Reis et al. (1993), maior digestibilidade no tratamento do capim-aruana sobre-semeado, o que, entretanto, não ocorreu, porque o aruana, tanto no tratamento exclusivo como no sobre-semeado, apresentou elevadas porcentagens de digestibilidade (Tabela 4) e de proteína bruta (Tabela 1), em virtude das condições de adubação, irrigação e manejo utilizados, mostrando que, com estas práticas, a sobre-semeadura de forrageiras de inverno, seria desnecessária para melhorar o valor nutritivo de pastagens de capim-aruana.

Há forte relação entre proteína bruta e digestibilidade, quando determinadas em alimentos volumosos (Van Soest, 1982), como demonstraram resultados do presente trabalho, no capim-aruana.

A digestibilidade da aveia e do azevém decresceram (P=0,0001) ao final dos seus ciclos de crescimento (Tabela 4). Os mais baixos teores de FDN e FDA do azevém (Tabela 3), nos três primeiros períodos (P1, P2 e P3), comparados com o P4, correspondem aos mais altos valores de DIVMS (Tabela 4). Esta relação inversa teor de FDN e digestibilidade também foi observada por Gomes & Reis (1999), em forrageiras de inverno.

Os teores de proteína bruta da massa total de forragem e dos seus componentes forrageiros (aruana, aveia preta e azevém) das pastagens de capim-aruana exclusivo ou sobre-semeado, em seis períodos de pastejo com ovinos, estão apresentados na Tabela 5.

Houve interação (P=0,0260) entre períodos de pastejo e tipos de pastagem, quando se avaliou o teor de proteína bruta da massa total de forragem. No quarto período de pastejo (P4: 26/11 a 11/12/01), a massa total de forragem da pastagem exclusiva apresentou menor (P=0,0024) teor de proteína bruta que a da pastagem sobre-semeada (Tabela 5). Nos demais períodos, os teores de PB foram semelhantes (P>0,10) entre os dois tratamentos, ocorrendo o mesmo na média dos seis períodos (P=0,7522), 13,3 e 13,4%, respectivamente, para MFI e AE.

Os teores de PB do componente aruana (Tabela 5), em todos os períodos de avaliação, assim como para a média, foram semelhantes (P=0,8403) entre as duas pastagens. Os teores médios de PB, para ambas as alternativas de pastagem, foram superiores aos encontrados por Ghisi et al. (1989) e Cecato et al. (1994), em pastagem de capim-aruana.

Tanto para aveia preta quanto para azevém, os teores de PB decresceram com os períodos de pastejo (Tabela 5). Com o avanço dos estádios de maturação das espécies forrageiras de inverno, ocorre o acúmulo de carboidratos estruturais na parede celular das plantas forrageiras, diluição da concentração de nitrogênio e, conseqüentemente, diminuição do teor de proteína bruta, corroborando afirmações de Blaser (1964), Van Soest (1982), Floss (1988), Lupatini et al. (1998).

Na Tabela 6, encontram-se os teores de FDN, FDA e lignina da massa total de forragem nas pastagens sobre-semeadas e nas exclusivas, ao longo dos seis períodos de pastejo, que, na média dos períodos de utilização, foram semelhantes.

Constam da Tabela 7 os teores de FDN, FDA e lignina dos componentes forrageiros das pastagens, nos seis períodos de pastejo. Com exceção do FDA no componente aruana, que foi mais elevado (P=0,0679), na pastagem contendo a mistura das forrageiras de inverno, na média dos períodos de avaliação. Para o aruana, os teores de FDN e de FDA foram semelhantes (P>0,10) entre as duas alternativas de pastagens, na média dos períodos de pastejo.

A aveia preta (Tabela 7) apresentou menores teores de FDN (P=0,0007) e de lignina (P=0,0421) no primeiro período de pastejo, que se elevaram no segundo período (final de seu ciclo vegetativo). Os teores de FDA da aveia foram semelhantes (P=0,7350) entre os dois ciclos de pastejo. Essas características qualitativas, com exceção do teor de FDA, elevaram-se com a maturidade fisiológica da aveia (Gerdes et al., 2005).

Os menores teores de FDN e FDA do azevém (P=0,0001) foram encontrados no primeiro e segundo períodos e os maiores, no último período de pastejo (P3) (Tabela 7). No P3, o azevém apresentou a menor proporção de lâminas em relação às hastes (Gerdes et al., 2005), característica que afetou negativamente a qualidade desta planta. O azevém apresentou menor teor de lignina (P=0,0001) na avaliação inicial (P1), com aumento acentuado na segunda e terceira avaliações (P2 e P3). Isto coincide com as observações de Blaser (1964) de que ocorre redução no valor nutritivo com o avanço da idade das plantas.

Lupatini et al. (1998), trabalhando com níveis de nitrogênio em aveia preta mais azevém em pastejo, de meados de julho até final de outubro, também encontraram queda no valor nutritivo das forrageiras com o avanço nos períodos de pastejo.

Os valores da DIVMS da massa total de forragem dos componentes forrageiros encontram-se na Tabela 8. Não houve diferença (P=0,4333) entre os tipos de pastagens quando se avaliou a digestibilidade da forragem oferecida aos animais, ao longo dos períodos de pastejo.

Para a DIVMS do componente aruana (Tabela 8), na média dos seis períodos, não houve diferença significativa (P=0,5368) entre a pastagem de capim-aruana sobre-semeada e a exclusiva, obtendo-se valores que podem ser considerados elevados, de 71,3 e 71,0%, respectivamente, para a pastagem de capim-aruana com MFI e de AE.

A aveia preta apresentou os melhores resultados de PB e constituintes da parede celular (Tabelas 5 e 7) na avaliação inicial (P1), quando a espécie se encontrava em pleno estádio de crescimento vegetativo, em relação à avaliação seguinte (P2), quando a aveia finalizou seu ciclo. Entretanto, analisando-se a digestibilidade deste componente (Tabela 8), verificam-se valores semelhantes (P=0,7239) desta variável entre os dois períodos de pastejo, contrariando as expectativas baseadas nos teores de PB e fibras e discordando dos resultados obtidos por Lupatini et al. (1998), Roso et al. (1999) e Restle et al. (2000).

Os valores de DIVMS do azevém (Tabela 8) mantiveram-se constantes nos primeiros dois períodos de pastejo, que foram maiores que o último, no qual ocorreu redução acentuada, em razão dos maiores valores de FDN, FDA e lignina (Tabela 7) e do menor teor de proteína bruta (Tabela 5).

Conclusões

Ocorre acentuada redução no valor nutritivo das espécies forrageiras de inverno, ao longo do período de utilização.

Na maioria dos períodos de pastejo, os teores de FDN, FDA e lignina nas pastagens de capim-aruana exclusivo e naquelas contendo a mistura de aveia preta e azevém são semelhantes. As digestibilidades da forragem ofertada, nos dois tipos de pastagem, também foram semelhantes em todos os períodos de pastejo.

Pastos de capim-aruana, com adubação nitrogenada, irrigação e manejo adequados, apresentam composição química e digestibilidade semelhantes às de pastos do capim sobre-semeados com aveia preta e azevém.

Agradecimento

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pela bolsa de doutorado concedida à autora principal, para a execução do projeto, e ao Instituto de Zootecnia de Nova Odessa, SP, pela infra-estrutura e pela oportunidade concedida para a realização deste trabalho.

Literatura Citada

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Nota

1. Parte da tese de Doutorado da primeira autora. Projeto financiado pelo Instituto de Zootecnia e pela FAPESP.

Luciana GerdesI; Herbert Barbosa de MattosII; Joaquim Carlos WernerIII; Maria Tereza ColozzaIII; Eduardo Antonio da CunhaIII; Mauro Sartori BuenoIII; Rosana Aparecida PossentiIII; Eliana Aparecida SchammassIII
msbueno[arroba]iz.sp.gov.br; cunha[arroba]iz.sp.gov.br
IPesquisadora da Apta Regional - Pólo Regional do Sudoeste Paulista. Estação experimental de Itapetininga, SP.
IIOrientador da primeira autora junto ao curso em Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP
IIIPesquisador do Instituto de Zootecnia, Cx.P 60, CEP 13460-00, Nova Odessa/SP
A publicação dos textos técnicos disponíveis na WEB de autoria dos pesquisadores da área de ovinocultura, Drs. Luiz Eduardo dos Santos, Eduardo Antonio da Cunha e Mauro Sartori Bueno, está liberada desde que na forma integra, sem alterações e tendo claramente citados os autores e a instituição (Instituto de Zootecnia - Nova Odessa (SP) / APTA / SAA.)

 



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